quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Foi assim que o Vaticano II transformou a liturgia

ihu - Aprovada no dia 22 de novembro de 1963 e promulgada na sessão pública do próximo dia 4 de dezembro, exatamente há 50 anos, a constituição conciliar sobre Divina Liturgia Sacrosanctum Concilium foi realmente a "primícia" da graça de que a Igreja se beneficiou no século XX, ou seja, o Vaticano II.
A reportagem é de Marco Roncalli, publicada no jornal Avvenire, dos bispos italianos, 04-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esse texto promoveu a mais importante reforma litúrgica da história da Igreja e ofereceu as primeiras peças para o mosaico renovado da eclesiologia católica, incorporando novas instâncias e redescobrindo a ministerialidade, convidando a uma visão da liturgia não como rito ou cerimônia, mas como realidade teológica do mistério de Cristo celebrado, a ser vivida com participação ativa e não como espectadores.
Não é por acaso que, justamente a Sacrosanctum Concilium, que sem dúvida correspondia às finalidades pastorais e de atualização desejadas por João XXIII – e que hoje devem ser lidas juntamente com os outros documentos conciliares na perspectiva de uma nova aliança entre a Igreja e o mundo contemporâneo –, foi, de fato, a única constituição que passou da fase preparatória à conciliar sem muitos problemas.
Na verdade, no início da cúpula, quando se decidiu começar justamente com o esquema De Liturgia, nem todos estavam de acordo: por que não começar com textos considerados maiores por muitos? Meras razões organizacionais? Um amplo e previsível consenso – quase quebrando o gelo – antes do debate sobre pontos nodais mais cruciais?
Ou, ao invés, como disse Paulo VI, "o tema examinado por primeiro", a liturgia, era "entre todos, de certo modo, o mais importante, quer pela sua natureza, quer pela dignidade que reveste na Igreja", ou ainda, para usar as palavras de Bento XVI, "começando com o assunto da liturgia, inequivocamente jogava-se luz sobre o primado de Deus, a sua prioridade absoluta?".
Certamente, se depois da abertura da cúpula o esquema preparatório encontrou o favor na Sala, e o proêmio e o primeiro capítulo do esquema foram aprovados logo depois da discussão em 15 Congregações Gerais (entre 22 de outubro e 13 de novembro de 1962, no primeiro período do Concílio), todos os outros foram no segundo período, até a votação completa final do dia 22 de novembro de 1963: com 2.158 Padres a favor e apenas 19 contra.
Embora alguns artigos haviam sido um pouco controversos (da concelebração ao uso da língua vulgar), quase todos se reconheceram no texto, e a que prevaleceu no fim foi que aquela linha iniciada nos 50 anos anteriores pelo Movimento Litúrgico que se espalhou através do trabalho de alguns mosteiros (pense-se na Abadia de Maria Laach) e pensadores (basta aqui o nome de Romano Guardini), linha apoiada no Concílio por bispos europeus principalmente (Bélgica, França, Alemanha, Itália...) que a haviam acolhido, ou ao menos plenamente conscientes de que – como afirma a Sacrosanctum Concilium – a liturgia é o ápice para o qual a ação da Igreja tende e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana a sua força: uma meta, portanto, para a qual os fiéis orientam a existência e, ao mesmo tempo, o reservatório da cotidianidade comum.
Certamente, a história que começou serenamente há 50 anos logo depois veria problemas de compreensão entrelaçados às reações nas sucessivas aplicações da reforma. Em janeiro de 1964, a poucas semanas da promulgação da Constituição, Paulo VI anunciou o novo órgão – composto por 42 bispos e presidido pelo cardeal Giacomo Lercaro – encarregado de dar aplicação ao texto: o Consilium ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia.
A constituição, de fato, se limitava a indicar normas gerais para uma acurada reforma geral, enquanto caberia ao Consilium intervir na revisão dos textos litúrgicos, o uso das línguas nacionais (sem abandonar completamente o latim), a comunhão sob as duas espécies e outros temas ainda. Um trabalho que durou até 1970, quando o Consilium foi suprimido.
Enquanto isso, entre dificuldades e críticas, a renovação da liturgia, "quase como motor central" (como disse Paulo VI no dia 13 de janeiro de 1965), tinha começado e deveria dar origem à renovação de toda a Igreja, desejada pelo Concílio, que ainda espera sua plena realização.
Talvez não seja coincidência que a rejeição da reforma litúrgica se tornou depois – veja-se o caso de Lefebvre – a bandeira daqueles que rejeitam o Vaticano II.

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