terça-feira, 6 de outubro de 2020

VIGANÒ: HÁ UM SUPERDOGMA DO VATICANO II. INTOCÁVEL…

Por Marco Tosatti

 

A seguir está a tradução para o espanhol da carta que Sua Excelência Carlo Maria Viganò escreveu a dois de seus críticos: Padre Raymond J. de Souza e Padre Thomas Weinandy [1].

Para quem deseja entender o conteúdo desta carta mais profundamente, sugiro a leitura de duas das cartas mais recentes escritas por Monsenhor Viganò:

a ) A carta com a qual respondeu ao artigo: “Vaticano II e a obra do Espírito” [2], escrita pelo Pe. Thomas Weinandy.

b ) A carta com a qual respondeu ao artigo: "Perguntas para Viganò: Sua Excelência tem razão sobre o Vaticano II, mas o que você acha que os católicos devem fazer agora?" [3], escrito por Stephen Kokx.

Vamos começar!

Ao Padre Raymond J. de Souza e ao Padre Thomas Weinandy

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Há poucos dias, logo após a publicação de outro artigo semelhante, escrito pelo padre Thomas Weinandy [4], o padre Raymond J. de Souza escreveu um comentário intitulado: “A recusa do arcebispo Viganò ao Vaticano II promove o cisma?" [5]. O pensamento do escritor se expressa de imediato, quando afirma: “Em seu último 'testemunho', o ex-Núncio tem uma posição contrária à fé católica, no que diz respeito à autoridade dos concílios ecumênicos”.

Posso compreender que, de muitas maneiras, minhas intervenções incomodam muito os partidários do Concílio Vaticano II, e que questionar seu ídolo é motivo suficiente para merecer as mais severas sanções canônicas, depois de clamar contra o cisma. Sua raiva se combina com um certo rancor, visto que apesar da minha decisão de não aparecer em público, minhas intervenções despertam interesse e alimentam um debate saudável sobre o Conselho e, de forma mais geral, [um debate saudável] sobre a crise da hierarquia eclesiástica. Não levo o crédito por ter iniciado esta disputa, pois antes de mim, Prelados eminentes e intelectuais de destaque, expuseram questões críticas que precisam de solução; outros mostraram a ligação causal entre o Concílio Vaticano II e a atual apostasia. Diante dessas inúmeras e bem argumentadas denúncias, ninguém jamais propôs respostas válidas ou soluções aceitáveis: pelo contrário, em defesa do totem conciliar, recorreram à deslegitimação dos interlocutores, à sua exclusão, bem como à acusação genérica de querendo minar a unidade da Igreja. E esta última acusação é tanto mais grotesca quanto mais evidente se torna o estrabismo canônico dos acusadores, que desembainham o malleus hæreticorum [martelo dos hereges], contra aqueles que defendem a ortodoxia católica, enquanto fazem reverências profundas aos eclesiásticos, religiosos-sj e teólogos que diariamente atacam o depositum fidei. Os dolorosos sofrimentos de muitos Prelados, entre os quais Monsenhor Lefevbre, confirmam que, mesmo na ausência de acusações específicas, há quem consiga usar as normas canônicas como instrumento de perseguição do bem, mas ao mesmo tempo evita aplicá-las ao bem. verdadeiros cismáticos e hereges.

Nesse sentido, como esquecer aqueles teólogos que foram suspensos do magistério, afastados dos Seminários ou espancados pela censura do Santo Ofício, e que justamente por seus próprios “méritos”, tiveram o benefício de serem chamados como consultores e especialistas do Conselho? Devemos incluir também aqueles rebeldes da teologia da libertação, que foram admoestados durante o pontificado de João Paulo II e que mais tarde foram reabilitados por Bergoglio; o anterior, sem falar dos protagonistas do Sínodo Amazônico e dos Bispos da Via Sinodal, promotores de uma herética e cismática Igreja nacional alemã. E sem omitir os bispos da seita patriótica chinesa, plenamente reconhecida e promovida pelo Acordo entre o Vaticano e a ditadura comunista de Pequim [6].

