quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Em 2019, a alternativa entre comuno-tribalismo e Cristandade

A anarquia tribalista é o que pretendem o Sínodo Pan-Amazônico e os agitadores que incendeiam nosso continente. O rumo da Cristandade restaurada é o que devemos desejar e favorecer, como os incontáveis franceses que lutam pela autêntica restauração da catedral de Notre-Dame.


A igreja da Assunção, em Santiago do Chile, foi saqueada no dia 8 de novembro de 2019 por mascarados, que usaram as imagens e móveis para montar uma barricada contra a polícia. Na foto, um dos sacrílegos desordeiros quebra a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora das Graças. Logo d’Ela, a Mãe de todas as graças, Mãe por excelência…
 
Por Luis Dufaur
 
 
O ano de 2018 encerrou-se com esperançosos retrocessos do bolivarianismo na América Latina, e com algumas derrotas eleitorais expressivas das esquerdas na Europa e na América do Norte. Mas no transcurso de 2019 o fiel da balança se inverteu, com uma peculiaridade: é inegável que ao longo do ano se estiolaram as simpatias culturais e religiosas profundas pelos motores da desordem moral e social; e na esfera política a saturação pública com o caos das últimas décadas propiciou o ressurgimento dos anseios por homens-símbolo que pudessem conduzir a bom porto.Apresentou-se uma liderança conservadora de nomes novos em vários países, que explorou a esperança de superar a corrupção generalizada, a ofensiva contra a família, o marxismo cultural, os ensinos imorais e perversos nas escolas; e de outro lado favorecesse os costumes morais tradicionais, o restabelecimento da ordem, da propriedade, da segurança, da bandeira nacional — em suma, da submissão à lei moral estabelecida por Deus — para que tais valores fossem oficialmente respeitados, por cima das bandeirolas do socialismo internacional. Em suma, desejava-se cortar o passo à Revolução Cultural e trazer de volta o equilíbrio tranquilo e pacato de antigamente. A nostalgia desse passado animava a resistência às “mudanças” esquerdizantes, que produziram uma engrenagem de desgraças. O descontentamento com um mundo que não dava o prometido fez ressurgir a lembrança de um passado arquetipizado, o sentimento difuso de que a vida foi melhor quando bafejada pelo ensinamento do Evangelho. A resistência a tais mudanças agia não só no Brasil: na Colômbia, um plebiscito opusera um NÃO ao enganoso “processo de paz” tramado entre Havana e o Vaticano; a Grã-Bretanha aprovara um polêmico Brexit, para sair da opressiva União Europeia; e os EUA deram a Trump o apoio contra o establishment político-midiático.

A instituição familiar, que havia sofrido golpes formidáveis decorrentes de leis anticristãs, saiu mais abalada de dois Sínodos sobre a família, completados pela exortação Amoris Laetitia e suas aplicações corrosivas.

Uma exceção, infelizmente, se registrava na liderança da Igreja Católica. A instituição familiar, que havia sofrido golpes formidáveis decorrentes de leis anticristãs, saiu mais abalada de dois Sínodos sobre a família — um extraordinário e outro ordinário — completados pela exortação Amoris Laetitia e suas aplicações corrosivas. Nem por isso o anseio pela família tradicional deixou de palpitar nos corações dos homens, como o reconheceu o arcebispo de Barcelona, Cardeal Juan José Omella.[1] Sintomático: o bispo do Porto, Dom Manuel Linda, que se define “fã do Papa Francisco a 200%”, negou de público a virgindade de Nossa Senhora; mas, abrumado pela indignação popular, recuou rumorosamente três dias depois.[2] Embora em retirada diante de resistências como essas, as esquerdas não renunciaram ao objetivo de frustrar o anseio saudável dos setores sadios da população.
Os novos líderes políticos que assumiram a condução das Américas e da Europa, ou que se encaminhavam para fazê-lo, ascenderam não tanto por adesões ideológicas ou pessoais, mas pela recusa popular à envenenada “sopinha de letras” em que se refocila o nosso plantel político-partidário. Durante décadas era isso que predominara nos governos, na economia, no ensino, na cultura. Infelizmente, com réplicas também em muitas dioceses, onde se multiplicaram nauseabundos escândalos gerados ou protagonizados pelo lobby homossexual.
Num concorrido evento público, uma alta patente militar contou ele ter conhecido Plinio Corrêa de Oliveira. E reconheceu, a título pessoal: “Ele sim, era um homem de valia. Foi deputado constituinte, e quando cessou, não precisou da cadeira de deputado para continuar sendo um homem de projeção nacional. Agora os políticos valem enquanto têm o poder nas mãos. Depois, são apenas mais um”. Sim, o Brasil, o mundo e a Igreja precisavam de um líder, ainda que leigo como Dr. Plinio. Uma grande pergunta cresceu ao longo de todo o ano: sem ele, ou sem sua inspiração, como se interromperá a marcha rumo à anarquia comuno-tribalista, que deu passos de gigante em 2019? Aos poucos os olhares foram se voltando para o legado de Plinio Corrêa de Oliveira, aguardando uma resposta ordenadora.

