Do blog fratresinunum
15/04/2012
Rick Santorum (foto abaixo) deixou a corrida à
vaga republicana na eleição presidencial dos Estados Unidos na última
terça-feira. No entanto, sua participação lançou um debate sobre o
papel da Religião na vida pública e também apresentou um panorama do
catolicismo no país norte-americano: nos estados em que a Igreja tem
mais fiéis, a vitória ficou com o mórmon Mitt Romney. O artigo, escrito
antes do encerramento da campanha, apresenta Rick Santorum, o candidato
conservador execrado pela mídia global.
Fr. Edvaldo Betioli Filho, SAC
Este
ano de 2012 é eleitoral não somente no Brasil, onde escolheremos os
representantes dos executivos e legislativos municipais, mas também nos
Estados Unidos, país que elegerá o seu 45° Presidente. Com um processo
eleitoral bem diferente do nosso, os americanos, que se dividem em dois
partidos – Democratas e Republicanos – primeiro escolhem, em um sistema
conhecido como prévias, quem serão os candidatos – ou o candidato, como
agora, quando Barack Obama concorre à reeleição – para depois, em
novembro, elegerem o presidente.
As prévias deste ano estão acontecendo
somente no Partido Republicano – o partido de Reagan e Bush pai e filho –
entre quatro pré-candidatos: Mitt Romney, Rick Santorum, Ron Paul e
Newt Gingrich, e a esta altura já tem um candidato favorito e quase
vencedor: Romney. Ex-governador de Massachusetts, o empresário
multimilionário é Mórmon (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias) e empunhou a bandeira da economia nessa campanha pela indicação do
Partido Republicano.
Contudo, a disputa não acabou, ainda mais
quando se tem, como principal oponente uma figura chamada Rick
Santorum. Ex-senador pela Pensilvânia, Santorum é advogado e está a
levantar, durante toda a campanha, o estandarte da moralização social.
Santorum está incomodando não somente Romney e sua campanha abastada,
mas também a imprensa norte-americana, que fica ouriçada por ter chances
reais chegar ao pleito de novembro um candidato católico, que pratica
sua fé e defende seus valores.
Zapeando por algum tempo na imprensa
estadunidene, percebe-se logo que o país, representado por seus jornais,
tem medo de Santorum. Lendo um pouco de sua vida e daquilo que falam
dele, é fácil reconhecer os porques de tanta rejeição. Santorum tem 53
anos, casado há 21, é pai de sete filhos. Convenceu os americanos que é o
candidato republicano que mais representa a fé religiosa ortodoxa. É
chamado de “devoto”, “tradicionalista” e até mesmo de “papista”, como
escreveu o historiador Gary Wills, destacado pelo Washington Post.
Santorum era, em suas próprias palavras,
um “católico de nome”, até quando conheceu Karen Garver, uma enfermeira
neonatal e estudante de Direito, em 1988. Karen é filha de um pediatra
conceituado de Pittsburgh, que se especializou em genética médica.
Patriarca de uma grande família católica, o Dr. Kenneth Garver tratou
muitos pacientes que consideravam o aborto, mas sempre se opôs a ele.
“Nós nos sentamos à mesa e toda a noite
falamos sobre este assunto”, ouviu Santorum quando foi conversar com o
pai de sua futura esposa. Neste momento, segundo ele, ficou convencido
que “só havia um lugar para estar, do ponto de vista da ciência, bem
como do ponto de vista da fé”. Essa conversa, citada pelo The New York Times, foi
um primeiro passo no caminho de uma cultura profundamente conservadora
católica, que influenciou sua vida como marido, pai e político. Ao longo
das últimas duas décadas, ele passou por uma transformação religiosa
que agora está estimulando um debate nacional sobre a fé na esfera
pública.
O casal Santorum teve oito filhos, um
deles morreu duas horas após o nascimento, em 1996, e uma filha, hoje
com 3 anos, é vítima de uma gravíssima doença genética. Diferente dos
católicos que acreditam que a doutrina da Igreja deve se adaptar aos
novos tempos e necessidades, os Santorum vivem um catolicismo “como deve
ser vivido”, tradicional, que adere totalmente à autoridade de ensino
do papa e de seus bispos.
