ihu - Pela primeira vez na Argentina a
 Igreja católica assumirá sua responsabilidade por um sacerdote 
abusador, já condenado e preso. Em todas as missas do domingo, 15 de 
dezembro, na diocese de San Isidro, foi lido um documento do bispo Oscar Ojea (foto). Também anunciou uma reparação financeira às vítimas.
A reportagem é de Washington Uranga e publicada no jornal Página/12, 14-12-2013. A tradução é de André Langer.
Através de um comunicado divulgado na sexta-feira passada, que foi lido em todas as missas do domingo, o bispo de San Isidro, Oscar Ojea,
 acompanhado por todos os sacerdotes da sua diocese, saiu publicamente 
para assumir responsabilidades, pedir perdão e expressar seu desejo de 
reparar o dano causado pelos abusos sexuais cometidos pelo padre José Mercau (foto), hoje condenado e preso. “A comunidade diocesana de San Isidro,
 e de um modo especial o bispo e seu presbitério, pedem publicamente 
perdão aos jovens que foram afetados por estas condutas (de abuso 
sexual) realizadas por um sacerdote da nossa diocese, o padre José Mercau, quando era pároco de São João Batista em Ricardo Rojas (Partido de Tigre)”, diz o comunicado intitulado “Assumir, pedir perdão e desejo de reparação”.
A declaração do bispo Ojea e seu presbitério 
manifesta uma atitude de reconhecimento pouco comum até agora na Igreja 
católica frente aos casos de abuso sexual. O texto começa dizendo que 
“as sequelas que o abuso sexual deixa no futuro das crianças e dos 
jovens não podem ser medidas. Sua vida vincular e afetiva fica 
prejudicada no mais profundo pela violação da sua intimidade”. As 
autoridades da Igreja de San Isidro, cujo bispo não 
quis fazer declarações diferentes daquelas do comunicado, fizeram saber 
que ao expressar este pedido público de perdão querem manifestar a 
decisão de ajudar os jovens que foram vítimas “a curar feridas e 
construir um futuro”. E expressam também a vontade de que o gesto se 
traduza, além disso, em um compromisso “para promover uma cultura do 
cuidado das crianças e dos adolescentes”.
“A conduta de quem abusa – diz o comunicado do bispo Ojea
 e seu presbitério – também fere todo o corpo de Cristo e quebra a 
confiança na comunidade. Este mal causado nos faz experimentar uma viva 
dor como membros da Igreja”. E acrescenta que “dizemos com clareza que 
estes atos estão abertamente em contradição com a palavra de Deus e com a
 tarefa evangelizadora que diariamente comunidades e pastores realizam”.
A declaração da diocese de San Isidro está em linha com as posturas recentes do Papa Francisco, quem condenou em várias ocasiões as condutas pedófilas de membros da Igreja. As autoridades da diocese de San Isidro manifestaram também sua disposição para “reparar” o dano causado pelo sacerdote Mercau
 e que isso se fará, segundo revelou, de “modo fraternal, econômico e 
com a ajuda que será continuada” para com os jovens abusados.
Em outra parte, e depois de recordar palavras do Papa Francisco
 sobre o cuidado da vida, a declaração da diocese destaca que “pondo a 
nossa confiança no Senhor pedimos humildemente que estes gestos nos 
estimulem a seguir anunciando com transparência e fidelidade a alegria 
do Evangelho e ilumine cada rincão da diocese para poder levar a boa 
notícia em particular aos nossos irmãos mais pobres”.
O gesto do bispo Ojea representa uma mudança 
importante na conduta mantida até agora pela hierarquia católica 
argentina diante de casos similares, incluindo o do padre Julio César Grassi, em relação a quem a diocese de Morón ainda não tomou nenhuma decisão disciplinar, apesar da condenação por abuso sexual que pesa sobre ele.
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