Para o Papa Francisco, o mundo vai se desconjuntar


Em janeiro, um mar de lama da barragem de Brumadinho (MG) ceifou mais de 250 vidas e destruiu inúmeras residências e lavouras na região. Não poucos procuraram ver nisso uma representação material das catástrofes morais, políticas e sociais que desabariam em 2019. Pelo fim do ano, eram tais as crises e as derrocadas, que a imensa desgraça de Brumadinho ficara quase eclipsada e esquecida.
Como se soubesse o que viria — e tendo a si próprio como partícipe destacado —, o Papa Francisco previu, na Missa de Ano Novo, que a falta de união ao redor do mundo parece ir desunindo-o cada vez mais.[3] Infelizmente, foi o que aconteceu. O pontífice deu o exemplo disso, como pressagiou o quotidiano “El País”. Embora simpatizando com esse pontificado, o jornal declarou-o acossado pelos escândalos morais, por uma reforma que não saiu do chão e por encarniçadas lutas no seio da Igreja”; qualificou a queda de popularidade do pontífice como “desmoronamento especialmente grave entre os jovens, ainda mais acentuado nos EUA”; e acrescentou que o seu eco positivo se concentrava “entre os não-católicos”.[4] Em suma, os fiéis pouco o acompanham.
O presidente da Conferência Episcopal da Venezuela, Mons. José Luís Azuaje [foto], declarou que o governo de Nicolás Maduro “se tornou ilegítimo e moralmente inaceitável”. Mas, mesmo assim, o Papa enviou um representante pessoal para a posse do déspota filocomunista.
Ainda em janeiro, 20 ex-presidentes da América Latina lhe endereçaram uma carta de protesto, por suas bênçãos aos governos da Venezuela e da Nicarágua, mesmo o Papa sabendo “que os venezuelanos são vítimas da opressão de uma narco-ditadura militarizada que não tem escrúpulos em calcar sistematicamente os direitos à vida, à liberdade e à integridade pessoal”, enquanto os nicaraguenses padecem uma onda de repressão que causou 300 mortos e 2.500 feridos”. Argumentam que o Papa não ignora, mas silencia, que nesses países “a mentira foi consagrada como sistema; não há liberdade de imprensa; e, pior ainda, as vozes dissidentes correm o risco de serem encarceradas, perseguidas, e com frequência mortas, segundo constatam os organismos de direitos humanos americanos e europeus”.[5] O presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), Mons. José Luís Azuaje, declarou que o governo de Nicolás Maduro “se tornou ilegítimo e moralmente inaceitável”.[6] Mas os bispos venezuelanos não foram ouvidos pelo Papa, que enviou um representante pessoal para a posse do déspota filocomunista, apesar de “julgada quase universalmente ilegítima”.[7]
Concomitante a tudo isso, Moscou transferia mercenários e armamentos a Caracas, para proteger o ditador”,[8] e também “garantir” o ouro do Banco Central do país. As movimentações aeronavais russas no Caribe desenterraram o espectro da guerra fria entre Rússia e EUA e alimentaram rumores de incursões americanas com o apoio de algum país latino-americano etc. Enquanto isso, a extrema miséria prossegue flagelando o povo venezuelano e torna cruel realidade a definição do comunismo como “vergonha do gênero humano”: desnutrição e alimentação com o próprio lixo; longos “apagões”; uso de água de esgotos como “potável”; desaparecimento da gasolina; confusas revoltas de quartel; atritos com países vizinhos; reaparecimento de epidemias que se achavam extintas, e assim por diante.
As clarissas do mosteiro de Porto Viro (Chioggia) foram postas na rua com roupas civis, por imposição ditatorial da “comissária” vaticana, pois não abandonavam a vida contemplativa de Santa Clara e “rezavam demais”

Desmoronamentos clericais em fé e moral

Em visita a Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, o Papa Francisco subscreveu com o Sheik Ahmad el-Tayeb, grande imã de al-Azhar (Cairo), o documento Fraternidade humana, afirmando que a pluralidade de religiões é desejada por Deus. O documento suscitou uma tempestade de dúvidas sobre as heresias que parece conter.[9] Nos mesmos dias, ante a crescente confusão no ensinamento da doutrina da fé”,[10] o Cardeal Gerhard Müller reafirmou verdades básicas da Igreja, concluindo com a advertência de São Paulo: “Virá um tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina” (2 Tim 4,1-5). Mas o Cardeal Walter Kasper, que propugna a sacrílega comunhão para os concubinos, acusou o Cardeal Müller de dizer meias verdades, disseminar “confusão e divisão”, e declarou-se “totalmente horrorizado” porque ele citou a Epístola “sobre a ‘fraude do Anticristo’”.[11]
O rebaixamento da Comissão Ecclesia Dei, órgão curial que garantia a prática do nunca proibido rito da Missa aprovado por São Pio V, deu ensejo a temores e discórdias. Novas normas vaticanas sobre a vida claustral soaram como um “extermínio silencioso”, que envia ao patíbulo “a própria ideia de isolamento e de vida de clausura”. No parecer de uma religiosa, foi desatada uma ofensiva letal contra “a derradeira fortaleza visada pelo inimigo [o inferno], que é o extermínio de uma estrutura milenar”.[12] Institutos religiosos que procuravam restaurar a observância e a correção de vida vinham sendo dissolvidos por disposição do Papa, como aconteceu com a Fraternité des Saints Apôtres;[13] ou ficaram esvaziados, como as Pequenas Irmãs de Maria Mãe do Redentor, em Saint-Aignan-sur-Roë, que de um total de 120 religiosas, 115 foram reduzidas ao estado laical e perderam as propriedades por “rezarem demais”.[14] Também as clarissas do mosteiro de Porto Viro (Chioggia) foram postas na rua com roupas civis, agasalhadas com cobertores, por imposição ditatorial da “comissária” vaticana, pois não abandonavam a vida contemplativa de Santa Clara e “rezavam demais”.[15]
Em fevereiro, sob um dilúvio purulento de denúncias verdadeiras e falsas de violações cometidas por clérigos, o Vaticano reuniu os representantes das conferências episcopais do mundo na maior cúpula de sua história sobre abusos sexuais”.[16] Os que aguardavam medidas rigorosas para cortar o mal pela raiz ficaram decepcionados. Apenas algumas medidas muito pontuais, como do ex-cardeal e ex-arcebispo de Washington, Theodore McCarrick, que foi reduzido ao estado laical por crimes sexuais e abuso de poder. Os membros de sua corrente teológica e moral, porém, continuaram sendo promovidos a altos cargos pela Santa Sé, e o teólogo da libertação e guerrilheiro nicaraguense Pe. Ernesto Cardenal foi reintegrado ao clero. Na Austrália, o Cardeal George Pell, designado pelo pontífice para reformar a economia vaticana, foi condenado com acusações contestáveis por crimes de pedofilia, e no fim do ano aguardava o pronunciamento da última instância. Na França, o Cardeal primaz Philippe Barbarin renunciou à Sé arquiepiscopal de Lyon, depois de ser condenado por suposto acobertamento de abusos de seu clero. Pelas mesmas acusações, os bispos do Chile haviam renunciado em bloco em 2018, e muitas arquidioceses e dioceses continuavam vacantes em 2019.

