[reporterdecristo]
Documento importantíssimo escrito por Mons. João Scognamiglio Clá
Dias, que defende a “santidade substancial” da Igrega Católica
Apostólica Romana. Descreve o mundo pagão, com suas religiões
degradantes antes da ação evangelizadora da Igreja e como o mundo por
causa desta ação pode se reencontrar com os valores essenciais da vida. E
mesmo mediante ataques sofridos, a Igreja em vez de sucumbir se
fortalece cada vez mais.
São Paulo, 19 de abril de 2010
Aniversário da eleição para a Cátedra de Pedro de
S.S. o Papa Bento XVI
Aniversário da eleição para a Cátedra de Pedro de
S.S. o Papa Bento XVI
A Igreja é imaculada e indefectível
Após cada campanha de ataques contra ela, a Igreja sempre aparece mais forte e esplendorosa do que antes.
Após cada campanha de ataques contra ela, a Igreja sempre aparece mais forte e esplendorosa do que antes.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
A saraivada de notícias que, nas últimas semanas, tenta macular a
Igreja Católica, tomando por motivo abusos de crianças cometidos por
parte de sacerdotes católicos, atinge um clímax inacreditável. Decididos
a não deixar morrer a fogueira que acenderam, vários órgãos de
comunicação social têm se dedicado a investigar o passado, à procura de
novas alegações que envolvam o Vigário de Cristo na Terra, o Papa Bento
XVI, no que, aliás, têm falhado rotundamente.
Que haja padres despreparados e indignos, ninguém o pode negar; que abusos horríveis foram cometidos, e certamente até em número superior ao registrado, é preciso reconhecer. Mas utilizar falhas gravíssimas, mas circunstanciais, relativas a uma minoria de clérigos, para enxovalhar toda a classe sacerdotal é uma injustiça. E usar isso como pretexto para tentar derrubar a Igreja é diabólico.
Aliás, quanto mais o espírito libertário, relativista e neopagão de nossa época se infiltra na Igreja, tanto mais é de temer que aconteçam crimes de pedofilia. Daí mesmo a necessidade de implantar nos seminários um sistema rigoroso de seleção, de modo a só admitir como candidato ao sacerdócio quem não tenha a propensão de pactuar com o mundo, mas queira ensinar a prática da doutrina católica em toda a sua pureza e dar o exemplo.
Que haja padres despreparados e indignos, ninguém o pode negar; que abusos horríveis foram cometidos, e certamente até em número superior ao registrado, é preciso reconhecer. Mas utilizar falhas gravíssimas, mas circunstanciais, relativas a uma minoria de clérigos, para enxovalhar toda a classe sacerdotal é uma injustiça. E usar isso como pretexto para tentar derrubar a Igreja é diabólico.
Aliás, quanto mais o espírito libertário, relativista e neopagão de nossa época se infiltra na Igreja, tanto mais é de temer que aconteçam crimes de pedofilia. Daí mesmo a necessidade de implantar nos seminários um sistema rigoroso de seleção, de modo a só admitir como candidato ao sacerdócio quem não tenha a propensão de pactuar com o mundo, mas queira ensinar a prática da doutrina católica em toda a sua pureza e dar o exemplo.
A atual campanha publicitária contra a Igreja faz-nos esquecer uma
verdade da qual a história nos dá um inequívoco testemunho: foi a Igreja
Católica que livrou o mundo da imoralidade, e é porque está rejeitando a
Igreja que o mundo tem afundado novamente no lodo do qual foi
resgatado.
O mundo do paganismo era um inferno
A maioria da população do Ocidente dá por certo que o mundo, em grau
maior ou menor, sempre cultivou os valores aos quais estamos
acostumados. Esses valores, sacrossantos até cerca de 50 anos atrás, em
certa medida ainda resistem à decadência acelerada deste início de
milênio: família tradicional, proteção da inocência infantil, senso do
pudor, modos educados, trajes decentes, honorabilidade, respeito mútuo,
espírito de caridade, dignidade humana, solidariedade, etc.
Mas não foi sempre assim. Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo
pregar entre os homens a Boa Nova do Evangelho, o mundo estava
mergulhado numa prolongada e terrível noite, em que reinavam a
devassidão moral, o egoísmo, a crueldade, a desumanidade e a opressão,
conforme a história nos ensina1.
Dessa situação não se pode concluir que todos os romanos, gregos e “bárbaros” fossem devassos. Havia minorias inconformes com aquela situação e preparadas para receber a pregação evangélica com a avidez de náufragos que encontram a tábua de salvação. Daí a rápida expansão da Igreja Católica pelo mundo romano e, finalmente, a conversão do Império no ano 313 da era cristã.
Religiões degradantes
Tudo quanto à parte sã da opinião pública do Ocidente ainda olha com horror hoje em dia, era, no mundo dominado pelo paganismo, moeda corrente e normal. Basta-nos recordar o que a mitologia greco-romana diz a respeito dos vários deuses de seu panteão.
Formavam eles um temível bando de depravados: adúlteros, violentos, impudentes, mentirosos, ladrões, opressores, assassinos, parricidas, matricidas, fratricidas, cruéis, egoístas, traidores, preguiçosos, falsos, desonrados, incestuosos, fornicadores, perversos e pedófilos. Zeus (o Júpiter dos romanos), a divindade máxima desse covil, era não só um brutamontes, que praticara canibalismo devorando uma de suas filhas e assassinara outros parentes próximos, mas também um adúltero incontrolável, que fizera muitas vítimas entre “deusas” casadas e solteiras, violentara suas irmãs e noras, estuprara sua própria filha e até sua mãe e que, além disso, mantinha como amante um menino que raptara2.
Os relatos dessas infâmias estavam nos textos apresentados às crianças nas escolas daquele tempo, para instruí-las na gramática, na retórica, na poesia, como assinalaram em sua época os apologistas cristãos.
Tudo quanto à parte sã da opinião pública do Ocidente ainda olha com horror hoje em dia, era, no mundo dominado pelo paganismo, moeda corrente e normal. Basta-nos recordar o que a mitologia greco-romana diz a respeito dos vários deuses de seu panteão.
Formavam eles um temível bando de depravados: adúlteros, violentos, impudentes, mentirosos, ladrões, opressores, assassinos, parricidas, matricidas, fratricidas, cruéis, egoístas, traidores, preguiçosos, falsos, desonrados, incestuosos, fornicadores, perversos e pedófilos. Zeus (o Júpiter dos romanos), a divindade máxima desse covil, era não só um brutamontes, que praticara canibalismo devorando uma de suas filhas e assassinara outros parentes próximos, mas também um adúltero incontrolável, que fizera muitas vítimas entre “deusas” casadas e solteiras, violentara suas irmãs e noras, estuprara sua própria filha e até sua mãe e que, além disso, mantinha como amante um menino que raptara2.
Os relatos dessas infâmias estavam nos textos apresentados às crianças nas escolas daquele tempo, para instruí-las na gramática, na retórica, na poesia, como assinalaram em sua época os apologistas cristãos.
Zeus
A religião pagã exercia, pois, um maléfico domínio sobre a
sociedade, propondo, como exem¬plos a serem imitados, as iniquidades dos
deuses. De outro lado, a sociedade influenciava a religião, de modo que os mitos refletiam os costumes então em voga.
1 É preciso excetuar o povo judeu. Entretanto, mesmo algumas práticas
do Povo Eleito foram, por Nosso Senhor Jesus Cristo suavizadas, ou
posteriormente modificadas.
2 Cf. por ex. ARISTIDES, Apologeticum (escrito entre 123 e 127 d.C.);
JUSTINUS, Apologia Prima (entre 153 e155 d.C.); ARNOBIUS, Disputationum
Adversus Gentes (entre 304 e 312 d.C.).