Padre de Souza e padre Weinandy: sem entrar no mérito dos argumentos apresentados por mim, que vocês descartam com desdém, como intrinsecamente cismáticos, [pelo menos] vocês deveriam ter a deferência certa para ler minhas intervenções, antes de censurar minhas pensamento. Neles encontrariam menção ao doloroso trabalho que nos últimos anos me fez compreender que fui enganado, precisamente por aqueles que, constituídos em autoridade - e que nunca pensei que fossem capazes de fazer -, trairiam quem neles depositou a sua confiança. Creio que não sou o único a ter compreendido este engano nem o único a denunciá-lo: leigos, clérigos e prelados, também se encontram na dolorosa situação de reconhecer uma fraude astuciosamente arquitetada; uma fraude -que em minha opinião- consistia em ter recorrido a um Conselho, para conceder autoridade aparente às instâncias dos Inovadores, e assim obter a obediência do Clero e do povo de Deus. E esta obediência foi exigida pelos Pastores - sem qualquer exceção -, para demolir a Igreja de Cristo por dentro.

Muitas vezes tenho escrito e declarado que foi justamente por causa dessa falsificação que os fiéis, respeitosos da autoridade da Hierarquia, não ousaram desobedecer, maciçamente, a imposição da doutrina heterodoxa e do rito protestantizado. Entre outras coisas, essa revolução não se completou de uma só vez, mas por meio de um processo em etapas, em que as inovações introduzidas ad experimentum se tornaram posteriormente a norma universal, com voltas cada vez mais apertadas. Também reafirmei em várias ocasiões que se os erros e equívocos do Vaticano II [Concílio] tivessem sido formulados por um grupo de bispos alemães e holandeses, mas sem cobri-los com o manto de autoridade que um Concílio ecumênico concede, provavelmente, Estes teriam merecido a condenação do Santo Ofício e os seus escritos teriam acabado no Índice [dos livros proibidos]: talvez tenha sido por isso que aqueles que derrubaram os planos preparatórios do Concílio, mais tarde no reinado de Paulo VI, se dedicaram a enfraquecer os Suprema Congregação, bem como para abolir o Index libroum proibitorum, no qual - em outras vezes - encontrariam seus próprios escritos.

Evidentemente, de Souza e Weinandy acreditam que não é possível mudar de opinião, que é preferível permanecer no erro do que andar nos próprios passos. No entanto, esta atitude é bastante estranha: uma multidão de Cardeais e Bispos; de padres e clérigos; de monges e freiras; de teólogos e moralistas; de leigos católicos e intelectuais, em nome da obediência à Hierarquia, sentiram-se compelidos a renunciar à Missa Tridentina e também a vê-la substituída por um rito copiado do Livro de Oração Comum, escrito por [Thomas] Cranmer. Com isso e em nome de um Concílio que também quis ser pastoral e não dogmático, foram descartados tesouros de doutrina, moral e espiritualidade, bem como um patrimônio artístico e cultural inestimável, que levou ao obscurecimento de dois mil anos do Magistério. Ouviu-se que a igreja conciliar finalmente se abriu para o mundo, que foi despojada do odioso triunfalismo pós-tridentino, dos incrustações dogmáticas medievais, do ouropel litúrgico, da moralidade sexfóbica de Santo Afonso, do noionismo do Catecismo de São Pio X [7], e o clericalismo da Cúria Pacelliana. Em nome do Vaticano II [Concílio], pediram-nos que renunciássemos a tudo: depois de mais de meio século, vemos que do pouco que parecia estar em vigor, nada se salvou!

No entanto, se repudiou a Igreja Católica pré-conciliar por ter abraçado a renovação conciliar, foi saudada como um gesto de grande maturidade, um sinal profético, uma forma de manter-se atualizado e, em última instância, algo inevitável e indiscutível, hoje, para repudiar uma experiência fracassada que levou ao colapso da Igreja, é considerado um sinal de incoerência ou insubordinação, segundo o adágio dos Inovadores: Não há como voltar atrás”. Naquela época, a revolução era considerada saudável e necessária, mas hoje [acontece que] a restauração é prejudicial e anuncia divisões. Naquela época e em nome de Aggiornamiento, o passado glorioso da Igreja podia e deveria ser negado. Hoje, ao se questionar sobre algumas décadas de desvios, ele é considerado cismático. E o que é ainda mais grotesco é que os defensores do Concílio são tão flexíveis com aqueles que negam o Magistério pré-conciliar, estigmatizando pelo qualificador jesuíta e infame, como rígidos, aqueles que - por coerência com esse mesmo Magistério - não podem aceitar ou Ecumenismo ou Diálogo Interreligioso (que deu origem aos Encontros de Assis [8] e Abu Dhabi [9]), nem [aceitando] a nova eclesiologia e reforma litúrgica, surgida do Vaticano II.