O “cisma alemão”

O presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Reinhard Marx, anunciou um “processo sinodal” nacional para discutir o celibato sacerdotal
A desunião na Igreja — que o Papa Francisco anunciou como futuro da instituição, mas não se empenhou em corrigir, embora detenha para isso os poderes do Papado — atingiu níveis insustentáveis na Alemanha. O presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Reinhard Marx, anunciou um “processo sinodal” nacional para discutir o celibato sacerdotal, o ensino da Igreja sobre moral sexual e a redução da estrutura hierárquica. Nesse “processo sinodal”, conforme se especula, devem ser colocados na temática: dar acesso à Eucaristia para os divorciados que vivem em concubinato; abertura à agenda LGBT; admissão de mulheres no sacerdócio; ordenação de diaconisas, sacerdotes casados ou homossexuais. Sete bispos bávaros, liderados pelo cardeal Rainer Woelki, de Colônia, continuaram manifestando oposição à linha heterodoxa da cúpula episcopal, que no entanto não se moderou.[17] Nem sequer retrocedeu diante dos dados estatísticos comprovando que a modernização, sob o pretexto de atrair vocações e fiéis, de fato os afastou. Só em 2018, a “Igreja Católica na Alemanha perdeu mais de 216 mil fiéis”; o número de sacerdotes caiu de 17 mil, no ano 2000, para os atuais 1.161; as 13.241 paróquias diminuíram para 10.045.[18] Para o arcebispo Samuel Aquila, de Denver (EUA), o Cardeal Marx e outros bispos companheiros de viagem estavam conduzindo a Igreja alemã para um cisma, que poderá “danificar a unidade da Igreja universal”.[19] O Cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos, acrescentou que o unilateral “processo sinodal” alemão é “eclesialmente inválido”, e nele reside o grande perigo de um cisma mundial.[20]

Um sínodo que rompe com Deus e cultua ídolo pagão

O Cardeal Müller discerniu no Instrumentum Laboris “uma cosmovisão com mitos e ritual mágico da Mãe Natureza, os sacrifícios aos deuses e espíritos”
Todas essas graves desavenças pareceram pequenas quando foi publicado o Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia, a ser reunido pelo Papa no mês de outubro. Esse documento de trabalho retomou as teses mais radicais da Teologia da Libertação, notadamente a sua dimensão comuno-tribalista. O Cardeal Müller discerniu nele “uma cosmovisão com mitos e ritual mágico da Mãe Natureza, os sacrifícios aos deuses e espíritos”.[21] Mons. José Luís Azcona, bispo emérito de Marajó, denunciou uma “regressão” implícita na “utopia de dar vida às religiões pré-colombianas”, separando as populações amazônicas “de Cristo e da Igreja Católica”, e omitindo que há naquelas religiões “a presença de demônios”.[22] Vinte mil moradores da Amazônia aderiram a um abaixo-assinado dirigido ao Sínodo, considerando seu documento preparatório um atentado “inaceitável”, pela “tentativa de internacionalização” da região.[23] A CNBB avaliou que os bispos estavam sendo “criminalizados”, tratados como “inimigos da Pátria”,[24] e assim a súplica dos católicos amazônicos foi ignorada.
Precedendo de perto a realização do Sínodo, um anômalo clima de pressões internacionais, verdadeiro estrondo publicitário, se alastrou na mídia mundial a propósito das queimadas que costumam ocorrer anualmente na Amazônia Legal. Entenda-se bem: não na floresta amazônica, quase intacta pelos fogos, que logo foram controlados e dominados segundo o antigo costume dos agricultores. Visava, ao que tudo indica, fazer calar a opinião pública e fazê-la aceitar qualquer absurdo procedente do Sínodo ou dos signatários do Acordo de Paris, adeptos de uma governança planetária sobre a totalidade da Amazônia. Suprimiria assim as soberanias nacionais dos nove países que detêm partes na região, equivalente à metade da América do Sul.
Escandalizou a Igreja o culto fetichista de um ídolo pagão — a “deusa” panteísta Pachamama — presidido pelo próprio Papa nos jardins do Vaticano, antes da reunião sinodal. “Religiosas, monges e o Papa Francisco, entre outros, ficaram de joelhos ante essa imagem, reverenciando-a”.[25] Dito ídolo, bem como objetos fetichistas que o rodeavam, foram depois expostos à veneração pública na igreja de Santa Maria in Traspontina, muito perto de basílica de São Pedro. Um jovem católico austríaco os retirou e jogou no rio Tibre. E o Papa Francisco, à maneira de reparação à falsa deusa, realizou mais um ato de culto similar no interior da basílica de São Pedro. A qual, lembre-se, foi erigida sobre o túmulo do primeiro Papa, ali crucificado exatamente porque recusou culto idolátrico aos ídolos romanos.
O Papa Francisco anunciou ainda a possibilidade de incluir um “pecado ecológico” no Catecismo da Igreja Católica.[26] O Sínodo também “propôs mudanças como a ordenação de homens casados e o diaconato feminino”,[27] e outras reformas com pretexto ecológico, de utilidade contestável, previstas no documento preparatório. A essas alturas, parece ingenuidade ilusória supor que tais propostas não serão aprovadas pelo Papa no documento final.