Imoralidade, crueldade, opressão
Naquele ambiente pagão, a situação da mulher era terrível. Em geral
quase sem direitos, ela era praticamente considerada como uma escrava do
marido, isso quando tinha o privilégio de ser casada.
As próprias religiões, mesmo as mais elevadas, conduziam as mulheres —
como, natural¬mente, também os homens — a grandes depravações. A dos
caldeus, por exemplo, era sinistra e corruptora, com práticas lúbricas
nos templos. A religião fenícia também estimulava a degradação da
mulher.
Heródoto é um dos que nos fornece informações sobre a “prostituição sagrada” praticada nos templos da Babilônia, Assíria, Grécia, Síria, Chipre e em outros lugares3. Com frequência, as “sacerdotisas” ingressavam nos templos quando muito jovens, entregues pelos próprios pais. O famoso “Código de Hamurábi”, promulgado por este rei de Babilônia (cerca de 1793 a 1750 a.C.), reserva alguns tópicos para regulamentar essa prática4.
Heródoto é um dos que nos fornece informações sobre a “prostituição sagrada” praticada nos templos da Babilônia, Assíria, Grécia, Síria, Chipre e em outros lugares3. Com frequência, as “sacerdotisas” ingressavam nos templos quando muito jovens, entregues pelos próprios pais. O famoso “Código de Hamurábi”, promulgado por este rei de Babilônia (cerca de 1793 a 1750 a.C.), reserva alguns tópicos para regulamentar essa prática4.
O culto de Cibele e Átis, surgido na Frígia, de onde passou para a Grécia e Roma, levava a práticas escabrosas em público. Como
Átis se mutilara, perdendo sua masculinidade, seus festejos incluíam a
automutilação de muitos homens, realizada em meio de uma multidão que,
alucinada, dançava e uivava, enquanto se executava uma música, com o
ensurdecedor ruído das flautas, cím¬balos e tambores5.
Automutilação
A Grécia contava com numerosos templos dedicados a Vênus, mas nenhum consagrado ao amor legítimo entre esposos.
Em Atenas e outras cidades realizava-se, uma vez por ano, uma procissão
na qual era levada uma enorme escultura fálica. Homens e mulheres
percorriam as ruas cantando, pulando e dançando em torno desse ídolo.
Opressão da mulher
A honorabilidade feminina era ainda ferida pelo costume da poligamia, generalizado em muitas regiões, embora houvesse locais onde vigorava a poliandria6. Igualmente degradante era o incesto, especialmente comum na Pérsia7, mas também na Grécia8.
Na Índia, dentre as cruéis práticas milenares do paganismo, o costume exigia que a viúva fosse queimada junto com o cadáver do marido9.
A honorabilidade feminina era ainda ferida pelo costume da poligamia, generalizado em muitas regiões, embora houvesse locais onde vigorava a poliandria6. Igualmente degradante era o incesto, especialmente comum na Pérsia7, mas também na Grécia8.
Na Índia, dentre as cruéis práticas milenares do paganismo, o costume exigia que a viúva fosse queimada junto com o cadáver do marido9.
O Código de Hamurábi está repleto de normas que espelham o estado
de opressão da mulher nas civilizações antigas, a qual muitas vezes era
punida com a morte, a escravidão ou o repúdio10.
Mesmo em Roma e na Grécia, as leis antigas eram iníquas com relação à
mulher11, e até pessoas como o austero Catão favoreciam graves
injustiças a esse propósito12. No caso de Atenas, para obviar de algum
modo a parcialidade no tratamento dado às filhas, a lei incorria em uma
aberra¬ção ainda maior, ao incentivar o incesto para resolver problemas
de herança13, chegando a impor a destruição de dois lares já
constituídos, se preciso fosse14.
Em Roma, na época em que a Boa Nova de Jesus Cristo já estava sendo
pregada, a institui¬ção da família encontrava-se em profunda crise. O
aborto e o abandono das crianças assumiam proporções espantosas. A
natalidade decrescia. Os homens ricos preferiam manter-se solteiros e
cercar-se de inúmeras escravas, a se sujeitar aos incômodos do
casamento15.
3 HERODOTUS. Book 1, “Clio”, n. 181; n. 199. In Kitson, J., Herodotus Website, www.herodotus¬website.co.uk, 2003.
4 The Code of Hammurabi, King of Babylon, About 2250 BCE, tradução para o inglês por Robert Francis Harper, Chicago, University of Chicago Press, 1904, nº 181, 182.
4 The Code of Hammurabi, King of Babylon, About 2250 BCE, tradução para o inglês por Robert Francis Harper, Chicago, University of Chicago Press, 1904, nº 181, 182.
5 MARTINDALE, C. “A religião dos romanos”, in Christus – História das religiões. São Paulo, Saraiva, 1956, v. II, p. 560-561.
6 PSEUDO-CLEMENTE. The Recognitions, c. 24.
7 Ibid., c. 27.
8 COULANGES, Fustel de. La Cité Antique. Paris: Flammarion, 1984. p. 78, 81, 82.
9 PSEUDO-CLEMENTE, op. cit., c. 25.
10 The Code of Hammurabi, op. cit., n. 110, 132, 141, 143.
11 COULANGES, op. cit., p. 78.
12 Ibid., p. 81.
13 Ibid., p. 81-82.
14 Ibid., p. 82.
15 DANIEL-ROPS, [Henri Pétiot]. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo, Quadrante, 1988. p. 126-130
A situação das crianças ante o Estado todo-poderoso
Na Grécia e em Roma não havia a liberdade individual que seus admiradores fazem acreditar: o cidadão vivia em função do Estado. Em sua República, o próprio Platão preconizava um Estado todo-poderoso, e mesmo Aristóteles o considerava como ideal supremo16.
A família greco-romana também era totalitária sob certos aspectos. Assim, o Direito Romano dava um poder ditatorial ao pater familias17. Na Grécia vigoravam leis semelhantes. O pai tinha o direito de rejeitar seu filho recém-nascido, ou vendê-lo como escravo18. Também podia condenar à pena de morte a esposa, um filho, uma filha, ou qualquer outro morador de sua casa, executando-se sem demora a sentença; as autoridades do Estado não interferiam19.
Na Grécia e em Roma não havia a liberdade individual que seus admiradores fazem acreditar: o cidadão vivia em função do Estado. Em sua República, o próprio Platão preconizava um Estado todo-poderoso, e mesmo Aristóteles o considerava como ideal supremo16.
A família greco-romana também era totalitária sob certos aspectos. Assim, o Direito Romano dava um poder ditatorial ao pater familias17. Na Grécia vigoravam leis semelhantes. O pai tinha o direito de rejeitar seu filho recém-nascido, ou vendê-lo como escravo18. Também podia condenar à pena de morte a esposa, um filho, uma filha, ou qualquer outro morador de sua casa, executando-se sem demora a sentença; as autoridades do Estado não interferiam19.
Em Esparta, comenta Coulanges, “o Estado tinha o direito de não
tolerar que seus cidadãos fossem disformes ou mal constituídos. Por isso
ele ordenava ao pai ao qual nascesse um filho nessa situação, que o
fizesse morrer” 20. Segundo o mesmo autor, essa lei se encontrava
igualmente nos antigos códigos de Roma. Até Aristóteles e Platão
incluíram, em suas propostas de legislação, essa prática.
Em Cartago e na Fenícia, crianças eram oferecidas em sacrifício
aos ídolos; em Roma e na Grécia eram elas utilizadas em ritos de
adivinhação21. Em vários lugares, crianças e adolescentes podiam ser punidos com a morte por um delito cometido pelo pai22.
O Estado, ao mesmo tempo em que dava ao pai um poder ilimitado dentro
de casa, cerceava-o tiranicamente na educação dos filhos. Entre os
gregos, o Estado era o mestre absoluto da educação, e Platão o
justifica, pois, diz ele, “os pais não devem ter a liberdade de enviar
ou de não enviar seus filhos aos mestres que a cidade escolher, porque
as crianças são menos de seus pais do que da ci¬dade” 23. O Estado
considerava como pertencente a si o corpo e a alma de cada cidadão, e
assumia a criança quando esta completasse 7 anos de idade24.
