sábado, 21 de fevereiro de 2015

Paralelismo entre alguns dogmas fundamentais do Evangelho e do Espiritismo

Do livro O Espiritismo em face do Evangelho

1 - Santíssima Trindade

O Evangelho ensina que há um só Deus em três pessoas realmente distintas. Diz, por exemplo, Jesus Cristo a seus discípulos: "Eu rogarei ao Pai, e ele vos mandará outro consolador, para ficar convosco eternamente. O consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas" (Jo. 14, 16 e 26).
Ora, aqui temos, evidentemente, três pessoas distintas: Jesus, que fala; o Pai, a quem Jesus pedirá; e o Espírito Santo, que será enviado pelo Pai, em nome de Jesus. Ninguém pede a si mesmo, ninguém envia a si mesmo!
Pelo que, antes da sua ascensão, diz Jesus aos Apóstolos: "Ide, instruí todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mat. 28, 19).
Nesta passagem, vêm todas as três pessoas divinas na mesma categoria, sendo, pois, igualmente dignas e perfeitas.
O Pai é verdadeiro Deus.
O Filho é verdadeiro Deus.
O Espírito Santo é verdadeiro Deus.
São três pessoas distintas existentes em uma só natureza divina.
Aí está, claramente expresso, o grande mistério da SS. Trindade, mistério que, desde os tempos dos Apóstolos até hoje, foi professado pela Igreja Católica — essa mesma Igreja a quem Jesus disse: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mat. 16, 18).
Neste particular está, por conseguinte, a Igreja Católica de perfeito acordo com o que vem registrado no Evangelho de Cristo.
E o espiritismo?
Nega o mistério da SS. Trindade! Ensina que há só uma pessoa em Deus: o "Pai celeste". Verdade é que, por vezes, também o espiritismo intitula "Deus" a Jesus Cristo e ao Espírito Santo; mas não em sentido próprio, como o entendem os Evangelhos e a Igreja Católica para o espírita, Jesus Cristo e o Espírito Santo não são iguais ao Pai celeste — o que equivale a uma negação da divindade da segunda e terceira pessoa da SS. Trindade.
Portanto, o espiritismo nega o que o Evangelho afirma. Será amigo de Cristo?