O Papa rompe com a Igreja?

O Papa Francisco anunciou ainda a possibilidade de incluir um “pecado ecológico” no Catecismo da Igreja Católica
Sem precedentes históricos, cresceu durante o ano a polêmica teológica sobre se o Papa pode ser herege; e, em caso positivo, se o Papa Francisco o é. Em uma carta aberta no mês de maio, 100 teólogos e acadêmicos “convidaram os bispos a acusarem o Papa Francisco de heresia”[28] e pedirem a sua emenda. O Cardeal Gerhard Müller declarou que não considera o Papa herético, mas a obrigação dele é responder à carta coletiva. Dom Athanasius Schneider considerou que a acusação fora longe demais, e não se pode apontá-lo como “herege formal”.[29] Os teólogos signatários e os dois altos prelados defendem posições conservadoras com matizes diversos, fato que revela a extensão atingida pelo leque de personalidades que debatem a possibilidade de o Papa ter rompido com a ortodoxia e se afastado de Cristo e de sua Igreja. O pontífice nada esclareceu. Dom Carlo Maria Viganò, ex-Núncio Apostólico em Washington, e exilado a título pessoal, ao comentar as práticas idolátricas no Sínodo Pan-amazônico, julgou estar em andamento “um plano satânico”, e que “os católicos que aderirem a ele, de fato mudarão de religião”.[30]
Manifestações populares seguidas de quebra-quebras, sob o pretexto de aposentadorias, convulsionavam as ruas de Paris.

Países clamam por outro rumo

Em maio, mais de 70% do eleitorado italiano votou nas eleições gerais contra a imigração (majoritariamente islâmica) e contra a União Europeia, contrariando a posição do Papa Francisco, do episcopado italiano e da mídia dependente de autoridades religiosas. O resultado causou consternação, pois o eleitorado italiano sempre se orientava pelos conselhos eclesiásticos, mas desta vez se afastou maciçamente deles, alinhando-se com os posicionamentos anti-imigracionistas e contrários à União Europeia, adotados por partidos “ultra-direitistas” como o Fidesz húngaro, o PiS polonês, o Partido do Brexit britânico, a ex-Frente Nacional francesa, além da escalada do Vox na Espanha e do AfD na Alemanha. O juízo da imprensa foi: “O Papa ‘perdeu’ as eleições”.[31] Essa constatação coincide com o esvaziamento popular da Praça de São Pedro nas audiências gerais das quartas-feiras, e no Angelus aos domingos.

Kremlin esfrega as mãos

O conceito de “nação” foi sendo utilizado como forma de recusa à igualitária unificação europeia posterior à II Guerra Mundial. Cresceu uma fragmentação nacionalista que, não visando à ordem da Civilização Cristã filha da Igreja, assumiu rumos incertos e até perigosos. Na enigmática Rússia, Vladimir Putin saudou o próximo destarrachamento da União Europeia, similar ao da ex-URSS. Poucas semanas depois, manifestações populares seguidas de quebra-quebras, sob o pretexto de aposentadorias, convulsionavam as ruas de Paris. O Kremlin financiou nacionalismos e secessionismos inautênticos, como o catalão, e tentativas de golpes ditatoriais, como em Montenegro; enviou assassinos da nova-KGB para punir ex-agentes e opositores; soprou, a partir de São Petersburgo, escarcéus de boatos, de fake-news; perturbou eleições, como a presidencial francesa;[32] promoveu “guerras híbridas”, ou atos dissimulados de guerra em tempos de paz, nos EUA e na Europa. A “sombra de Putin pairando sobre a luta político-eleitoral europeia”[33] foi manchete em mais de um jornal, notadamente quando o conservador Boris Johnson se tornou chanceler. Em dezembro obteve maioria esmagadora para se efetivar com segurança o Brexit. Ademais, cresceram os nacionalistas escoceses que postulam a ruptura com o Reino Unido![34]
O ano todo foi agitado pela suposta ingerência de agentes russos na administração americana, espalhando suspeitas de colaboração com o presidente Trump antes e depois de sua eleição. As conjecturas alimentam a tentativa de impeachment do presidente, promovida por seus inimigos políticos. Em dezembro, a Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes encaminhou ao plenário as acusações de “abuso de poder” e “obstrução do Congresso”[35]. Embora o resultado possa ser nulo, semearia desconcerto no eleitorado conservador, caso consiga disseminar a dúvida sobre cumplicidades de Trump com a Europa Oriental.
A retirada militar americana do Oriente Médio deu azo a que a Rússia penetrasse na Síria e fornecesse armamentos e mercenários à Turquia. Para reforçar sua imagem mundial, Putin anunciou uma nova geração de superarmas indetectáveis, de velocidade muitas vezes superior à do som; e que, disparadas de qualquer ponto do planeta, são capazes de eliminar de uma só vez países com a dimensão da França ou de estados como o Texas. Ele apresentou vídeos, mas muitos são de realidade virtual, não de todo convincentes. Mas os EUA responderam que estão construindo armas equivalentes, pois estão vencidos os acordos posteriores à guerra fria que limitavam o seu fabrico.
Protestos nas ruas de Hong Kong

