Nova evangelização requer sacerdotes e leigos em seu próprio papel
ROMA, quinta-feira, 9 de junho de 2011 (ZENIT.org) – O conceito de “nova evangelização”, que destaca o papel dos leigos na Igreja, não significou para João Paulo II uma “protestantização” da Igreja Católica nem uma desvalorização do papel do sacerdote, mas todo o contrário.
Esta foi a afirmação do cardeal Paul Josef Cordes, que foi, durante muitos anos, presidente do Conselho Pontifício para os Leigos e, depois, do Conselho Pontifício Cor Unum, em um artigo publicado no último fim de semana pelo L'Osservatore Romano.
Nele, o purpurado explica como nasceu o conceito de “nova evangelização” na mente de Karol Wojtyla e como o Papa polonês entendia que deveria levar-se a cabo este esforço evangelizador.
Esta “nova evangelização” deve ser um esforço de todo o corpo eclesial em comunhão, no qual leigos e sacerdotes saibam responder às exigências da sua vocação própria, sem rivalidades nem superposições, e na qual haja uma pregação eminentemente cristológica.
Começou com a cruz
“Da cruz de Nowa Huta começou a nova evangelização: a evangelização do segundo milênio”: estas palavras foram pronunciadas em 1979 por João Paulo II, em sua histórica viagem à Polônia, na “cidade sem Deus” comunista na qual a resistência dos operários cristãos conseguiu levantar uma grande cruz e uma igreja.
No entanto, sublinha o cardeal Cordes, os episódios de Nowa Huta não podem ser compreendidos se não se sabe que, na verdade, o cardeal Karol Wojtyla havia convocado, na província eclesiástica de Cracóvia, um sínodo, que desde 1972 envolvia toda a Igreja local, bispos, sacerdotes e leigos, na compreensão e ação do Concílio Vaticano II.
No sínodo, e pouco depois em seus primeiros ensinamentos magisteriais como Papa, João Paulo II incorporou o termo “nova evangelização” associado ao de “missão de todos os batizados”, no qual sublinha o papel dos leigos nela.
Sacerdotes indispensáveis
O cardeal quis recordar a primeira carta de João Paulo II aos sacerdotes, na Quinta-Feira Santa de 1979, na qual expressava a dor das comunidades católicas que se viam privadas de sacerdotes, uma dor que presumivelmente sentiam muitos atrás da Cortina de Ferro.
Hoje, afirma o cardeal Cordes, “é urgente afirmar a insubstituibilidade dos sacerdotes”, e alega que o maior problema não é a “mancha” à sua estima, provocada pelos escândalos de abusos nos últimos anos.
Ao contrário, é muito mais grave “a cada vez mais extensa indiferença com relação à figura do presbítero”, afirma, alertando contra a extensão da implementação, em vários países da Europa, de “unidades pastorais” nas quais muitas vezes o sacerdote tem um papel secundário, e em que o fator decisivo da pastoral é “uma administração segundo princípios sociológicos, reduzindo as oportunidades de infundir ou promover a fé através de uma relação pessoal, do testemunho e da confiança amadurecida no tempo”.
“O ministério ordenado está se ensombrecendo lentamente”, adverte, sublinhando a necessidade de “destacar o perfil teológico do presbiterado por meio das Escrituras e do Magistério da Igreja”.
Neste sentido, convida a reler o decreto conciliar Apostolicam actuositatem, sobre a complementação de sacerdotes e leigos no apostolado, assim como a Lumen Gentium.
No entanto, o cardeal Cordes adverte contra uma reação “também extremista” contra esta situação: um clericalismo que se remete “a um conceito de santidade de tipo histórico-religioso, através de uma separação do mundo, sem levar em consideração que a santidade de Cristo, único sacerdote, é dada pela sua missão no mundo e o sacrifício da própria vida”.
Ao invés de refletir biblicamente, concebe-se o sacerdote como 'representante cultual', homem do sagrado, cujo lugar não está antes de tudo no povo de Deus, mas que se coloca à frente dele como figura diferente.”
O que é evangelizar
Por último, o cardeal Cordes volta àquela visita história à Polônia, em 1979, para rastrear outra das pistas que João Paulo II deixava à Igreja sobre a “nova evangelização”.
O Papa polonês “aproveitou o encontro de Nowy Targ com os habitantes do planalto para um gesto muito significativo”: alguns jovens de Oasis (um movimento juvenil fundado em Roma em novembro de 1950, ao qual João Paulo II tinha muito apreço) levaram cestos de pão cheios de Bíblias.
“Ele mesmo distribuiu, na distribuição dos livros, então extremamente raros, ilustrando, com este gesto, que o homem não vive só de pão”, recorda o cardeal Cordes.
A natureza humana, reflete o purpurado, “tende a dar preferência à realidade social e ao que pode ser alcançado com as próprias forças. Inclusive dentro da evangelização, a atenção se concentrou predominantemente em elementos mundanos: justiça e paz, proteção da criação, discussões sobre valores e direitos humanos”.
Tudo isso, afirma, “certamente tem a ver como Evangelho, mas não se refere ainda à questão da fé. Inclusive pode escurecer a substância da mensagem divina”.
João Paulo II, visitando uma paróquia romana em 1989, reafirmou que, “na evangelização, não é suficiente proclamar os valores cristãos”, mas que, “para poder falar de evangelização, é necessário que esta se refira aos conteúdos da fé”, recorda o cardeal alemão.
Seguidamente, na encíclica Redemptoris missio, de 1990, o Papa remarcava esta pontualização, ao afirmar que uma evangelização dirigida somente à transmissão dos “valores do Reino”, isto é, a paz, a justiça, a liberdade e a fraternidade, corria o risco de “deixar de lado a pessoa de Jesus Cristo”.
Contra esta concepção expressava-se João Paulo II, conclui o cardeal Cordes, recordando que “o Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito à livre elaboração, mas, antes de tudo, uma pessoa, que tem um rosto e o nome de Jesus de Nazaré, imagem de Deus invisível”.
(Inma Álvarez)
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