16 KOLOGRIVOF, Ivan (dir). Ensaio de suma católica contra os sem-Deus. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939. p. 380-381.
17 JOLOWICZ, Herbert Felix; NICHOLAS, Barry. Historical introduction
to the study of Roman Law. London: Syndics of the Cambridge University
Press, 1972, p. 119; COULANGES, op. cit. p. 99.
18 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 114; COULANGES, op. cit., p. 100-101. Ver tb. The Code of Hammurabi, op. cit., n. 117.
18 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 114; COULANGES, op. cit., p. 100-101. Ver tb. The Code of Hammurabi, op. cit., n. 117.
19 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 119; COULANGES, op. cit., p. 102.
20 COULANGES, op. cit., p. 266.
20 COULANGES, op. cit., p. 266.
21 JUSTINUS, Apologia Prima, c. 18: PG 6, 370.
22 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 162; The Code of Hammurabi, op. cit., n. 210, 230.
23 COULANGES, op. cit., p. 267.
24 COULANGES, Ibid.; MARROU, Henri Irénée. A history of education in
antiquity. Madison: Uni¬versity of Wisconsin Press, 1982, p. 20, 23, 31.
Impiedosa e difundida escravidão
A escravidão era uma instituição tão corrente no mundo antigo que os escravos costumavam constituir a maioria da população. Em Roma, no tempo de Augusto, mais de um terço da popula¬ção era constituído por eles25.
O dono de um escravo tinha sobre ele direito completo. Um escravo não era um homem propriamente dito; era uma coisa, res mancipi26. O dono tinha não só o direito de coabitar com a mulher do escravo sem cometer adultério, mas também de dispor dos filhos dele, e se o ferisse ou matasse, não cometia delito27.
Na lei romana havia incisos relativos aos escravos que davam ocasião a grandes crueldades. No tempo de Nero, por exemplo, um alto magistrado foi assassinado por um dos seus escravos. “O Senado, após longa discussão, decidiu aplicar a todos os servos da casa a velha lei que condenava ao suplício da cruz todos os escravos que não tivessem sabido proteger seu senhor. Diante dessa sentença terrível, houve tais protestos populares que os 400 condenados tiveram de ser executados sob a guarda do exército” 28.
Sempre houve um ou outro proprietário de escravos que os tratava com humanidade ou — mais raramente — com respeito, mas seria grande ingenuidade pensar ser essa a atitude habitual.
25 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 128.
26 JOLOWICZ, NICHOLAS, op. cit., p. 133-138, 277.
27 WEISS, Juan-Bautista. Historia Universal. V. 3. Barcelona: Tipografia La Educación, 1928, p. 390-391.
28 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 132.
28 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 132.
Selvageria sangrenta
Na Antiguidade os morticínios eram vistos com indiferença, como um
acontecimento natural na vida dos povos. O massacre da população de uma
cidade não causava a menor surpresa, nem indignação.
A tendência para sacrifícios sangrentos estava ligada a vários ritos do paganismo. Na Grécia a velha religião considerava conveniente oferecer holocaustos humanos para o apaziguamento dos deuses.
Esses sacrifícios, comuns entre os gregos das épocas remotas,
abrandaram-se mais tarde, mas não desapareceram completamente. No século
II da Era Cristã ainda se sacrificavam vidas humanas na Arcádia, em
honra a Zeus Liceu29.
Em Roma, o espetáculo mais apreciado pelo povo era o de homens morrendo, e as lutas de gladiadores constituíam ocasiões para impiedosos morticínios. “Pela manhã, diz Sêneca, jogam-se homens aos leões e ursos; depois do meio-dia, são jogados [ao arbítrio] dos espectadores. O fim para todos os lutadores há de ser a morte, e põem-se mãos à obra com ferro e fogo, até que a arena fique vazia”30. Nessas “sessões” iniciadas ao meio-dia, os condenados à morte deviam se executar mutuamente até o último. Tanto esse costume como a refeição das feras com carne humana nos ajudam a “compreender essa volúpia de ferocidade a que os romanos darão vazão nas perseguições anticristãs”, observa Daniel-Rops, e conclui: “Por muito revoltantes que nos pareçam, essas cenas, de que também os cristãos serão vítimas, eram normais em Roma. E raros, muito raros, eram os assistentes que exteriorizavam a sua desaprovação”31.
Em Roma, o espetáculo mais apreciado pelo povo era o de homens morrendo, e as lutas de gladiadores constituíam ocasiões para impiedosos morticínios. “Pela manhã, diz Sêneca, jogam-se homens aos leões e ursos; depois do meio-dia, são jogados [ao arbítrio] dos espectadores. O fim para todos os lutadores há de ser a morte, e põem-se mãos à obra com ferro e fogo, até que a arena fique vazia”30. Nessas “sessões” iniciadas ao meio-dia, os condenados à morte deviam se executar mutuamente até o último. Tanto esse costume como a refeição das feras com carne humana nos ajudam a “compreender essa volúpia de ferocidade a que os romanos darão vazão nas perseguições anticristãs”, observa Daniel-Rops, e conclui: “Por muito revoltantes que nos pareçam, essas cenas, de que também os cristãos serão vítimas, eram normais em Roma. E raros, muito raros, eram os assistentes que exteriorizavam a sua desaprovação”31.
Panem et circenses ficou conhecida como a fórmula ideal para manter a
multidão aquietada, atendendo-se também ao seu crescente gosto pelo
sangue. Foi, igualmente, uma das causas da deterioração de Roma.
29 HUBY, J., “A religião dos gregos”, in Christus – História das Religiões. São Paulo, Saraiva, 1956, vol. II, p. 514.
30 WEISS, op. cit., p. 658-659.
31 DANIEL-ROPS, op. cit., p. 162.
A chaga da pedofilia
Aquilo que a imprensa de hoje denomina de pedofilia era largamente praticado no mundo antigo, ao amparo da lei, por influência das religiões pagãs.
Na Grécia, ocorria como prática legal a corrupção sexual de meninos,
mais propriamente chamada de pederastia32. Todo homem adulto que não
fosse escravo tinha o direito de praticá-la. Tal era o costume também na
Pérsia e em outros lugares, onde se mantém através dos séculos. Roma
acabou sendo contaminada pelo mal grego, a ponto de vários imperadores
procurarem por amantes adolescentes33.
Meninos considerados belos, se fossem feitos prisioneiros de
guerra, ou raptados, ou vendi¬dos pelos pais, eram mutilados a fim de
alimentar todo um tráfico de eunucos34. Não escapavam nem mesmo os
filhos da nobreza35.
Na Grécia — Atenas, especialmente —, as vítimas da pederastia não
eram apenas os prisio¬neiros de guerra, os raptados e os escravos.
Qualquer menino podia se tornar alvo dos desejos infames de homens
adultos. E o costume era que cedesse. Se um pai, dotado de um resto de
sen¬sibilidade moral, desejasse poupar essa tragédia aos filhos, tinha
de agir antes de ela acontecer, empregando escravos que, como falcões,
vigiassem os meninos36. Mas, diz Ésquines, muitos pais desejavam ter
belos filhos, sabendo que estes se tornariam alvo de predadores37.
As escolas — as tão elogiadas Academias — eram locais onde os estudantes, de até 12 anos de idade ou mesmo mais jovens38, ficavam à mercê dos mestres39. As leis atenienses chegavam ao ab¬surdo de proteger e incentivar essa prática, inclusive regulando o flerte e o “namoro” entre homens e meninos40.
