ihu - Removido, sim. Mas repatriado a Roma e removido das autoridades judiciárias estrangeiras. A história do arcebispo polonês Josef Wesolowski, que representava a Igreja na República Dominicana, mas também em Porto Rico e no Haiti,
corre o risco de levantar novas polêmicas sobre a atitude com a qual o
Vaticano enfrenta os escândalos sexuais. De um lado, a mão forte, de
outro, uma espécie de proteção.
A reportagem é de Ferruccio Sansa e Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 06-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma história longa, complexa. O último capítulo chegou quando as
câmeras de uma televisão dominicana registraram o prelado passeando em
um bairro onde se exerce a prostituição masculina, e então, além de uma
nota enviada à Secretaria de Estado e os relatos insistentes de uma vida não exatamente casta e sóbria (às vezes, ele se excederia no álcool), Wesolowski foi chamado de novo urgentemente para Roma. E o Papa Francisco
lhe removeu, imediatamente, os graus de núncio apostólico, para depois
ordenar um processo canônico e uma investigação por abuso sexual e dano a
menores.
A Santa Sé confirmou a punição papal decretada na quarta-feira à noite, embora o prelado se encontrasse em Roma
há já alguns dias. Em paralelo, com extrema cautela, a magistratura
dominicana iniciou uma investigação para apurar as acusações feitas
contra o polonês que a rede contra a pedofilia de Francesco Zanardi quantifica em dezenas de episódios.
A consequência dessa intervenção papal, no entanto, evita o
julgamento por parte da magistratura dominicana ao ex-núncio, porque
entre os dois Estados não há acordos ou tratados internacionais, e agora
a magistratura vaticano se pôs a trabalhar: no caso de ser julgado
culpado no Caribe, ele nunca seria extraditado para cumprir a pena na prisão.
Entre República Dominicana, Porto Rico e Haiti,
o escândalo chegou a proporções enormes, e a Igreja, mais uma vez, teve
uma queda de popularidade e credibilidade. Mas há um pano de fundo que
deve ser ilustrado para evidenciar a lentidão burocrática que impede que
o pontífice, não pela sua própria vontade, puna esses comportamentos
desprezíveis.
Há já três meses, em julho, o arcebispo de Santo Domingo (além de cardeal), Nicolás de Jesús López Rodríguez, tinha enviado à Cúria uma série de documentos, muito detalhados, que, segundo rumores, teriam colocado o polonês em apuros.
A Secretaria de Estado, depois de examinar os papéis, se dirigiu diretamente a Bergoglio (que, em visita a Santa Maria Maior, fez com que o cardeal Law fosse "expulso"). A resposta vaticana não foi imediata, e nem a remoção foi difundida para além da colunata de São Pedro. Até que as imagens de televisão deram uma sacudida no procedimento e se soube da punição de Francisco.
A "demissão" do Caribe tinha sido antecipada aos
bispos no dia 21 de agosto com uma breve carta oficial. Anunciava-se a
transferência, mas não os motivos. Durante algumas semanas, os
monsenhores locais acreditaram que o problema fosse a péssima relação
entre Wesolowski e o arcebispo de San Juan de Porto Rico, Roberto González Nieves.
Ignorava-se que o polonês tinha sido acusado de pedofilia. Uma chaga que o Papa Francisco, desde os primeiros discursos públicos, prometeu curar, sanar e talvez remover definitivamente.
As associações contra os sacerdotes pedófilos, como a de Zanardi,
que há anos desmascara quem se esconde sob a batina, pedem que a
justiça (terrena) se cumpra e que as eventuais condenações sejam
aplicadas. Mas há o temor de que uma rápida convocação ao Vaticano sirva para cobrir e evitar as consequências legais.
Agora, o próximo passo cabe a Francisco.
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