Francisco descreve e propõe uma retomada da identidade cristã
Por Alfonso M. Bruno
ROMA, 25 de Novembro de 2013 (Zenit.org)
- Com a missa solene na Praça de São Pedro, na festa de Cristo Rei, o
papa encerrou o ano litúrgico e o Ano da Fé. A liturgia diz que Cristo é
o Alfa e o Ômega: a história da salvação começa com a sua vinda ao
mundo e é destinada a terminar com o seu retorno.
E é
por esta razão que a solenidade que comemora a sua centralidade no
universo e na história é colocada no final do nosso ciclo anual: quando
chega a hora de fazer uma avaliação do ano que passou, deve-se medir
quanto progresso foi feito na construção do Reino de Deus.
Os primeiros cristãos, que celebravam a missa à noite, esperavam até
altas horas pela "parusia", ou seja, pelo retorno de Cristo. O papa
Francisco diz que Cristo já está presente, através da Sua Palavra e da
Eucaristia. Neste ponto, ele aborda o problema do sentido a ser
atribuído a esta presença, depois de o Ano da Fé nos ter fortalecido na
convicção de que a fé é eficaz e operativa.
Em sua homilia, Francisco afirmou que Cristo é o centro da criação,
que Cristo está no centro da história, que Cristo está no centro da
Redenção. O papa acrescentou, no entanto, um conceito, que nós,
europeus, não estamos acostumados a ouvir, mas que é bastante típico da
cristologia latino-americana: Cristo está no centro do povo.
É espontâneo, quando ouvimos o papa, concluir que Cristo é o fator
decisivo, específico, determinante da nossa identidade coletiva. De
fato, logo depois, a palavra "identidade" foi vigorosamente proclamada
pelo papa na Praça de São Pedro.
Neste domingo de manhã, o noticiário abordou repetidamente a questão
do acordo sobre a política nuclear iraniana: um acordo que marca a
renúncia final do Ocidente a frear o desenvolvimento atômico daquele
país e, com isso, a expansão da sua influência.
Agora, apenas a palavra dos líderes do Irã, ou melhor, o seu
interesse em evitar um conflito, pode nos dar garantias contra os
perigos decorrentes dessa realidade. O Ocidente cristão não é mais capaz
de dominar o mundo, não é mais capaz de se preservar da emergência
econômica, cultural e agora também militare dos poderes que não fazem
parte dele.
Vem então a tentação inevitável, para cada um, de se refugiar na sua
própria identidade. Se essa identidade for concebida em termos étnicos, a
fragmentação que nos espera será cada vez maior e acentuará a nossa
marginalização e insignificância. Já se reavaliarmos a nossa identidade
em termos espirituais, ela será mais extensa e, portanto, terá mais
oportunidades de influenciar o mundo.
O papa certamente não a considera em termos de contraste com as
outras culturas. Como homem que veio do hemisfério sul, o papa Bergoglio
viveu na pele a injustiça histórica mascarada pelo colonialismo como "o
fardo do homem branco".
A identidade cristã, de resto, não surgiu como uma questão interna do
Ocidente, tanto porque, em realidade, ela provém do Oriente quanto
porque não conhece nem justifica nenhuma forma de discriminação racial.
Além disso, ela sempre se enraíza em culturas diferentes. Podemos até
dizer que, enquanto as outras grandes religiões são não-europeias e têm
pouca propagação em nosso continente, a nossa foi se espalhar como um
fenômeno autóctone em todas as partes do mundo.
É precisamente nisto que reside o antídoto que a impede de endossar
as novas tentativas de domínio por parte do Ocidente: mas o fato de que a
tradição cristã tenha tido um particular enraizamento na Europa nos
permite oferecer o patrimônio representado pela nossa identidade também
às outras culturas.
Se a batalha pela supremacia econômica já está perdida e a luta pela
supremacia militar já vai pela mesma direção, ainda permanece firme o
prestígio que nos é dado pela nossa identidade espiritual.
Agora, mais do que nunca, em torno à figura do papa, ao seu
prestígio, ao poder dos seus gestos pela paz, à sua luta pela justiça,
reúnem-se não-católicos, não-cristãos, não-religiosos que aceitam de
fato a sua orientação. Como podemos ajudá-lo, nós, europeus e católicos?
Simplesmente vivendo com coerência a nossa fé, a fé para a qual Cristo
está, como nos recorda o papa, no coração dos povos: é uma escolha com
implicações revolucionárias, uma vez que, hoje, no coração dos povos,
existem tantos interesses materiais e egoístas.
A crise até poderá ter um efeito benéfico se nos levar a reconverter-nos como cristãos.
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