“A Grande Babilônia” (v. 5) é a grande cidade do desterro de
Israel, nos tempo do rei Nabucodonosor. Simboliza o poder pagão e a
tribulação do Povo de Deus.
Roma?
Quando São João redigiu o Apocalipse, Roma era o poder pagão que
oprimia o povo de Deus. Este povo é a Igreja, que já se encontrava
presente tanto na cidade de Roma quanto em muitas outras cidades do
Império. Roma era uma cidade impressionante por causa de suas riquezas e
desregramentos: “A mulher estava vestida de púrpura e escarlate,
resplandescente de ouro, pedras preciosas e pérolas; trazia em sua mão
uma taça de ouro cheia de abominações e também das impurezas de sua
prostituição” (v. 4).
Seguindo esta hipótese, Roma seria a prostituta porque “com ela
fornicaram os reis da terra” (v. 2). Estes reis, como Herodes, se
prostituíam com ela para obter poder sobre alguma província do Império.
Outras referências também se aplicam a Roma: “se assenta sobre grandes
águas” (v. 1), alusão ao seu domínio sobre o mar Mediterrâneo,
considerado o principal mar do mundo. As sete cabeças da besta são “sete
colinas” (v. 9); Roma está assentada sobre sete colinas: Palatino,
Capitolino, Quirinal, Viminal, Esquilino, Celio e Aventino.
Jerusalém?
São João não especifica qual é a “Grande Cidade”. Poderia também se
referir a Jerusalém, já que enquanto no Ocidente “a cidade das sete
colinas” se referia a Roma, na cultura oriental a que pertence São João,
Jerusalém era conhecida como “a cidade das sete colinas” (Pirke
de-Rabbi Eliezer, Seção 10). Estas colinas são: (1) “Escopus”, (2)
“Nob”, (3) “o Monte da Corrupção” ou “o Monte da Ofensa” ou “o Monte da
Destruição” (2Reis 23,13), (4) O original “monte Sião”, (5) A colina
sudoeste também chamada “Monte Sião”, (6) o “Monte Ofel” e (7) “A
Rocha”, onde foi construída a fortaleza “Antonia”. O número sete
significa perfeição. Nos capítulos 15 e 16 do Apocalipse lemos sobre as
sete pragas, as sete taças, os sete anjos…
Outras passagens do Apocalipse também se referem a Jerusalém como a Grande Cidade de forma condenatória:
“E seus cadáveres, na praça da Grande Cidade, que simbolicamente se
chama Sodoma ou Egito, ali também onde o seu Senhor foi crucificado” –
Apocalipse 11,8
A cidade onde “também o seu Senhor foi crucificado” não pode ser
outra senão Jerusalém. Também em Jerusalém a perseguição da Igreja
ocorria sob a autoridade de Roma. Ali a prostituta cometeu as maiores
abominações: a crucificação do Redentor, a destruição do Templo.
São João não especificou qual era a cidade, talvez porque na verdade
a mensagem se aplica às duas cidades e pode também se aplicar a outras.
O mundo luta contra a Igreja. Esta sofre, mas prevalecerá. Seus
mártires e santos são os seus frutos.
A Igreja de Roma e a prostituta ou Grande Babilônia
Os títulos de prostituta e Grande Babilônia, longe de se referirem à
Igreja, identificam os inimigos desta. A Igreja está em oposição à
prostituta e sofre o martírio em suas mãos. O Apocalipse honra a Igreja
por sua fidelidade ao Senhor até derramor o seu sangue nesta luta.
“E vi que a mulher se embriagava com o sangue dos santos e com o
sangue dos mártires de Jesus. E me assombrei profundamente ao vê-la” –
Apocalipse 17,6.
Existe um paralelo com a antiga Babilônia, onde os judeus Sadrac,
Mesac, Abegnego e Daniel se mantiveram fiéis diante da ameaça do
martírio. Agora é a Igreja que sofre em seus mártires.
São João escreve em torno do ano 95 dC, quando Domiciano perseguia
ferozmente a Igreja. No Apocalise, ele apresenta a prostituta assassina
que luta contra a Igreja fiel que, por sua vez, padece sua perseguição.
Trata-se de uma oposição entre o mal (a prostituta) e o bem (a Igreja
fiel). A “Grande Babilônia” nos recorda o sofrimento de Israel no Antigo
Testamento. Nos encontramos, então, diante de um paralelo entre Israel
(vítima do poder da Babilônia) e a Igreja (vítima do poder de Roma).
