Entrevista com o bispo Anthony Muheria, Bispo de Kitui e administrador apostólico de Machakos, sobre a visita papal: “Sua forte mensagem de integração e de misericórdia é muito oportuna para que possamos enfrentar as profundas realidades que afetam a nossa sociedade queniana"
Roma,
(ZENIT.org)
Por
Redação
Com a chegada do Papa Francisco no Quênia, mons Anthony Muheria,
bispo de uma diocese localizada a 180 quilômetros de Nairobi, explica
quais são as expectativas da sociedade e da Igreja do Quênia perante
esta primeira viagem do Pontífice à África. Mons. Muheria diagnostica a
pobreza, a corrupção e o tribalismo como os principais problemas que o
Santo Padre vai encontrar, e garante que a sua presença será um impulso
para a juventude, para a luta contra o radicalismo e a consciência
ecológica perante a exploração dos recurso naturais. O bispo de Kitui
sente-se herdeiro dos missionários, e explica que a Igreja do Quênia é
jovem e vibrante. O papa Francisco viaja também viaja para Uganda e
República Centro-Africana, e conhecerá em primeira mão os territórios de
missão. A seguir, publicamos a entrevista divulgada pelas Pontifícias
Obras Missionárias (POM) em espanhol.
No princípio ninguém sabia com certeza, mas o Quênia, por fim, foi incluído no programa. Por quê o Quênia?
- Mons. Anthony Muheria: O Papa vem para o Quênia, em resposta a um
convite dos bispos católicos do Quênia em sua última visita ad limina. O
Quênia passou por momentos difíceis durante os últimos quatro anos: a
violência pós-eleitoral em 2008, vários atentados terroristas, e outros
males sociais. O Papa quer vir para incentivar os quenianos a serem
ousados na profissão da fé, e no desejo de buscar uma convivência mais
harmoniosa.
Qual o ambiente que o Papa vai encontrar? Como é a sociedade do Quênia? Qual a presença da Igreja?
- Mons. Anthony Muheria: O Papa se encontrará com uma Igreja muito
vibrante, com mais de 34% da população católica, de um total de 45
milhões de habitantes. Uma Igreja jovem na fé e também jovem nas
expressões de fé. Graças a Deus fomos abençoados com muitas vocações
sacerdotais e religiosas. A Igreja está profundamente envolvida no setor
sanitário, e se encarrega de quase o 35% dos estabelecimentos
sanitários do país. De todas as escolas, mais de 40% estão sob o cuidado
e o patrocínio da Igreja Católica.
Infelizmente, ainda há graves problemas sociais na sociedade
queniana. Além do grande fosso entre ricos e pobres, temos mais de 20%
da população que vive em extrema pobreza. A realidade das favelas nas
grandes cidades, onde grandes populações vivem em condições sub-humanas,
é uma realidade vergonhosa. O Papa Francisco visitará uma destas
favelas.
A fibra moral da sociedade tem sido severamente desgastada nos
últimos anos por causa da corrupção e do tribalismo. Estas são as
circunstâncias que o Papa encontrará quando chegar. Esperemos que as
suas palavras desencadeiem uma mudança na transformação desta cultura
negativa.
Quais são as expectativas que a sociedade queniana tem dessa viagem do Papa Francisco? Como a viagem foi preparada? Que iniciativas estão sendo realizadas? Que tipo de assistência é esperada?
- Mons. Anthony Muheria: Esperamos que o papa Francisco restaure a
nossa esperança e volte a acender o nosso desejo de testemunhar mais a
nossa fé. A sua mensagem forte de integração e de misericórdia é muito
oportuna para que possamos enfrentar as profundas realidades que afetam a
nossa sociedade queniana.
Esperamos que o Papa tenha uma forte mensagem para a juventude.
Acreditamos que isso terá um impacto sobre o futuro do país, uma vez que
são eles que podem quebrar o ciclo vicioso do vício. Esperamos, também,
que os líderes, especialmente os líderes políticos, aprendam com o
exemplo do Santo Padre sobre humildade e simplicidade na liderança.
Dado que a África tem sido muito explorada em seus recursos, saudamos
também a sua mensagem para tornar-nos guardiões da criação e do meio
ambiente, promovendo mais uma maior responsabilidade e respeito pela
natureza e destacando o legado da criação dado por Deus no mundo.
