quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Divorciados: o debate indeciso entre os bispos e a futura decisão do papa

IHU - Na terça-feira passada, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Müller, pediu ao arcebispo Robert Zollitsch a retirada do "documento de Friburgo" sobre o acompanhamento das pessoas separadas, divorciadas ou divorciadas em segunda união. Poucos dias antes, o cardeal Marx tinha pedido mais contribuições sobre o assunto, não reconhecendo a exposição da doutrina católica feita por Müller como ponto final da discussão.
A reportagem é de Dominique Humm, publicada no sítio Kath-kommentar.de, 15-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Poderia causar surpresa o fato de que altos responsáveis da Igreja Católica se distanciem tanto, e publicamente, uns dos outros. No entanto, Müller é prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que, representando o papa e em estreito entendimento com ele, assinala as transgressões dos mais importantes temas da fé católica. Mas Marx também pertence ao círculo íntimo do Papa Francisco, desde que ele foi nomeado para a nova comissão de oito cardeais para a consultoria pessoal do papa.

A importância do assunto

Mas essa circunstância – deixemos de lado por enquanto a questão da relação entre a Igreja universal e a Igreja local – também pode ser avaliada em função da importância do assunto. Há diversos anos, há uma luta sobre a atitude a se tomar com relação aos divorciados em segunda união, atitude na qual Roma sempre se inseria com a sua tarefa de manutenção da unidade e com a referência ao ensinamento de Jesus e à sua recepção na história. Portanto, em 1994, Ratzinger rejeitou um documento dos bispos da região do Alto Reno (Kasper, Lehmann e Saier) que discutia a admissão aos sacramentos, em certas circunstâncias, para os divorciados em segunda união. 
Durante a última visita do papa à Alemanha, o presidente alemão Christian Wulff pediu que o Papa Bento XVI, até mesmo pelo seu próprio envolvimento pessoal, desse passos rápidos em favor dos divorciados em segunda união. Se hoje na Alemanha cerca da metade dos casamentos termina em divórcio, pode-se entender como é extenso o número das pessoas envolvidas.

20 anos de bloqueio

Passaram-se pouco menos de 20 anos desde 1994, mas, teológica e pastoralmente, pouco tem sido feito. A tensão entre as palavras de Jesus, que não podem ser traídas pela Igreja, e a necessidade de se ter na pastoral para os divorciados em segunda união uma atitude tal que também seja levada em consideração o cuidado das almas, aparentemente, não parece ser possível de se resolver.
Tanto o documento de Friburgo de Zollitsch quanto a recusa de Müller são um déjà-vu de 1994 e não apresentam nada de novo sobre o assunto. As posições não mudaram.

Novas ênfases do papa

O próprio Papa Francisco ainda não se expressou sobre o problema concreto. No entanto, ele colocou o tema "família" no topo da lista das coisas a se fazer. Em outubro, 100 mil pessoas, entre adultos e crianças, se reuniram na Praça de São Pedro para o encontro das famílias. Nessa ocasião, Francisco também falou da falta de amor como causa dos mais graves problemas nas famílias e nas relações, ressaltando também que os esposos têm a necessidade da comunhão na comunidade, para se perdoarem e voltarem a acolher, a cada dia, o próprio parceiro.

Primeiros passos

O fato de Francisco ter convocado um Sínodo extraordinário dos bispos, o terceiro depois do Concílio Vaticano II, sobre o tema "família", mostra a sua vontade de fortalecer a família. O fato de que, no âmbito da preparação ao Sínodo, se tome conhecimento do pensamento e da práxis de vida em toda a Igreja através de um questionário, também indica que todos os interessados sejam envolvidos na busca de uma ajuda que seja adequada à situação das famílias e das comunidades.
No questionário também se dá espaço à pastoral para os divorciados em segunda união. No modo de fazer as perguntas e nas argumentações, por um lado, se expressa o contraste com o ensinamento de Jesus. Isto é, quando se indica a beleza do matrimônio restabelecida por Jesus, depois que havia sido abandonada na tradição do povo de Israel. Tal conceito é expresso concretamente com estas palavras: "Voltando à origem, Jesus ensinou a unidade e a fidelidade dos esposos, recusando o repúdio e o adultério". Por outro lado, no entanto, também se busca levar em consideração a extensão da exclusão dos sacramentos, assim como a dor associada a ela e a marginalização sofrida.
Uma pergunta do questionário vaticano tem a ver com o anúncio da misericórdia de Deus e com o modo de torná-la concretamente evidente na prática pastoral. Disso se pode tirar a conclusão de que os divorciados em segunda união devem ser considerado como parte da comunidade. Recentemente, isso foi esclarecido pelo presidente do Pontifício Conselho para a Família, Vincenzo Paglia, quando protestou contra a discriminação dos divorciados e ressaltou que eles não estão fora da Igreja.

Automatismo ao se aproximar da comunhão?

O problema, no entanto, também deve ser considerado em um contexto mais amplo. Podemos, por exemplo, perguntar se a aproximação à comunhão é estritamente necessária em cada participação na missa para uma autêntica concelebração. É verdade que uma renúncia parcial à comunhão não resolve o problema da recepção dos sacramentos pelos divorciados em segunda união, mas mostra que, na vida, muitas vezes são repropostas situações que exigem antes de tudo uma reconciliação. Somos uma comunidade de crentes que, a cada dia, novamente precisam de um retorno, de um perdão e de um novo começo.
A análise das respostas ao questionário sobre o estado da família hoje em nível mundial dará novos impulsos. O Papa Francisco disse nos últimos meses de maneira fundamentada que a teologia sempre deve se correlacionar com a vida de todos os dias. Se há uma solução para o conflito entre o arcebispo Müller e o arcebispo Zollitsch, que vá além do simples jogo de poder, ela só pode se encontrar aqui: em uma teologia que leve em consideração a fé e a vida dos cristãos de hoje de maneira nova.

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