quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Superstições de fim de ano são ‘adultério espiritual’, diz exorcista

 

 

Por Natalia Zimbrão

 

Pular ondas no mar, vestir roupa branca, comer uvas ou lentilhas para dar sorte, buscar previsões de astrólogos, lendo mãos ou os búzios. Muita gente começa o ano assim. Longe de serem hábitos inocentes, superstições como essas são “pecado contra a virtude da religião”, diz o padre Duarte Lara, exorcista da diocese de Lamego, em Portugal.

“O pecado de superstição é uma espécie de adultério espiritual”, diz. “O mal é esperar a salvação de uma força que não vem de Deus”, ensina o padre. “O demônio aproveita a brecha”.

Há maneiras católicas de se passar a virada do ano, lembra Duarte Lara. “A Igreja dá indulgência plenária a todo fiel que no último dia do ano reza o Te Deum”. “Isso é uma coisa muito boa que podemos fazer na passagem do ano, terminar o ano agradecendo a Deus”.

“Na nossa cultura, a superstição tem uma conotação menos pesada do que ela é do ponto de vista teológico. Para muitos, superstição é até uma bobagem, algo que não tem muito sentido e que fazemos para dar sorte”, disse o padre em entrevista à ACI Digital. Mas, “do ponto de vista teológico”, disse, “superstição é um vício, portanto o oposto a uma virtude, e vai contra a virtude moral da religião”. Segundo Duarte Lara, a virtude moral da religião “é uma disposição da nossa vontade para dar a Deus o culto que lhe é devido”.

“Há fundamentalmente dois grandes vícios que se opõem à virtude da religião”, a irreligião e a superstição, diz padre Duarte Lara. “A irreligião é não tratar como sagrado aquilo que é sagrado”, isto é, “não tratar com a devida veneração as coisas sagradas”, os lugares sagrados, os dias sagrados, a Bíblia.

A superstição “é divinizar criaturas ou alguma coisa criada – fonte de conhecimento etc. –, que não são Deus. Tem a ver com prestar um culto que é devido a Deus a alguma coisa que não é Deus. Isso é pecado”, disse.

Segundo o exorcista, “a superstição se divide em três grandes formas”: idolatria, adivinhação e magia. A idolatria é “quando divinizo alguma coisa que não é Deus. Hoje em dia, começa a crescer a tendência de idolatria com coisas humanas, do trabalho, da saúde, do sucesso, do dinheiro. Às vezes, há pessoas que fazem disso o seu deus”, lamentou.

A adivinhação “é quando divinizo uma fonte de conhecimento que não vem de Deus”. Assim, em vez de pedir a Deus, rezar, estudar a Palavra de Deus “para ser iluminada”, a pessoa faz “outra coisa para ser iluminada por uma luz que não vem de Deus. Problema!” Segundo o sacerdote, “na nossa sociedade tem mil e uma formas de adivinhação”, como invocação dos mortos, observação dos astros, leitura da palma da mão e várias outras.

Padre Duarte Lara disse que, quando se recorre à adivinhação, espera-se que “aquela pessoa, não qualquer pessoa, por alguma inspiração, consegue prever o futuro”. “Isso implica em pôr a minha confiança nesta fonte de iluminação, o que é uma coisa impossível, mesmo sendo o demônio. Ele não conhece o futuro. O demônio consegue prever algumas coisas sim, como nós conseguimos prever se amanhã vai chover. O demônio consegue isso um pouco melhor, ou seja, consegue conjugar as causas presentes e ver a sua dinâmica natural e, portanto, traz cenários prováveis. O demônio também consegue prever coisas que ele próprio consegue causar. Ou seja, olha na palma da mão e diz ‘você vai ter um problema de saúde na próxima quinta-feira’ e, às vezes, é o próprio que consegue causar esse problema de saúde. Aí, também não é um grande adivinho, é uma espécie de truque”, explica.

Sobre a magia, padre Duarte Lara afirmou que “é a mesma lógica da adivinhação”, isto é, “recorrer a alguma força criada para obter determinado efeito”. “Estou recorrendo a uma força que não é Deus e pedindo ajuda, basicamente, para o bem ou para o mal, e nesse último caso é claramente mais pecado. A magia negra, além de ser pecado contra a virtude da religião, ainda é contrária à caridade e à justiça”, afirmou.

O sacerdote, então, questionou o que leva uma pessoa a praticar uma superstição. Segundo ele, “há quem acredita mesmo”, pessoas que já fizeram em anos anteriores a acham que aquilo lhes deu sorte, são “os convictos”. Por outro lado, há pessoas que praticam como “certa brincadeira” e pensam que “se calhar, até dá sorte”. “As pessoas olham para o rito, o ato e parece bastante inócuo... isso não faz mal a nada. O que perco? Não perco nada, melhor arriscar”. Segundo padre Lara, “isso já é pecaminoso, é uma imprudência, significa que não tem claro em seu coração ‘dar a Deus o que é de Deus’. Além disso, “há a questão do escândalo, porque estou incentivando os outros pelo meu comportamento”. O padre disse ainda que algumas pessoas “são até contra”, mas fazem determinada superstição de fim de ano “porque estão com os amigos e não querem ser os únicos a não fazer”. “Aí entra a virtude da fortaleza, é também um ato de covardia”, afirmou.

Segundo, padre Duarte Lara a “superstição é uma espécie de vírus”. “Quem come as uvas, pula as ondas, também lê o horóscopo... é todo um pacote, ou seja, sua disposição moral é de uma abertura a essas forças que se manifestam de muitas maneiras, não só no final do ano. Isso mostra uma fé fraca e pouco conhecimento da Palavra de Deus”. O sacerdote alertou que, “quando deixo de pôr minha esperança de salvação em Deus e estou colocando em outra força sobrenatural, isso é perigoso e o demônio aproveita essa minha abertura”.

Citou como exemplo o caso de uma jovem que se dizia católica, mas pouco praticante. Quando o pai dela morreu, ela procurou adivinhos para saber se ele estava bem. “Esse tipo de curiosidade abre a porta. Foi uma fase da vida dela em que foi se envolvendo cada vez mais com o oculto, primeiro com uma coisa que parecia boa. Foi se envolvendo e depois foi preciso o exorcismo”, contou.

Padre Duarte Lara afirmou que, nesta época da virada de ano, “as pessoas normalmente desejam às outras aquilo que consideram necessário para a felicidade”, como saúde, paz, amor, presença da família, dos amigos. “Isso manifesta o que trazemos no coração, qual ideia temos de felicidade”, disse. Segundo ele, “são coisas muito boas”, mas não “o mais importante”. “Jesus ensinou que a coisa mais importante na nossa vida nessa terra é nossa comunhão com Deus, é viver na graça de Deus, é ser amigo de Deus”, disse.

“Então, qual é a maneira católica de passar o ano? Querido irmão, um 2022 cheio da Palavra e do amor de Deus”, afirmou e acrescentou “um ano cheio de missas, boas comunhões, boas confissões... tudo o que alimenta a nossa comunhão com Deus”.

 

Fonte - acidigital

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