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O padroeiro dos gays e lésbicas católicos que lutou para encontrar acolhimento em sua igreja, John J. McNeill, morreu no dia 22 de setembro em um asilo em Fort Lauderdale, Flórida. Ele tinha 90 anos de idade.
A reportagem é de Thomas C. Fox, publicada por National Catholic Reporter, 24-09-2015. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
McNeill
era muito respeitado entre os defensores dos direitos de gays,
lésbicas, bissexuais e transgêneros católicos, assim como por outros que
deram atenção a seus escritos acadêmicos que os ajudaram a aceitarem
sua própria sexualidade e a se defenderem contra o que eles entendiam
ser ensinamentos equivocados da igreja.
Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry [Ministério New Ways], disse que McNeill
possuía "uma rara combinação de coração e mente grandiosos",
acrescentando que gays e lésbicas foram "instruídos não somente por sua
lógica e princípios filosóficos, mas também por sua consciência das
profundas e reais necessidades humanas".
"Não é um exagero dizer que qualquer um dos avanços pastorais, políticos, teológicos e práticos que os católicos LGBT fizeram nos últimos anos só pôde ser realizado por causa do trabalho inovador de John.
A irmã de Loretto, Jeannine Gramick, cofundadora do Ministério New Ways, descreveu McNeill como "um verdadeiro pioneiro cujos passos muitos seguiram".
"Eu aprendi muito a partir de suas pesquisas e escritos, mas aprendi
ainda mais nas interações pessoais com ele, testemunhando a paixão e
preocupação que ele tinha por cada pessoa LGBT que ele encontrou".
A diretora-executiva da DignityUSA, Marianne Duddy-Burke, falou de McNeill como um profeta. "John foi realmente o primeiro grande profeta do movimento católico LGB. Todos os presidentes da DignityUSA o consultaram para esclarecimentos sobre as questões emergentes da comunidade católica LGBT".
Nascido e criado em Buffalo, Nova York, McNeill
entrou para o Exército dos Estados Unidos em 1942 e tornou-se um
prisioneiro de guerra na Alemanha nazista - uma experiência que para ele
foi profundamente espiritual e levou-o ao ingresso nos Jesuítas em
1948. Ordenado em 1959, lecionou filosofia e teologia na Fordham University, Union Theological Seminary, e Le Moyne College, onde ele era um notável defensor da paz durante a Guerra do Vietnã.
McNeill tornou-se um psicoterapeuta, escrevendo uma vez que ele queria espalhar as boas novas entre os católicos gays e lésbicas.
Em 1976, depois de um atraso de três anos, ele publicou com o consentimento do Vaticano sua obra seminal, The Church and the Homosexual
[A Igreja e a Homossexualidade] (agora em sua quarta edição). O livro
foi a primeira tentativa de um teólogo e estudioso renomado de examinar e
desafiar os ensinamentos tradicionais da igreja sobre a sexualidade e
atitudes para com os católicos gays e lésbicas.
Dois anos após a publicação, o Vaticano rescindiu sua aprovação. Um
ano mais tarde, ele foi ordenado pelo novo líder da Congregação para a
Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, e mais tarde Papa Bento XVI,
a ficar em silêncio público. Era um silêncio que manteve durante nove
anos, enquanto continuou seu ministério particular para gays e lésbicas
católicos. Seu trabalho incluiu psicoterapia, workshops, palestras e
retiros.
"Eu concordei em manter o silêncio com a esperança de que, com o
tempo, a igreja iria considerar as evidências e iniciar uma
reavaliação", escreveu ele na introdução da quarta edição de seu livro.
Em 1988, ele ainda recebeu outra ordem de Roma, orientando-o a
abandonar todo o ministério para pessoas gays, um ordem que, disse ele,
não poderia cumprir em sã consciência.
Ele desobedeceu à ordem e isto levou à sua expulsão da ordem jesuíta, que foi seu lar durante quase 40 anos.
Ele continuou a falar ousadamente contra os ensinamentos católicos
oficiais que diziam respeito a assuntos de sexualidade e,
particularmente, sobre os severos ensinamentos "homofóbicos" que saíam
do Vaticano.
Foi em 1986 que Ratzinger emitiu um documento no
qual ele chamou a homossexualidade de "uma desordem objetiva" e falou de
sua "orientação para o mal." O documento foi emitido em 31 de outubro
de 1986, e McNeill, entre outros críticos da igreja, referiam-se a carta de Ratzinger como "a carta do Dia das Bruxas".
Em 2012, McNeill foi o tema de "Taking a Chance on God" [Ter uma Chance em Deus], um documentário produzido e dirigido pelo membro da Dignity, Brendan Fay, que destaca o papel de McNeill como sacerdote, homem gay, ativista e estudioso.
Ele não mediu palavras ao falar da dor que ele sentiu nas mãos de sua igreja. Em 2012, McNeill
escreveu que em sua franca trajetória ele tentou "com a ajuda do
Espírito Santo libertar os cristãos gays das mentiras de uma religião
patologicamente homofóbica".
Sua radical e provocativa visão sobre a sexualidade nunca foi
amordaçada com sucesso pelas autoridades da Igreja, embora sua presença
em reuniões católicas de gays e lésbicas diminuiu cada vez mais, assim
como sua saúde nos últimos anos. Ele publicou em vários grandes best-sellers sobre sexualidade e manteve um site por muitos anos.
Sua abordagem pastoral sobre a cura da dor que gays e lésbicas
católicos estavam experimentando parecia ilimitada. Vários anos depois,
ele escreveu: "Sabemos pela Revelação que Deus nos criou como seres
sexuais e se deleita em nosso prazer sexual. Todo ser humano tem um
direito dado por Deus para a satisfação sexual. ... Como psicoterapeuta
com várias décadas de experiência estou consciente que muitos, se não a
maioria dos seres humanos, cresceram com psiques danificadas e uma
auto-imagem ferida que os tornam incapazes, a não ser com extrema
dificuldade, de entrar em uma relação comprometida baseada no amor
mútuo. No entanto, estes seres humanos psiquicamente feridos ainda têm o
direito de satisfação sexual com o melhor de sua capacidade".
Ele acreditava que a consciência individual precisava ser o árbitro
final quando se decide sobre assuntos sexuais. Ele uma vez escreveu: "um
dos maiores ensinamentos centrais de Jesus, sem dúvida, de extrema
importância para todos os cristãos e, especialmente, para lésbicas,
gays, bissexuais e transgêneros cristãos, é a liberdade de consciência".
Ele foi animado por uma profunda espiritualidade. Ele afirmou que
seus escritos tinham sido baseados na "promessa de Jesus aos seus
seguidores de enviar-lhes o Espírito Santo, que habitará em seus
corações e os levará a toda a verdade".
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