“antes de coabitarem“
S. Mateus: “Maria, sua Mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, ela concebeu por virtude do Espírito Santo” (Mt 1, 18). Ora, “antes de coabitarem” significa apenas “antes de morarem juntos na mesma casa“. Isso aconteceu quando “José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa (Maria)“(Mt 1, 24)
“filho primogênito“
S. Lucas: “Maria deu à luz o seu filho primogênito” (Lc 2,
7). Explicação: É errado concluir que devia seguir o segundo filho. A
lei de mosaica exige que todo o primogênito seja consagrado a Deus, quer
seja filho único ou não: “Consagrar-me-ás todo o primogênito (primeiro gerando) entre os israelitas, tanto homem como animal: ele é meu” (Ex 13, 2). Um exemplo elucidativo encontrado no Egito, retirado de uma inscrição judaica: “Arisoné entre as dores do parto morreu ao dar à luz seu filho primogênito“. Ou no Êxodo, quando Deus disse: “Todo o primogênito na terra do Egito morrerá” (Ex 11, 5). E assim aconteceu. “Não havia casa em que não houvesse um morto”
(Ex 11, 30). Necessariamente, havia, como em todos os países, casais de
um só filho; por exemplo, todos os que se tinham casado nos últimos
anos…
Depois, em outro trecho, Deus ordena: “contar todos os primogênitos masculinos dos filhos de Israel, da idade de um mês para cima” (Num 3, 40). Ora, se há primogênito de um mês de idade, como é que se pode exigir que, para haver primeiro, haja um segundo?
Logo, há primogênito sem que haja, necessariamente, um segundo filho.
A primogenitura era um título de dignidade e de honra entre os
Judeus. Geralmente, o filho, primeiro, tinha direito a certos
privilégios, como os de herdeiro etc, ficando sujeito a certas
obrigações, como vemos na Bíblia. (Lc 2, 23)
É, portanto, de propósito e com razão que o Evangelista chama Jesus: “primogênito” – “ton protótokon“.
Designa-o, deste modo, como herdeiro de David, como tendo um direito
privilegiado sobre esta herança (cf. Gen 10, 15 – 21, 12).
E é isso que se pode verificar na apresentação de Jesus no templo: “Depois
que foram concluídos os dias da purificação de Maria, segundo a lei de
Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor: Todo o
varão primogênito será consagrado ao Senhor” (Lc 2, 22)
Essa passagem é muito clara e resolve de uma vez a discussão sobre a “primogenitura”
de Nosso Senhor, pois a apresentação no templo ocorreu apenas 40 dias
após o seu nascimento, como filho único de Nossa Senhora.
“não a conhecia até que ela desse à luz“
Em algumas traduções, aparece em S. Mateus: “José não conheceu Maria (= não teve relações com ela) até que ela desse à luz um filho (Jesus)”. (Mt 1, 25). Explicação: Seria errado insinuar que depois daquele “até” José devia “conhecer” Maria”. “Até“, na linguagem bíblica, refere-se apenas ao passado. Exemplo: “Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte” (II Sam 6, 23). Ou então, falando Deus a Jacob do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe: “Não te abandonarei, enquanto não se cumprir tudo o que disse” (Gen 28, 15). Quererá isso dizer que Deus o abandonaria depois? Em outra passagem, Nosso Senhor diz aos seus Apóstolos: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20).
Ora, o texto sagrado deixa claro que a palavra “até” é um
reforço do milagre operado, a saber, a encarnação do verbo por obra do
Espírito Santo, e não por obra de um homem (S. José).
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