segunda-feira, 14 de julho de 2025

Sínodo: a “implementação é uma oportunidade”. Vamos conseguir?

O Papa Leão XIV deseja que a sinodalidade se torne uma mentalidade e confirma três anos de implementação do Sínodo rumo à Assembleia Eclesial de 2028. Uma oportunidade de conversão das relações, dos processos e das obrigações. Um tempo para caminhar juntos e experimentar práticas, em discernimento eclesial. 

Párocos de todo o mundo em reflexão sobre o Sínodo
Párocos de todo o mundo em reflexão sobre o Sínodo

 

Por Rui Saraiva – Portugal

 

Chegou o grande momento: o de implementar o espírito sinodal em toda a Igreja e de procurar tornar a sinodalidade numa mentalidade.

Tal como disse o Papa Leão XIV aos bispos italianos no passado dia 17 de junho, exortando-os a uma verdadeira mentalidade sinodal: “Que a sinodalidade se torne uma mentalidade, no coração, nos processos de tomada de decisões e nos modos de agir”, disse o Papa.

“Olhem para o amanhã com serenidade e não tenham medo de escolhas corajosas”, declarou o Papa Leão XIV na ocasião.

Contudo, não obstante o encorajamento do Santo Padre, a intensidade do processo global realizado desde 2021 e as conclusões participadas do Sínodo, ficamos sempre com uma dúvida metódica: vamos conseguir fazer da implementação do Sínodo uma oportunidade?

Analisemos alguns dados para a implementação do Sínodo.

Conversão de relações, processos e obrigações

Depois de três anos de caminho em conjunto, entre 2021 e 2024, num movimento que envolveu milhões de pessoas em todo o mundo refletindo sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”, as conclusões do Sínodo foram condensadas num texto publicado em outubro de 2024.

O Documento Final (DF) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos bispos, nos seus 155 pontos, são fruto do trabalho de 368 participantes, dos quais 272 eram bispos e mais de 50 eram mulheres. O DF apresenta uma larga panorâmica sinodal com uma palavra-chave: a conversão. A conversão de relações, processos e obrigações. Uma conversão contínua a partir da escuta do Evangelho colocando em prática o Concílio Vaticano II, como se pode ler no número 5 do documento.

“De facto, o caminho sinodal está a pôr em prática o que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus, chamada à santidade através de uma conversão contínua que nasce da escuta do Evangelho”, refere o DF.  

Após a fase inicial de consulta das comunidades, com os relatórios das dioceses, das conferências episcopais e das assembleias continentais, o Sínodo teve duas sessões em Roma nos anos 2023 e 2024.

E o DF do Sínodo de outubro de 2024 é o material essencial para a implementação das conclusões no concreto da vida da Igreja.

Caminhar juntos e experimentar práticas

Com o objetivo de apoiar a implementação, a Secretaria Geral do Sínodo publicou neste mês de julho um pequeno texto com o título “Pistas para a fase de implementação do Sínodo”.

O texto agora publicado apresenta-se como um “quadro de referência comum” que “facilite o caminhar juntos” e ajude a “promover o diálogo”, refere o texto na sua apresentação.

E para implementar o Sínodo é necessário passar pela experiência sinodal. Logo no primeiro ponto do documento é sublinhado que “crescer como Igreja sinodal exige um saber que se aprende só através da experiência e nos abre uma via para o encontro com o Senhor”.

A Secretaria Geral do Sínodo sublinha que esta “fase de implementação tem como objetivo experimentar práticas e estruturas renovadas, que tornem a vida da Igreja cada vez mais sinodal”.

E, em particular, destaca a fase de implementação como “uma oportunidade para manter vivo aquele intercâmbio de dons que faz crescer a comunhão”. Recorda a importância da “criatividade que inspira novas formas de praticar a sinodalidade”.

A responsabilidade do bispo e a animação em equipa

“O primeiro responsável pela fase de implementação em cada Igreja local é o bispo diocesano”, recorda o texto das pistas para a implementação do Sínodo.

