quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Malachi Martin e o satanismo no Vaticano.

Caros amigos, ontem o jornal Libero relançou uma informação publicada em um livro de dois autores ingleses, Stephen Klimczuk e Gerald Warner di Craigenmaddie, intitulado Guia dos lugares mais secretos do mundo, que, por sua vez, repropõe uma antiga tese presente no romance do ex-jesuíta Malachi Martin, Windswept House (“A casa varrida pelos ventos”), publicado em 1996 e nunca traduzido para o italiano. A tese de Martin, segundo a qual um rito satânico teria sido celebrado na Capela Paulina do Vaticano, já havia sido retomada e aprofundada no último mês de maio pelo blog Fides et Forma, de Francesco Colafemmina:
“De acordo com o romance, em 29 de junho de 1963, no Vaticano, mais precisamente na Capela Paulina, foi oficiado um ritual satânico com a participação de altos prelados, bispos, simples clero e leigos. Segundo Martin, tratava-se de cumprir uma profecia do satanismo moderno, que anunciava o início da era de Satanás no momento em que um Papa tomasse o nome de Paulo. O último Papa Paulo foi Camillo Borghese, que morreu em 1621. Em 21 de junho de 1963, por sua vez, o Cardeal Montini foi eleito Papa, tomando o nome de Paulo VI. Martin relata então que esse ritual satânico foi organizado no Vaticano na noite entre 28 e 29 de junho de 1963, uma semana após a eleição de Paulo VI, a fim de entronizar Satanás no coração da Cristandade”.
“Os satanistas  – escreve ainda Colafemmina – não puderam, no entanto, organizar um ritual completo: como poderiam trazer a vítima e o animal sacrifical ao Palácio Apostólico? Decidiram, então, combinar dois ritos a serem realizados ao mesmo tempo. Um, incruento, no Vaticano, na capela Paulina; e outro, cruento, a ser realizado nos EUA. Os rituais ocorreriam simultaneamente e iriam ser sincronizados através de um telefone. Quem o celebrou no Vaticano? Martin não diz. Fala apenas de prelados, sacerdotes e leigos. Quanto ao ritual paralelo ele é mais claro e conta que aconteceu em uma igreja paroquial, na Carolina do Sul, e o celebrou um tal “Dom Leo”. Um nome assim não deve ser casual. E, de fato, na diocese da Carolina do Sul encontramos, em 1964, o bispo Ernst Leo Unterkoefler”.
De acordo com o que se lê no romance de Martin, o ritual foi realizado na Carolina do Sul através de violência sexual contra uma criança, primeiramente drogada e depois abusada. Em vez disso, na Capela Paulina foi oficiado o ritual principal incruento, finalizado com a leitura de uma espécie de “consagração” do Vaticano a Satanás. Martin, que era secretário do Cardeal Bea, teria conhecido o conteúdo do Terceiro Segredo de Fátima e no romance, publicado pouco antes de sua morte e de toda forma antes de explodir o escândalo de pedofilia, fala dos abusos sexuais cometidos por expoentes do clero contra menores.
Na origem do ressurgimento desse obscuro e sinceramente inacreditável acontecimento, que tem todas as características do pior Dan Brown, está um episódio recente: um rito celebrado por Bento XVI em junho de 2010, ao fim da restauração da mesma Capela Paulina, que, como Colafemmina escreveu em maio passado, teria sido reconsagrada pelo próprio Papa por causa do ritual satânico que nela teria sido celebrado. Em 1972 Paulo VI (e, portanto, nove anos depois da suposta celebração perversa) falou da “fumaça de Satanás” dentro do templo de Deus, e é verdade que uma sugestão similar foi feita também pelo exorcista Padre Gabriele Amorth (mesmo que para mim ele tenha dito que a sua palavra a respeito tenha sido demasiadamente enfatizada).
O que de fato aconteceu? Podemos realmente imaginar que na Capela Paulina, no início do reinado de Paulo VI, importantes prelados tenham cometido o repugnante sacrilégio descrito por Malachi Martin? A prova do evento obscuro e sacrílego seria a reconsagração realizada pelo Papa Ratzinger. Após a publicação do artigo de Colafemmina em maio do ano passado, procurei a confirmação do círculo papal e recebi, pelo contrário, somente desmentidos pontuais.
Neste momento me encontro no Vaticano e ontem tive uma conversa com uma pessoa próxima ao Papa, que desmentiu novamente que Bento XVI tenha reconsagrado a Capela Paulina. Houve sim, disse-me ele, um serviço para a retomada da celebração do culto após os restauros e a instalação de um novo altar, mas não uma nova consagração. Fiz, pessoalmente, perguntas explícitas a respeito e esta foi a resposta, que lhes relato. Claro, eu poderia esperar um desmentido frio da parte da própria Sala de Imprensa a esse respeito, justamente por conta da enormidade noticiada pelo Libero e da circulação que a notícia teve.
Há, de toda forma, uma outra razão que me faz duvidar sobre os fundamentos do episódio descrito por Martin em sua reconstrução romanceada. Por que Paulo VI — que acreditava, e muito, na existência de Satanás — não reconsagrou imediatamente a Capela Paulina logo que viesse a conhecer o suposto rito satânico? Por que teria ele esperado, deixando escrito ao seu sucessor o que havia acontecido? E por que o seu segundo sucessor, João Paulo II, não teria feito, ao longo dos 27 anos de pontificado, ele que havia realizado exorcismos no Vaticano e que também falava muito freqüentemente da presença do diabo? Em suma, a história do rito satânico me parece ter todas as características de fábula…

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