ihu - A Comissão dos Direitos da Infância da ONU
reconhece os passos que a Igreja deu nos últimos anos no combate à
pederastia, mas os considera insuficientes. Em um relatório publicado em
Genebra, recomenda-se que sejam destituídos
“imediatamente” todos os sacerdotes e religiosos reconhecidos como
culpados ou que estejam sob suspeita de ter abusado de menores. E pede,
além disso, que estes sejam denunciados às autoridades civis para que
sejam condenados.
Fonte: http://bit.ly/1nUd9GE |
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 05-02-2014. A tradução é de André Langer.
O organismo das Nações Unidas que se ocupa dos direitos da infância afirma que a Santa Sé
deveria tornar públicos os arquivos relacionados aos abusos sexuais
contra menores, para que os culpados “e quantos tenham encoberto seus
crimes” possam ser julgados. “A Comissão está profundamente preocupada
com o fato de que a Santa Sé não tenha reconhecido o
alcance dos crimes cometidos – lê-se no documento –, que não tenha
adotado as medidas necessárias para ocupar-se dos casos de abusos
sexuais de menores e proteger as crianças, e que tenha adotado políticas
e práticas que levaram a perdurar os abusos e a impunidade dos
culpados”.
No relatório publicado há pouco pede-se que a comissão criada em dezembro pelo Papa Francisco
“para a proteção das crianças” continue lutando contra o fenômeno e
investigue todos os casos de abusos e “a conduta da hierarquia católica
ao enfrentá-los”. No relatório lê-se que “devido a um código de silêncio
imposto a todos os membros do clero, sob pena de excomunhão, casos de
abusos sexuais contra menores raramente foram denunciados às autoridades
judiciais nos países nos quais houve crimes”. E critica-se, além disso,
que muitos dos responsáveis pelos abusos tenham sido transferidos de
uma paróquia para outra, com a intenção “de encobrir” os abusos
cometidos.
Em 16 de janeiro passado, o núncio apostólico Silvano Tomasi apresentou o relatório da Santa Sé ao comitê das Nações Unidas de Genebra
sobre a aplicação da Convenção para os Direitos das Crianças. Nessa
ocasião assegurou que a Igreja católica pretende converter-se em modelo na luta contra a pederastia.
O Vaticano subscreveu a Convenção de 1990 e em 2001
assinou outros dois “protocolos opcionais”. No final de novembro de
2013, como estabelece o procedimento, a Santa Sé também havia enviado a Genebra uma resposta por escrito às perguntas da ONU, indicando que os bispos e superiores religiosos não são representantes nem delegados do Papa,
portanto que as perguntas sobre casos particulares de abusos que se
verificaram em instituições católicas no mundo não eram pertinentes à
assinatura da Convenção por parte da Santa Sé.
Durante essa audiência, Tomasi recordou os instrumentos aprovados durante os últimos anos pelo Vaticano, tanto em nível interno como internacional, para enfrentar o fenômeno dos abusos. Em particular, em 2010, Bento XVI
agilizou mais ainda os procedimentos, razão pela qual se chegou a uma
quase “legislação de emergência”, que permite reduzir diretamente ao
estado laico os sacerdotes que sejam evidentes culpados. Além disso, o Papa Ratzinger
fez muitas coisas para mudar a mentalidade interna na Igreja, dando o
exemplo em primeira pessoa para ensinar como se deve ocupar das vítimas,
principalmente. O novo Papa demonstrou querer seguir por este caminho. Na realidade, muitos dos pontos criticados no relatório da ONU estão relacionados com condutas que pertencem ao passado.
No relatório pede-se que a Igreja modifique seu ensinamento em matéria de aborto, anticoncepção e identidade de gênero. O Vaticano reagiu diplomaticamente: “Segundo os procedimentos particulares previstos para as Partes da Convenção – indica a nota da Sala de Imprensa – a Santa Sé
toma nota das Observações Conclusivas sobre os Relatórios, que serão
submetidos a detalhados estudos e exames com pleno respeito da Convenção
nos diferentes âmbitos apresentados pelo Comitê segundo o direito e a
prática internacional, assim como o debate público interativo com a
Comissão acontecido em 16 de janeiro de 2014”.
“A Santa Sé lamenta, no entanto, ver em alguns
pontos das Observações Conclusivas uma tentativa de interferir no
ensinamento da Igreja católica sobre a dignidade da pessoa humana e no
exercício da liberdade religiosa”, acrescenta o texto, aludindo
diretamente a temas como a homossexualidade, o aborto, a anticoncepção e
outros.
“A Santa Sé – conclui a nota – reitera seu
compromisso com a defesa e a proteção dos direitos das crianças, em
sintonia com os princípios promovidos pela Convenção sobre os Direitos das Crianças e segundo os valores morais e religiosos oferecidos pela doutrina católica”.
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