quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Padre que reunia 9 mil durante missa é transferido e fiéis pedem explicação

Jocelir Vizioli atraía gente de toda a região para Rio Claro por fazer 'curas'. Congregação Claretiana não informou o que teria motivado sua saída.

Por Felipe Turioni Do G1 São Carlos e Araraquara

Fiéis realizaram terceira vigília pela volta do padre de Rio Claro em Piracicaba (Foto: Vitor Liasch/Arquivo Pessoal) 
Fiéis realizaram terceira vigília pela volta do padre de Rio Claro (Foto: Vitor Liasch/Arquivo Pessoal)
A saída do padre Jocelir Leo Vizioli, de 56 anos, da Paróquia Nossa Senhora do Caravaggio, em Rio Claro (SP), tem gerado protestos de milhares de fiéis da cidade e da região, já que o destino dele não foi divulgado. O motivo da transferência também não foi informado oficialmente e desde a última missa, no dia 13 de janeiro, três vigílias foram feitas pedindo a volta do missionário que chegou a reunir 9 mil fiéis e era conhecido por fazer 'curas'. A próxima vigília será nesta sexta-feira (7), às 19h, em frente à paróquia.
Padre Jocelir trabalha em Rio Claro há 13 anos (Foto: Reprodução/TV Globo) 
Padre Jocelir trabalha em Rio Claro há 13 anos
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Procurada pelo G1, a Diocese de Piracicaba, que responde por Rio Claro, informou que a transferência do padre Jocelir não é de responsabilidade da Cúria Diocesana. Segundo a assessoria de imprensa, a saída dele é de competência da Congregação dos Claretianos, da qual o presbítero pertence. Por telefone, uma voluntária da Casa Claretiana, em Rio Claro, informou que a transferência do padre ainda não foi definida e que, por enquanto, as missas estão suspensas. O padre não atendeu as ligações feitas pela reportagem.
Desde a suspensão das missas, o projeto coordenado pelo padre e que oferecia atendimentos médicos, odontológicos, cestas básicas, além de esporte e lazer, está parado. Até o momento, nenhum substituto foi nomeado para assumir a paróquia.
Missas do padre atraiam milhares de fiéis em Rio Claro (Foto: Reprodução/Facebook) 
Missas do padre atraíam milhares de fiéis em
Rio Claro (Foto: Reprodução/Facebook)
Nas redes sociais, uma página com o nome do missionário no Facebook, seguida por mais de 18 mil pessoas, é atualizada constantemente com palavras da Bíblia e mensagens de fé, entretanto, não há comentários ou justificativas sobre sua saída.
Desde o anúncio de sua transferência, um grupo criado na mesma rede social, que já conta com 3,6 mil membros, pede a volta de Jocelir e organiza as vigílias, que servem também de protestos.
“Queremos a volta dele, ou pelo menos entender o que está acontecendo. Nem a gente nem o padre Jocelir sabe o que será feito”, disse a dona de casa Marcia Regina Moreno. Ela frequenta as missas do padre desde 2009. “Me fortalecem muito, eu era muito desacreditada antes e mudei bastante”, contou a fiel seguidora.
"Toda segunda-feira saíam duas ou três vans da minha cidade com pessoas para ver a missa do padre Jocelir. Eu ia sempre, ele sempre fez bem pra gente", comentou o aposentado Perácio Conceição, de Águas de São Pedro.
Polêmica
Além de pregar a palavra da Igreja Católica, Jocelir é conhecido por suas bênçãos individuais ao final das missas, o que atraía cerca de 800 fiéis por dia. Para a funcionária pública Elaine Oliveira, esse seria o motivo da transferência. “O bispo disse que isso que ele faz é um ato de curandeirismo, mas não é isso, dá um alívio na gente e é bom”, afirmou.
Segundo ela, alguns atendimentos chegavam a parecer um 'exorcismo'. “Às vezes alguma pessoa se estrebuchava no chão, mas a pessoa saía leve, quando era necessário ele jogava água benta ou passava a própria estola”, afirmou.
Segundo fiéis, bênçãos individuais podem ter provocado transferência (Foto: Reprodução/EPTV) 
Segundo fiéis, bênçãos individuais podem ter
causado transferência (Foto:Reprodução/TV Globo)
No site do padre, ele descreve esses atendimentos como uma “proteção”. “A aspersão com água benta no final da missa é uma maneira de recordar o nosso batismo e invocar a proteção e a bênção do Senhor”, afirma na página na internet.
No mesmo site, os fiéis podiam conferir as transmissões ao vivo de suas missas e ajudar na arrecadação de fundos para Associação Filhos de Nossa Senhora do Caravaggio (Afinsc).
A associação deu início ao Projeto Terra Nova, que atende duas mil famílias, incluindo 560 crianças. “Ele fazia uma arrecadação alta nas missas, comprava cabeça de gado, fazia leilão e chegava a triplicar o dinheiro arrecadado para ajudar no projeto”, comentou Elaine.

Histórico

Gaúcho, o padre Jocelir vive em Rio Claro há 13 anos e aos poucos atraiu uma multidão para suas missas. Durante seu último sermão, que foi feito no dia 13 de janeiro e está disponível no YouTube, relembrou que sua primeira missa atraiu 14 pessoas. Há quatro anos precisou erguer um novo local para abrigar seus seguidores.
A igreja Nossa Senhora do Caravaggio foi construída em oito meses, com ajuda dos fiéis. As missas aconteciam sempre às segundas-feiras, quando atraíam até 9 mil pessoas, e às sextas, com um público de 5 mil fiéis.
Antes de deixar Rio Claro, ele negou o boato de que iria para Moçambique dar continuidade em um projeto dos claretianos, mas também não comentou para onde iria. “O que vai acontecer da minha vida eu não sei, mas não vou parar de pregar a palavra de Deus”, afirmou.

Claretianos

Por telefone, a voluntária Sabrina Esteves, da Casa Claretiana de Rio Claro, confirmou que ainda não há uma definição sobre a transferência do padre Jocelir. Segundo ela, a decisão final deve ser tomada após uma reunião com o provincial responsável pela congregação, Marcos Loro, que está em viagem ao exterior. O G1 tentou contato com Loro por telefone, mas não obteve retorno.

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