Entrevista com carmelita descalça, Irmã Maria Teresa de Jesus, ocd
Por Thacio Siqueira
BRASíLIA, 25 de Janeiro de 2013 (Zenit.org)
- O mundo as vê como loucas, a sua “loucura”, porém, é o coração da
Igreja. As suas orações sustentam e dão vida à Igreja de Cristo. São as
esposas amadas do Esposo. Essas são as carmelitas. Para entrar nesse
mundo desconhecido por muitos católicos, ZENIT conversou com a Irmã
Maria Teresa de Jesus, ocd, do carmelo da Sagrada Família em Pouso
Alegre (MG).
Publicamos a entrevista a seguir:
ZENIT: O que faz com que uma pessoa entre na vida monástica? Qual o sentido da vida monástica hoje?
Irmã Maria: Uma pessoa pode procurar a vida monástica por cansaço do
barulho do mundo ou pela busca de um refúgio. São motivos que devem ser
retificados ao longo da caminhada inicial da pessoa, pois do contrário,
ela não suportará este tipo de vida. O que deve mover uma pessoa – a
única coisa que lhe dá base sólida para viver num mosteiro cristão – é
um grande amor: um imenso amor por Deus e pelo ser humano, pois o
sentido da vida monástica, hoje e sempre, é a doação de si a Deus e aos
irmãos, na vida de oração, silêncio, comunhão fraterna e abnegação
evangélica. Se uma pessoa não crê nestes valores e na comunhão dos
santos, pela qual seus atos, em união a Cristo, podem ajudar a toda a
humanidade, sua vida não terá sentido. Monástico, mosteiro, derivam da
palavra grega monos, que significa um, único. É a busca do “único necessário”, do qual Jesus nos fala em Lc 10,42.
ZENIT: Fale-nos um pouco do seu mosteiro.
Irmã Maria: Nosso Mosteiro pertence à Ordem da Bem-aventurada Virgem
Maria do Monte Carmelo, família religiosa que mergulha suas raízes na
Bíblia com o Profeta Elias e na tradição que viu nascer sua Regra
destinada aos primeiros ermitães do Monte Carmelo. Seu carisma chega à
maturidade com Teresa de Jesus e João da Cruz, os dois doutores da
Igreja, e dá frutos abundantes de santidade em nossos dias. A tradição
alimentada por esta longa experiência mística constitui o patrimônio
pedagógico que caracteriza o Carmelo. A presença da Virgem Maria,
Rainha, Mãe e Irmã dos (das) Carmelitas impregna totalmente a vida
carmelitana, e confere uma marca mariana particular à contemplação e à
comunhão fraterna, a abnegação evangélica e ao espírito apostólico.
Nosso lema é :-“Carmelus totus marianus est” - O Carmelo é todo de
Maria”.
Nosso mosteiro, o Carmelo da Sagrada Família, situado em Pouso
Alegre, MG, foi fundado em 26/10/1943, pela Serva de Deus Maria
Imaculada da Ssma. Trindade, em Processo de Canonização, e por D. Delfim
Ribeiro Guedes, na época, Cônego, e depois, Bispo de Leopoldina, MG.
Portanto, neste ano, completamos 70 anos de existência. Uma existência
muito simples, marcada pela fé e pelo amor fraternal –
única coisa que nossa fundadora – chamada por nós e pelos que a
conheceram de “Mãezinha” –, pediu a Deus no dia de sua fundação.
Procuramos viver o carisma teresiano-sanjusanista em profunda comunhão
com a Igreja e a humanidade, em suas necessidades, lutas, alegrias e
esperanças. Nosso Carmelo conta com 22 Irmãs enclausuradas e quatro
Irmãs Externas, de 87 a 22 anos de idade. Vivemos da Providência
Divina, através de doações espontâneas de algumas pessoas e dos
trabalhos feitos pelas Irmãs, como paramentos, alfaias, velas e outros
trabalhos artesanais, e pães, biscoitos, roscas, e panetones.
ZENIT: Para o mundo, vocês estão presas e estão perdendo a vida. É assim mesmo?
Irmã Maria: Sim! Presas pelo amor a Deus, à Igreja, e em oração contínua
pelos nossos irmãos, e perdendo a vida no sentido evangélico de “quem
quiser salvar sua vida, vai perdê-la, mas quem perdê-la por causa de
Cristo, vai achá-la.” (Cf. Mt 10, 39)
Assim como São João, no prólogo de seu Evangelho, diz que a Luz veio
ao mundo, mas não foi compreendida, da mesma forma temos consciência de
que o mundo não entende nossa maneira de viver, pois geralmente carece
de fé, e como entender – sem fé –, que pessoas “normais”, jovens muitas
vezes inteligentes, bonitas e saudáveis queiram enclausurar-se e viver
somente para Deus, sem se casar e sem desenvolver nenhuma atividade
beneficente ou produtiva (em sentido material, quantitativo)? Somos
conscientes de que muitas pessoas nos classificam como loucas, ou no
mínimo, neuróticas. Mas é uma feliz “loucura”: a de vender tudo para
lucrar a Pérola Preciosa, o Tesouro Escondido: o próprio Deus, e ter a graça de reviver em nós o Mistério pascal de Cristo, com Ele, Nele e por Ele.