Ditadura marxista chinesa mostra as garras

As ruas de Hong Kong foram palco, ao longo do ano, de uma avalanche de protestos contra a crescente interferência do governo comunista de Pequim, reunindo até quase dois milhões de cidadãos em manifestações pela democracia e contra um projeto de extradição dos dissidentes anticomunistas. As violências da repressão do executivo local filocomunista ameaçaram o futuro econômico de uma das maiores praças financeiras do mundo capitalista. Os estudantes católicos lideram a reação, enquanto a chefe do executivo, Carrie Lam, que ostenta militância católica, se alinha ao governo comunista de Xi-Jinping, num estilo que evoca o PT. A pugna religioso-católica, incubada no caso, multiplicou as represálias anticatólicas em toda a China, pois Pequim teme que o exemplo de Hong Kong encoraje os católicos que resistem à feroz repressão antirreligiosa aplicada no país-continente. Apoiada no acordo de setembro de 2018 entre a China e a Santa Sé, reforçado pela sagração do bispo pró-comunista de Jining,[36] a polícia marxista não hesita reprimir os manifestantes. Através de um abaixo-assinado, os estudantes católicos imploraram ao Papa Francisco (quando ele sobrevoou Hong Kong) que interviesse para fazer cessar as violências, mas não se sabe se receberam qualquer atendimento.
Além de sediar 290 escritórios centrais asiáticos de empresas americanas e o consulado-geral dos EUA em Hong Kong ter status de embaixada. Por isso o conflito passou a ser chave na maior disputa geopolítica e econômica do século XXI entre a China e os EUA. Essa confrontação abalou fortemente a economia mundial durante todo o ano, com consequências relevantes para o Brasil. As provocações navais chinesas contra a VI Frota americana estacionada no Mar do Sul da China se multiplicaram, e no fim do ano se falava de uma exibição de força americana para diminuir a ingerência de Pequim em Hong Kong. O poder marxista vetou a ancoragem de naves de guerra dos EUA na cidade, como já havia se tornado habitual.

Degradação do tônus da vida pública

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pedia um “lugar especial no inferno” para os cidadãos que não concordassem com a União Europeia
Foi muito pronunciada neste ano a decomposição do relacionamento humano, até mesmo na linguagem política. O voto de cidadãos conservadores, que na Europa aspiravam pelo retorno da compostura e da tradição, foi recebido com reações até grosseiras por parte do macrocapitalismo publicitário. Mas a ascensão de líderes nacionalistas, que prometiam restaurar a cultura e a boa ordem de seus países, não elevou o tom de respeito e decoro que os eleitores aguardavam. Paradoxalmente, inauguraram um estilo tempestuoso, por vezes acentuadamente áspero e até boca-suja, que espantou os cidadãos honrados e expôs à desmoralização as propensões conservadoras que progrediam nas almas de bem. Em fevereiro, por exemplo, nas manchetes dos jornais “líderes italianos e franceses trocavam injúrias por eleição do Parlamento europeu”.[37] O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pedia um “lugar especial no inferno” para os cidadãos que não concordassem com a União Europeia; e os líderes nacionalistas o tratavam de “valentão arrogante”. Por respeito ao leitor e à moral católica, omitimos as injúrias, os falsos testemunhos, palavrões e insultos obscenos que inundaram a grande mídia, inclusive no Brasil.
No dia 3 de outubro uma sangrenta explosão revolucionária conflagrou as ruas de Quito

Incêndio subversivo inverte panorama latino-americano

A queda dos esquemas de governos chavistas-bolivarianos desvendou uma formidável máquina de corrupção envolvendo políticos, empresas e organizações que desviaram bilhões dos cofres públicos, com objetivos inconfessáveis. O macrocapitalismo publicitário, que ainda em 2019 consagrou espaços imensos a essas desordens, pouco ou nada focalizou a participação neles dos “movimentos populares”, ONGs, organizações ligadas a grupos narcoguerrilheiros como as Farc, e/ou promotoras das invasões ligadas às reformas de estrutura, revoltas e sabotagens indigenistas, ambientalistas e quilombolas. A macromídia fez descer um véu de silêncio sobre a tropa de choque da revolução lulopetista-bolivariana, na qual sobressaíram os “movimentos populares” criados por conferências episcopais, como por exemplo o MST e o CIMI. Dissimuladamente, a panóplia incendiária desses “movimentos populares” pôde então se rearticular sob o guarda-chuva prestigioso de pontifícias academias vaticanas, e ser apresentada em livro, pelo Papa Francisco, como a alavanca da mudança social que está por vir.[38]
No dia 3 de outubro uma sangrenta explosão revolucionária conflagrou as ruas de Quito, e pelo fim do ano o mesmo esquema de agitação ardia em países vizinhos. Aproveitando o véu de silêncio que se estendeu sobre os “movimentos populares” e a distensão natural produzida pelo avanço conservador, a subversão populista reapareceu articulada e agressiva. Havia sido espalhado que Cuba se abria gradualmente ao capitalismo, mas em outubro a ilha prosseguia imersa na pior das misérias. A gasolina já não vinha mais da Venezuela, que não a possuía nem para si mesma, embora fora grande produtora de petróleo. Em ambos os países, as fábricas estatais cortavam dias e horários de trabalho; as aulas eram suspensas em escolas e universidades; o sistema elétrico beirava o colapso; impunha-se no campo o retorno à tração animal; os contêineres não saíam dos portos, porque não havia diesel para os caminhões; os alimentos estavam em clamorosa falta.
O que faziam os responsáveis cubanos e venezuelanos? Dedicavam-se a treinar agitadores, que viriam à América do Sul para atear revoluções. No início de outubro, testemunhas presenciais equatorianas relataram que a onda de violência que paralisou Quito, sob o pretexto de aumento da gasolina, era chefiada por militares cubanos e venezuelanos, e engrossadas por militantes de ‘movimentos populares’ e indígenas montados outrora pelo presidente ‘bolivariano’ Correa. Em Quito, paróquias serviam de quartéis aos agitadores, onde recebiam recursos até do arcebispado, que é alinhado com as pregações anticapitalistas do Papa Francisco. Em tempos de Sínodo Pan-amazônico, magotes de índios revoltados fizeram reféns 47 soldados na província de Chimborazo.[39] Segundo o alto escalão do governo americano, o bloqueio rodoviário do transporte público e os confrontos com as autoridades foram promovidos pelo pessoal do Correa, com seus amigos da Venezuela e de Cuba.[40]

