Luis Dufaur
A mais importante diocese da China passa por uma de suas mais
difíceis crises em decorrência da repressão comunista, denunciou o
jornal de Londres “The Telegraph”.
A comunidade católica de Xangai reúne 150 mil fiéis, segundo o governo, mas os sacerdotes julgam que é o dobro disso.
O bispo de Xangai, Dom Aloísio Jin Luxian, faleceu no último mês de
abril aos 96 anos de idade. E no dia 7 de julho aquele que caminhava
para ser seu sucessor, o bispo auxiliar Dom Tadeo Ma Daqin, foi
desaparecido pela polícia comunista.
Dom Tadeo Ma parecia encarnar o enganador sonho de uma conciliação
entre a ditadura de Pequim e a diplomacia da Santa Sé, conhecida como
“Ostpolitik”.
Ele estava inscrito na Associação Patriótica – espécie de cúpula eclesiástica ilegítima controlada pelos ditadores de Pequim.
Porém, no dia de sua sagração, diante de milhares de fiéis reunidos
na catedral, Dom Tadeo anunciou que renunciava a essa associação
engendrada pelo comunismo, por ser incompatível com a fidelidade à
Igreja e ao Papa.
Desde então ele é mantido em prisão domiciliar num seminário nos subúrbios da grande Xangai.
Sem bispos legítimos, a mais rica e mais importante diocese católica da China jaz envolta na incerteza.
Os fiéis se sentem “em estado de choque, aflitos e ansiosos”, diz o Pe. Michael Kelly, diretor da agência de notícias UCA News, uma das mais bem informadas sobre os assuntos católicos na Ásia.
“É o pior dos momentos… não sabemos qual será o próximo passo do governo. Não sabemos qual será o próximo passo da comunidade… Só Deus sabe o que acontecerá.” “Neste país, você não ama o país se não ama o Partido Comunista. E muitos católicos chineses amam o país, mas não amam o Partido.”
A confusão estabelecida reaviva a memória da noite de 8 de setembro
de 1955, quando agentes comunistas prenderam e aprisionaram os líderes
católicos, inclusive ao bispo D. Jin, que acabou passando 18 anos atrás
das grades e trabalhando em campos de concentração.
A atitude intrépida e a resistência de D. Tadeo ao comunismo deixaram
os tiranos loucos de furor. Eles não querem mais saber de nenhuma
ordenação, com medo de a cena voltar a se repetir.
Os equipamentos gráficos que Dom Jin importou da Alemanha foram
proibidos de funcionar, pois, como forma de “castigo” à fidelidade de
Dom Tadeo, a Associação Patriótica não aprova nenhum novo impresso.
A crise é agravada pelo fato de a Associação Patriótica proceder à
sagração de quatro bispos sem a aprovação do Vaticano. Todos eles
incorreram em excomunhão imediata e estão suspensos de ordens, mas
ocupam ilegalmente as dioceses. Eles são repudiados pelo povo, mas
sustentados pelo governo.
“Não há solução à vista para a presente confusão”, diz o padre belga
Jeroom Heyndrickx, diretor do Instituto Verbiest da Universidade
Católica de Louvain, partidário ardoroso do diálogo Pequim-Santa Sé, que
acabou dando em renovada perseguição.
Dom Tadeo poderá ficar condenado a passar o resto de sua vida no isolamento. Mas sacerdotes e fiéis veem a atual provação como uma ocasião de “renovação”. Pois, dizem eles, “temos que amar as dificuldades. Nós sabemos que a dificuldade e a perseguição alimentam nossa esperança”.
“Se a Igreja não passasse por provações e desafios, não existiria Igreja nenhuma. Nós somos cristãos. Nós temos fé. Nós podemos esperar.”
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