9 outubro 2013
Com a severidade própria dos santos, João Maria Vianney combateu até à morte os insultos a Deus.
A santidade de João Maria Vianney causava constrangimentos. Apegado
desde cedo à oração, agia em tudo conforme à vontade divina, fazendo de
sua vida um perpétuo louvor a Deus. Tinha um fervor imensurável. Passava
horas à frente do sacrário, gastando-se em severas penitências e na
meditação dos santos mistérios: “O meu terço vale mais que mil sermões”. Por isso, não poupou esforços no combate às blasfêmias e à libertinagem. Era o zelo pela casa do Pai que o consumia.
Os primeiros anos de Vianney em Ars foram de grandes desafios. A
pequena aldeia estava atolada no indiferentismo. Trabalhava-se no
domingo, blasfemava-se no campo, a falta de modéstia e os divertimentos
profanos reinavam no coração daquela gente. A situação era
desesperadora. E para uma alma apaixonada como a do Cura D’Ars, assistir
àquele espetáculo de imoralidades era como ver a Cristo sendo
crucificado. Com efeito, tratou logo de agir.
Sem fazer concessões, apressou-se em instruir os mais novos na
catequese e nas práticas piedosas. Vianney estava convencido de que a
ignorância religiosa era a causa de todos os males: “Este pecado
condenará mais almas do que todos os outros juntos, porque uma pessoa
ignorante quando peca não conhece nem o mal que faz, nem o bem que
perde”. Do alto do púlpito, atacava a todos pulmões as tabernas e o
trabalho no domingo. Começava uma guerra sem tréguas, e o santo não iria
recuar enquanto não visse a sua paróquia, de joelhos, diante do Senhor.
“Ah! Os taberneiros, o demônio não os importuna muito, pelo
contrário, despreza-os e cospe-lhes em cima”. Com essas palavras, o
humilde cura fustigava a bebedeira, para desespero daqueles que se
lançavam a tão vergonhoso vício. E assim também procedia com o trabalho
nos dias de guarda. “Se perguntássemos aos que trabalham nos domingos:
‘Que acabais de fazer?’ – repreendia o Cura D’Ars – “eles bem poderiam
responder: ‘Acabamos de vender a nossa alma ao Demônio e de crucificar a
Nosso Senhor… Estamos no caminho do inferno”. Pouco a pouco, as
blasfêmias foram desaparecendo e as tabernas se fechando. Pesava-lhes a
maldição de um homem santo. “Vós vereis, profetizava, vereis arruinados todos aqueles que aqui abrirem tabernas”. Mas um derradeiro combate ainda estava por vir.
Em 1823, erguia-se na pequena paróquia de Ars uma segunda capela.
Atendendo à vontade do pároco, ela seria dedicada a São João Batista,
santo que tomara por patrono no dia de sua Confirmação. A cerimônia de
inauguração foi de grande júbilo. Contudo, para os amantes dos prazeres
profanos, motivo de despeito. Vianney mandara esculpir no arco do
pequeno oratório a seguinte inscrição: “A sua cabeça foi o preço de uma dança”. Uma alusão ao martírio de São João Batista e uma clara reprimenda aos bailes.
A luta de Vianney contra os serões durou cerca de dez anos. A ele se
opunha grande parte da comunidade, sobretudo os rapazes apegados aos
encantos da luxúria. À medida que o povo se afastava das danças, com
efeito, mais raiva tinham do sacerdote os fanfarrões. Chegaram a
organizar encontros a fim de puni-lo, mas o brado de Vianney foi tão
forte que a eles não restou outra alternativa senão ceder. “O demônio
rodeia um baile como um muro cerca um jardim… As pessoas que entram num
salão de baile deixam à porta o seu Anjo da Guarda e o Demônio
substitui-o, de tal modo que há tantos Demônios quantos são os
dançadores.” Era o fim dos bailes em Ars.
Os hereges também não tinham vez com o santo. Certo dia, um jovem de
espírito petulante resolveu atacá-lo na frente da multidão. “Quem é o
senhor, meu amigo?” questionou Vianney. O rapaz disse que era
protestante. Com a firmeza de um verdadeiro pastor, retorquiu-lhe o
santo padre: “Oh! meu pobre amigo, o senhor é pobre e muito pobre: Os
protestantes nem sequer possuem santos cujos nomes possam dar aos
filhos. Veem-se obrigados a pedir nomes emprestados à Igreja Católica”.
Foi o suficiente para que o sujeito se retirasse em silêncio.
A santa intransigência de Vianney tinha um motivo igualmente santo:
ele amava a seus paroquianos com amor de predileção. Por isso faria tudo
que estivesse a seu alcance para lhes assegurar a salvação eterna. E
seus esforços foram recompensados. Após poucos anos de ministério, Ars
não era mais Ars. O povo havia se convertido, já não se trabalhava mais
aos domingos e a igreja permanecia sempre cheia. Vencera a santidade do
pobre cura. Os paroquianos compreenderam o que há tanto lhes ensinava o
São Cura D’Ars: “Tão grande é o amor de Deus, é um fogo que queima na
alma sem, contudo, a consumir. Ter Jesus no coração é já possuir o céu”.
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