Diretor da subversão confessa

Violentas manifestações no Chile derivaram em sacrílegos ataques a igrejas em várias cidades do país e destruição de imagens sacras
Diosdado Cabello, número 2 da Nomenklatura venezuelana, saudou ironicamente a “brisita bolivariana que está se registrando em alguns países, como Equador, Peru, Argentina, Colômbia, Honduras e Brasil”.[41] E deu a entender que Moscou, Havana e Caracas estão planejando ainda mais. Os venezuelanos emigrantes seriam 4,6 milhões, segundo a OEA, e nesse fluxo teriam passado agitadores que, após caotizarem o Equador, foram parar no Chile e na Bolívia.
A rede subversiva montada no Equador — sede também da Rede Pan-Amazônica (REPAM), responsável pela promoção do Sínodo — ficou em dormência, aguardando instruções: recrutou ex-guerrilheiros das FARC, inconformados com os “acordos de paz”; acolheu os treinadores cubanos e venezuelanos; estocou armamentos de ponta, capturados pelas Forças Armadas; reuniu e adestrou indígenas animados pelo iminente Sínodo. Muitos ativistas de segundo escalão conservaram seus postos no governo, que continuava dissimuladamente bolivariano, ou se acobertaram nas sacristias ligadas à Teologia da Libertação. Foram denunciados também voos charters de silenciosos homens jovens, que desembarcaram no Equador, por vezes rumando para outros países, acobertados por autoridades locais cúmplices, que não lhes exigiam identificação.

O anárquico panorama chileno

O segundo assalto ocorreu no Chile, e de modo espetacular: cerca de 1,2 milhão de manifestantes fizeram um protesto histórico, aduzindo argumentos econômicos. Inicialmente “pacíficos”, foram logo completados por violências inauditas, como atear fogo em estações de metrô, em centenas de supermercados e mercadinhos de bairro, destruição de agências bancárias “símbolos do capitalismo”, saque de lojas, incêndio em universidades, e por fim se investiram satanicamente contra catedrais e igrejas católicas, arrancando imagens para despedaçá-las em cenas que evocavam a revolução bolchevista, a guerra civil espanhola ou a revolução cultural de Mao Tsé-Tung. Agitadores venezuelanos morreram nos confrontos com a polícia, levando o presidente Sebastián Piñera a declarar que o país estava “em guerra”.[42]
Na Bolívia, cai Evo Morales, depois do escandalosa fraude nas eleições presidenciais

Ofensiva sai à rua em outros países

O terceiro passo da marcha revolucionária deu-se na Bolívia. Uma lúcida reação popular havia banido Evo Morales, após uma fraudulenta tragicomédia eleitoral. Ele havia deixado uma rede subversiva, que logo saiu às ruas com grande agressividade, causando considerável número de mortos. Morales reconheceu o trabalho de opinião pública feito pelos inspiradores teológicos e sociológicos que articularam o bolivarianismo. Seu produto mais típico estaria no Chile, onde novas gerações materialmente satisfeitas surpreendem com um anarquismo inédito no país: “Nós fizemos essa nova classe média”,[43] reconheceu Morales. E completou: “Quero a presença da Rússia na América Latina”.[44] Com o ex-presidente fugitivo, a Bolívia terá eleições convocadas por um governo transitório antiesquerdista, que reclama contra a ingerência de agitadores profissionais enviados pela Venezuela. Morales se instalou na Argentina para dirigir de perto as agitações em seu país[45].
Não tardou para que a mesma rede teleguiada de Havana e Caracas tentasse análoga agressão na Colômbia, durante uma greve geral realizada em 21 de novembro, em que cerca de três mil indígenas foram conduzidos por narcoguerrilheiros das Farc utilizando explosivos. A “greve nacional” apresentava “260 exigências mínimas [não atendidas] das Farc”; que a polícia antidistúrbios fosse confiada aos indígenas; e a promulgação de uma nova Constituição — exigências apoiadas por muitos bispos, e para as quais o governo pareceu receptivo. A candidata do Partido Verde, Claudia López, representante da militância LGBT, ganhou a prefeitura de Bogotá, prenunciando uma avançada nacional contra a moral familiar e a favor do comunismo ecológico.[46] Na Nicarágua, partidários do presidente-guerrilheiro Daniel Ortega invadiram a Catedral de Manágua para apoiar mães de presos políticos, enquanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) acusava Ortega de “tornar inviável o funcionamento democrático do país”.[47] Em novembro, a ascensão à presidência uruguaia do candidato de centro-direita Lacalle Pou introduziu uma exceção à tendência continental, embora tenham ocorrido rumores de próximas explosões “populares”, como as dos países mencionados.