Gregos famosos no mundo da literatura, das artes, da filosofia e da política, praticaram e lou¬varam a pederastia, como Sólon, Ésquilo, Sófocles, Xenofonte, Tucídides, Ésquines e Aristófanes41.
A filosofia grega chegou a debater essa prática, sem nunca condená-la por completo. Mesmo Sócrates, Platão e Aristóteles não ficaram isentos desse mal42. Em Charmides, Platão se refere ao adolescente que portava esse nome, como se fosse um enamorado louvando sua amada, falando de suas atrações e das emoções que produzia. No Simposium, o personagem Fedro se enche de lirismo ao descrever um exército feliz e exitoso inteiramente composto de homens-amantes e meninos-amados43. Contudo, finalmente atraído por ideias mais elevadas, Platão evoluiu de sua aprovação condicional da pederastia nos seus primeiros diálogos para a condenação formal desse vício no seu trabalho final, Leis. Entretanto, suas tentativas, como as de alguns estoicos, de propor uma pederastia “casta” foram recebidas com sarcasmo pelo povo e ficaram sem resultado. Com efeito, o “amor platônico” é muito difícil de ser praticado, pois em matéria de castidade o homem não con¬segue ficar permanentemente no meio termo44.
As escolas — as tão elogiadas Academias — eram locais onde os estudantes, de até 12 anos de idade ou mesmo mais jovens38, ficavam à mercê dos mestres39. As leis atenienses chegavam ao ab¬surdo de proteger e incentivar essa prática, inclusive regulando o flerte e o “namoro” entre homens e meninos40.
Gregos famosos no mundo da literatura, das artes, da filosofia e da política, praticaram e lou¬varam a pederastia, como Sólon, Ésquilo, Sófocles, Xenofonte, Tucídides, Ésquines e Aristófanes41.
A filosofia grega chegou a debater essa prática, sem nunca condená-la por completo. Mesmo Sócrates, Platão e Aristóteles não ficaram isentos desse mal42. Em Charmides, Platão se refere ao adolescente que portava esse nome, como se fosse um enamorado louvando sua amada, falando de suas atrações e das emoções que produzia. No Simposium, o personagem Fedro se enche de lirismo ao descrever um exército feliz e exitoso inteiramente composto de homens-amantes e meninos-amados43. Contudo, finalmente atraído por ideias mais elevadas, Platão evoluiu de sua aprovação condicional da pederastia nos seus primeiros diálogos para a condenação formal desse vício no seu trabalho final, Leis. Entretanto, suas tentativas, como as de alguns estoicos, de propor uma pederastia “casta” foram recebidas com sarcasmo pelo povo e ficaram sem resultado. Com efeito, o “amor platônico” é muito difícil de ser praticado, pois em matéria de castidade o homem não con¬segue ficar permanentemente no meio termo44.
Os gregos chegaram a considerar o relacionamento natural entre homem e
mulher como inferior ao relacionamento entre homem e menino. Numa
sociedade na qual esse tipo de compor¬tamento influenciava até o ideal
do Estado, a mulher tinha de ser desprezada45, relegada ao papel de mera
reprodutora.
Uma obra histórico-filosófica como Erastos, do século II ou III d.C., por muitos atribuída a Luciano de Samósata, traz um diálogo entre dois gregos que discutem seriamente qual amor seria superior… Igualmente, no décimo Diálogo dos Cortesãos, Luciano aborda esse tema. Plutarco, em Erotikos, analisa, com toda a seriedade, qual a atração — por mulheres ou por meninos — é a mais interessante para um homem adulto. Felizmente, ao contrário de Erastos, conclui que o ideal é realmente o casamento monogâmico.
Uma obra histórico-filosófica como Erastos, do século II ou III d.C., por muitos atribuída a Luciano de Samósata, traz um diálogo entre dois gregos que discutem seriamente qual amor seria superior… Igualmente, no décimo Diálogo dos Cortesãos, Luciano aborda esse tema. Plutarco, em Erotikos, analisa, com toda a seriedade, qual a atração — por mulheres ou por meninos — é a mais interessante para um homem adulto. Felizmente, ao contrário de Erastos, conclui que o ideal é realmente o casamento monogâmico.
Em Roma, também as meninas podiam ser vítimas de abuso sexual. É o
que se deduz das palavras de São Justino, em sua Apologia, nas quais
vitupera o costume de crianças rejeitadas — meninos e meninas — serem
criadas para a prostituição: “E assim como os antigos criavam rebanhos
de bois, bodes, carneiros ou cavalos, assim vós agora criais crianças
destinadas a esse vergonhoso uso; e para esse uso impuro, uma multidão
de mulheres e hermafroditas, e aqueles que cometem iniquidades que nem
podem ser mencionadas, se espalham por toda a nação. [...] E há aqueles
que prostituem até mesmo seus próprios filhos e mulheres; alguns são
abertamente mutilados para serem usados na sodomia”46.
*
Esse é o mundo quando nele não está presente a santa Igreja de Deus. O quadro aqui apresentado, embora não esteja completo, é suficientemente trágico para expor as mazelas da Antiguidade pagã e nos dar uma ideia do choque ocorrido no tempo em que a mensagem do Evangelho começou a exaltar valores opostos, ordenados e santos.
*
Esse é o mundo quando nele não está presente a santa Igreja de Deus. O quadro aqui apresentado, embora não esteja completo, é suficientemente trágico para expor as mazelas da Antiguidade pagã e nos dar uma ideia do choque ocorrido no tempo em que a mensagem do Evangelho começou a exaltar valores opostos, ordenados e santos.
32 DEMAUSE, Lloyd. Foundations of Psychohistory. New York: Creative
Roots, 1982, p 50-53. Conforme mostra o autor, Roma não ficou livre
desse problema.
33 É o caso por ex. de Adriano, cujo apego doentio por um menino é romanceado por Marguerite Yourcenar em “Mémoires d’Hadrien”.
33 É o caso por ex. de Adriano, cujo apego doentio por um menino é romanceado por Marguerite Yourcenar em “Mémoires d’Hadrien”.
34 HERODOTUS, op. cit. Book 3, “Thalia”, n. 92; Book 8, “Urania”, n. 105.
35 Ibid., Book 3, “Thalia”, n. 48; Book 6, “Erato”, n. 32.
35 Ibid., Book 3, “Thalia”, n. 48; Book 6, “Erato”, n. 32.
36 AFARY, Janet; ANDERSON, Kevin B. Foucault and The Iranian
Revolution. Chicago: The Uni¬versity of Chicago Press, 2005. p. 148.
37 WOHL, Victoria. Love Among The Ruins: The Erotics of Democracy in
Classical Athens. Princ¬eton: Princeton University Press, 2002, p. 6.
38 DEMAUSE, op. cit., p 51. O autor cita Plutarco, que se refere à existência do mesmo mal também em Roma.
39 WOHL, op. cit., p. 150; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 148; MARROU, op. cit., p. 26-37.
40 WOHL, op. cit., p. 226; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 148-149; MARROU, op. cit., p. 31.
41 WOHL, op. cit., p. 87, 226 et passim; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 4, 148. MARROU (op. cit., p. 366), elogia o silêncio de Homero sobre a pederastia, o que constitui uma exceção honrosa entre os escritores de então. Ao que parece, ele “decidiu ignorar uma bem conhecida instituição de sua época”.
42 MARROU, op. cit., p. 33.
40 WOHL, op. cit., p. 226; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 148-149; MARROU, op. cit., p. 31.
41 WOHL, op. cit., p. 87, 226 et passim; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 4, 148. MARROU (op. cit., p. 366), elogia o silêncio de Homero sobre a pederastia, o que constitui uma exceção honrosa entre os escritores de então. Ao que parece, ele “decidiu ignorar uma bem conhecida instituição de sua época”.