Porém, há também diferenças. Enquanto Israel, depois da opressão na
Babilônia, pode regressar a Jereusalém; a Igreja, com o poder de Jesus
Cristo, está destinada a prevalecer sobre Roma (Babilônia) e a partir
deste lugar propagará o Evangelho pelo mundo inteiro. A Igreja tem sua
sede em Roma, porém é “católica”, universal.
É certo que em Roma (que representa o mundo) não cessou o pecado.
Está, todavia, se travando a luta entre a prostituta e a Igreja. É certo
também que o pecado do mundo contamina inclusive os membros da Igreja.
Não estamos, todavia, na Nova Jerusalém (o céu). Jesus advertiu que o
joio cresceria com o trigo e não seria arracado até o fim do mundo.
Na visão bíblica, os fiéis vivem uma aliança de amor com Deus, um
matrimônio místico. A infidelidade a Deus é, portanto, um ato de
prostituição, de prostituta. O Apocalipse é uma advertência aos
cristãos, para que não caiam nessa infidelidade. Desde o princípio há
santos na Igreja, porém há também aqueles que passaram para o lado da
prostituta, agindo com infidelidade. No meio desta luta, a Igreja
continua propagando o Reino de Deus e os que abrem o seu coração recebem
a graça. O Apocalipse apresenta os santos e os mártires como
testemunhas e frutos da Igreja, que dá vida nova. Em todos os séculos, a
Igreja tem dado este fruto de santidade e assim continuará até a
segunda vinda do Senhor.
Esta mensagem corresponde ao Evangelho. Os cristãos são chamados à
santidade, a ser o sal da terra, a luz do mundo. A Igreja é como o grão
de mostarda: pequeno, mas que cresce e é capaz de prevalecer. Assim, a
Igreja prevalecerá sobre o Império até atingir os confins da terra.
É indiscutível que quando São João escreveu o Apocalipse, a Igreja já se achava estabelecida em Roma.
1. São Pedro, cabeça visível da Igreja, havia escrito:
“Vos saúda a que está na Babilônia, eleita como vós, assim como meu filho Marcos” – 1Pedro 5,13
Quem está na Babilônia e saúda? A Igreja de Roma. É de se notar
também que nesta citação da Bíblia São Pedro chama Marcos de “meu
filho”, fazendo referência à paternidade espiritual de Pedro.
2. São Paulo também já tinha escrito a sua Carta aos Romanos.
3. A Igreja de Roma já havia sido coroada com o martírio de São Pedro
e São Paulo. Também em Roma já tinham morrido os primeiros sucessores
de Pedro (isto é: os papas Lino, 67-76 e Cleto, 76-88).
Por outro lado, o Vaticano, sede da Igreja Católica, não ocupa
nenhuma das sete colinas de Roma (v. 9), já que se encontra ao ocidente
do rio Tibre, enquanto que a antiga Roma, com suas colinas, encontra-se
na parte oriental do rio.
Aqueles que interpretam que a prostituta é a Igreja Católica não
possuem o menor fundamento bíblico. Caem na interpretação arbitrária de
Lutero (séc. XVI), que justifica o seu rompimento com a Igreja. É
interessante observar que o próprio Lutero rejeitava o livro do
Apocalipse:
“Segundo o meu parecer [o livro do Apocalipse] não possui nenhem
sinal de caráter apostólico ou profético… cada um pode formar seu
próprio juízo acerca deste livro; eu pessoalmente sinto antipatia por
ele e isso para mim é razão suficiente para rejeitá-lo” – Sammtliche
Werke, 63, pp. 169-170
Como vimos que seria absurdo interpretar o Apocalipse para condenar a
Igreja de sua época como prostituta, seria igualmente absurdo
interpretar uma condenação contra a Igreja nos séculos seguintes, já que
se trata da mesma Igreja e da mesma luta. No entanto, o texto continua
sendo um valioso ensino para nos animar a manter a fidelidade à Igreja
em meio aos ataques que não cessam. É uma advertência muito atual.
Diante dos ataques contra aqueles que se mantêm fiéis à Igreja
fundada por Cristo e diante dos abusos de interpretação dos textos
bíblicos, é importante notar o que esse mesmo capítulo nos exorta:
“Aqui é necessário ter inteligência, ter sabedoria” – Ap. 17,9
Fonte: http://www.corazones.org. Tradução de Carlos Martins Nabeto.
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