Vaticano lembra que "os hospitais católicos devem proteger a vida"
BARCELONA, sexta-feira, 24 de junho de 2011 (ZENIT.org) - O Vaticano mostrou preocupação com a situação de hospitais da Catalunha em cuja direção a Igreja participa e nos quais são realizados abortos.
Em carta de 6 de junho ao padre Custodio Ballesteros, que havia comunicado ao dicastério a prática de abortos nesses hospitais e a falta de resposta da Igreja local, a missiva do Vaticano indica: “O Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde é consciente deste desafio para os hospitais católicos, pois eles devem tutelar e defender a vida humana em meio a uma cultura de morte”.
“A situação de alguns hospitais da Catalunha quanto ao aborto”, ilustrada por Ballesteros num amplo dossiê enviado ao dicastério, “preocupa a Igreja inteira”, aponta o subsecretário do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, Dom Jean-Marie Mupendawatu.
Na carta, escrita a pedido do presidente do dicastério, o arcebispo Zygmunt Zimowski, ele explica que o organismo vaticano já tinha recebido informações sobre esta situação antes e que “pudemos conversar com os responsáveis”. O conselho pontifício exorta os responsáveis “a averiguar detalhadamente o que está ocorrendo e achar soluções concretas para eventuais problemas individualizados”.
O Hospital San Pablo de Barcelona e o Hospital General de Granollers aparecem no registro oficial do Ministério de Saúde como centros que realizaram abortos legais em 2009.
Diante disto, “a direção do hospital deu ordens ao serviço de obstetrícia e ginecologia para não praticarem abortos”, informou nesta terça-feira a ZENIT um porta-voz do arcebispado de Barcelona.
Em agosto passado, os representantes do cabildo da catedral de Barcelona no Hospital San Pablo comunicaram que sempre “se manifestaram a favor da vida humana desde o momento da concepção e trabalham para que este princípio rija as ações do hospital”.
Explicaram que, “de acordo com os princípios éticos em que o hospital se inspira desde a fundação, não se praticam interrupções voluntárias da gravidez, embora excepcionalmente concorram circunstâncias médicas que levam a ações entre cujas consequências pode estar a perda do feto”.
E afirmaram que se foi vulnerado algum princípio ético e moral da Igreja católica que o hospital deve respeitar por convênio, “serão tomadas as medidas oportunas para o seu cumprimento”.
Por sua vez, o bispado de Terrassa condenou publicamente a realização de abortos no Hospital de Granollers e solicitou a supressão da prática. Até agora, porém, não houve nenhuma mudança neste sentido, comentou a ZENIT o secretário geral e chanceler do bispado, Fidel Catalán. O mesmo porta-voz afirma que “consultou os superiores”, mas ainda não recebeu resposta oficial.
Na administração do Hospital San Pablo participam com partes iguais o arcebispado e a prefeitura de Barcelona e a Generalitat da Catalunha (equivalente esta, aproximadamente, ao que seria o governo estadual no Brasil).
No patronato do Hospital de Granollers, o vice-presidente é designado pela paróquia de Sant Esteve de Granollers, pertencente ao bispado de Terrassa.
Por lei
Na Espanha, segundo a Lei Orgânica de Saúde Sexual e Reprodutiva e da Interrupção Voluntária da Gravidez, que entrou em vigor em julho de 2010, “a prestação da interrupção voluntária da gravidez se realizará em centros da rede pública de saúde ou vinculados a ela”.
A norma indica que “todas as mulheres terão igual acesso à prestação”, livremente até as quatorze primeiras semanas de gestação e com justificativa médica até a vigésima segunda semana.
A lei só prevê objeção de consciência para pessoas individuais, não para os centros.
Desde a entrada em vigor desta lei, alguns hospitais estão recebendo mais pressão para fazer abortos, explicou a ZENIT o vice-presidente do patronato do Sant Hospital de la Seu d'Urgell e pároco da mesma cidade de Urgel, Xavier Parès.
“Numa reunião do patronato há meio ano, um médico afirmou que nesse hospital ainda não eram feitos abortos, mas que eles teriam que passar a ser feitos. Eu falei que não podemos permitir essa prática num hospital onde a Igreja faz parte do patronato, e todos ficaram quietos”.
Custodio Ballesteros declarou a ZENIT que manteve conversas em Roma com altos representantes vaticanos. Eles indicaram que hospitais com participação da Igreja não podem fazer abortos, e, caso façam, a Igreja deve se retirar.
Para Ballesteros, a Igreja poderia renunciar aos fundos públicos para manter sua liberdade, mesmo reduzindo em decorrência disto o tamanho de seus hospitais.
Pílulas
A distribuição de pílulas abortivas (RU-486 e as pílulas do dia seguinte) afeta um número maior de hospitais cuja direção conta com a Igreja.
Por esta causa, no Hospital de Sant Celoni, na diocese de Terrassa, o vice-presidente do patronato, padre Ignasi Fuster, pediu demissão do cargo ao considerar que a Igreja deve se retirar de hospitais que praticam abortos.
No Hospital San Juan de Dios de Esplugues de Llobregat também foi distribuída a pílula do dia seguinte até que sua distribuição começasse a ser realizada nas farmácias, informou a ZENIT o capelão Miguel Martín Rodrigo, delegado de pastoral da saúde do bispado de Sant Feliu. O religioso declarou que nesse hospital nunca foram feitos abortos nem distribuída a pílula RU-486. “A ordem de São João de Deus sempre manifestou que no hospital não vai haver abortos e a Generalitat nos respeita”.
Na lista de Centros de Referência de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva da Generalitat e de “informação para a realização da Interrupção Voluntária da Gravidez, aparecem vários hospitais em que a Igreja tem participação. Entre outros, o Hospital San Juan de Dios de Esplugues de Llobregat, o Hospital Residência San Camilo de Sant Pere de Ribes, o Sant Hospital de la Seu d'Urgell e o Hospital de Santa Tecla de Tarragona.
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