[bibliacatolica]
30 maio 2012
Fonte: Veritatis Splendor
É de conhecimento de todos os cristãos que Jesus é descendente do Rei
Davi, conforme o anúncio dos Santos Profetas. Porém, em conversa recente
com alguns irmãos surgiu a dúvida: Jesus é descente de Davi segundo
Santa Maria ou segundo São José?
Os Evangelistas Mateus e Lucas
apresentam duas genealogias diferentes do Messias. Parece-nos
contraditórias, no entanto não são. Em Israel, os nomes das gerações
eram registrados segundo a natureza ou segundo a lei. Segundo a
natureza, pela sucessão das filiações naturais, assim como fazemos hoje;
segundo a lei quando alguém gerava filhos sob o nome de um irmão,
falecido sem filhos, pois a Lei não proibia que uma repudiada, ou viúva,
desposasse um outro, assim os filhos gerados embora segundo a natureza
fossem do cunhado, segundo a lei pertenciam ao defunto. Desta forma,
segundo a Tradição registrada por Júlio Africano (séc III), Mateus
registra a genealogia do Senhor segundo a Natureza e Lucas segundo a Lei
(cf. HE I,7).
De qualquer forma, tanto a genealogia segundo São
Mateus quanto a segundo São Lucas apontam para São José. Parece-nos
então que a descendência real de São José bastava para se provar a
descendência real do Senhor. Alguns acham que o fato de Maria Santíssima
ser ou não descendente de Davi, em nada impede o cumprimento do anúncio
dos santos profetas na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois José
era pai do Senhor por causa da Lei. Outros acham que Deus não permitiria
a existência de qualquer motivo que suscitasse dúvidas quanto á origem
real do Senhor.
Afim de colocar um pouco de luz sobre este assunto, e se Deus o consentir, tentaremos expor uma solução para este dilema.
O Casamento de Santa Maria com São José e de Santa Isabel com São Zacarias
Segundo a Lei de Moisés “Todas as mulheres que possuírem um patrimônio em uma tribo israelita, tomarão marido na tribo paterna, a fim de que cada israelita conserve o patrimônio de família” (Nm 36,8) Ver também Nm 36,1-13.
Assim
parece-nos então que Maria Santíssima era mesmo da Tribo de Judá, como
seu marido São José. No entanto, Santa Isabel, sua prima (portanto
pertencia à mesma família de Maria Santíssima) era casada com São
Zacarias e este provavelmente pertencia à da tribo de Levi, devido ao
seu serviço do templo. Como poderia então Isabel pertencer à tribo de
Judá, e conseqüentemente Maria Santíssima?
Temos uma coisa a
observar: A obrigação da noiva se casar na mesma tribo de seu pai, não
era aplicado a todas as mulheres. Na verdade a Lei (cf. Nm 36,8), não
restringe o casamento na mesma família a todas as mulheres, mas somente
àquelas “que possuírem um patrimônio em uma tribo israelita“. E
na verdade tanto Santa Maria quanto Santa Isabel tinham procedência
muito humilde, não possuindo então herança paterna, o que as
desobrigaria em contrair matrimônio com um noivo da mesma tribo. E isto
explica o fato de duas primas terem se casado com homens de tribos
distintas.
No entanto Davi que pertencia à tribo de Judá tomou
como esposa Micol (cf. I Sam 18,27; 19,11) filha do Rei Saul que
pertencia à tribo de Benjamim (cf.I m 9,16; 10,20-21). Ora, Micol era
filha do Rei, portanto possuía herança paterna, como pôde então receber
por noivo um homem da tribo de Judá? A Lei foi dada sobre o Magistério
de Moisés e continuou a ser observada durante o Magistério de Josué, seu
sucessor. O tempo dos Juízes tem início com a morte de Josué (cf. Jz
2,6-10.16) e ao longo de toda sua duração a prática da Lei foi sendo
esquecida (cf. Jz 2,11-23; 21,25). Sabemos que Saul foi rei de Israel
logo após o tempo dos Juízes, portanto, numa época e que a observância
da Lei não estava latente. Além disto, não podemos nos esquecer que Saul
deu sua filha em casamento a Davi, para que através dela pudesse
matá-lo (cf. I Sm 18,21).