42 MARROU, op. cit., p. 33.
43 WOHL, op. cit., p. 4.
44 MARROU, op. cit., p. 366.
45 WOHL, op. cit., p. 8, 48; AFARY, ANDERSON, op. cit., p. 144, 145, 150, 151.
46 JUSTINUS, op. cit, 27: PG 6, 370. Ver tb. DEMAUSE, op. cit., p. 52-53.
O choque dos valores do Evangelho com os contravalores mundanos
A mensagem de Jesus Cristo veio desequilibrar o carcomido mundo
antigo. Ela censurava a libertinagem e a crueldade, e exaltava a
liberdade para praticar o bem, a castidade, a virgindade, a inocência, a
fidelidade conjugal, o amor aos inimigos, a caridade, a abnegação, a
bondade para com os mais fracos, a dignidade de todos os seres humanos,
criados à imagem e semelhança de Deus.
Um horror especial ao pecado da pedofilia foi instilado nas almas por
nosso Divino Mestre, com palavras de uma extrema severidade: “Se
alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor
fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo
do mar” (Mt 18,6).
Ante a sublimidade do Evangelho, o paganismo não conseguiria ficar indiferente. Só lhe res¬tavam duas reações: ou encantar-se e submeter-se ao suave jugo de Deus, ou odiar e perseguir. Não poucos se converteram. Muitos, porém, aferraram-se ao lodo, e seu ódio levou ao martírio milhões de cristãos.
Todavia, o sangue dos mártires começou a ser semente de novos cristãos, segundo a célebre afirmação de Tertuliano47.
O espetáculo de homens e mulheres, idosos e idosas, adultos no auge da
saúde, jovens vigorosos, virgens, crianças — todos confessando a fé em
Jesus Cristo e caminhando resolutos em direção à morte —, arrancava
admiração de muitos espectadores, acarretando con¬versões cada vez mais
numerosas.
O paganismo necessitou, pois, lançar mão de outra arma, para tentar reverter o jogo: a difamação e a calúnia. Como observam os Apologistas
cristãos daqueles primeiros séculos, os pagãos passaram a acusar os
cristãos exatamente dos delitos que o paganismo cometia.
É digno de nota que uma das acusações era a da pedofilia, agravada
com incesto48. São Jus¬tino comenta: “As coisas que vós fazeis
abertamente e com aplauso, [...] dessas mesmas coisas vós nos
acusais”49. E Arnóbio lança ao rosto dos pagãos: “Quão vergonhoso, quão
petulante é censurar, em outro, aquilo que o acusador vê que ele mesmo
pratica — aproveitar a ocasião para ultrajar e acusar outros de coisas
que podem ser retorquidas contra ele mesmo!”50.
Ou seja, aqueles pagãos faziam como o ladrão que, ao roubar, grita: “Pega ladrão!”
47 Apologia, 50,13.
48 MINUCIUS FELIX, Octavius, c. 9; LECLERCQ, Henri, P. Verbete:
“Accusation Contre les Chré¬tiens”, in Dictionnaire d’Archéologie
Chrétienne et de Liturgie. V. 1, 1e partie. Paris: Letouzey et Ané,
1924. Cols. 274, 275.
49 JUSTINUS, op.cit., c. 27.
50 ARNOBIUS, op. cit., l. 2., n. 70.
Uma civilização governada pelo Evangelho
A Igreja Católica acabou por vencer, em virtude da força intrínseca do bem. E aos poucos, auxiliada pela graça divina que nunca falha, ela tomou os greco-latinos decadentes e os bárbaros germanos, converteu-os, educou-os e inspirou a edificação de uma brilhante civilização cujo ápice, nunca antes alcançado, ocorreu nos séculos XII e XIII.
A Igreja Católica acabou por vencer, em virtude da força intrínseca do bem. E aos poucos, auxiliada pela graça divina que nunca falha, ela tomou os greco-latinos decadentes e os bárbaros germanos, converteu-os, educou-os e inspirou a edificação de uma brilhante civilização cujo ápice, nunca antes alcançado, ocorreu nos séculos XII e XIII.
Nessa época, segundo diz o Papa Leão XIII, “a filosofia do
Evangelho governava os Estados”. Então, “a influência da sabedoria
cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os
costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade
civil”.
Da relação har¬moniosa entre o poder religioso e o temporal, “a
sociedade civil deu frutos superiores a toda a ex¬pectativa, cuja
memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros
documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou
obscurecer”51.
Foi nesse tempo que a Igreja desenvolveu a escolástica, edificou as
catedrais góticas (com seus vitrais e monumentos), criou as
universidades e os hospitais, impulsionou as ciências e o progresso
técnico, aperfeiçoou as relações internacionais entre os estados, aboliu
a escravidão, fez avançar o progresso social, elevou a condição da
mulher, de tal modo que, no século XIV, a Europa havia ultrapassado de
muito todos os outros continentes.
Conforme ressalta um estudioso do progresso técnico medieval, naquela época, “pela pri¬meira vez na história se construiu uma civilização complexa que não mais se sustentava nas costas suarentas de escravos ou de servos, mas principalmente na energia não humana”52.
Conforme ressalta um estudioso do progresso técnico medieval, naquela época, “pela pri¬meira vez na história se construiu uma civilização complexa que não mais se sustentava nas costas suarentas de escravos ou de servos, mas principalmente na energia não humana”52.
Quanto mais avançam os estudos históricos e científicos sobre esta
matéria, tanto mais vai ficando demonstrada esta verdade, jogando por
terra o mito de que a Idade Média foi uma era de atraso e de opressão. A
literatura especializada a tal respeito vai se multiplicando53.
51 LEÃO XIII. Encíclica Immortale Dei. 1/11/1885, n. 28.
51 LEÃO XIII. Encíclica Immortale Dei. 1/11/1885, n. 28.
52 WHITE, Lynn. Medieval Religion and Technology. Berkeley and Los Angeles: University of Los Angeles Press, 1978, p. 22.
53 Ver, p.exe., WOODS, Thomas E. How The Catholic Church Built
Western Civilization. Wash¬ington, DC: Regnery, 2005; STARK, Rodney. The
Victory of Reason. How Christianity Led to Freedom, Capitalism, and
Western Sciences. New York: Random House, 2005; PERNOUD, Régine. Pour en
finir avec le Moyen Âge. Paris: Seuil, 1977; SWEENEY, Jon M. Beauty
Awakening Belief. London: Society for
Por que acusar só a Igreja?
Entretanto, sempre houve minorias inconformes com o domínio da virtude, da verdade e do bem, de modo que, periodicamente, a Igreja se vê vítima de novas investidas.
Entretanto, sempre houve minorias inconformes com o domínio da virtude, da verdade e do bem, de modo que, periodicamente, a Igreja se vê vítima de novas investidas.
Um dos procedimentos preferidos continua a ser o de acusar a Igreja
precisamente dos delitos que o próprio mundo não se envergonha de
cometer. Quais são os maiores destruidores da inocência infantil hoje
em dia? Quem promove uma pornografia irrefreável, que não respeita nem
idade, nem dignidade, e que incita a todo tipo de crime sexual? Quais os
que, de todos os modos, pressionam as escolas para iniciarem as
crianças em práticas imorais? Quem impulsiona as mudanças das leis de
maneira a abolir a influência cristã e a substituí-la pela do velho
paganismo? Eis questões que pedem respostas; eis um tema muito apropriado para um futuro estudo.
Consideremos a acusação de pedofilia. Como afirmam os
especialistas, baseados nas pesquisas até agora realizadas, a maior
parte desses crimes são cometidos especialmente na própria casa da
família, e os abusadores são principalmente os padrastos, seguidos — ó
tristeza! — pelos pais, por outros parentes e pelos namorados das
parentas das vítimas54. Curiosamente, nunca se viu algum adversário
da Igreja pedir um estudo sério sobre a relação entre a desagregação da
fa¬mília, causa principal da existência de milhões de padrastos, e os
crimes de pedofilia, nem exigir uma investigação sobre os perigos de se
levar, para dentro de casa, namorados, quando ali residem menores.
