ihu - “A internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e
de solidariedade entre todos; e isto é algo bom, é um dom de Deus”. O Papa Francisco confirmou e ampliou a atitude positiva da Igreja católica em relação à internet externada por Bento XVI. Na mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais
(que será no dia 1º de junho), intitulado “A comunicação a serviço de
uma autêntica cultura do encontro” e apresentado na manhã desta
quinta-feira no Vaticano, Jorge Mario Bergoglio
não deixou de identificar os riscos e os desafios que as redes sociais e
as novas tecnologias da comunicação abrigam, mas também insistiu nos
aspectos positivos e na possibilidade de chegar através da internet, e
com “ternura”, às “periferias existenciais”.
Fonte: http://bit.ly/1asr2so |
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 23-01-2014. A tradução é de André Langer.
“Hoje vivemos num mundo que está para se tornar cada vez menor,
parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximos
uns dos outros”, escreveu o Papa argentino em sua primeira mensagem para o já tradicional Dia das Comunicações Sociais.
Todavia, dentro da humanidade, permanecem divisões, “escandalosa”
distância que existe entre o luxo dos mais ricos “e a miséria dos mais
pobres. Frequentemente, basta passar pelas estradas de uma cidade para
ver o contraste entre os que vivem nos passeios e nas luzes brilhantes
das lojas. Estamos já tão habituados a tudo isso que nem nos impressiona
mais. O mundo sofre de múltiplas formas de exclusão, marginalização e
pobreza, como também de conflitos para os quais convergem causas
econômicas, políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente,
religiosas”. Por isto, os meios de comunicação, diante desta realidade,
“podem ajudar a sentir-nos mais próximos uns dos outros; a fazer-nos
perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à
solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna”.
Particularmente, destacou o Papa, “a internet pode oferecer maiores
possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é algo
bom, é um dom de Deus”.
O Papa reconheceu que há “aspectos problemáticos”,
como a velocidade da informação, “que supera a nossa capacidade de
reflexão e discernimento, e não permite uma expressão equilibrada e
correta de si mesmo”, ou pelo fato de que “o desejo de conexão digital
pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de
nós. Sem esquecer que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem
acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser excluída”.
Apesar disso, estes limites reais, insistiu Bergoglio,
“não justificam uma rejeição dos meios de comunicação; antes,
recordam-nos que, em última análise, a comunicação é uma conquista mais
humana que tecnológica”. Por isto o convite do Papa
para “recuperar um certo sentido de pausa e calma. Isto requer tempo e
capacidade de fazer silêncio para escutar”, para “compreender aqueles
que são diferentes de nós” e “escutar os outros”. O testemunho cristão,
escreveu o Papa, “não se oferece com o bombardeio de
mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros ‘através
da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com
respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da
verdade e do sentido da existência humana’ (Bento XVI, Mensagem para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2013)”.
O Papa argentino indicou como exemplo a figura do
bom samaritano: “Que a nossa comunicação seja azeite perfumado pela dor e
vinho bom pela alegria. Que a nossa luminosidade não derive de truques
ou efeitos especiais, mas de nos fazermos próximos, com amor, com
ternura, de quem encontramos ferido pelo caminho”. Esta imagem permitiu
ao Papa advertir também sobre os riscos da comunicação,
sobretudo quando esta “tem como objetivo preponderante induzir ao
consumo ou à manipulação das pessoas”; neste caso, escreveu Bergoglio,
“encontramo-nos diante de uma agressão violenta como a que sofreu o
homem espancado pelos assaltantes e abandonado na estrada, como lemos na
parábola”. Por isso, “não basta circular pelas ‘estradas’ digitais,
isto é, simplesmente estar conectados: é necessário que a conexão seja
acompanhada pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos,
fechados em nós mesmos. Precisamos amar e ser amados. Precisamos de
ternura. Não são as estratégias comunicativas que garantem a beleza, a
bondade e a verdade da comunicação. O próprio mundo dos meios de
comunicação não pode alhear-se da solicitude pela humanidade, chamado
como é a exprimir ternura”. “É por isso mesmo, explicou o Papa em sua mensagem, que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais”.
Durante a coletiva de imprensa de apresentação do documento, mons. Claudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, respondeu a algumas perguntas dos jornalistas, sobretudo em relação ao perigo de que uma passagem da mensagem do Papa pudesse ser interpretada como uma afirmação do relativismo: o desafio da comunicação, escreveu Bergoglio,
“requer profundidade, atenção à vida, sensibilidade espiritual.
Dialogar significa estar convencido de que o outro tem algo de bom para
dizer, dar espaço ao seu ponto de vista, às suas propostas. Dialogar não
significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de
que sejam únicas e absolutas”. Mons. Celli, que
recordou como algumas vezes as mensagens papais são interpretadas
mediante “clichês”, destacou que esta passagem da mensagem está “em
sintonia com todo o ensinamento da Igreja”, inclusive com um discurso
pronunciado em Lisboa por Bento XVI, a quem se acusava
de ser muito dogmático, ao passo que na realidade escreveu que “a Igreja
deve aprender a dialogar com a verdade dos outros”. A mensagem do Papa Francisco, explicou mons. Celli falando em geral sobre o documento, “é profundamente franciscana”. E o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi, confirmou esta ideia quando destacou o vínculo entre o “estilo de comunicação” e a forma de conceber o Pontificado do Papa Francisco.
O também jesuíta Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, por sua vez, indicou em seu blog Cyberteologia os principais pontos desta mensagem do Papa:
a internet expressa a “profecia” de um mundo novo; a internet: uma rede
de pessoas, não de fios; quem é meu próximo no ambiente digital? As
redes de “proximidade”; uma Igreja “acidentada”, mas com as portas
abertas inclusive para a rede; uma comunicação não “de massa”, mas
“popular”; diálogo e relação entre “Ecclesia” e “Ágora”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário