quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Padres casados, tudo começou com o Conselho e depois na Alemanha

[lanuovabq] 
Por Nico Spuntoni

O problema pastoral associado à falta de padres e à tentativa de ordenar leigos casados ​​não surge hoje. Mas tem suas raízes na década de 1960. Ao Conselho, em primeiro lugar, com as incursões do Bispo Koop que irritaram São Paulo VI. Continuar com as investidas alemãs, que influenciaram negativamente a América Latina.



"Para uma população de 50.000 almas em Manaos, existem apenas dois sacerdotes e no restante da Amazônia cinco ou seis circulam nessa imensa região!" (...) "Ninguém, por duzentos anos, lidou com esses infelizes; não é um missionário para evangelizá-los, batizá-los, salvá-los!" Essas duas passagens foram extraídas do relatório sobre missões católicas na Amazônia brasileira, realizado pelo Padre Limbour, da Congregação do Espírito Santo, no final da primeira década do século XX. Documento extraordinário publicado no boletim ilustrado da Propaganda Fide na edição de sexta-feira, 7 de janeiro de 1910, e que nos transmite intacta uma realidade temporalmente distante de nós, mas muito semelhante à descrita durante as obras do Sínodo em andamento.
O problema pastoral associado à falta de padres em muitos lugares da região persiste e, do modo sínodo, foi evocado por aqueles que gostariam de compensá-lo com a aprovação definitiva da ordenação de homens casados ​​de fé comprovada. Mas, assim como o problema, mesmo sua possível solução está longe de ser uma novidade para a Igreja: como a falta de ministros ordenados na região, mesmo a dos viri probati é uma questão que vem ressurgindo há anos.
Ele apareceu no Vaticano II graças a Dom Pedro Paulo Koop, bispo brasileiro de Lins, autor de uma intervenção que pedia a ordenação de homens casados. Este texto, entregue ao secretariado do Conselho e distribuído aos "colegas", recebeu o consentimento de 43 pais do Conselho, mas nunca foi lido no tribunal porque encontrou a oposição de São Paulo VI. De fato, o pontífice bresciano, com uma carta de 10 de outubro de 1965 ao cardeal Eugenio Tisserant, presidente do conselho do Conselho, julgou inadequado um debate semelhante na assembleia conciliar. Apenas dois dias depois, o jornal francês da área progressista "Le Monde" publicou o texto original de Koop, que foi criticado pelos outros bispos brasileiros, contra a proposta e irritado com a forma como seu compatriota havia irritado. o papa.
A linha ditada por Montini refletiu-se, então, no "Presbyterorum ordinis", o decreto do Conselho sobre o ministério que, no parágrafo 16, reafirmava a "relação de conveniência (de celibato) com o sacerdócio".
Mas o 'niet' de Paulo VI e o pronunciamento do Concílio não foram suficientes para descartar de uma vez por todas a questão dos viri probati: o Sínodo coletivo das dioceses da República Federal da Alemanha, que começou em 1971 e terminou, questionou a bola em 1975. Durante o chamado Sínodo de Wurzburg, a VII comissão de carismas, serviços e ofícios reabriu à possibilidade de que homens sábios de virtude comprovada pudessem ser ordenados em caso de extrema falta de padres. Foi a ocasião em que se manifestou a obstinação das almas mais progressistas da Igreja alemã que, apesar de uma declaração da Conferência Episcopal nacional em que anunciou a intenção de excluir o assunto da deliberação dos padres sinodais, pretendia que o mesmo continuasse adiante rua, não sem atitudes de protesto em relação ao cardeal Dofner, presidente dos bispos e da Assembléia.
Recentemente, o cardeal Marx alegou com orgulho essa experiência, lembrando que já no final do Sínodo coletivo o episcopado alemão havia invocado a necessidade de abrir tal discussão, enviando um pedido nesse sentido a Roma imediatamente após a conclusão do Sínodo. Marx parecia reclamar que não havia respostas esperadas nesse caso.