2 — Divindade de Cristo

Ensina o Evangelho que a segunda pessoa da SS. Trindade, o Verbo eterno, assumiu a natureza humana e desceu a esta terra, verdadeiro homem, sem deixar de ser Deus verdadeiro.
Haja vista palavras como estas: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Esse é que estava com Deus, no princípio. Tudo foi feito pelo Verbo, e nada do que se fez foi feito sem ele... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua gloria, a gloria do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade" (Jo., 1, 1-14).
Afirma, pois, o Evangelho que Jesus Cristo era Deus desde o princípio, isto é, desde a eternidade, e que, ainda depois de assumir a natureza humana, continua a ser Deus.
Eis aí o dogma fundamental do Cristianismo, a divindade de Cristo! Quem destrói este alicerce, destrói pela raiz a religião de Cristo.
É o próprio Jesus Cristo que, uma e muitas vezes, assevera a sua divindade:
"Eu e o Pai somos um" (Jo. 10, 30). "Antes que Abraão fosse feito, eu sou" (Jo. 8, 58).
À interrogação de Jesus: "Quem dizeis vós que eu sou?" responde Simão Pedro: "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo" (Mat. 16, 16). É uma desassombrada confissão da divindade de Cristo. E Jesus o que faz? Recusa, corrige, retifica a resposta do chefe dos Apóstolos? Nem por sombra! Antes pelo contrário, louva e enaltece os sentimentos de Pedro e confirma-lhe, do modo mais solene, a profissão de fé, dizendo: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas; porque não foi a carne e o sangue que to revelaram; mas, sim, meu Pai que está no céu".
Entendamo-lo bem. Não foram as luzes da natureza humana que a Pedro fizeram conhecer esta grande verdade, mas foi a revelação do Pai celeste. Poderá esta revelação ser falsa, errônea? Certo que não.
Tão certo, pois, como o Pai celeste é infalível nas suas revelações, tão certo é que Simão Pedro deu expressão à verdade, quando confessou a divindade de Cristo. Mais ainda: em recompensa dessa profissão de fé, promete Jesus a Pedro as "chaves do reino do céu", constitui-o chefe dos Apóstolos e pontífice da sua Igreja: "Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino do céu; tudo o que ligares sobre a terra será também ligado ao céu; e tudo o que desligares sobre a terra será também desligado no céu".
Absurdo e blasfemo fora supor que Jesus Cristo tivesse outorgado a Pedro tão extraordinárias prerrogativas em recompensa de um funestíssimo erro religioso.
Jesus Cristo jura solenemente que é Deus.
Achava-se Jesus às barras do Sinédrio, supremo tribunal religioso de Israel. À intimação de Caifás: "Eu te conjuro pelo Deus vivo, que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus bendito", Jesus responde com a maior clareza e precisão: "Sim, eu o sou" (Luc. 22, 70). Equivale esta resposta a um verdadeiro juramento, uma vez que a pergunta do presidente do tribunal revestia essa forma.
E, afim de atalhar toda e qualquer dúvida sobre o sentido exato em que toma a palavra "filho de Deus", Jesus acrescenta que, no fim do mundo, virá sobre as nuvens do céu para julgar os vivos e os mortos. Todos compreenderam que com estas palavras afirmava a sua divindade, porque só a Deus compete julgar os homens, no juízo final; mas, como ignoravam o mistério da SS. Trindade, viram na resposta de Jesus uma blasfêmia, e exclamaram a uma voz: "Blasfemou! é réu de morte!"
Ainda no mesmo dia, em face de Pilatos, repetem em altos brados: "Nós temos uma lei, e segundo essa lei deve morrer, porque se fez Filho de Deus".
E Jesus vai à morte, tranquilo e sereno — morre em testemunho da sua divindade.
Jesus prova ainda com estupendos milagres que é Deus. Apela ele mesmo para os seus milagres, dizendo: "Se não quiserdes crer em mim (isto é: às minhas palavras), crede às minhas obras, porque estas dão testemunho de mim" (Jo. 10, 28).
Jesus mostra-se senhor absoluto da natureza inanimada, convertendo água em vinho, multiplicando os pães, caminhando sobre as águas, aplacando a tempestade, etc.
Jesus mostra-se senhor absoluto da natureza animada, curando toda a espécie de moléstias, sem remédio algum, muitas vezes sem o menor contato, mas com um simples "eu quero", e isto, por vezes, a grandes distâncias, em plena luz do dia, aos olhos de todo o mundo.
Jesus mostra-se senhor absoluto das almas humanas separadas do corpo. A uma simples ordem sua, volta do outro mundo e torna a reunir-se ao corpo a alma da filha de Jairo, a alma do jovem de Naim, cujo cadáver já estava sendo levado para o cemitério; e, por fim, a alma de Lázaro, morto havia quatro dias, enterrado e em via de decomposição. Sobretudo esta última ressurreição realizou-se em face de grande multidão de povo, amigos e inimigos, e sem que Jesus tocasse sequer no cadáver putrefato1.
Jesus mostra-se senhor absoluto dos espíritos infernais, que, transidos de medo na sua presença, o adoram e o proclamam Filho de Deus; mas que a uma ordem categórica dele tem de sair dos corpos das suas vítimas.
E, como coroa e remate de todos os milagres, Jesus ressuscita vivo ao terceiro dia; Ressuscita como havia predito repetidas vezes com a maior clareza e precisão: "O Filho do homem deve ser crucificado; no terceiro dia, porém, há de ressuscitar".
E tudo isto fazia Jesus em virtude do seu próprio poder intrínseco, sem o auxilio de quem quer que fosse.
Ora bem, o espiritismo nega a divindade de Cristo. Para ele, Jesus é apenas o "meigo Nazareno", o "grande filósofo", o "maior dos profetas", o "mais poderoso dos médiuns que até hoje têm aparecido na face da terra" — tudo isto se lê nos escritos dos nossos irmãos kardequianos. Nenhum espírita esclarecido e exato conhecedor do seu sistema admite a divindade de Cristo no sentido em que o entende o Evangelho, isto é: a perfeita igualdade com o Pai celeste. Verdade é que os espíritas falam às vezes no "divino filho de Maria"; mas, como se depreende do contexto, referem-se apenas a uma filiação adotiva — sentido esse em que todo o homem, máxime os Santos, podem chamar-se filhos de Deus. Não é isto que Jesus afirma da sua pessoa; intitula-se a si mesmo o "Filho Unigênito do Pai". A filiação adotiva não teria jamais formado motivo de protesto e condenação da parte dos judeus, uma vez que todo o israelita se dizia filho de Deus, nesse sentido. "Em princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus; tudo foi feito pelo Verbo, e sem ele nada se fez" — aí está o sentido exato em que o Evangelho entende a divindade de Cristo: a perfeita igualdade e consubstancialidade com o eterno Pai.
A Igreja Católica professa a divindade de Cristo, na acepção rigorosa do Evangelho, ao passo que o espiritismo lhe adultera o sentido.
Em resumo: o espiritismo nega o dogma fundamental do Cristianismo, dogma ensinado pelo Evangelho, afirmado, provado e jurado pelo próprio Cristo.
Pode-se lá conceber maior antagonismo entre o credo dos adeptos de Alan Kardec e o do Evangelho de Cristo?

