10/04/2012
IHU - Após oito anos de tramitação e sob forte polêmica, o Supremo
Tribunal Federal (STF) julga amanhã a ação que vai decidir se grávidas
de bebês anencéfalos (sem cérebro) têm o direito de interromper a
gravidez.
A reportagem é de Cláudia Collucci e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 10-04-2012.
A ação foi proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde. Em julho 2004, o ministro Marco Aurélio Mello concedeu uma liminar autorizando o aborto nesses casos, sem autorização judicial. Após três meses, porém, a liminar foi cassada.
A ação foi proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde. Em julho 2004, o ministro Marco Aurélio Mello concedeu uma liminar autorizando o aborto nesses casos, sem autorização judicial. Após três meses, porém, a liminar foi cassada.
Desde então, cada caso de solicitação para o aborto de anencéfalo é julgado pela Justiça separadamente.
Dos 11 ministros do STF, ao menos sete já se mostraram favoráveis. Nos últimos anos, três audiências públicas foram realizadas.
A polêmica, porém, parece longe de terminar. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) convocou seus integrantes a promover uma "vigília de oração pela vida" em suas dioceses na véspera do julgamento.
O
pedido foi feito em carta enviada aos bispos na última sexta-feira.
Segundo o presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida, dom Raimundo Damasceno, o objetivo é que, a partir de hoje, fiéis se reúnam em todo o país para "rezar em defesa dos indefesos".
"Esperamos
que a decisão dos ministros leve em conta não apenas os aspectos
médicos e jurídicos, mas também o aspecto ético-moral."
ARGUMENTOS
O
principal argumento pró-aborto é de que gravidez de anencéfalos pode
provocar riscos à saúde física e mental da mulher. A grande maioria dos
fetos morre ainda na gravidez ou logo após nascer.
Para o advogado Luís Roberto Barroso,
autor da ação, como a anencefalia é letal em 100% dos casos, não há
vida a ser protegida. Ele defende que interromper a gravidez nessa
condição é "antecipação terapêutica do parto".
"Por que obrigar a
manter uma gestação de um filho que não vai sobreviver? É uma exposição
pública de um momento de grande sofrimento e luto", afirma a
antropóloga Debora Diniz, presidente do Anis (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero).
A socióloga Jacqueline Pitanguy diz que o que está em questão não é a imposição. "Cada mulher deve decidir a partir das suas convicções."
Para a bióloga Lenise Garcia,
presidente do Movimento Brasil Sem Aborto, os anencéfalos têm direito à
vida, "mesmo que seja uma vida curta". Ela cita o caso de Vitória de
Cristo.
"Os anencéfalos são a ponta do iceberg. Daqui a pouco, vão querer abortar crianças com síndrome de Down e outras deficiências."
Segundo
ela, as mães que levam a gravidez até o fim "têm um conforto" muito
maior do que aquelas que abortam. "Elas têm tempo de assimilar, elaborar
o luto."
O procurador de Estado Paulo Leão,
presidente da União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro, defende
que os bebês anencéfalos recebam os cuidados paliativos e que se invista
em prevenção. "Fala-se muito em matar a criança anencéfala, mas ninguém
defende a prevenção da má formação, com a ingestão de ácido fólico."
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