29 de maio de 2012
Os clérigos e peregrinos que visitam a Basílica de São Pedro nesta terça-feira expressaram choque sobre um escândalo que abalou o Vaticano e levou à prisão do mordomo do papa, temendo que isso pudesse prejudicar tanto o pontífice quanto a Igreja.
"É horrível e muito triste que algo assim pode acontecer mesmo no
coração do Vaticano", disse David Kaberia, um padre de Meru, no Quênia,
em pé sob o sol em uma fila que serpenteia através de metade da Praça de
São Pedro para visitar um dos lugares mais sagrados do Catolicismo
Romano.
"Este é um trabalho interno por pessoas gananciosas e eu acho que vai
inevitavelmente afetar a Igreja em todo o mundo porque este é o centro
do poder da Igreja", disse ele à Reuters.
O escândalo explodiu na semana passada quando, dentro de poucos dias,
o presidente do banco do Vaticano foi demitido, o mordomo do papa foi
preso por vazamentos de documentos confidenciais e foi publicado um
livro alegando conspirações entre cardeais e corrupção em negociações
financeiras da Igreja com empresas italianas.
"Esta é uma advertência para todos nós na comunidade da Igreja, que
só devemos cuidar de coisas espirituais e não sermos corrompidos por
questões de carreira, dinheiro e poder", disse o padre Francesco, de
Florença.
Relatos da imprensa italiana citando delatores afirmaram que o
mordomo, que teve acesso ao apartamento privado do papa, foi apenas um
bode expiatório em uma disputa pelo poder na Santa Sé por trás dos
bastidores e que a trama era muito maior e mais ampla do que ele.
"Eu não estou tão chocado com a ideia de que maçãs podres também
existem na Igreja, pessoas que estão atrás de dinheiro e influência",
disse uma professora de Pordenone, no norte da Itália, que deu seu nome
apenas como Lúcia.
"O que me dói é que isso pode chegar tão perto do papa, é um ataque
contra ele, enquanto ele deveria ser intocável", afirmou ela.
Os críticos do Papa Bento 16 dizem que uma falta de liderança forte
abriu a porta para lutas internas entre seus assessores poderosos e,
potencialmente, para a suposta corrupção em alguns dos documentos
vazados.
Mas freiras e padres que se misturam com milhares de visitantes
comuns para ter um vislumbre da imponente cúpula de São Pedro, desenhada
por grandes mestres italianos do Renascimento, incluindo Michelangelo,
defenderam o pontífice e disseram que esperavam que ele pudesse
rapidamente passar uma borracha sob a pior crise de seu papado.
"Nós todos nos sentimos envolvidos, porque somos uma grande família.
Mas, como a Bíblia nos ensina, em cada família há um Judas, há a
tentação e a traição, mas também o arrependimento e o perdão", disse
Estrella Villarán, uma freira peruana com as Irmãs Franciscanas do
Sagrado Coração.
"Este é um teste para o papa, mas também uma oportunidade para
relançar a Igreja e torná-la mais forte", acrescentou ela, segurando uma
cruz de madeira na mão.
Jay Finelli, um sacerdote diocesano de Rhode Island, nos Estados
Unidos, rejeitou a preocupação de que o escândalo pode causar danos
permanentes à Santa Sé.
"A Igreja é composta de santos e pecadores, por isso só temos de orar
e Deus vai resolver tudo isso", disse ele.
"Existimos há cerca de 2.000 anos. Claro que as pessoas devem estar
se perguntando o que está acontecendo, mas nada pode destruir a Igreja.
As portas do inferno não prevalecerão."
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