Obviamente, tudo isso não tem fundamento filosófico e menos ainda, fundamento teológico: o superdogma do Vaticano II prevalece sobre tudo, anula tudo, anula tudo; no entanto, ele não se permite sofrer o mesmo destino. E é precisamente isto que confirma que o Vaticano II, apesar de ser um Concílio Ecuménico legítimo - como já foi dito alhures - não é como os outros , porque se o fosse, os Concílios e o Magistério que o precedeu , deveriam ter sido considerados igualmente vinculantes (não apenas na palavra), evitando a formulação de erros - contidos ou implícitos - nos textos do Vaticano II. Civitas in se divisa [ou seja, a cidade está dividida] ...

De Souza e Weinandy não querem admitir que o estratagema adotado pelos Inovadores foi muito astuto: Conseguir a aprovação da revolução, daqueles que pensaram que era um Concílio Católico como o Vaticano I - e em aparente respeito por as normas-, foi declarado que era apenas um Conselho pastoral, e não um Conselho dogmático. Isso fez com que os padres conciliares acreditassem que de alguma forma os pontos críticos seriam consertados, os mal-entendidos seriam esclarecidos e algumas reformas seriam reconsideradas em um sentido mais moderado ... entretanto, os inimigos já haviam organizado tudo, nos mínimos detalhes. Pelo menos vinte anos antes da convocação do Concílio, houve quem ingenuamente acreditasse que Deus impediria o golpe dos Modernistas, como se o Espírito Santo pudesse agir contra a vontade subversiva dos Inovadores. Esta foi uma ingenuidade em que eu próprio caí junto com a maioria dos meus coirmãos e Prelados, que foram formados e criados com a convicção de que os Pastores e o Sumo Pontífice, antes de mais nada, deviam obediência. absoluto. Assim, os bons católicos, devido ao seu conceito distorcido de obediência absoluta, obedeciam incondicionalmente aos seus Pastores, sendo induzidos a desobedecer a Cristo, precisamente por aqueles que eram muito claros sobre os objetivos que propunham. Também neste caso, é evidente que o assentimento ao magistério conciliar não impediu - pelo contrário, exigiu como consequência lógica e inevitável - o desacordo com o perene Magistério da Igreja.

Passados ​​mais de cinquenta anos, ainda não queremos tomar conhecimento de um fato indiscutível: que quisemos utilizar um método subversivo adotado até agora na esfera política e civil, aplicando-o sine glossa na esfera religiosa e eclesial. Esse método, típico de quem - para dizer o mínimo - tem uma visão materialista do mundo, encontrou despreparados os padres conciliares que realmente acreditaram na ação do Paráclito; enquanto os inimigos sabiam: falsificar os votos nas Comissões, enfraquecer a oposição, obter derrogações aos procedimentos estabelecidos, apresentando uma norma aparentemente inócua, para depois extrair dela um efeito disruptivo e contrário. O fato de este Concílio ter ocorrido na Basílica do Vaticano, com os Padres vestindo a mitra e a capa pluvial ou o hábito de coro, e que João XXIII usando a tiara e o manto papal, foi perfeitamente consistente com a orquestração de uma cenografia, especialmente concebido para enganar os participantes e, de fato, tranquilizá-los de que, afinal, o Espírito Santo remediaria até mesmo a bagunça da subsistência ou os erros da liberdade religiosa.

A propósito, gostaria de citar um artigo publicado no Sétimo Céu, nestes dias, cujo título é: “Historiaizar o Concílio Vaticano II. Foi assim que o mundo daqueles anos influenciou a Igreja” [10]. Sandro Magister nos dá a notícia de um estudo do professor Roberto Pertici, referente ao Conselho, que recomendo a leitura na íntegra, mas que se pode resumir nestas duas citações:

«A disputa que incendeia a Igreja, sobre como julgar o Vaticano II, não deve ser exclusivamente teológica, porque antes de mais nada é necessário analisar o contexto histórico daquele acontecimento, especialmente para um Concílio que declarou querer“ abrir-se ao mundo".

«Bem sei que a Igreja - como reiterou Paulo VI em «Ecclesiam suam»[11] - está no mundo, mas não é do mundo, ou seja, tem valores, comportamentos e procedimentos próprios e que não podem ser julgados e enquadrado com critérios histórico-políticos totalmente mundanos. Por outro lado - deve-se acrescentar que - nem mesmo é um organismo separado. Nos anos 60 - e os documentos conciliares estão repletos de referências nesse sentido - o mundo caminhava para o que hoje chamamos de “globalização”. E já estava fortemente condicionado pela nova mídia de massa, então novas idéias e atitudes se espalharam muito rapidamente, fazendo emergir formas de mimetismo geracional. É impensável que um evento da amplitude e relevância do Concílio ocorresse no recinto da Basílica de São Pedro, sem contrastá-lo com o que estava acontecendo.

