Uma fotografia formidável do pecado
Por Edson Sampel
SãO PAULO, 24 de Janeiro de 2013 (Zenit.org)
- Nalgumas comunidades eclesiais, evita-se falar em pecado. Vamos
cuidar das coisas boas, dizem certas pessoas. Há, até, quem afirme que o
pecado não existe; é obsessão de gente moralista! Por que tal postura?
Afinal de contas, hoje em dia, o pecado está tão presente e atuante no
mundo. Se não, vejamos. Atentemo-nos para as guerras intestinas em
vários países. Observemos os inúmeros assassínios e chacinas que ocorrem
dia a dia na nossa cidade, no nosso país; as falcatruas, os roubos e
prevaricações libidinosas e administrativas; os crimes de trânsito
impunes; a pedofilia; o sexo como mercadoria; o aborto
institucionalizado... Meu Deus! Difícil afirmar que não se perpetram
pecados hodiernamente. Há-os tantos!
Em geral,
esquecemo-nos de um tipo de pecado: o pecado de omissão. Quando
questionados, respondemos: eu não cometo pecado nenhum, pois não faço
mal a ninguém! Todavia, é pecado deixar de praticar boas obras;
esquivar-se do dever de socorrer o próximo, sobretudo o pobre. Jesus
no-lo confirma esta doutrina no evangelho do juízo final: “estive com
fome, com sede, faminto, e não me socorreste” (Mt 25, 31-46).
Ninguém soube descrever melhor a feiúra do pecado que o “imperador da
língua portuguesa”, pe. Antônio Vieira, SJ. Transcrevo a seguir um
excerto do Sermão da Publicação do Jubileu, pregado em 1654. Ouçamos o
grande jesuíta:
“Sabeis vós (...) por que não tendes ao pecado o horror e
aborrecimento que o menor deles merece? É porque não conheceis a sua
fealdade. Representá-la como verdadeiramente é não é possível (...).
Considerai-me uma cara (que não mereça nome de rosto, nem ainda de
monstro) deformissimamente macilenta, seca e escaveirada, a cor
verde-negra e funesta, as queixadas sumidas, a testa enrugada, os olhos
sem pestanas nem sobrancelhas e, em lugar das meninas, duas grossas
belidas; calva, remelosa, desnarigada: a boca torta, os beiços azuis, os
dentes enfrestados, amarelos e podres, a garganta carcomida de
alparcas, em lugar de barba um lobinho que lhe chega até os peitos, e no
meio dele um cancro fervendo em bichos, manando podridão e matéria, não
só asqueroso e medonho à vista, mas horrendo, pestilento e insuportável
ao cheiro. Cuidais que disse alguma coisa? Do que verdadeiramente é [o
pecado], nem sobras (...).”
O pecado tem de ser debelado, destruído. No lugar dele, há de vicejar
a caridade, verdadeira antítese do mal. Aí, sim, surgirão coisas boas
de que tratar. É oportuno termos em mente uma fotografia formidável do
pecado, como a tirada por Vieira. Contudo, jamais percamos de vista o
princípio de que o pecado tem de ser realmente odiado; já o pecador será
sempre amado e respeitado.
O modo ordinário de se conseguir a absolvição do pecado é o
sacramento da penitência, consoante prescreve o cânon 960. De fato,
Jesus, sumamente misericordioso, instituiu o mencionado sacramento,
ofertando-nos a oportunidade de lograrmos a absolvição até mesmo com uma
contrição imperfeita ou atrição, isto é, quando nos arrependemos
precipuamente pelo temor das consequências nefastas da ofensa a Deus.
Segundo o estatuído no cânon 989, todo fiel deve confessar os pecados
graves, ao menos uma vez por ano.
Edson Luiz Sampel é Doutor em direito canônico pela Pontifícia
Universidade Lateranense, do Vaticano. Membro da União dos Juristas
Católicos de São Paulo (Ujucasp).
Nenhum comentário:
Postar um comentário