20 de setembro de 2011
[catolicosribeirão]
Todo
o pontífice eleito dentre os homens é estabelecido a favor dos homens,
para desempenhar as funções do culto divino, e oferecer dons e
sacrifícios em expiação dos pecados. Oferecer sacrifícios, eis pois o
fim para que Deus colocou o padre na sua Igreja; é propriamente a função
dos sacerdotes da lei da graça, aos 1uais foi dado o poder de oferecer o
grande sacrifício do Corpo e Sangue do próprio Filho de Deus;
sacrifício supremo e perfeito, infinitamente acima dos sacrifícios
antigos, que outro mérito não tinha outrora senão o de serem desse a
sombra e figura. As vítimas que então se imolavam eram novilhos e bodes;
hoje a nossa Vítima é o Verbo eterno feito homem.
Por
isso mesmo, os sacrifícios da lei antiga não tinham poder algum; também
o apóstolo os chama observâncias defeituosas e incapazes; o nosso, ao
contrário, tem o poder de operar a remissão das penas temporais devidas
ao pecado, e além disso — ao menos mediatamente, — de aumentar a graça e
obter socorros mais abundantes àqueles por quem é oferecido.
O padre que não está
compenetrado da grandeza do sacrifício da missa, jamais o oferecerá como
deve. Nada fez de maior na terra Jesus Cristo. É a missa a ação mais
santa e mais agradável a Deus que se pode realizar, tanto em razão da
Vítima oferecida, que é Jesus Cristo, Vítima duma dignidade infinita,
como em razão do sacrificador principal, que é o mesmo Jesus Cristo, a
oferecer-se pela mão dos sacerdotes, como no-lo ensina o Concílio de
Trento. E S. João Crisóstomo diz paralelamente: Quando virdes o
sacerdote a oferecer o sacrifício, não penseis no padre, representai-vos
antes a mão de Jesus Cristo que obra dum modo invisível.
Todas as honras que têm prestado
a Deus os anjos com as suas homenagens, e os homens com as suas
virtudes, austeridades, martírios e santas obras, não podem render a
Deus tanta glória como uma só missa; porque todas as homenagens das
criaturas são finitas, ao passo que a que se presta a Deus com o
sacrifício dos nossos altares, é dum valor infinito, por lhe ser
prestada por uma pessoa divina. Necessário é pois reconhecer com o
Concílio de Trento que a missa é de toda as obras a mais santa e divina.
É pois o sacrifício da missa a
obra mais santa e agradável a Deus, como acabamos de ver; é a obra mais
capaz de aplacar a cólera de Deus contra os pecadores e abater as forças
do inferno; é a obra que obtém graças mais abundantes para os homens na
terra, e maior alívio para as almas do Purgatório; é finalmente a obra a
que está ligada a salvação do mundo inteiro, segundo o pensamento de
Sto. Odon, abade de Cluni. E Timóteo de Jerusalém diz que é à missa que a
terra deve a sua conservação; a não ser ela, os pecados dos homens a
teriam há muito aniquilado.
Segundo S. Boaventura, em cada
missa faz o Senhor ao gênero humano um benefício não inferior ao que
lhes dispensou, fazendo-se homem. O que é conforme com a célebre
exclamação de Sto. Agostinho: Ó dignidade venerável a dos sacerdotes,
entre cujas mãos o Filho de Deus encarna, como encarnou no seio da
Virgem! De mais, não sendo o sacrifício do altar senão a aplicação e
renovação do sacrifício da cruz, Sto. Tomás ensina que, para o bem e
salvação dos homens, tem cada missa toda a eficácia do sacrifício da
cruz. E S. João Crisóstomo escreveu: A celebração da missa tem o mesmo
valor que a morte de Jesus Cristo na cruz. A Igreja plenamente confirma
esta verdade, quando diz nas suas orações: Cada vez que se celebra no
altar a memória deste sacrifício, renova-se a obra da nossa redenção. De
fato, ajunta o Concílio de Trento, o mesmo Redentor, que se ofereceu
por nós na cruz, é quem se oferece no altar por ministério dos
sacerdotes.
Numa palavra, segundo a
expressão do profeta Zacarias, é a missa o que há de mais excelente e
belo na Igreja: Que há de bom, que há de belo, senão o pão dos
escolhidos e o vinho que gera virgens? No sacrifício da missa, dá-se
Jesus Cristo a nós, mediante o sacramento do altar, que é o fim e
consumação de todos os outros sacramentos, como ensina o Doutor
angélico. Razão tem pois S. Boaventura em chamar à missa o resumo de
todo o amor divino e de todos os benefícios de que o Senhor há cumulado
os homens. Eis por que o demônio sempre se tem esforçado por arrebatar
ao mundo a santa missa por meio dos hereges, como por tantos outros
precursores do Anticristo que, antes de tudo, cuidará de abolir e de
fato abolirá, em punição dos pecados dos homens, o sacrifício do altar,
segundo esta profecia de Daniel: Por causa dos pecados, ser-lhe-á dada
força contra o sacrifício perpétuo. Grande razão tem pois o Concílio de
Trento para exigir que os padres ponham todo o seu cuidado, em celebrar a
missa com a máxima devoção e pureza de coração que seja possível. Como
não menos razão adverte no mesmo lugar, que é precisamente sobre os
padres, que celebram com negligência e sem devoção, que recai a maldição
anunciada por Jeremias: Maldito o que faz indignamente a obra do
Senhor! Segundo S. Boaventura, celebra-se ou comunga-se indignamente,
quando se chega ao altar com pouco respeito e consideração. Assim, para
evitarmos essa maldição, examinemos o que deve fazer o padre antes,
durante e depois da celebração da missa: preparação, antes de celebrar;
respeito e devoção, enquanto celebra; ação de graças, depois de
celebrar. São obrigações indispensáveis para o sacerdote. Segundo o
pensamento dum servo de Deus, deveria a vida dum padre ser apenas uma
preparação para a missa e uma ação de graças.
Fonte: A Selva – Sto Afonso de Ligório – págs: 62-63
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