Em cada uma das milhares de formas com que deseja ser representada em suas imagens, a Santíssima Virgem nos diz algo importante. Com o machado cravado em seu corpo, recorda-nos o ódio dos inimigos de Deus contra Ela.
Palco de grandes fatos históricos, Viena, capital da Áustria, é repleta de museus, palácios, e sobretudo de igrejas que relembram glórias incontáveis de um país onde floresceu a civilização católica. Entre edifícios imponentes, monumentos retratando gloriosas batalhas contra muçulmanos, igrejas cujo esplendor demonstra quão devotado foi seu povo, um turista autenticamente católico não poderia ignorar uma imagem das mais singulares de Nossa Senhora.
Ela preside o altar principal da Igreja de São Jerônimo, pertencente aos franciscanos, por isso mesmo chamada de Fransiscanerkirche. Esculpida na Boêmia em madeira de tília, com cerca de 2,20m de altura, a imagem originalmente estava localizada no mosteiro da cidade de Grünberg, hoje Zelená Hora, na atual República Checa.
Segundo piedosa legenda, por volta de 1330 um casal sem herdeiros recorreu a ela, e recebeu a graça solicitada. A mulher deu à luz um varão, o futuro São João Nepomuceno (1350-1393), um dos santos mais famosos da Europa Central, o que explica a popularidade e o respeito de que gozava essa imagem naquela região. E hoje, do alto de seu trono em Viena, muitos nem sequer perceberiam o fato singular de um machado cravado no Menino Jesus. Qual a razão daquele machado golpeando Nossa Senhora? Eis o que a história narra.
A desventurada família dos Sternberg
No início do século XV, o mosteiro de Grünberg, em cuja capela permanecia essa imagem de Nossa Senhora, foi incendiado por Jan Žižka, chefe militar da seita dos hussitas. Depois de reconstruído, o mosteiro se tornou um castelo, doado aos Sternberg, uma importante família nobre da Boêmia. A linda imagem permaneceu intacta ao incêndio, e continuou em seu altar durante muitos anos, mesmo após os próprios Sternberg terem aderido ao protestantismo.
Em 1575, tendo o castelo passado às mãos de Andreas von Sternberg, um protestante que odiava ferrenhamente Nossa Senhora, a imagem foi removida da capela. Para assombro de Andreas, no dia seguinte ela reapareceu em seu altar sem que ninguém a tivesse recolocado. Querendo evitar que o prodígio se repetisse, Andreas mandou então queimar a imagem. Em vão, pois as chamas foram incapazes de lhe fazer qualquer dano. Então, movido por um crescente ódio, esse protestante empedernido entregou a imagem ao capataz, para que a destruísse a machadadas.
Nesse momento Nossa Senhora quis deixar marcado para as futuras gerações até onde a impiedade humana pode chegar. Uma vez desferido o primeiro golpe, o machado não saiu mais de sua milagrosa imagem. O capataz ficou com o braço paralisado, e morreu repentinamente naquela mesma noite. Sua morte foi seguida alguns dias depois pela de Andreas von Sternberg, que ficara completamente louco, e escondera a imagem em um antigo cofre.
Quando Ferdinando, segundo irmão de Andreas, foi visitado algum tempo depois por dois músicos, estes encontraram a imagem e a retiraram do cofre. Os criados dos Sternberg tentaram novamente queimá-la, mas o prodígio se repetiu e o fogo não a danificou. Conseguiram apenas arrancar-lhe uma das mãos, e devolveram a imagem ao cofre. Ferdinando também enlouqueceu, e suicidou-se depois de assassinar a própria mãe.
A imagem a caminho de Viena
Finalmente o castelo passou para Ladislau, caçula dos Sternberg. Ao contrário dos irmãos, Ladislau era católico e repôs Nossa Senhora em seu altar. Em 1603, ao partir para uma batalha contra os otomanos na Hungria, levou consigo a milagrosa imagem, para protegê-lo e auxiliá-lo. Com efeito, no dia 26 de setembro daquele ano, festa de São Venceslau, travou-se uma grande batalha na cidade de Nové Zámky (hoje pertencente à Eslováquia), a qual redundou em uma brilhante vitória dos católicos, com um saldo de 12 mil otomanos mortos.
Muitos atribuíram o êxito à intercessão da imagem milagrosa de Ladislau, despertando grande interesse em torno dela. Não se sabe com precisão o motivo, mas Ladislau acabou perdendo-a numa aposta para o barão polonês Peter von Turnoffskhy, cuja esposa era protestante. Talvez tenha sido este o motivo de o barão levá-la para Viena e confiá-la ao zeloso padre Bonaventura Daumius, que em 1607 a colocou finalmente na igreja de São Jerônimo, onde permanece até hoje com o machado cravado na imagem.
Vários milagres foram rapidamente atribuídos a ela, e só entre 1628 e 1648 registraram-se 308. Um livro publicado em 1740 compendia 227 milagres. Naturalmente, muitas dessas graças foram de proteção nos perigos, sobretudo de incêndios. A vitória na batalha em Kolin, em 1757, foi-lhe também atribuída.
Os piedosos peregrinos que passam por ali poderiam se perguntar por que Nossa Senhora não destruiu o machado antes que este A tocasse, preferindo permanecer com ele cravado. Certamente Ela quis com isso lembrar a seus filhos que, apesar de suas imensas graças, existem neste mundo muitos que A odeiam, e que fazem de tudo para destruir a devoção a Ela. No livro do Gênesis, estes são os descendentes da serpente: “Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a d’Ela; Ela te esmagará a cabeça e tu armarás ciladas ao seu calcanhar” (Gen 3, 15).
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Fontes:
https://www.geschichtewiki.wien.gv.at/ Maria_mit_der_Axt
https://www.atterwiki.at/index.php?title=Maria_mit_der_Axt
https://wiener-geschichten. at/2017/04/11/hackl-im-kreuz/
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