[unisinos]
11 de dezembro de 2011
The Lancet, a autorizada revista médica
anglo-saxônica, publicou no último número o artigo de dois pesquisadores
australianos segundo os quais as 95 mil religiosas católicas do país
deveriam tomar a pílula anticoncepcional para prevenir o risco de câncer
no seio, nos ovários e no útero. Solicitam-no Kara Britt, da universidade de Monash e Roger Short, da universidade de Melbourne. A notícia foi relançada pela Reuters e pelo cotidiano espanhol ABC.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 09-12-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
Os dois pesquisadores recordam que já em 1731 o médico italiano Bernadino Ramazzini
fez notar a maior incidência do câncer no seio entre as monjas. Para
aumentar esta probabilidade, segundo as pesquisas citadas no artigo de The Lancet,
estaria o maior número de ciclos menstruais em relação àqueles tidos
pelas mulheres que tem levado a termo gravidezes e que depois aleitaram
os seus filhos. Qualquer fator que aumente o número total de ciclos,
como, por exemplo, ter entrado na puberdade antes da idade considerada
habitual, ou o retardo na chegada da menopausa, representa um aumento do
risco. Enquanto o mesmo risco resulta diminuído por ter tido filhos,
por tê-los dado à luz em jovem idade, ter tido mais de um e tê-los
aleitado.
Os dois professores australianos afirmam que a
ingestão da pílula anticoncepcional diminui em 12 por cento o risco de
câncer em relação a quem não a usou. Mas, recordam também que a própria
pílula não é, de fato, sem inconvenientes, dado que aumenta o risco de
tromboses. Em todo caso, propõem às Irmãs de assumirem a pílula como
profilaxia anti-câncer.
Os autores do artigo em The Lancet recordam que a Igreja católica “condena toda forma de contracepção, seguindo as indicações contidas na encíclica Humanae vitae de Paulo VI”,
mas também que a mesma encíclica aceita os meios terapêuticos que têm
efeito contraceptivo, se forem necessários para curar uma doença. “Se a
Igreja católica permitisse o livre uso da pílula anticoncepcional às
Irmãs, se reduziria o risco” que elas possam contrair o câncer.
A
abertura de um debate interno à Igreja católica sobre o uso da pílula
anticoncepcional se abriu precisamente em relação ao caso de algumas
Irmãs, em 1961, quando foi tomada em consideração a possibilidade de
subministrá-la preventivamente às religiosas no Congo,
para prevenir os efeitos dos freqüentes estupros da parte dos nativos.
Falou-se, então, de “pílula congolesa”. Nos anos subsequentes, o teólogo
Pietro Palazzini, depois cardeal, deu um parecer favorável ao uso do contraceptivo nesta circunstância. Em 1996 tinha sido o teólogo espanhol Gonzalo Miranda
(hoje decano da faculdade de bioética do Pontifício Ateneu Regina
Apostolorum) que propôs a pílula para as mulheres afetadas por graves
handicaps mentais: era tema de crônica o caso da mulher americana em
coma irreversível que havia gerado um filho após a violência sofrida por
um enfermeiro. Miranda, referindo-se também às Irmãs que haviam sofrido violência na Bósnia,
observava: “Sempre que haja um risco grave e iminente de violência, é
lícito subministrar a pílula às mulheres com handicap mentais, assim
como é lícito que a tomem as Irmãs que se encontrem em zona de risco”.
No artigo dos dois pesquisadores de The Lancet,
trata-se de um caso diverso: a pílula não teria, em todo caso, o
intento de evitar gravidezes indesejadas, mas somente aquele de baixar o
limiar de risco de contrair o câncer em pessoas de determinada faixa de
idade. Se do ponto de vista da teologia moral não parece existirem
problemas, resta ver quão acertado seja o benefício também em relação
aos outros riscos que derivam da ingestão do fármaco.
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