Em minha opinião, esta é uma chave interessante de leitura do Vaticano II, que corrobora a influência que o pensamento “democrático” exerceu sobre o Concílio. O grande álibi do Conselho foi apresentar, como decisão colegiada e quase plebiscitária, a introdução de mudanças que de outra forma seriam inaceitáveis. Na verdade, não foi o conteúdo específico dos Atos, nem seu futuro significado à luz do espírito do Concílio, que divulgou doutrinas heterodoxas que já circulavam nos círculos eclesiais do norte da Europa, mas sim o carisma da democracia, que quase inconscientemente, foi adotado por todo o Episcopado mundial, em nome de uma submissão ideológica, que por algum tempo viu muitos expoentes da Hierarquia, quase subordinados à mentalidade do século. O ídolo do parlamentarismo surgido da Revolução Francesa - que se mostrou tão eficaz na subversão da ordem social - deve ter representado para alguns Prelados uma etapa inevitável da modernização da Igreja, que foi aceita em troca de uma espécie de tolerância por parte do mundo contemporâneo que ainda era antigo e desatualizado, no que diz respeito ao que eles persistiam em propor. Este foi um erro muito sério! O sentimento de inferioridade por parte da Hierarquia, um sentimento de atraso e inadequação em relação às exigências do progresso e das ideologias, trai uma visão sobrenatural muito deficiente, e um exercício ainda mais deficiente, das virtudes teológicas: é a Igreja que que deve atrair o mundo para Si, convertendo-o, e não o contrário! O mundo deve se converter a Cristo e ao Evangelho, sem que Nosso Senhor tenha que ser apresentado como um revolucionário ao estilo de Che Guevara, e a Igreja como uma organização filantrópica que se preocupa mais com a ecologia do que com a salvação eterna das almas.

Ao contrário do que escrevi, de Souza afirma que chamei o Vaticano II de "conselho do diabo". Gostaria de saber onde você encontrou essas minhas palavras. Suponho que esta expressão se deva à tradução errônea e presunçosa do termo "conciliabolo", que segundo sua etimologia latina, não corresponde ao significado corrente na língua italiana. Partindo dessa tradução incorreta, ele infere que tenho "uma posição contrária à fé católica sobre a autoridade dos concílios ecumênicos". Se ele tivesse se dado ao trabalho de ler minhas declarações sobre o assunto, ele teria entendido que precisamente porque tenho a maior reverência pela autoridade dos Conselhos Ecumênicos e por todo o Magistério em geral, não posso conciliar os ensinamentos muito claros e ortodoxos de todos os Concílios até o Vaticano I, com os - ambíguos e às vezes até heterodoxos - ensinamentos do Vaticano II. E aparentemente eu não sou o único. Por sua vez, o próprio Padre Weinandy não consegue conciliar o papel de Vigário de Cristo com Jorge Mario Bergoglio, que é ao mesmo tempo detentor e destruidor do Papado. Mas contra toda lógica, para de Souza e para Weinandy, é possível criticar o Vigário de Cristo, mas não o Concílio, ou melhor: aquele Concílio, e apenas aquele. Na verdade, nunca encontrei tanta diligência em reiterar os cânones do Vaticano I, quando alguns teólogos falam de um “redimensionamento do Papado” ou de um “caminho sinodal”, e também não encontrei tantos defensores da autoridade do Tridentino, quando ela é negada a própria essência do sacerdócio católico.

De Souza pensa que com a minha carta dirigida ao Padre Weinandy [12], eu procurava um aliado: e mesmo que fosse esse o caso, não vejo nada de errado nisso, desde que tal aliança tenha por objetivo a defesa da Verdade no vínculo da caridade. Porém, minha intenção foi a que levantei desde o início, ou seja, possibilitar uma comparação a partir da qual alcancemos uma maior compreensão da crise atual e de suas causas, de tal forma que na época, a Autoridade do A igreja pode se pronunciar sobre isso. Nunca me permiti impor uma solução definitiva, nem resolver questões que vão além da minha função de Arcebispo, e que são da competência direta da Sé Apostólica. Portanto, não é verdade o que o padre de Souza afirma, muito menos o que o padre Weinandy me atribui de forma incompreensível, ou seja, que me encontro em um “pecado imperdoável contra o Espírito Santo”. Talvez ele pudesse acreditar em sua boa fé se ambos aplicassem a mesma severidade de julgamento a si mesmos e a seus adversários comuns, um fato que infelizmente não parece ser o caso.