Apenas de passagem, note-se que a massa dos pedófilos é constituída por homens casados. Também é de notar que todas as religiões têm membros seus envolvidos em casos de pedofilia, e algumas em proporções gigantescas.
Apenas de passagem, note-se que a massa dos pedófilos é constituída por homens casados. Também é de notar que todas as religiões têm membros seus envolvidos em casos de pedofilia, e algumas em proporções gigantescas.
Por que, então, levantar uma campanha internacional somente contra a Igreja Católica?
Promoting Christian Knowledge, 2009; JAKI, Stanley L. Patterns or
Principles and Other Essays. Wilm¬ington: Intercollegiate Studies
Institute, 1995; JONES, Terry. Medieval Lives. London: BBC Books, 2004;
GRANT, Edward. God and Reason in The Middle Ages. Cambridge: Cambridge
University Press, 2001; LINDBERG, David C. (editor). Science in the
Middle Ages. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
54 A literatura a esse respeito é abundante. Ver, por ex., CARROLL,
Janell L.; WOLPE, Paul Root. Sexuality and Gender in Society. New York:
HarperCollins College Publishers, 1996: “Com efeito, ter um padrasto é
um dos mais potentes prognósticos de abuso sexual” (p. 553). FINKELHOR,
David. “Child Sexual Abuse”, in ROSENBERG, Mark L.; FENLEY, Mary Ann
(editors). Violence in America. A Public Health Approach. Oxford, New
York: Oxford University Press, 1991: “Diversos fatores têm se revelado
consistentemente associados com um maior risco de abuso: (1) quando a
criança vive sem um dos parentes biológicos, (2) quando a mãe não está
sempre ao alcance da criança, em virtude de emprego fora de casa, ou por
causa de invalidez ou doença, (3) quando a criança relata que o
casamento de seus pais é infeliz ou marcado por conflito, (4) quando a
criança informa que tem um relacionamento pobre com seus pais ou é
sujeita a castigos ou abuso infantil, (5) quando a criança diz ter um
padrasto” (p. 85). Segundo vários estudos, as meninas que vivem com
padrasto compõem o grupo de mais alto risco. Por tal razão, Finkelhor,
uma conceituada autoridade nesta matéria, pensa que as famílias nas
quais há padrasto deveriam ser foco de políticas para prevenir abusos
(FINKELHOR, David; and associates. A Sourcebook on Child Sexual Abuse.
Newbury Park, CA: Sage Publications, 1986, p. 77-79). No mesmo sentido, a
Rádio Vaticano, na edição de 5/4/2010 do Radiogiornale, expressando
estranheza pela campanha paradoxal contra a Igreja, lembra que, segundo
os dados oficiais, os principais culpados do abuso sexual de crianças
não são padres. É o que demonstra um relatório do governo americano, de
2008, segundo o qual “mais de 64% dos abusos são perpetrados por pais,
parentes ou outras pessoas que vivem na mesma casa, portanto, no âmbito
das relações familiares. Nas escolas do país, quase 10% dos jovens
sofrem abusos. No que toca aos sacerdotes católicos envolvidos,
estima-se que sejam menos de 0,03%”. Estudos recentes realizados em
outros países indicam que os dados referentes aos Estados Unidos se
repetem, com ligeiras variações, em todo o Ociden¬te. Uma estatística
publicada no “Portal da Criança”, da Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Humano (SEDH/PB) do Estado da Paraíba, mostra que 90%
dos casos de pedofilia ocorrem dentro de casa, sendo que as maiores
incidências ocorrem na seguinte ordem: pai, padrasto, irmão, tio, avós,
padrinhos e vizinhos
(http://crianca.pb.gov.br/contador/?p=479). A revista Veja
(18/3/2010, p. 112) informa que, na classe média brasileira, em 37% dos
casos de pedofilia, o abusador é o padrasto, e em 34% é o próprio pai.
Além disso, nas classes C e D, 74% das vítimas são filhos de pais
separados.
Prova inequívoca da santidade da Igreja
Ressaltemos mais uma vez: foi a Igreja Católica que, sempre fiel aos ensinamentos de seu Fundador, fez cessar no Ocidente a prática da pedofilia e inspirou horror a ela.
Portanto, quem ataca a Igreja a esse propósito está utilizando,
contra ela, um valor a ela pertencente, e está implicitamente
reconhecendo que ela é inatacável a partir dos contravalores do mundo.
Ou seja, os próprios adversários estão fornecendo a prova de que a Igreja Católica Apostólica Romana é substancialmente santa.
A Igreja Católica censura o mundo, porque este é corrompido. Ela requer um alto padrão de comportamento, casto e puro. E a feroz e cerrada investida dos inimigos injustamente consiste em procurar acusá-la de não praticar a moral que ela mesma implantou na sociedade. A isto se reduz a atual campanha publicitária, no tocante à pedofilia.
Ou seja, os próprios adversários estão fornecendo a prova de que a Igreja Católica Apostólica Romana é substancialmente santa.
A Igreja Católica censura o mundo, porque este é corrompido. Ela requer um alto padrão de comportamento, casto e puro. E a feroz e cerrada investida dos inimigos injustamente consiste em procurar acusá-la de não praticar a moral que ela mesma implantou na sociedade. A isto se reduz a atual campanha publicitária, no tocante à pedofilia.
Mas como fazer para atingir a Igreja pelas faltas de uma minoria de
seus membros? Um dos estudos mais autorizados sobre o problema da
pedofilia, de Philip Jenkins, analisa as técnicas jornalísticas usadas
para enfatizar, não os delitos de indivíduos que por acaso são padres,
mas o contexto institucional como dando origem ao comportamento deles55.
Utilizam-se títulos sugestivos, jogos de palavras, termos bem
estudados, como, por exemplo, dar a um livro o chamativo nome de: “E não
nos deixeis cair em tentação”. Por sua vez, programas de televisão
sobre os casos de pedofilia colocam, como fundo de quadro, cerimônias
litúrgicas, música gregoriana, sacerdotes de batina, de modo a ficar
estigmatizada a Igreja como um todo e a se fazer uma associação visual
entre aquilo que é distintamente católico com o estereótipo de padres
lascivos e cínicos56.
Ora, médicos, professores, enfermeiros e outros profissionais
aparecem em alto número en¬tre os perpetradores de crimes de
pedofilia57, mas quem vai chegar ao absurdo de acusar todos os membros
dessas categorias e a denegrir uma classe inteira pelos crimes de uma
minoria?
No entanto, assim se procede no caso dos sacerdotes católicos. O
choque que o delito sexual de um padre causa na opinião pública — choque
justificado, porque a Igreja Católica é a única instituição da qual se
espera que seus membros sejam de uma pureza sem mancha, bem como que
seus sacerdotes sejam santos — os adversários sabem explorar.
55 JENKINS, Philip. Pedophiles and Priests: Anatomy of a Contemporary Crisis. Oxford, New York: Oxford University Press, 1996, p. 55.
56 Ibid., p. 56.
57 Ibid., p. 126-128.
A santidade substancial da Igreja
Resta perguntar como pode a Igreja manter-se santa ante as evidências de que alguns padres cometem esses graves delitos.
Na realidade, o argumento mais forte contra a Igreja Católica sempre foi a vida dos maus católicos. Contudo, não nos pode surpreender que na Igreja de Cristo haja membros indignos. O próprio Jesus comparou sua Igreja à rede que apanha maus e bons peixes (cf Mt 13, 47-50); ao campo onde o joio cresce entre o trigo (cf Mt 13, 24-30); à festa de casamento, para a qual um dos convivas se apresenta sem a veste nupcial (cf Mt 22, 11-14)58.
Não obstante, a Igreja será sempre sem mancha, como ressalta São Paulo: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5, 25-27).
