22/01/2013
ihu - É ridículo ser um cristão na Inglaterra? Ou, dito de outra
forma, será que os anglicanos são cada vez mais objeto de ridículo na
terra que consagrou sua denominação como a igreja estatal séculos atrás?
A resposta para a primeira pergunta diz respeito principalmente à fé, ou à religião em que se foi criado, ou talvez ao eterno anseio de decifrar a miríade de enigmas da vida. Mas a segunda é praticamente uma declaração da verdade uma vez que os líderes da igreja nas últimas semanas estiveram envolvidos em contorções doutrinárias sobre gênero e sexualidade, provocando indignação, zombaria e divisão.
A reportagem é de Alan Cowell, publicada no International Herald Tribune e reproduzida pelo portal Uol, 18-01-2013.
A resposta para a primeira pergunta diz respeito principalmente à fé, ou à religião em que se foi criado, ou talvez ao eterno anseio de decifrar a miríade de enigmas da vida. Mas a segunda é praticamente uma declaração da verdade uma vez que os líderes da igreja nas últimas semanas estiveram envolvidos em contorções doutrinárias sobre gênero e sexualidade, provocando indignação, zombaria e divisão.
A reportagem é de Alan Cowell, publicada no International Herald Tribune e reproduzida pelo portal Uol, 18-01-2013.
A
primeira decisão aconteceu em dezembro quando a Igreja da Inglaterra
aprovou – com pouca margem e contra o julgamento de seus sacerdotes e
bispos – a rejeição da ideia de as mulheres aderirem ao episcopado,
apesar de o governador supremo titular da igreja ser uma mulher : a
rainha Elizabeth 2ª.
Em janeiro, os próprios
bispos deram continuidade a uma decisão que marca uma época admitindo
abertamente bispos gays em parcerias civis em sua organização, desde
que, ao contrário dos bispos heterossexuais, eles permanecem
celibatários.
"Eles podem viver uns com os outros e partilhar as
tarefas domésticas e passar a noite juntos jogando Scrabble ou
assistindo à caixa de DVDs 'O Vigário de Dibley,''", escreveu o "The
Sunday Times" de Londres, referindo-se a uma série de televisão sobre
uma mulher vigário. ''Mas em nenhum momento eles podem levantar e fazer
qualquer ato libidinoso."
"É inevitável se perguntar como isso pode funcionar", imaginou a colunista Barbara Ellen no "The Observer", listando uma série irreverente de medidas para fazer cumprir o celibato episcopal. "Verificar manchas nos lençóis eclesiásticos?''
Giles Fraser,
um padre do sul de Londres, foi tão longe a ponto de perguntar se
"padres ou bispos gays ativos têm a responsabilidade moral de dizer a
verdade" sobre sua sexualidade. ''Na verdade, acho que não'', ele
escreveu no "The Guardian". ''Eu iria mais longe: nesta situação, eles
têm a responsabilidade moral de mentir."
Isso pareceu aprofundar o enigma.
Quando um padre diz para as pessoas mentirem, você sabe que há algo errado, escreveu Jake Wallis Simons, romancista e jornalista, no "The Daily Telegraph". "Se o Sr. Fraser realmente quer lutar pelos direitos dos homossexuais, ele deveria parar de hesitar e incentivar outros a fazerem o mesmo."
Esses
debates não se limitam à Igreja da Inglaterra. Na verdade, devido aos
escândalos de abuso sexual que incomodaram a Igreja Católica Romana em
particular, não é de surpreender que a visão de fora seja, como observou
uma emissora de rádio, de que a igreja é "obcecada por sexo".
A igreja tampouco está completamente sozinho na preocupação com o casamento entre pessoas de mesmo sexo,
que tem alimentado debates políticos acalorados e não resolvidos na
França e na Grã-Bretanha. No mês passado, o governo do primeiro-ministro
David Cameron criou uma fórmula para permitir as
uniões entre pessoas do mesmo sexo que pareceu tão complicada quanto a
doutrina da Igreja da Inglaterra para os bispos gays.
O governo disse que o casamento entre parceiros do mesmo sexo seria legalizado, mas nenhuma igreja seria obrigada a executar missas de casamento.
Além
disso, a Igreja da Inglaterra e a Igreja do País de Gales permaneceriam
isentas da legislação proposta, aprofundando a impressão de que a
discussão está tão dividida por exceções discriminatórias – entre
denominações, entre homens e mulheres, entre homossexuais e
heterossexuais – a ponto de ser digna da ridicularização dos colunistas.
Algumas
vezes escrevi sobre uma pequena igreja anglicana no norte de Londres
que frequento vez ou outra. Nas últimas semanas, as missas e sermões têm
variado ao longo da gama sazonal das festas cristãs – Advento, Natal,
Epifania. Houve apresentações de coral e peças da Natividade para as
crianças, avisos paroquiais sobre arranjos de flores, limpeza da igreja e
doações de caridade, e até mesmo um batismo.
Nas missas a que compareci, talvez como o personagem de televisão Basil Fawlty
evitando discutir a 2ª Guerra Mundial, ninguém mencionou sexo. Enquanto
o sectarismo estimulava derramamento de sangue e o caos no Paquistão e
na Irlanda do Norte, essas orações pareciam muito mais recatadas.
Esse contraste entre a modéstia dos fiéis e as questões de gênero e sexualidade
que absorvem os líderes da igreja parecem sublinhar a sensação de que a
elite anglicana e os fiéis comuns, assim como os Magos bíblicos após a
visita ao menino Jesus, foram embora por caminhos diferentes.
Pode-se
argumentar que os próprios fiéis estão numa espécie de negação,
recitando suas orações por repetição em busca de redenção e afastando-se
de temas inspirados pela sociedade em mudança da Inglaterra. Mas
ninguém deve negar as estatísticas reveladas no mês passado pelo censo
de 2011 para a Inglaterra e País de Gales.
Embora o cristianismo
tenha permanecido a religião dominante, a porcentagem da população de 56
milhões que se autodenomina cristã caiu para 59,3% em relação a 71,7%
há mais de uma década, enquanto as outras religiões, especialmente o
Islã, cresceram. E a proporção de pessoas que não professam nenhuma
crença religiosa aumentou de 14,8% para 25,1%.
Milhões de
pessoas, em outras palavras, desistiram do cristianismo e abraçaram o
ateísmo ou o agnosticismo – certamente uma tendência mais ameaçadora do
que o gênero ou a sexualidade de cada um.
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