De fato, Roma já havia se expressado no III Sínodo dos Bispos em 1971, quando a maioria dos padres sinodais havia rejeitado a fórmula mais permissiva da ordenação, aprovando em vez disso a que se fechava a todas as exceções possíveis ("Exceto pelo direito do Sumo Pontífice, o não é admitida a ordenação presbiteriana de homens casados, nem mesmo em casos especiais"). Paulo VI endossou essa decisão e deixou claro no rescript da audiência concedida ao Secretário de Estado, Cardeal Villot:" Sua Santidade (...) confirma, de uma maneira particular, que na Igreja Latina, a atual disciplina do celibato sacerdotal deve continuar a ser plenamente observada com a ajuda divina".
Nas décadas seguintes, o crescimento da influência alemã no mundo católico da América Latina, apoiado pelo trabalho de campo das sociedades assistenciais vinculadas ao episcopado e aos grupos leigos teutônicos, acabou favorecendo a convicção de que a ordenação de viri probati era a melhor maneira de lidar com a escassez de padres nas comunidades mais isoladas.
Mas em 1990, com a clareza habitual para ele, foi o próprio São João Paulo II quem excluiu qualquer possibilidade de se envolver em uma discussão dentro da Igreja sobre essa hipótese. Vale citar na íntegra a passagem do discurso proferido pelo pontífice polonês por ocasião da VIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos: "É verdade que outras perguntas sérias são feitas quando a falta de padres é sentida de forma trágica (...). Alguns se perguntam se não é o caso, nessas circunstâncias, de pensar na ordenação de viri probati. Esta solução não deve ser levada em consideração e o problema apresentado deve ser resolvido por outros meios. Como se sabe, a possibilidade de apelar para o viri probati é evocada com demasiada frequência no quadro de uma propaganda sistemática hostil ao celibato sacerdotal. Essa propaganda encontra o apoio e a cumplicidade de alguns meios de comunicação. Portanto, é necessário buscar, sem demora, outras soluções para este agonizante problema pastoral".
São João Paulo II não se limitou a rejeitar essa solução, mas chegou ao ponto de denunciar a tentativa daqueles que, explorando essa questão, tentam "desmantelar" o celibato sacerdotal. O da ordenação de homens casados ​​parecia um tópico divisivo, mesmo onde se enquadra em realidades particulares, como o da Oceania, que compartilha imensos espaços com a Amazônia, onde vivem comunidades isoladas. De fato, no Sínodo dedicado a este continente, o cardeal Thomas Stafford Williams, presidente da Assembléia Especial, em seu relatório "A Igreja na Oceania, seguindo os passos de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida", julgou-o, louvando "o desejo" dos padres sinodais de "falar a uma só voz" que se expressaria durante a sessão que acabava de superar "a tentativa de colocar em votação propostas controversas, como, por exemplo, a ordenação de viri probati".
No pontificado de Bento XVI, a Igreja voltou a reiterar o seu "não" a essa opção e o fez no Sínodo dos Bispos de 2005, dedicado à Eucaristia. Embora reconhecendo a "grave falta de clérigos em algumas partes do mundo", os padres sinodais rejeitaram sem hesitar a opção preconizada por vários bispos durante o atual Sínodo na Amazônia. Na proposta 11 do documento final da Assembléia de 14 anos atrás, a posição mantida até então foi reiterada, observando que, durante o curso do trabalho, “algumas pessoas se referiam aos probi viri, mas essa hipótese era considerada uma estrada. não viajar”.
Até agora, a Igreja sempre rejeitou essa possibilidade, não considerando viável resolver um problema crônico que, em alguns lugares como a Amazônia, se arrasta há séculos, o da falta de padres. Também porque, como vários representantes das Igrejas Católicas Orientais - nas quais já existem padres casados ​​- apontaram - durante o Sínodo de 2005, o casamento por si só não levaria a uma solução para o problema, mas poderia fazer surgir novos, como aqueles ligados à necessidade de conciliar a vida familiar com os deveres do ministério.

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