Lembre-se de que lidamos com pessoas e não com gado.
Como
 você corrige seu filho, seu esposo, sua esposa, seu empregado, seu 
colega, seu subordinado de modo geral? É um dever e uma necessidade 
corrigir aqueles a quem amamos, mas isso precisa ser feito de maneira 
correta. Toda autoridade vem de Deus e em Seu nome deve ser exercida; 
por isso, com muito jeito e cautela.
 
Não
 é fácil corrigir uma pessoa que erra; apontar o dedo para alguém e 
dizer-lhe: “Você errou!”, dói no ego da pessoa; e se a correção não for 
feita de modo correto pode gerar efeito contrário. Se esta for feita 
inadequadamente pode piorar o estado da pessoa e gerar nela humilhação e
 revolta. Nunca
 se pode, por exemplo, corrigir alguém na frente de outras pessoas, isso
 a deixa humilhada, ofendida e, muitas vezes, com ódio de quem a 
corrigiu. E, 
lamentavelmente, isso é muito comum, especialmente por parte de pessoas 
que têm um temperamento intempestivo (“pavio curto”) e que agem de 
maneira impulsiva. Essas pessoas precisam tomar muito cuidado, porque, 
às vezes, querendo queimar etapas, acabam queimando pessoas. Ofendem a 
muitos. 
Quem
 erra precisa ser corrigido, para seu bem, mas com elegância e amor. Há 
pais que subestimam os filhos, os tratam com desdém, desprezo. Alguns, 
ao corrigi-los, o fazem com grosseria, palavras ofensivas e marcantes. O
 pior de tudo é quando chamam a atenção dos filhos na presença de outras
 pessoas, irmãos ou amigos, até do (a) namorado (a). Isso o (a) humilha e
 o (a) faz odiar o pai e a mãe. Como é que esse (a) filho (a), depois, 
vai ouvir os conselhos desses pais? O mesmo se dá com quem corrige um 
empregado ou subordinado na frente dos outros. É um desastre humano! 
Gostaria de apontar aqui três exigências para corrigir bem uma pessoa:
1 – Nunca corrigir na frente dos outros.
Ao
 corrigir alguém, deve-se chamá-lo a sós, fechar a porta da sala ou do 
quarto, e conversar com firmeza, mas com polidez, sem gritos, ofensas e 
ameaças, pois este não é o caminho do amor. Não se pode humilhar a 
pessoa. Mesmo a criança pequena deve ser corrigida a sós para que não se
 sinta humilhada na frente dos irmãos ou amigos. Se for adulto, isso é 
mais importante ainda. Como é lamentável os pais ou patrões que gritam 
corrigindo seus filhos ou empregados na frente dos outros! Escolha um 
lugar adequado para corrigir a pessoa. 
Gostaria
 de lembrar que a Igreja, como boa Mãe, garante a nós o sigilo da 
Confissão, de maneira extrema. Se o sacerdote revelar nosso pecado a 
alguém, ele pode ser punido com a pena máxima que a instituição criada 
por Cristo pode aplicar: a excomunhão. Isso para proteger a nossa 
intimidade e não permitir que a revelação de nossos erros nos humilhe. E
 nós? Como fazemos com os outros? Só o fato de você dar a privacidade à 
pessoa a ser corrigida, ao chamá-la a sós, ela já estará mais bem 
preparada para a correção a receber, sem odiá-lo. 
2 – Escolha o momento certo.
Não
 se pode chamar a atenção de alguém no momento em que a pessoa errada 
está cansada, nervosa ou indisposta. Espere o melhor momento, quando ela
 estiver calma. Os impulsivos e coléricos precisam se policiar muito 
nestes momentos porque provocam tragédias no relacionamento. Com o 
sangue quente derramam a bílis – às vezes mesmo com palavras suaves – 
sobre aquele que errou e provocam no interior deste uma ferida difícil 
de cicatrizar. Pessoas assim acabam ficando malvistas no seu meio. Pais e
 patrões não podem corrigir os filhos e subordinados dessa forma, 
gritando e ofendendo por causa do sangue quente. Espere, se eduque, 
conte até 10 dez, vá para fora, saia por um tempo da presença do que 
errou; não se lance afoito sobre o celular para o repreender “agora”. 
Repito: a correção não pode deixar de ser feita; a punição pode ser 
dada, mas tudo com jeito, com galhardia. Estamos tratando com gente e 
não com gado. 
3 – Use palavras corretas.
Às
 vezes, um “sim” dito de maneira errada é pior do que um “não” dito com 
jeito. Antes de corrigir alguém, saiba ouvi-lo no que errou; dê-lhe o 
direito de expor com detalhes e com tempo o que fez de errado, e por que
 fez aquilo errado. É comum que o pai, o patrão, o amigo, o colega, 
precipitados, cometam um grave erro e injustiça com o outro. O problema 
não é a correção a aplicar, mas o jeito de falar, sem ofender, sem 
magoar, sem humilhar, sem ferir a alma. 
Eu
 era professor em uma Faculdade, e um dos alunos veio me dizer que 
perdeu uma das provas e que não podia trazer atestado médico para 
justificar sua falta. Ter que fazer uma prova de segunda chamada, apenas
 para um aluno, me irritava. Então, eu lhe disse que não lhe daria outra
 prova. Quando ele insistiu, fui grosseiro com ele, até que ele pôde se 
explicar: “Professor, é que eu uso um olho de vidro, e no dia da sua 
prova o meu olho de vidro caiu na pia e se quebrou; por isso eu não pude
 fazer a prova”. Fiquei com “cara de tacho” e lhe pedi mil desculpas. 
Nunca
 me esqueci de uma correção que o meu pai nos deu quando eu e meus oito 
irmãos éramos ainda pequenos. De vez em quando nós nos escondíamos para 
fumar escondidos dele. Nossa casa tinha um quintal grande e um pequeno 
quarto no fundo do quintal; lá a gente se reunia para fumar. 
Um
 dia nosso pai nos pegou fumando; foi um desespero… Eu achei que ele 
fosse dar uma surra em cada um; mas não, me lembro exatamente até hoje, 
depois de quase cinquenta anos, a bela lição que ele nos deu. Lembro-me 
bem: nos reuniu no meio do quintal, em círculo, depois pediu que lhe 
déssemos um cigarro; ele o pegou, acendeu-o, deu uma tragada e soprou a 
fumaça na unha do dedo polegar, fazendo pressão, com a boca quase 
fechada. Em seguida, mostrou a cada um de nós a sua unha amarelada pela 
nicotina do cigarro. E começou perguntando: “Vocês sabem o que é isso, 
amarelo? É veneno; é nicotina; isso vai para o pulmão de vocês e faz 
muito mal para a saúde. É isso que vocês querem?” 
Em
 seguida ele não disse mais nada; apenas disse que ele fumava quando era
 jovem, mas que deixou de fazê-lo para que nós não aprendêssemos algo 
errado com ele. Assim terminou a lição; não bateu em ninguém e não 
xingou ninguém; fomos embora. Hoje nenhum de meus irmãos fuma; e eu 
nunca me esqueci dessa lição. São Francisco de Sales, doutor da Igreja, 
dizia que “o que não se pode fazer por amor, não deve ser feito de outro
 jeito, porque não dá resultado”. 
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