Assis: Discurso do Papa aos pobres assistidos pela Cáritas
Assis,
(Zenit.org)
Em Visita Pastoral a Assis, nesta Sexta-feira, 4 de outubro, o Papa Francisco encontrou com pobres assistidos pela Cáritas. Apresentamos, a seguir, as palavras do Pontifice dirigidas aos presentes.
Disse-me meu irmão bispo que é a primeira vez em 800 anos que um
Papa entra aqui. Nestes dias, nos jornais, na mídia, se fazia muita
fantasia. “O Papa vai despojar a Igreja, lá”. “De que despojará a
Igreja?”. ” Se despojará das vestes dos bispos, cardeais, se despojará
de si mesmo.” Esta é uma boa oportunidade para fazer um convite à Igreja
a se despojar. Mas a Igreja somos todos nós! Todos! Desde o primeiro
batizado, todos nós somos Igreja e todos nós temos que andar pela
estrada de Jesus, que percorreu um caminho de despojamento, Ele mesmo. E
se tornou servo, servidor, quis ser humilhado até a cruz . E se
queremos ser cristãos , não há um outro caminho. Mas será que não
podemos fazer um cristianismo um pouco mais humano – dizem – sem a cruz,
sem Jesus, sem despojamento? Desta forma, nos tornamos cristãos de
pastelaria, como as belas tortas , como os belos doces! Belíssimo, mas
não realmente cristãos! Alguém vai dizer : “Mas de que deve se despojar a
Igreja? “. Deve se despojar hoje de um perigo gravíssimo que ameaça a
todos na Igreja, todos: o perigo do mundanismo. O cristão não pode
conviver com o espírito do mundo. O mundanismo que leva à vaidade,
arrogância, ao orgulho. E este é um ídolo, não é Deus, é um ídolo! E a
idolatria é o pecado mais forte!
Quando nos meios de comunicação se fala da Igreja, acredita-se que a
Igreja seja os padres, freiras, bispos, cardeais e o Papa, mas a Igreja
somos todos nós, como eu disse. E todos nós devemos nos despojar deste
mundanismo: o espírito contrário ao espírito das Bem-aventuranças, o
espírito contrário ao Espírito de Jesus. O mundanismo nos faz mal. É tão
triste ver um cristão mundano, seguro – segundo ele – da segurança que
dá a fé e da segurança que dá o mundo. Não se pode trabalhar nas duas
partes. A Igreja – todos nós – deve se despojar do mundanismo que leva à
vaidade, ao orgulho, que é idolatria.
O próprio Jesus nos dizia: “Não se pode servir a dois senhores, ou se
serve a Deus ou ao dinheiro” (cf. Mt 6:24). No dinheiro estava todo
este espírito mundano, vaidade, orgulho, este caminho… não podemos… é
triste apagar com uma mão aquilo que escrevemos com a outra. O Evangelho
é o Evangelho! Deus é um só! E Jesus se tornou um servo para nós e o
espírito do mundo não cabe aqui. Hoje eu estou aqui com você. Quantos de
vocês foram retirados deste mundo selvagem, que não oferece trabalho,
que não ajuda, que não se importa se há crianças morrendo de fome no
mundo, se muitas famílias não têm o que comer, não tem a dignidade de
trazer o pão para casa, não se importa se tantas pessoas hoje precisam
fugir da escravidão, da fome e fugir para buscar a liberdade. Com muita
dor, tantas vezes, vemos que elas encontram a morte, como aconteceu
ontem em Lampedusa: hoje é um dia de lágrimas! Quantas coisas hoje são
provocadas por esse espírito do mundo. É ridículo que um cristão – um
verdadeiro cristão – um padre, uma freira, um bispo, um cardeal, um
papa, queira ir pela via deste mundanismo, que é uma atitude assassina.
Mundanismo espiritual mata! Ele mata a alma! Mata a pessoa! Mata a
Igreja!
Quando Francisco, aqui, fez aquele gesto de se despir, era um jovem
menino, não tinha forças para isso. Foi o poder de Deus que o levou a
fazer isso, o poder de Deus que quis nos lembrar do que Jesus disse
sobre o espírito do mundo, aquilo que Jesus orou ao Pai, para que o Pai
nos salvasse do espírito do mundo.
Hoje, aqui, peçamos essa graça a todos os cristãos. Que o Senhor
conceda a nós a coragem de se despojar, mas não de 20 liras, mas do
espírito do mundo, que é a lepra, o câncer da sociedade! É o câncer da
revelação de Deus! O espírito do mundo é o inimigo de Jesus! Peço ao
Senhor que a todos nós, nos dê a graça do despojamento. Obrigado!
