Maria nos recorda que precisamos colocar nossos horizontes um pouco mais adiante, ao encontro de Deus.
Maria transformou sua vida de cinzenta em algo luminosa. |
Por Dom Eurico dos Santos Veloso*
A solenidade da Assunção apresenta, na leitura de Evangelho, com o texto do Magnificat. É o canto de Maria, ainda grávida de Jesus, que agradece a Deus pela graça recebida. É curioso e convém que prestemos atenção ao fato de a Igreja nos oferecer um texto evangélico de uma Maria jovem para nos explicar o que vai acontecer depois de sua morte.
A solenidade da Assunção apresenta, na leitura de Evangelho, com o texto do Magnificat. É o canto de Maria, ainda grávida de Jesus, que agradece a Deus pela graça recebida. É curioso e convém que prestemos atenção ao fato de a Igreja nos oferecer um texto evangélico de uma Maria jovem para nos explicar o que vai acontecer depois de sua morte.
Diz o dogma
que Maria subiu ao céu de corpo e alma. Que foi a primeira dentre todos
nós. Sua assunção é sinal e promessa da nossa. Mas a assunção não foi
apenas um fato que aconteceu apenas em um momento determinado. Maria
subiu ao céu porque viveu com o olhar posto em Deus. O Magnificat – o
canto de Maria, jovem ainda, grávida, que se encontra com a sua prima
Isabel, igualmente grávida – não é apenas uma bela poesia. É um claro
testemunho do estilo de vida de Maria.
Aquela jovenzinha de uma aldeia da Galileia tinha a alegria
impregnada no corpo. Era uma alegria fruto da fé e confiança no Deus de
seu povo. Para além das aparências, ela sabia ficar acima do cotidiano e
olhar para a história com perspectiva. Por isso, Maria sabe que “sua
misericórdia (a de Deus) chega a seus fieis de geração em geração” e que
“auxilia a Israel, seu servo, lembrando-se da misericórdia”.
Isso não significa dizer que Maria não tenha passado por momentos
cinzentos em sua vida cotidiana. Não deveria ter muitas alegrias a vida
naquelas aldeias das montanhas da Galileia. Lavar, cozinhar, limpar,
ajudar nas tarefas do campo, todos os trabalhos de uma mulher, agravados
pela pobreza em que vivia aquela gente, Naquela situação, a maioria das
pessoas permanecia ao rés do chão. Não eram capazes de ver nada além do
imediato, do que a vida tem de cinzento, dor, negatividade e morte.
Maria – e isto é importante – passou exatamente pelo mesmo, mas
olhava para outros horizontes. Olhava para o céu e enxergava o rosto
bondoso do Deus que havia sido sempre misericordioso com seu povo que
lhe havia prometido a salvação. Por sua fé, Maria transformou sua vida
de cinzenta em algo luminosa.
Sua luz continua iluminando a todos nesta festa. Nossa vida também
costuma ficar cinza quando permitimos que nosso olhar fique no rés do
chão. A festa da assunção nos recorda que precisamos levantar nosso
olhar e colocar nossos horizontes um pouco mais adiante. Devemos olhar
nossa vida e a de nossos irmãos com os olhos de Deus, com a perspectiva
de Deus. Nós nos surpreenderemos ao descobrir a cor diferente que terá a
vida. E aprenderemos a rezar o Magnificat com o prazer e a fé de Maria.
CNBB, 20-08-2014
*Dom Eurico dos Santos Veloso é arcebispo emérito de Juiz de Fora (MG).
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