Padre de Souza pergunta: «Cisma. Heresia. Trabalho do diabo. Pecado imperdoável. Por que essas palavras são agora aplicadas ao Arcebispo Viganò, por vozes respeitadas e atentas?» Acho que a resposta agora é óbvia: um tabu foi quebrado e uma discussão em larga escala sobre o Vaticano II começou, que até agora estava confinada a áreas muito restritas do corpo eclesial. E o que mais incomoda os partidários do Conselho é a constatação de que esta disputa não é sobre se o Conselho está aberto a críticas, mas sobre o que fazer para remediar os erros e as passagens ambíguas nele encontradas. E este é um fato comprovado, sobre o qual nenhum trabalho de deslegitimação pode agora ser empreendido: Magister, no Sétimo Céu, também escreve sobre isso referindo-se à "disputa que está incendiando a Igreja, sobre como julgar o Vaticano II" e as "controvérsias que periodicamente reabrem em vários meios de comunicação" católicos "sobre o significado do Vaticano II e o vínculo que existiria entre esse Concílio e a situação atual da Igreja". Fazer crer que o Concílio está livre de críticas é uma falsificação da realidade, independentemente das intenções daqueles que criticam a sua ambiguidade ou heterodoxia.

O padre de Souza também afirma que no LifeSiteNews, o professor John Paul Meenan, supostamente demonstrou "as fraquezas do argumento do arcebispo Viganò e seus erros teológicos" [13]. É para o professor Meenan que deixo o fardo de refutar minhas intervenções com base no que afirmo, e não no que eu não disse e que é deliberadamente deturpado. Aqui também podemos ver quanta indulgência é demonstrada para com os Atos conciliares, e quão implacável é a severidade, para aqueles que apontam as deficiências, a ponto de insinuar a suspeita de donatismo.

Quanto à famosa hermenêutica da continuidade, parece-me claro que é e continua a ser uma tentativa - talvez inspirada por uma visão um tanto kantiana dos acontecimentos da Igreja - de reconciliar um pré- concílio e um pós- concílio, como nunca antes foi necessário. A hermenêutica da continuidade é obviamente válida e deve ser seguida no discurso católico: na linguagem teológica chama-se analogia fidei [ou seja, analogia da fé] e é um dos pilares a que deve aderir o estudante das ciências sagradas. Mas aplicar este critério a um hapax que, precisamente por erro, conseguiu dizer ou insinuar o que deveria ter condenado abertamente, não faz sentido, porque pressupõe como postulado que existe uma coerência real entre o Magistério da Igreja e o "magistério" oposto ele, que atualmente é docente em Pontifícias Academias e Universidades, em Cátedras Episcopais e Seminários, bem como na pregação dos púlpitos. Mas embora seja ontologicamente necessário que toda Verdade seja coerente consigo mesma, ao mesmo tempo não é possível falhar no princípio da não-contradição, segundo o qual duas proposições mutuamente exclusivas não podem ser ambas verdadeiras. Portanto, não pode haver uma “hermenêutica de continuidade” para sustentar a necessidade da Igreja Católica de salvação eterna e, ao mesmo tempo, sustentar o que afirma a declaração de Abu Dhabi, que está em continuidade com o ensinamento conciliar. Portanto, não é verdade que rejeito a hermenêutica em si, mas apenas quando ela não pode ser aplicada a um contexto claramente heterogêneo. Mas se esta minha observação se revelar infundada e você quiser demonstrar suas deficiências, eu mesmo terei o maior prazer em negá-las.

No final do artigo, o Padre de Souza pergunta provocativamente: «Padre, curialista, diplomata, núncio, administrador, reformador, informante. É possível que, no final, um herege e um cismático também sejam acrescentados a essa lista?» Não pretendo responder às expressões ofensivas e gravemente ofensivas do Padre Raymond de Souza, certamente não adequadas a um cavalheiro ... Limito-me a perguntar-lhe: A quantos Cardeais e Bispos progressistas, seria supérfluo fazer a mesma pergunta, sabendo de antemão que a resposta é tristemente positivo? Talvez, antes de assumir cismas e heresias onde não existem, seja apropriado e mais útil combater o erro e a divisão onde eles se aninharam e se espalharam, ao longo das décadas.

São Pio X, rogai por nós!

+ Carlo Maria Viganò, arcebispo.

 

Fonte - marcotosatti

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