Após a reunião, o Papa pronunciou as seguintes palavras:
Muito obrigado pelo acolhimento. Orem por mim, que eu preciso! Todos! Obrigado!
O discurso acima foi feito espontaneamente pelo Papa Francisco. Abaixo, segue o discurso que estava previamente preparado:
Queridos irmãos e irmãs,
Obrigado pela acolhida! Este lugar é um lugar especial e por isso eu
quis fazer uma parada aqui, ainda que o dia fosse muito cheio. Aqui
Francisco se despojou de tudo na frente de seu pai, o bispo, e o povo de
Assis. Foi um gesto profético e também um ato de oração, um ato de amor
e confiança no Pai, que está nos céus.
Com esse gesto Francisco fez sua escolha: a escolha de ser pobre. Não
é uma escolha sociológica, ideológica, é a escolha de ser como Jesus,
imitá-lo, segui-lo até o fim. Jesus é Deus, que se despoja de sua
glória. Lemos em São Paulo: Cristo Jesus, que era Deus, despojou-se de
si mesmo, esvaziou-se e se tornou como nós e esse “rebaixar” chegou até a
morte de cruz (cf. Fl 2,6-8 ). Jesus é Deus, mas Ele nasceu nu, foi
colocado em uma manjedoura e morreu nu e crucificado.
Francisco se despojou de tudo em sua vida mundana, de si mesmo, para
seguir o seu Senhor, Jesus, para ser como Ele. O Bispo Guido, vendo seu
gesto, imediatamente se levantou, abraçou Francisco e o cobriu com seu
manto, e foi sua ajuda e auxílio (cf. Vita prima, FF, 344).
O despojamento de São Francisco nos diz exatamente o que o Evangelho
nos ensina: seguir Jesus significa colocá-lo em primeiro lugar, se
despojar das muitas coisas que temos e que sufocam o nosso coração,
renunciar a nós mesmos, tomar a cruz e carregá-la com Jesus. Despir do
nosso orgulho e refutar o desejo de ter, do dinheiro, que é um ídolo que
aprisiona.
Todos nós somos chamados a ser pobres, despojarmos de nós mesmos, e
para isso devemos aprender a estar com os pobres, compartilhar com
aqueles que não tem o necessário, tocar a carne de Cristo! O cristão não
é aquele que enche a boca com os pobres, não! É aquele que o encontra,
que o olha nos olhos, que o toca. Estou aqui não para “fazer notícia”,
mas para indicar que este é o caminho cristão, o caminho que percorreu
São Francisco. São Boaventura , falando do despojamento de São
Francisco, escreve: “Assim, pois, o servo do sumo Rei ficou nu, para que
seguisse o Senhor nu e crucificado, objeto do seu amor.” E acrescenta
que, assim, Francisco se salvou do “naufrágio do mundo” (FF 1043 ).
Mas gostaria, como pastor, de me perguntar: de que deve despir-se a Igreja?
Despir-se de todo mundanismo espiritual, que é uma tentação para
todos; livrar-se de toda ação que não seja para Deus, de Deus, o medo de
abrir a porta e ir ao encontro de todos, especialmente dos mais pobres,
dos necessitados, distantes, sem esperar, certamente, se perderem no
naufrágio do mundo, mas levar com coragem a luz de Cristo, a luz do
Evangelho, mesmo no escuro, onde não se vê e isso pode levar ao tropeço,
despojar da aparente tranquilidade que dão as estruturas, certamente
necessárias e importantes, mas que não devem nunca ofuscar a única força
real que carrega em si: a de Deus, Ele é a nossa força! Despir-se
daquilo que não é essencial, porque a referência é Cristo, a Igreja é de
Cristo! Muitos passos, especialmente nessa década, têm sido dados.
Continuamos nesta estrada que é a de Cristo, a dos Santos.
Para todos, mesmo para a nossa sociedade que dá sinais de cansaço, se
queremos nos salvar do naufrágio, é necessário seguir o caminho da
pobreza, que não é a miséria – esta deve-se combater – mas é saber
partilhar, ser mais solidário com os necessitados, confiar mais em Deus e
menos na nossa força humana. Monsenhor Sorrentino lembrou o trabalho de
solidariedade do Bispo Nicolini, que ajudou centenas de judeus,
escondendo-os em conventos, e o centro de seleção secreta era aqui, no
bispado. Também isso é se despojar, algo que começa sempre do amor, da
misericórdia de Deus!
Neste lugar que nos questiona, quero rezar para que todos os
cristãos, a Igreja, cada homem e mulher de boa vontade, saibam se
despojar do que não é essencial para ir ao encontro daquele que é pobre e
pede para ser amado. Obrigado a todos!
Boletim da Santa Sé /Tradução: Thaysi Santos- CN noticias
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