Os seus filhos mais velhos estudam em uma
escola da Opus Dei. Em 2002, inclusive, participou da celebração do
centenário de nascimento de São Josemaria Escrivá, e de sua respectiva
canonização, bem como já palestrou em um grande evento do Regnum
Christi. A família é membro da Paróquia Santa Catarina de Sena, onde não
raro o sr. Santorum lê a escritura nas missas dominicais e participa
das adorações eucarísticas.
“Nós acabamos nos mudando para um bairro
onde havia uma paróquia, na qual o padre foi simplesmente fantástico,
absolutamente incrível, que nos encheu com o Espírito Santo”, disse
Santorum a um grupo anti-aborto. “Ao longo desse tempo, eu só vi
mudanças em mim e mudanças em Karen.”
Em 1994 foi eleito para o Senado. Lá
começou um grupo de oração e colaborou no processo de conversão de um
senador companheiro, Sam Brownback, agora o governador do Kansas, ao
catolicismo. Após ser reeleito em 2000, a família viajou para Roma, onde
teve uma audiência com o Papa João Paulo II. Um amigo lembra como foi o
encontro: “Ele disse ao papa: ‘Pai, você é um grande homem’. E o papa
virou-se para ele, que estava com todas as seis crianças ao seu lado, e
disse: ‘Não, você é um grande homem’”.
Em 2002, em um ensaio, Santorum escreveu
que era tempo para os católicos mais comprometidos recuperarem as
instituições religiosas, como faculdades, escolas e hospitais, “para o
bem de nossas almas”. “Sua visão de Estados Unidos é recuperar sua
grandeza através da promoção da religião, da família e da liberdade”,
resume seu site de campanha.
No último mês expressou abertamente sua
discordância em relação à cobertura dos anticoncepcionais por parte das
seguradoras de saúde – como defende Obama -, com o casamento homossexual
e o aborto, inclusive em caso de estupro, porque “de toda experiência
ruim pode surgir algo bom”.
Depois de Kennedy, John Kerry foi o
primeiro católico a ter o nome em uma cédula, em 2004 quando concorreu
com George W. Bush. Santorum poderia ser o segundo, contudo, a não
adesão da população estadunidense ao ex-senador da Pensilvânia é um
espelho da situação dos católicos e sobretudo da sociedade dos Estados
Unidos.
Quem são os atuais católicos, cerca de 25
% da população, dos Estados Unidos? O problema aqui reside: a maioria
dos católicos norte-americanos não ouvem seus bispos e querem pensar de
forma independente, com uma consciência formada pela contemporaneidade
vazia de valores. Entre esses últimos, Santorum não faz sucesso, e quem
leva vantagem é um mórmon.
Difícil compreender como católicos
preferem um mórmon? Não, quando se leva em consideração que estes
católicos estão mais preocupados com a economia que com a vida, a saúde,
a família e os valores sociais. É como disse Santorum: “Nós vamos
melhor entre as pessoas que levam sua fé a sério”. Assim ele diagnostica
o problema: a fé já não é mais levada a sério.
Conforme relatou o The New York Times, as
pessoas estão se deixando levar pela aparência polida de um Romney, que
nesta campanha está escondendo sua religião (e seus rituais bizarros,
como o batismo de almas de pessoas mortas), deixando de lado um
autêntico Santorum. Quando se nota que a maioria dos católicos dos
Estados Unidos é a favor do aborto, da união homossexual, das pesquisas
com células-tronco, do sexo antes do casamento e do divórcio, percebe-se
o desolador panorama da devastação moral que vivem os EUA. Segundo o El Pais da Espanha, Santorum deseja erradicar este declíneo, levando Deus à política, e quem está com ele nessa batalha é a Opus Deis.
Não por menos Santorum é atacado
negativamente pela mídia. Pode ser que não leve a indicação do Partido
Republicano, mas deixa o modelo de que algo bom pode florescer na
política. A figura de Rick Santorum é forte e contundente, contraditória
para muitos. Faz florescer a esperança.
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