Resta perguntar como pode a Igreja manter-se santa ante as evidências de que alguns padres cometem esses graves delitos.
Na realidade, o argumento mais forte contra a Igreja Católica sempre foi a vida dos maus católicos. Contudo, não nos pode surpreender que na Igreja de Cristo haja membros indignos. O próprio Jesus comparou sua Igreja à rede que apanha maus e bons peixes (cf Mt 13, 47-50); ao campo onde o joio cresce entre o trigo (cf Mt 13, 24-30); à festa de casamento, para a qual um dos convivas se apresenta sem a veste nupcial (cf Mt 22, 11-14)58.
Não obstante, a Igreja será sempre sem mancha, como ressalta São Paulo: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5, 25-27).
Não acontece o mesmo com as outras instituições terrenas. Sendo
meramente humanas, as falhas de seus integrantes podem desdourá-las. A
Igreja é a única que tem uma dimensão divina. Por isso, apesar das
faltas de sua dimensão humana, sua substância permanece sempre pura. Ela
é santa, porque santo é seu Fundador: é a imaculada Esposa de Cristo.
Só os homens da Igreja são pecadores, mas a Santa Madre Igreja não pode
pecar.
Ela “é santa”, ressalta Paulo VI, “não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua santidade”59. Portanto, para qualquer membro da Igreja, incluindo os pertencen¬tes ao clero, aplica-se esta regra: eles somente caem quando diminuem seu amor à Igreja e relaxam em seu compromisso para com ela.
Ela “é santa”, ressalta Paulo VI, “não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua santidade”59. Portanto, para qualquer membro da Igreja, incluindo os pertencen¬tes ao clero, aplica-se esta regra: eles somente caem quando diminuem seu amor à Igreja e relaxam em seu compromisso para com ela.
“Nessa perspectiva”, diz-nos o Cardeal Biffi, Arcebispo emérito de
Bologna, “torna-se claro que toda nossa culpa — pequena ou grande — não
constitui apenas infidelidade ao amor que nos liga ao Pai, menoscabo
pela obra redentora de Cristo, resistência à ação santificante do
Espírito Santo; é ademais ultraje e sofrimento infligidos à Igreja. Toda
incoerência com nosso batismo é sempre ingratidão para com aquela que,
no batismo, nos gerou, é atentado contra sua beleza de Esposa do Senhor;
beleza que, aos olhos humanos, fica ofuscada por nosso ato reprovável.
[...] Mas nós, pelo menos, embora pequemos quase como eles,
habituamo-nos a pedir perdão diariamente a essa nossa Mãe caríssima por
tudo o que nos ocorre de pensar, dizer e fazer com ânimo não
integralmente ‘eclesial’”60.
Os pecadores não pertencem à Igreja por seus pecados, diz o Cardeal
Journet, “mas por aquilo que ainda há neles de dons de Deus, pelos
caracteres sacramentais, a fé, a esperança teologal, suas orações, seus
remorsos. Eles estão como que vinculados aos justos. Encontram-se na
Igreja provisoriamente para serem um dia, ou definitivamente
reintegrados, ou separados dela. Estão na Igreja não de uma maneira
salvífica, mas como paralisados naquilo que diz respeito às suas
ativi¬dades mais altas e decisivas”61.
Claro está que a Igreja “não expele os pecadores de seu próprio seio, mas só seu pecado; continua a mantê-los em si na esperança de poder convertê-los. Luta neles contra o pecado que cometeram”62.
Ressaltando a santidade da Igreja, que não se mancha nunca pelos pecados de seus filhos, o Cardeal Journet chama a atenção para sua íntima relação com cada uma das três Pessoas da San¬tíssima Trindade: desde toda eternidade, a Igreja Católica é conhecida e querida pelo Pai. É funda¬da por seu Filho, que veio para nos remir pela cruz. E é vivificada pelo Espírito Santo, que veio para estabelecer, nela, sua morada. “A Igreja inteira aparece, assim, como o povo reunido à imagem da unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, de unitate Patris et Filii et Spiritus Sancti plebs adunata” 63.
A relação da Mãe de Deus com a Santa Igreja é outro fator de santidade. O conhecimento da verdadeira doutrina sobre Maria será sempre uma chave para compreender o mistério de Cristo e o da Igreja. A santidade de Nossa Senhora se reflete na Igreja, sua virgindade, sua pureza, sua disponibilidade em relação à vontade de Deus. Também os anjos do céu e os bem-aventurados conservam a Igreja na santidade, enobrecendo o culto que ela presta a Deus64.
Claro está que a Igreja “não expele os pecadores de seu próprio seio, mas só seu pecado; continua a mantê-los em si na esperança de poder convertê-los. Luta neles contra o pecado que cometeram”62.
Ressaltando a santidade da Igreja, que não se mancha nunca pelos pecados de seus filhos, o Cardeal Journet chama a atenção para sua íntima relação com cada uma das três Pessoas da San¬tíssima Trindade: desde toda eternidade, a Igreja Católica é conhecida e querida pelo Pai. É funda¬da por seu Filho, que veio para nos remir pela cruz. E é vivificada pelo Espírito Santo, que veio para estabelecer, nela, sua morada. “A Igreja inteira aparece, assim, como o povo reunido à imagem da unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, de unitate Patris et Filii et Spiritus Sancti plebs adunata” 63.
A relação da Mãe de Deus com a Santa Igreja é outro fator de santidade. O conhecimento da verdadeira doutrina sobre Maria será sempre uma chave para compreender o mistério de Cristo e o da Igreja. A santidade de Nossa Senhora se reflete na Igreja, sua virgindade, sua pureza, sua disponibilidade em relação à vontade de Deus. Também os anjos do céu e os bem-aventurados conservam a Igreja na santidade, enobrecendo o culto que ela presta a Deus64.
Todas as obras da Igreja têm por finalidade a santificação dos homens
em Cristo e a glorificação de Deus65. Entretanto, ela não poderia
realizar essa finalidade se não fosse santa. Assim, mes¬mo que nesta
terra seja governada e composta por pecadores, ela é indefectivelmente santa, con¬forme provam os frutos abundantes de santificação que tem produzido66.
Um possante sinal dessa santidade é a observância voluntária dos
conselhos evangélicos, pelo qual centenas de milhares de homens e
mulheres renunciam a tudo o que poderiam ter de legítimo nesta vida —
família, posses, liberdade de decidir o que fazer — para imitar
totalmente a Cristo Jesus67.
A Igreja tem a coragem de exigir de todos os seus filhos o combate
contra o pecado. Muitas almas dizem “sim” a esse apelo, porém, em geral,
o bem que praticam fica escondido. O mal, neste mundo, conta com uma
publicidade bastante maior, pois sua petulância solicita a atenção de
to¬dos. Seja como for, homens e mulheres de extraordinária santidade
nunca faltaram à Igreja68, e é como instrumento de santificação que ela
passa por uma contínua renovação69.
Constitui, pois, um grande equívoco propor modificações na estrutura
eclesial. “Quando o valor do compromisso sacerdotal é questionado como
entrega total a Deus através do celibato apostólico e como
disponibilidade total para servir às almas”, assinalava Bento XVI em sua
vinda ao Brasil, “dando-se preferência às questões ideológicas e
políticas, inclusive partidárias, a estrutu¬ra da consagração total a
Deus começa a perder o seu significado mais profundo. Como não sentir
tristeza em nossa alma?”70
58 TRESE, Leo J. A fé explicada. São Paulo: Quadrante, 2007. p. 147-148.
59 PAULO VI. Sollemnis Professio Fidei, 19: AAS 60 (1968) 440.
60 BIFFI, Cardinale Giacomo. Meditazione Gesú di Nazareth, la fortuna di appartenergli. Giubileo Diocesano dei Catechisti, Cattedrale di San Pietro, Bologna, 29/10/2000.