Brasil e Argentina na nova onda vermelha

Assim que foi solto, falando no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo, Lula disse ser preciso imitar o Chile: “atacar e não apenas se defender”
Nos dois principais países do continente, a “brisita” subversiva se insinuou com a volta de Lula e a eleição de Alberto Fernández para presidente na Argentina. No Brasil, em 7 de novembro, o STF aprovou uma medida que liberou do cárcere o ex-presidente Lula da Silva e alguns de seus correligionários condenados por delitos análogos, medida que favoreceu também numerosos outros detentos.[48] As esquerdas mundiais imaginaram que a soltura dos presos desencadearia uma onda que confluiria com a luta de classes nos países vizinhos. Assim que foi solto, falando no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo, Lula disse ser preciso imitar o Chile: “atacar e não apenas se defender”.[49] A incitação foi vã, pois o público brasileiro não quer saber de agressão e não o ouviu. Em novembro, Lula da Silva teve a pena aumentada em outro processo de corrupção e lavagem de dinheiro, que o condenou a 17 anos e um mês de prisão (caso do sítio de Atibaia). A defesa viu na sentença dos desembargadores uma “afronta” ao STF, acirrando uma crise até no Judiciário,[50] desmoralizando ainda mais a imagem do líder outrora endeusado pelas esquerdas, e também a daquela alta corte.
Na Argentina, galgou em outubro a presidência o candidato proposto pelo Papa Francisco, em reunião a portas fechadas no Vaticano com líderes esquerdistas do velho lulochavismo. A votação contradisse a evidência das multidões, que se reuniram a favor e contra o candidato das esquerdas. O eleito mostrou astúcia, visitando chefes de Estado de orientação econômica social-democrática, mas favorecedores da agenda antifamiliar e LGBT, como Macron e López Obrador, e trocou sinais aparentemente conciliadores com o presidente Trump e o FMI. Fernández aprovou o “aborto livre”,  enquanto o Papa Francisco recebia a primeira dama argentina, nomeou funcionários processados aplicando o conceito de lawfare do Papa, apressou a libertação de políticos condenados por corrupção e anunciou o retorno do dirigismo econômico. Os ativistas piqueteros julgaram ter chegado sua hora, mas tiveram pouco eco popular, e o próprio Fernández pediu prudência. As esquerdas católico-comunistas comemoraram a vitória populista, pois ela ensejaria uma visita do Papa Francisco, inexplicavelmente nunca efetivada, pois suas propensões pessoais comuno-peronistas poderiam reforçar o novo governo. O pontífice nunca quis visitar seu país, informado por seguidores muito próximos de que o ânimo da opinião pública argentina lhe era contrário. E, nova decepção: confirmou que não iria a seu país nem com Fernández, alegando problemas de agenda, mas reconhecendo privadamente que não havia ambiente para ele.

Notre-Dame em chamas: símbolo de 2019? Ou de 2020?

No dia 15 de abril, um furioso incêndio de causas ainda não esclarecidas consumiu o telhado e a grande agulha da catedral de Notre-Dame de Paris. A “Bíblia de Pedra”, que durante oito séculos resistira a toda espécie de guerras, revoluções e intempéries, esteve a ponto de ruir, deixando o mundo estupefato. A catástrofe simbolizou a grave crise que devora aquilo que o grande templo representa: a própria Igreja Católica. Juntamente com o Santíssimo Sacramento, foram quase milagrosamente salvas suas mais preciosas relíquias, como a Coroa de Espinhos e a túnica de São Luís, bem como suas mais famosas imagens e vitrais. Esta proteção soou como uma promessa da futura restauração católica depois da infernal “penetração da fumaça de Satanás no templo”, tantas vezes rememorada. Mas as ruínas fumegantes da catedral viraram alvo de polêmica sobre o rumo que a Revolução gnóstica e igualitária, manipuladora das esferas eclesiástica e temporal, deseja impor ao mundo. Sob o pretexto de modernizar a catedral, o presidente francês Emmanuel Macron acenou com um “gesto arquitetônico contemporâneo”,[51] tendo sido adiantados projetos de cunho ecologista e até tribalista, que deformariam grotescamente a catedral gótica. Em sentido contrário, imenso setor da população parisiense, francesa e mundial clamou por uma restauração “à l’identique” (segundo o modelo original da Idade Média), acrescido de aperfeiçoamentos congruentes dos séculos posteriores, e requintado no século XIX pelo genial arquiteto Eugène Viollet-le-Duc (1814-1879). A disputa envolve a grande questão que lavra no fundo das almas que ainda têm senso moral e racional: sairmos da crise, sim, mas para onde? Para uma nova era que seria algo análogo a uma Idade Média arqui-requintada, ou afundarmos no precipício da anarquia ecológica e comuno-tribalista?