ZENIT: O que tem significado Bento XVI para a espiritualidade monacal?
Irmã Maria: Nosso querido e amado Papa tem um grande sentido para
nós, por ser o Cristo visível, o nosso Pastor. Mais importante que
trazer em seu nome a memória do pai do monaquismo ocidental – São Bento –
ele é uma pessoa que aponta constantemente para o “monos” referido
acima, o Único necessário: Jesus Cristo. Aponta para
as feridas do nosso tempo - a nível pessoal e coletivo -, e para a
única maneira de saná-las: assumindo o projeto de vida que Cristo veio
nos ensinar. Repete-nos sempre que Ele,Jesus, é um “ser-para-os-outros” e
que, vivendo identificados com Cristo é que seremos testemunhas de que o
amor verdadeiro é possível, e que ele tem a palavra final.
ZENIT: A vida de oração é muito complicada?
Irmã Maria: A vida de oração é tão simples quanto respirar. A vida de
oração é um retornar à Fonte de nosso ser, e viver depende Dela,
conectada a Ela, bebendo Dela. É ter consciência de que Deus habita em
nós e viver cada instante, cada atividade com Ele. A coisa se complica
quando deixamos que o egoísmo tome posse de nós, mascare nossos desejos
de dominação e posse, e faça com que a “oração” seja um olhar para nós
mesmos e nosso pequeno horizonte, em vez de ter a consciência e a
alegria de sabermos que o olhar de Deus pousa constantemente sobre nós e
vivermos deste Olhar.
ZENIT: Há paz detrás dessas grades ou muros?
Irmã Maria: Edith Stein, filósofa judia, convertida ao Catolicismo e
depois, monja carmelita, em suas cartas sempre fala e deseja repartir o
que ela chama de “paz conventual”. É a “paz que ultrapassa todo
pensamento”, como diz São Paulo, e que, de forma invisível, irriga o
mundo. Sim, aqui há paz, mas desde que busquemos em tudo a vontade de
Deus e, como Jesus, ela seja o nosso alimento.
ZENIT: Qual é a essência de um consagrado?
Irmã Maria: O amor, porque Deus é Amor, e Ele nos amou primeiro.
A essência da consagração é o mesmo movimento de doação de Deus por
cada um de nós: assim como Ele nos amou, e se entregou por nós, assim
procuramos amá-Lo e entregar-nos a Ele: totalmente.
ZENIT: Vocês fazem algum trabalho apostólico? Como se preparam para a JMJ 2013?
Irmã Maria: De forma externa, não. Nosso trabalho apostólico consiste essencialmente na oração. Santa Teresinha dizia: “No coração da Igreja, minha Mãe, serei o amor!”
Isto resume nosso apostolado. Da mesma forma como o coração bombeia o
sangue por todo o organismo, da mesma forma como uma central
hidrelétrica distribui energia por quilômetros, assim é a vida
consagrada contemplativa no mundo. Desde o início, vibramos com a JMJ no
Brasil, e ela está constantemente presente em nossa oração e
sacrifícios.
ZENIT: Qual é a espiritualidade que vocês seguem?
Irmã Maria: A espiritualidade carmelitana-teresiana-sanjuanista, que
busca equilibrar a vida eremítica e comunitária, alternando tempos de
oração silenciosa e individual com a comunitária, e o trabalho
silencioso (é silêncio o dia todo), com os momentos diários de recreio (
dois únicos momentos em que podemos conversar, todas juntas:- uma hora
após o almoço e uma hora após o jantar, sempre tendo em mãos um
trabalhinho manual.) Uma espiritualidade que busca a união com Deus,
vivendo em amizade com Cristo e intimidade com Maria Santíssima, onde
oração e imolação fundem-se vivamente com um grande amor à Igreja, como
dizem nossas Constituições.
ZENIT: Como os leitores de ZENIT podem ajudar o mosteiro de vocês?
Irmã Maria: Rezando por nós, para que sejamos fiéis ao nosso carisma.
E, se puderem e quiserem, ajudando-nos financeiramente. Banco do Brasil
- Ag: 0368-9 - C/C: 13.745-6.
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