Assinala mesmo ser para os bispos “uma ocasião oportuna para praticar um exercício da autoridade em estilo sinodal”, tal como refere o DF: “Quem é ordenado Bispo não recebe prerrogativas e tarefas que deve desempenhar sozinho. Pelo contrário, recebe a graça e a tarefa de reconhecer, discernir e compor em unidade os dons que o Espírito derrama sobre as pessoas e sobre as comunidades”.

Procurando a unidade, “os bispos são chamados a inspirar e apoiar a participação no processo sinodal de todos os membros da porção do Povo de Deus que lhes foi confiada”, refere o texto das pistas para a implementação.

O documento assinala a importância das equipas sinodais como animadoras do processo sinodal nas igrejas locais. “São instrumentos fundamentais para a animação ordinária da vida sinodal das Igrejas locais”, pode-se ler.

“As equipas sinodais com uma composição adequadamente variada poderão tornar-se mais facilmente laboratórios de sinodalidade, experimentando dentro de si mesmas as dinâmicas que são chamadas a promover no Povo de Deus. O seu papel na fase de implementação é, antes de mais, promover e facilitar o crescimento do dinamismo sinodal”, revela o documento publicado neste mês de julho.

Em discernimento eclesial

O “método próprio de uma Igreja sinodal” é o “discernimento eclesial”, revelam as pistas para a implementação do Sínodo.

O documento recorda que “para a realização de um bom processo de discernimento, é fundamental uma definição clara dos objetivos, garantindo que sejam realistas e proporcionais em relação ao tempo disponível, aos espaços utilizáveis e ao número dos participantes envolvidos”.

Sublinha ainda que “é fundamental que cada participante chegue adequadamente preparado e que o contexto favoreça um clima de oração e disponibilidade interior para ouvir e dialogar”.

A este propósito, salienta a importância da figura do facilitador, assinalando que os processos sinodais devem “contar com formas adequadas de facilitação” que permitam aos participantes a concentração “nas questões sujeitas a discernimento”.

Neste âmbito, o documento indica a “Conversação no Espírito” como “um instrumento de encontro” e de “crescimento nas relações”, em particular, na “passagem do ‘eu’ para o ‘nós’. O próprio DF, no seu número 45 destaca a importância da implementação do método da “Conversação no Espírito”.

Rumo à Assembleia Eclesial de 2028

Entretanto, salientemos que o texto “Pistas para a fase de implementação do Sínodo” aprovado pelo Papa Leão XIV e publicado pela Secretaria Geral do Sínodo na segunda-feira 7 de julho, confirma o percurso proposto pelo Papa Francisco no documento de 15 de março deste ano de 2025.

Um caminho desenhado a partir das igrejas locais rumo a uma Assembleia Eclesial em outubro de 2028 em Roma.

A Secretaria Geral do Sínodo recorda as seguintes etapas em caminho sinodal:

- entre junho de 2025 e dezembro de 2026: percursos de implementação nas Igrejas locais;

- no primeiro semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas dioceses;

- no segundo semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas conferências episcopais nacionais e internacionais, nas estruturas hierárquicas orientais e em outros agrupamentos de Igrejas;

- no primeiro quadrimestre de 2028: Assembleias continentais de avaliação;

- em outubro de 2028: celebração da Assembleia Eclesial no Vaticano.

O documento deste mês de julho revela que o Papa Leão XIV decidiu criar mais dois grupos de estudo que se juntam àqueles que já estão a trabalhar há algum tempo. Um dos novos grupos será para estudar a “liturgia em perspetiva sinodal” e o outro para aprofundar o “estatuto das conferências episcopais, das assembleias eclesiais e dos Concílios Particulares”.

Chegou o momento da implementação concreta das conclusões do Documento Final do Sínodo na vida da Igreja. Com o Papa Leão XIV rumo à Assembleia Eclesial de 2028.

Laudetur Iesus Christus

 

Fonte - vaticannews

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