Sanamos nossa dúvida? Ainda não. Continuemos então buscando as respostas.
Uma pista não canônica
O
proto-Evangelho de Tiago Menor, Apóstolo e Bispo de Jerusalém parece
irradiar os primeiros raios de luz sobre a questão. Estudando a obra
encontramos o seguinte trecho:
“Os sacerdotes se reuniram e decidiram fazer um véu para o Templo do Senhor. O sacerdote disse: ‘Chama as moças imaculadas da Tribo de Davi’. Os ministros saíram e após procurarem, encontraram sete virgens. Então o sacerdote recordou-se de Maria [Mãe do Senhor ainda com a idade de 12 anos] e os mensageiros a buscaram” (proto-Evangelho de Tiago 10,1).
O proto-Evangelho
de Tiago, embora não seja considerado canônico, foi recebido entre os
primeiros cristãos como documento histórico.
Conforme o trecho
acima, a ordem do sacerdote (provavelmente o Sumo Sacerdote) para trazer
moças da tribo de Davi (portanto, da tribo de Judá), nos indica ser
Maria Santíssima descendente de Davi. Se Maria Santíssima não
pertencesse a tal tribo, o sacerdote não haveria se lembrado dela, como
nos testemunha o trecho “Então o sacerdote recordou-se de Maria e os mensageiros a buscaram“.
O que diz a Sagrada Escritura?
Na
genealogia de Mateus (que é segundo a natureza), São José é descendente
de Jeconias, filho do Rei Joaquim. No entanto o Senhor promete que não
levantará Rei em Israel que descenda deles.
Sobre a descendência de Jeconias: “Pela minha vida! – oráculo do Senhor, ainda que Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, fosse um anel em minha mão direita, eu o arrancaria! Entregar-te-ei aos que procuram sua vida, àqueles que temes, a Nabucodonosor, rei de Babilônia, e aos caldeus” (Jr 22,24-25). Ainda diz o profeta: “Inscrevei este homem como não tendo filhos, entre aqueles que coisa alguma lograram colher em vida! Pois que ninguém de sua raça conseguirá ocupar o trono de Davi e reinar em Judá” (Jr 22,30).Sobre a descendência de Joaquim: “Pois bem, eis o que diz o Senhor a respeito de Joaquim, rei de Judá: Nenhum de seus descendentes ocupará o trono de Davi. Ficará seu cadáver exposto ao calor do dia e ao frio da noite” (Jr 36,30).
Assim a
herança real do Salvador de forma alguma tem origem em José, mas sim em
Maria; visto que o Senhor prometeu jamais colocar no trono de Davi algum
descendente de Joaquim ou Jeconias, ambos progenitores de São José.
Assim, fica excluída qualquer herança real através de São José e patente
a herança real através de Maria Santíssima.
Conclusão
Por
isso foi anunciado que o Salvador nasceria da Virgem, sem a obra do
homem, excluindo qualquer contribuição de São José na economia divina. O
Herdeiro não fruto da geração condenada de São José, mas do milagre
realizado no seio da Virgem Santíssima. Não foi sem motivo que Mateus,
ao escrever sobre a origem do Salvador, após anunciar a imensa lista de
progenitores nos relatou: “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt 1,16). Veja, Mateus na expressão “Maria, da qual nasceu Jesus”
expressa aí o mistério do nascimento virginal, mostrando que o Messias
seria herdeiro do Trono de Davi, não segundo José, mas segundo Maria.
Podemos
então afirmar com toda certeza que Maria, a Mãe de Nosso Deus era
realmente descendente de Davi e por conseguinte pertencia à tribo de
Judá. E, que Nosso Salvador é Filho de Davi, mas segundo a genealogia de
Maria Santíssima.
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