IHU - É uma mensagem dirigida à América Latina, mas
também poderia ser interpretada como uma síntese eficaz destes oito
meses de Pontificado e do anúncio dos conteúdos da exortação pós-sinodal
sobre a Nova Evangelização. Ao dirigir-se aos participantes da
Peregrinação-Encontro no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México (convocada no contexto do Ano da Fé pela Pontifícia Comissão para a América Latina e pelos Cavaleiros de Colombo), o Papa Francisco explicou o que significa anunciar o Evangelho em nossos dias.
Fonte: http://bit.ly/17ZulWJ |
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 16-11-2013. A tradução é de André Langer.
Bergoglio recordou que a Igreja “esteve
permanentemente em missão” e que “toda a atividade habitual das igrejas
particulares” deve ter um caráter missionário. “A intimidade da Igreja
com Jesus – explicou Bergoglio – é uma intimidade
itinerante, supõe um sair de si, um caminhar e semear sempre de novo,
sempre além. Vamos para o outro lado para pregar às aldeias vizinhas
porque é para isso que viemos, dizia o Senhor. É vital para a Igreja não
fechar-se em si mesma, não se sentir já satisfeita e segura com o que
conseguiu. Caso isso acontecer, a Igreja adoece, adoece de abundância
imaginária, de abundância supérflua, se empanturra e se fragiliza.
Devemos sair da própria comunidade e atrever-nos a chegar nas periferias existenciais que necessitam sentir a proximidade de Deus”.
Deus, explicou o Papa, “não abandona ninguém e sempre mostra sua
ternura e sua misericórdia inesgotáveis, pois é isto o que devemos levar
a todas as pessoas”. Devemos tratar de fazer chegar a todos, “sem
excluir ninguém e tendo muito em conta as circunstâncias de cada um”.
“Devemos chegar a todos e compartilhar a alegria de ter se encontrado
com Cristo. Não se trata de ir como quem impõe uma nova obrigação, como
quem fica na reprovação ou na queixa diante do que se considera
imperfeito ou insuficiente”.
Evangelizar “supõe muita paciência, muita paciência”, o evangelizador
“cuida do trigo e não perde a paz pela cizânia. E também sabe
apresentar a mensagem cristã de maneira serena e gradual, com cheiro a
Evangelho, como o fazia o Senhor. Sabe privilegiar em primeiro lugar o
mais essencial e mais necessário, isto é, a beleza do amor de Deus que
nos fala em Cristo morto e ressuscitado. Por outro lado, deve
esforçar-se por ser criativa em seus métodos, não podemos ficar fechados
nos tópicos do “sempre se fez assim”.
Francisco voltou a falar sobre os bispos,
que conduzem “a pastoral na Igreja particular” e o fazem “como o pastor
que conhece as suas ovelhas, guia-as com proximidade, com ternura, com
paciência, manifestando efetivamente a maternidade da Igreja e a
misericórdia de Deus”. O verdadeiro pastor não tem a atitude do “príncipe
ou do mero funcionário atento principalmente ao disciplinar, ao
regulamentar, aos mecanismos organizacionais”, porque “isto sempre leva a
uma pastoral distante das pessoas, incapaz de favorecer e obter o
encontro com Jesus Cristo e o encontro com os irmãos”.
“O povo de Deus que lhe é confiado necessita que o bispo vele por Ele
cuidando, sobretudo, daquilo que o mantém unido e promove a esperança
nos corações. Necessita que o Bispo saiba discernir, sem calá-lo, o
sopro do Espírito Santo que vem de onde quer, para o bem da Igreja e da
sua missão no mundo”.
E estas atitudes entre os bispos, explicou Francisco,
“irão calar muito fundo também nos outros agentes de pastoral, de modo
especial nos presbíteros. A tentação do clericalismo, que tanto mal faz à
Igreja na América Latina, é um obstáculo para que se desenvolva a maturidade e a responsabilidade cristã de boa parte do laicato”.
O clericalismo “implica em postura autorreferencial,
uma postura de grupo, que empobrece a projeção para o encontro com o
Senhor, que nos torna discípulos, e para o encontro com os homens que
esperam o anúncio”. O Papa aludiu, depois, à importância da formação de
sacerdotes “capazes de proximidade, de encontro, que saibam entusiasmar o
coração das pessoas, caminhar com elas, entrar em diálogo com suas
esperanças e seus temores”. Um trabalho que os bispos não podem delegar,
mas devem assumir “como algo fundamental para a vida da Igreja sem
poupar esforços, atenções e acompanhamentos”. A cultura de nossos dias
“exige uma formação séria, bem organizada”, e Bergoglio perguntou-se se os seminários pequenos, que “sofrem da falta de formadores”, são capazes de enfrentar esta exigência.
O Papa também falou dos religiosos e das religiosas, e pediu-lhes que
“sejam fiéis ao carisma recebido, em seu serviço à Santa Mãe Igreja
hierárquica”, sem deixar que se desvaneça “essa graça que o Espírito
Santo deu aos seus fundadores e que devem transmitir em toda a sua
integridade”.
Para concluir, o Papa voltou a convidar à missão cada um dos crentes
batizados. “Peço-lhes, como pai e irmão em Jesus Cristo, que assumam a
fé que receberam no Batismo. E assim como o fizeram a mãe e a avó de Timóteo,
transmitam a fé aos seus filhos e netos, e não apenas a eles. Este
tesouro da fé não é para uso pessoal. É para dá-lo, para transmiti-lo, e
assim vai crescer. Façam conhecer o nome de Jesus. E se fizerem isto,
não estranhem o fato de que em pleno inverno floresçam as rosas de
Castilla. Porque vocês sabem, tanto Jesus como nós, temos a mesma Mãe!”.
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