15 outubro 2013
O arcebispo anglicano da Cantuária, Justin Welby, reconhece a grandeza do Sacramento da Confissão
O primaz da Igreja Anglicana, Justin Welby, afirmou recentemente que
recorrer à confissão auricular pode ser uma experiência “bastante
eficaz”, mesmo que não signifique, na maioria das vezes, um “monte de
risos”. A declaração foi feita aos seus fiéis, enquanto se dirigia aos
líderes de outras comunidades – incluindo o arcebispo católico de
Westminster, Vincent Nichols –, falando sobre as divisões entre os
cristãos.
Embora conservem uma boa quantidade de elementos religiosos da Igreja
Católica, os anglicanos não têm a Confissão como um sacramento. Para
eles, trata-se apenas de uma prática devocional ou espiritual, bastante
em desuso. Mesmo assim, o arcebispo Welby, vindo de uma corrente
evangélica do anglicanismo, possui um padre católico como diretor
espiritual, além de ser um forte defensor das formas de adoração
pregadas pelo catolicismo.
Falando da pertença a uma ampla “tradição católica”, Welby comentou:
“Eu tenho aprendido ao longo dos últimos 10 anos sobre o grande
sacramento da reconciliação: a confissão. (…) Ele é bastante eficaz e
terrivelmente doloroso quando feito corretamente… Eu duvido que você
acorde de manhã e pense que isto venha a ser um monte de risos. (…) É
realmente incômodo. Mas, por meio dele, Deus oferece o perdão, a absolvição e um senso de purificação”.
O prelado anglicano não é o primeiro e nem será o último não católico
a reconhecer a grandeza do sacramento da Penitência. Ainda no século
XIX, o famoso escritor brasileiro Machado de Assis, que muitos
estudiosos consideram como ateu, não escondia sua admiração por este
tesouro católico. Em algumas de suas memórias, ele confidenciava: “A
Igreja estabeleceu no confessionário um cartório seguro, e na confissão o
mais autêntico dos instrumentos para o ajuste de contas morais entre o
homem e Deus”. E ainda: “A Igreja recomenda a confissão, ao menos, uma
vez cada ano. Esta prática, além das suas virtudes espirituais, é útil
ao homem, porque o obriga a um exame de consciência”01.
É notável ver personalidades estranhas à fé católica reconhecendo a
utilidade da Penitência. Mas, e os católicos? Qual é o valor que têm
dado a esta dádiva?
Urge que se desmascare, antes de qualquer coisa, uma mentira repetida
com frequência. O sacramento da Confissão não foi, como querem alguns
detratores da Igreja, uma “estratégia” dos padres para manter os
seculares subordinados aos interesses eclesiásticos. Trata-se, na
verdade, de um desejo do próprio Jesus. Após a Ressurreição, ele
apareceu aos Doze e disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os
retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23).
Muitos católicos deixam de recorrer à Confissão porque já introjetaram uma mentalidade protestante individualista e orgulhosa.
Dizem:
“Se Deus já conhece todos os nossos pecados, por que se confessar?”
Ora, Deus, em sua onipotência, poderia muito bem ter feito de outra
forma. Poderia ter dito à multidão que se confessasse a si mesma, ou que
apenas invocasse o Seu nome e seus pecados seriam perdoados. No
entanto, não foi desta forma que Ele quis que os homens buscassem a
reconciliação Consigo. Ele deu aos apóstolos as chaves do Reino dos céus
(cf. Mt 18, 18) e este encargo sagrado. Cabe a nós acolher com
humildade as disposições divinas, ao invés de submeter as palavras
sagradas ao nosso arbítrio.
É verdade, nem sempre é agradável ter que acusar os pecados a um
sacerdote, os católicos não dirigem-se ao confessionário com um “monte
de risos”. No entanto, diz a Escritura, “há uma vergonha que conduz ao pecado e uma vergonha que atrai glória e graça” (Eclo
4, 25). Ainda que muitas vezes pareça penoso, é preciso que o cristão
vença a sua vergonha e se confesse, pois de outro modo não pode alcançar
o perdão dos pecados e a tranquilidade da alma.
Conta-se que um discípulo de Sócrates tinha entrado na casa de uma
mulher de má vida. Prestes a sair, mas avistando o mestre, que ali
passava, ele tornou a entrar na casa, a fim de não ser notado. Sócrates,
porém, tinha-o visto e, aproximando-se da casa, disse: Meu filho, é uma
vergonha entrar nesta casa, não, porém, sair dela.
Santo Afonso de Ligório repete a advertência de Sócrates e alerta: “Meu filho, é uma vergonha cometer o pecado; não, porém, libertar-se dele pela confissão”.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere | Fonte: Telegraph
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