3. Demônio

Existem espíritos maus, inimigos de Deus, a que chamamos demônios ou diabos.
Não são almas humanas, esses espíritos, tanto assim que já no paraíso terrestre, quando não existia outra alma senão as de Adão e Eva, apareceu um desses seres misteriosos, fazendo revelações contrarias à revelação de Deus.
Jesus, no deserto, é tentado três vezes por um desses espíritos infernais, a que o Evangelista chama "diabo", "tentador", e Jesus mesmo: "Satanás" (Mat. 4, 10).
É com muita frequência que Jesus Cristo menciona o "príncipe das trevas", o "espírito imundo", prevenindo os homens das suas astúcias; expulsa os demônios dos corpos dos possessos, repreendendo-os e sendo imediatamente obedecido.
Ora, é sabido que o espiritismo nega a existência do demônio, no sentido exposto; compraz-se em ridicularizar essa crença como "espantalho", "relíquia do obscurantismo medieval", "conto da carochinha", etc.
Ainda neste ponto, como se vê, anda o espiritismo em manifesto conflito com o Evangelho e a doutrina explicita de Jesus Cristo.

4. Inferno

Jesus Cristo ensina que o castigo das almas que se separam do corpo em estado de pecado mortal, será eterno e irremediável.
Na previsão de que esta verdade, odiosa à natureza corrupta, viria a tornar-se alvo de veementes impugnações, expô-la Jesus com a máxima clareza e precisão. Poucas verdades encontramos nas páginas do Evangelho que o divino Mestre inculque com tanta frequência e rigor, como precisamente esta das penas dos condenados.
Sirvam de comprovação os seguintes tópicos:
"Se tua mão te leva ao pecado, corta-a! melhor te é entrares na vida eterna manco, do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca jamais se apaga, onde o verme que os rói nunca morre, e o fogo nunca se extingue.
E, se teu pé te leva ao pecado, corta-o! melhor te é entrares na vida eterna coxo, do que, tendo dois pés, seres lançado no fogo do inferno, que nunca se extingue, onde o verme que os rói nunca morre e o fogo jamais se apaga.
E, se tua vista te leva ao pecado, arranca-a fora! melhor te é entrares no reino de Deus com uma vista, do que, tendo duas, seres lançado no fogo do inferno, onde o verme que os rói nunca morre e onde o fogo jamais se apaga" (Marc. 9, 42-47).
Na parábola do rico epulão e do pobre Lázaro vem a mesma doutrina. Morreu o opulento pecador, e foi "sepultado no inferno", diz Jesus. E do meio desses suplícios levantou os olhos e pediu a Deus que ao menos lhe refrescasse a língua com uma gotinha d'água, porque "sofria grandes tormentos naquelas chamas". Lá do alto, porém, lhe veio uma negativa formal, com a motivação de que entre os bem-aventurados e os réprobos mediava um "grande abismo", de maneira que os do céu não podiam passar para o inferno, nem os do inferno para o céu.
E o condenado continua a sofrer nas chamas do inferno (Luc. 16, 19-31).
É Jesus que o diz.
No juízo final dirá Jesus Cristo aos pecadores impenitentes: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e seus companheiros... E irão estes para o suplício eterno; os justos, porém, para a vida eterna" (Mat. 15, 41e46).
É esta a doutrina do Evangelho de Cristo, como também a da Igreja Católica: que o inferno existe e que as suas penas são eternas.
Ora, é mais que sabido que o espiritismo nega com apaixonada veemência essa doutrina, a fim de poder sustentar a sua hipótese arbitrária sobre a "reencarnação" das almas. Não admite inferno, no sentido do Evangelho; não crê na eternidade das penas dos condenados. Deus é pai de bondade, dizem eles, que não pode castigar para sempre uma pobre alma; privando-a da possibilidade de converter-se; seria fazer injuria à misericórdia de Deus e desmentir o seu amor paternal para com os homens, etc. etc.2.
Não nos compete a nós decidir o que Deus pode ou não pode fazer; se ele nos revelou que assim e assim acontece, corre-nos o rigoroso dever de darmos crédito incondicional às suas palavras, por menos que lhes compreendamos o como e o porquê. É certo que as penas eternas dos réprobos representam um verdadeiro mistério para a razão humana, porque não compreendemos devidamente nem a santidade de Deus nem a gravidade da culpa mortal. Mas nem por ser mistério temos o direito de negar-lhe a existência e objetiva realidade, uma vez que a doutrina de Cristo aí está, precisa, insofismável, clara como a luz do sol.
Contra a revelação da eterna verdade não conseguirão prevalecer as potências do inferno nem as paixões do coração humano.
O espiritismo, negando a existência de penas eternas, põe-se na mais flagrante oposição à doutrina de Cristo e da Sagrada Escritura em geral, quer do Novo, quer do Antigo Testamento.
Terá esse sistema o direito de chamar-se Cristão ou bíblico?
Também neste ponto, como em outros, é o espiritismo o que Judas foi entre os Apóstolos.

Continua...

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