O Papa terá um evento principal na celebração da missa no recinto da
Universidade de Nairobi, onde esperamos mais de 500.000 pessoas. Terá um
encontro com uns 40 líderes religiosos de várias religiões, incluindo
judeus, muçulmanos, protestantes e outras religiões tradicionais, antes
da missa. Também se reunirá com o clero e os religiosos e terá um tempo
de oração com eles. No último dia vai visitar uma favela e terminar com
um momento clímax onde se reunirá com mais de 150.000 jovens de todo o
país.
Como diz, o Papa tem planejado eventos inter-religiosos nesta viagem histórica. Qual é a relação da Igreja Católica no Quênia com outras religiões, especialmente com o Islã? Você acha que o diálogo pode ajudar a conter o radicalismo religioso?
- Mons. Anthony Muheria: O mal do radicalismo é um tema que esperamos
que a visita do Papa nos proporcione uma plataforma para enfrenta-lo
mais exaustivamente. Por um lado, é necessário abordar o problema
econômico do desemprego e a facilidade para ser atraídos pelo dinheiro
fácil e, por outro, a firmeza na sua fé para que não sejam facilmente
manipulados para o mal. Continuamos fazendo esforços para fomentar o
diálogos com os muçulmanos em nosso país.
Há grande preocupação com a segurança do Papa nesta viagem. O que está sendo feito? É necessário registrar-se para participar dos eventos?
- Mons. Anthony Muheria: Trabalhamos estreitamente com o governo
para garantir a segurança do Santo Padre e de todas as pessoas que
assistam os eventos. Somos prudentes, mas também cuidadosos.
Houve um processo para garantir a segurança daqueles que estejam na
área do altar. Adotamos um sistema de entrada com cartões, mas qualquer
cristão que deseje participar pode conseguir um cartão na sua paróquia.
Incentivamos todos aqueles que gostariam de participar.
Na carta dos bispos do dia 6 de novembro, depois da Assembleia geral em Nairobi, os bispos indicam que esta viagem pode ser um bom momento para refletir sobre as relações entre o Estado e a Igreja no Quênia. Qual é a relação atual? Qual é a contribuição que a Igreja dá para o Estado?
- Mons. Anthony Muheria: A relação entre a Igreja e o Estado é boa
hoje. De fato, a visita foi preparado por uma equipe combinada entre
governo e a Igreja Católica. No entanto, pode-se melhorar em certas
áreas de colaboração e no maior espaço dado ao papel das Igrejas na
educaão e na saúde.
Vocês vivem em um território de missão. Você mesmo é uma vocação Africana, que testemunha as raízes da fé. Qual o débito da Igreja do Quênia aos missionários? Qual é o grau de implantação da Igreja? Quais são as suas características específicas? Recebem ajudas das Pontifícias Obras Missionárias?
- Mons. Anthony Muheria: Sempre reconhecemos os muitos sacrifícios
dos missionários que vieram para evangelizar-nos. Foram realmente heróis
na fé e extremamente generosos. Muitos morreram de doenças e outros
perderam as suas vidas para que a fé pudesse criar raízes. Isso tem sido
especificamente testemunhado de uma forma especial com a recente
beatificação de uma irmão consolata, Beata Stafani Irene, em agosto de
2015.
Fomos beneficiários das ajudas das Pontifícias Obras Missionárias, e
muitas vezes da Espanha. Estamos profundamente gratos, pois isso está
nos ajudando a crescer rapidamente fé, especialmente na construção de
igrejas e de instituições religiosas.
Nós estamos comprovando que a Igreja coloca mais e mais
responsabilidade no clero local, atualmente mais do 95% dos que
trabalham na diocese. Também vemos o apoio financeiro com a contribuição
dos cristãos de mais de 350.000 euros por ano para apoiar o trabalho de
evangelização.
Você participará de algum ato? Qual?
- Mons. Anthony Muheria: Tenho a intenção de participar da Missa, do
encontro com o clero e do encontro com a juventude... Estou
especialmente emocionado com o encontro com os jovens.
Acho que a visita do Santo Padre vai deixar um grande impacto no
nosso país e marcará um novo começo. Não só porque trará vários dons,
como mensageiro de Deus, mas também como forte testemunho cristão da sua
vida e seu estilo. Karibu Fransisko Baba.
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