59 PAULO VI. Sollemnis Professio Fidei, 19: AAS 60 (1968) 440.
60 BIFFI, Cardinale Giacomo. Meditazione Gesú di Nazareth, la fortuna di appartenergli. Giubileo Diocesano dei Catechisti, Cattedrale di San Pietro, Bologna, 29/10/2000.
61 JOURNET, Charles. Il mistero della Chiesa secondo il Concilio Vaticano II. Brescia: Queriniana, 1967, p. 84-85.
62 Ibid., p. 85.
63 Ibid., p. 31. Ver tb. CONCILIO VATICANO II, Lumen Gentium, n.4.
64 JOURNET, op. cit., p. 91-95.
64 JOURNET, op. cit., p. 91-95.
65 CONCÍLIO VATICANO II. Sacrossantum Concilium, n. 10.
66 ARANGÜENA, José Ramón Pérez. A Igreja. Iniciação à eclesiologia. Lisboa: Diel, 2002. p. 110.
66 ARANGÜENA, José Ramón Pérez. A Igreja. Iniciação à eclesiologia. Lisboa: Diel, 2002. p. 110.
67 JOURNET, op. cit., p. 89.
68 KEMPF, Constantino. A santidade da Igreja no século XIX. Porto Alegre: Barcellos, Bertaso & Cia., 1936. p. 11-12.
69 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium, n. 15.
70 BENTO XVI. Discurso. Encontro com os Bispos do Brasil,
Catedral da Sé, São Paulo, 11/5/2007.
Um pastor solícito para com seu rebanho
Alguns jornais têm tentado implicar o Papa Bento XVI na ocultação de
crimes, no tempo em que ele era prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé, e certas vozes estridentes chegam ao ponto de propor sua prisão.
A nosso ver, esse é o maior erro do adversário na atual campanha
contra a Igreja. Sua insolência é o que mais tem causado geral
indignação, contribuindo até mesmo para despertar e afervorar os
católicos adormecidos.
A injustiça dos acusadores ainda se mostra mais flagrante quando,
indo-se aos fatos, constata-se que foi Bento XVI, já quando era Cardeal,
quem mais agiu para erradicar o problema, zelo esse que se acentuou ao
ocupar a Cátedra de Pedro.
É emblemática a Carta Pastoral que, pouco antes da Páscoa, ele enviou
aos católicos irlande¬ses, para ser lida em todos os púlpitos do país.
Num gesto sem precedentes, o Santo Padre pedia perdão diretamente às
vítimas e às suas famílias, expressando sua profunda desolação pelos
“atos pecaminosos e criminosos” dos abusadores. Dirigindo-se aos bispos,
ressaltava os “graves erros de juízo” e a “falta de governo” por parte
da Hierarquia. Por fim, sublinhava que a Igreja se pôs a trabalhar com
afinco para corrigir e remediar o mal que foi feito.
Ressalte-se igualmente que, em maio de 2001, o então Cardeal
Ratzinger enviou uma carta aos bispos, ordenando que lhe encaminhassem
todas as acusações, contra clérigos, fossem velhas ou novas. Com essa
iniciativa, a Santa Sé chamava a si a investigação dos abusos e a
punição dos culpados. A partir daí, vários acusados tiveram de enfrentar
um processo canônico completo, muitos foram demitidos do estado
clerical, ou então demitiram-se voluntariamente, enquanto outros
sofreram punições administrativas e disciplinares, incluindo a proibição
de celebrar missa.
Contrariamente ao que certas fontes têm propalado, a referida carta não proibia a ninguém de comunicar-se com a polícia para denunciar eventuais abusos. Na verdade, os Bispos pelo mundo afora — como nos Estados Unidos, Inglaterra e Canadá — já vinham adotando o procedimento de comunicar-se com as autoridades policiais, tão logo houvesse a confirmação de algum caso.
De outro lado, o Vaticano tem editado normas que tornam rigorosa a seleção dos candidatos ao seminário. Ademais, vem levando a cabo iniciativas como o Ano Sacerdotal, ainda em curso, e o Congresso Teológico Internacional, realizado em Roma no último mês de março, visando à renova¬ção do clero e à remoção de conceitos errôneos sobre o sacerdócio, causados por uma “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”71 em face do Concílio Vaticano II.
Esperamos que essas brisas de renovação tragam um pouco de consolo
para as vítimas dos horríveis delitos cometidos por homens que, como
representantes de Deus, deveriam ser os pri¬meiros protetores das
crianças e dos jovens. Delas nos condoemos e compartilhamos seus
sofri¬mentos e suas desilusões, oferecendo por eles nossas orações.
Aliás, a tragédia que os envolveu nos leva, uma vez mais, a recordar com
dor aquelas incontáveis crianças que, na Antiguidade, foram vítimas do
cruel paganismo.
71 BENTO XVI, Discurso à Cúria Romana, 22/12/2005.
De cada perseguição, a Igreja sai fortalecida
Haja o que houver, contemplando a sua própria história, a Igreja Católica pode dizer com Cícero: “Alios vidi ventos, alias prospexi animo procellas”72.
Como das investidas anteriores, ela sairá ainda mais forte da atual
refrega. Incontáveis rea¬ções pelo mundo afora já antecipam tal
desfecho. Na Irlanda e na Espanha, as igrejas se encheram, durante a
Semana Santa, como há muitos anos não ocorria. Nos Estados Unidos, na
Inglaterra e em outros países do Ocidente, o número de conversões
aumentou. Vários jornalistas, muitos dos quais não católicos, tomaram a
defesa da Igreja. Será preciso lembrar que as perseguições são
in¬dispensáveis para o alcandoramento da Esposa de Cristo? E também para
a sua renovação? Com efeito diz São Paulo: “Nam oportet et hereses esse
ut et qui probati sunt manifesti fiant in vobis” (“É necessário que entre vós haja heresias para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos”. 1 Cor 11,19).
Para destacar a perenidade da Igreja Católica Apostólica Romana, Santo Agostinho nos dei¬xou esta sábia reflexão: “A
Igreja vacilará, se vacilar seu fundamento. Mas pode Cristo vacilar?
Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos
tempos”73.
Lembremo-nos de que “Deus é o Senhor do mundo e da história”74. Foi
Ele mesmo quem de¬cretou que “as portas do Inferno” não prevaleceriam
contra a sua Igreja (Mt 16,18).
______________________________________________
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, é Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior, de Roma, Protonotário Apostólico Supranumerário, Doutor em Direito Canônico pelo Angelicum, Mestre em Psicologia da Educação pela Universidade Católica da Colômbia, Doutor Honoris Causa pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, Membro da Sociedade Internacional São Tomás de Aquino (SITA) e da Ponti¬fícia Academia da Imaculada, Fundador e Superior Geral de três entidades de Direito Pontifício: Associação Internacional de Fiéis Arautos do Evangelho, Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum.
72 “Vi outros ventos e enfrentei sem temor outras tempestades” (In L. Calpurnium Pisonem, oratio, 9).
______________________________________________
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, é Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior, de Roma, Protonotário Apostólico Supranumerário, Doutor em Direito Canônico pelo Angelicum, Mestre em Psicologia da Educação pela Universidade Católica da Colômbia, Doutor Honoris Causa pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, Membro da Sociedade Internacional São Tomás de Aquino (SITA) e da Ponti¬fícia Academia da Imaculada, Fundador e Superior Geral de três entidades de Direito Pontifício: Associação Internacional de Fiéis Arautos do Evangelho, Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum.
72 “Vi outros ventos e enfrentei sem temor outras tempestades” (In L. Calpurnium Pisonem, oratio, 9).
73 Enarrationes in Psalmos, 103,2,5; PL, 37, 1353.
74 Catecismo da Igreja Católica, n. 314.
Nenhum comentário:
Postar um comentário