quarta-feira, 1 de julho de 2020

Os Tormentos e a Paciência de N. S. Jesus Cristo



Por Pe. Theodoro de Almeida


Tudo este mundo é um vale de lágrimas e de misérias: nascemos chorando, e chorando morremos; e enquanto não acabamos a vida, sempre temos motivos que nos obrigam a chorar.Por uma parte, se servimos o mundo e as nossas próprias paixões, ordinariamente acontece que, desenganados com repetidos desgostos, entre mil lágrimas e queixas confessamos, que este mundo é um tirano insuportável: então conhecemos por experiência que as nossas paixões são como víboras venenosas, as quais, quanto mais alimentamos no próprio seio, tanto mais ferozes se fazem para nos morderem e para nos introduzirem no coração um insuportável fel de amargura. Por outra parte, se servimos a Deus, achamos toda a terra como um campo de batalha, e andamos cercados por toda a parte de inimigos, que nos mortificam e perseguem: se queremos fugir-lhes, basta o susto, a fadiga, a aflição para nos fazerem derramar muitas e bem amargosas lágrimas; e se lhes não fugimos, as nossas lastimosas feridas nos dão motivo para derramar lágrimas de sangue. Por onde, os que vivem aflitos são quase tantos como os que povoam a terra. Sendo logo preciso dar algum remédio a um mal, que é comum, não achei outro mais suave, mais eficaz e mais pronto do que a meditação dos tormentos e aflições de Jesus Cristo; porque as Chagas do Senhor Jesus verdadeiramente são um tesouro de paciência. Portanto, a alma que se vê falta desta virtude, e desejosa de a conseguir, não tem que andar mendigando por outras partes: entre por meio da consideração neste grande e inexaurível Tesouro, e dele tirará riquezas imensas.Entre com vagar meditando uma ou duas vezes no dia os tormentos e paciência do Senhor; e entre também de passagem, mas com grande frequência, pelo decurso do dia, ao menos com a lembrança do seu sofrimento, e conhecerá maravilhosa mudança no seu coração. O Real Profeta dizia: No dia da minha tribulação busquei a Deus: pus-me de noite com as mãos levantadas defronte do Senhor, e não me enganei: a minha alma recusava toda a consolação, mas lembrei-me de Deus, e fiquei consolado. (Ps. 76, 3) E se este efeito faz o pôr-se uma alma orando simplesmente defronte de Deus, que será defronte de Deus crucificado, aflito, cheio de sangue e de opróbrios? De Deus, que morreu por nos consolar, e que, por poder enxugar na Bem-aventurança (como prometeu) as nossas lágrimas, quis derramar as suas. Portanto, valham se todos os aflitos deste remédio, e para isso se lhes propõem especiais meditações, e, no fim de cada uma, sua conveniente jaculatória, para no decurso do dia avivar a lembrança da Paixão do Senhor e o fruto que se tirou na oração. Divide-se toda a Paixão em sete Passos principais, que na Quaresma podem servir para as sete semanas, e fora dela para os sete dias de toda semana. Cada Passo tem sete meditações, que, juntas, chegam para toda a Quaresma; mas no outro tempo poderá a alma escolher de cada Passo só uma para o dia da semana correspondentes à ordem dos Passos do Senhor, começando pelo Horto, no domingo.


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