A escolha para 2020: anarquia eco-tribal ou Cristandade

Quando Viollet-le-Duc projetou uma flecha com mais de 160 metros no transepto de Notre-Dame, muitos o recriminaram por não respeitar o modelo original, muito menor. O arquiteto respondeu que a perfeição da restauração consiste em elevar o prédio a um nível que seus construtores sonharam, mas não conseguiram. E a polêmica agulha tornou-se o mais genuíno e requintado espírito da catedral de Paris. Quando as chamas a reduziram a ruínas, foi como se a estrutura do universo tivesse sido abalada. A salvação milagrosa do coq de France — o galo da França, que coroava seu topo com as relíquias da Coroa de Espinhos e dos padroeiros de Paris, São Denis e Santa Genoveva — sinalizou que uma nova esplendorosa restauração deveria ser realizada. Mas logo se pronunciaram os que querem deturpar a catedral, instalando um telhado com fortes notas ecológicas, tribais ou psicodélicas. E a grande opção se pôs de frente: Notre-Dame será deformada e virará símbolo de um estado de coisas ecológico e tribalista, meio alucinado, que renega seu passado católico medieval?
A discussão em andamento condensa a grande alternativa posta ao mundo em 2019 pela imensidade das ruínas da Cristandade.
Vamos para a taba primitiva, supersticiosa e imoral das tribos mais decadentes das selvas, como foi pregado no Sínodo Pan-amazônico? É para ela que trabalham os intelectuais e agitadores que incendeiam igrejas, casas e lojas em seus países? Ou vamos para a restauração da ordem? Para ela pretendem caminhar todos os que a compreendem conforme a magistral definição do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Por Ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal”.[52]
Essa foi a grande alternativa que a Providência Divina, por meio da linguagem dos fatos de 2019, apresentou à humanidade e à Igreja Católica em crise. A necessidade de escolher se tornará cada vez mais insistente e cruciante, na medida em que se aprofundarem os processos históricos em curso.
Iremos todos escolher bem? Seguramente sim, pois Nossa Senhora em Fátima prometeu: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”. Escolheremos com presteza a boa opção, a fim de nos prepararmos para os castigos que Ela também previu em Fátima, e que parecem prontos para desabar a qualquer momento? Depende de cada um de nós. O melhor, portanto, é olharmos o ano de 2020 como o momento de escolher a grande, sublime e salvadora opção.
Dado muito alentador neste panorama é que no último ano aumentou significativamente a devoção popular a Nossa Senhora. Seus santuários se multiplicam e ficam repletos de fiéis nas festas da Mãe de Deus. Só no México, em dezembro último, mais de10 milhões de filhos foram implorar auxílio à boa Mãe.
Qual mãe jamais se viu que não queira eficazmente a salvação de seus filhos? E, se os vê em perigo ou perdidos, a mesma perdição lhe serve de motivo para procurar todos os meios de salvá-los.
Em nossas almas Sua voz murmura: Eu sou Advogada e posso tudo, em Mim reside o reflexo perfeito da bondade incriada e absoluta. Pedi, pois, a minha intercessão: Eu quero dar porque sou boa; desejo conceder porque sou Mãe; e posso dar porque sou Rainha. Isso, meus filhos, Eu darei.
(Fonte: Revista Catolicismo, Nº 829, Janeiro/2020.

[1]) ACI, 30-12-2018.
[2]) Infovaticana, 27-12-2018.
[3]) Folha de S. Paulo, 2-1-2019.
[4]) El País, 13-1-2019.
[5]) Il Messaggero, 9-1-2019.
[6]) Infocatólica, 8-1-2019.
[7]) Infovaticana, 12-1-2019.
[8]) Folha de S. Paulo, 26-1-2019.
[9]) Rai News, 12-2-2019.
[10]) Lepanto Foundation, 10-2-2019.
[11]) ACI, 10-2-2019.
[12]) Duc in altum, 25-1-2019.
[13]) Infocatho, 12-4-2018.
[14]) La Croix, 14-11-2018.
[15]) La Nuova Bussola Quotidiana, 03-12-2019.
[16]) O Estado de S. Paulo, 21-2-2019.
[17]) ACI, 3-7-2019.
[18]) ACI, 21-7-2019.
[19]) ACI, 26-9-2019.
[20]) Breitbart, 23-9-2019.
[21]) ACI, 16-7-2019.
[22]) ACI, 20-8-2019.
[23]) O Estado de S. Paulo, 28-8-2019.
[24]) O Estado de S. Paulo, 31-8-2019.
[25]) ACI, 31-10-2019.
[26]) ACI, 16-11-2019.
[27]) O Globo, 28-10-2019.
[28]) La Nuova Bussola Quotidiana, 18-5-2019.
[29]) LifeSiteNews, 5-5-2019.
[30]) LifeSiteNews, 6-11-2019.
[31]) Infovaticana, 27-5-2019.
[32]) Le Monde, 6-12-2019.
[33]) O Globo, 14-7-2019.
[34]) The Telegraph, 12-12-2019.
[35]) The New York Times, 13-12-2019.
[36]) ACI, 27-8-2019.
[37]) O Globo, 4-2-2019.
[38]) Vatican News, 19-8-2019.
[39]) O Globo, 6-10-2019.
[40]) O Estado de S. Paulo, 11-10-2019.
[41]) Infobae.com, 8-10-2019.
[42]) O Estado de S. Paulo, 22-10-2019.
[43]) Folha de S. Paulo, 2-12-2019.
[44]) La Nación, 4-12-2019.
[45]) Clarín, 13-13-2019.
[46]) O Estado de S. Paulo, 29-10-2019.
[47]) O Globo, 20-11-2019.
[48]) O Estado de S. Paulo, 8-11-2019.
[49]) https://congressoemfoco.uol.com.br/justica/ao-vivo-lula-discursa-no-sindicato-dos-metalurgicos/
[50]) O Estado de S. Paulo, 26-11-2019.
[51]) Folha de S. Paulo, 15-5-2019.
[52]) Plinio Corrêa de Oliveira, “Revolução e Contra-Revolução”, Artpress – São Paulo – 1998, Parte II, cap. II.

 Fonte - abim

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