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O Vaticano sabe por excelência que não há pior cunha do que a da mesma madeira. Viveu isso na Espanha do nacionalcatolicismo falangista, quando o ditador Franco quis erigir-se em chefe de uma Igreja nacional reclamando para si até a nomeação de bispos. Por discutir esse poder depois do Concílio Vaticano II, esteve a ponto de romper relações com a Santa Sé, que acabou cedendo. A reportagem é de Juan G. Bedoya e está publicada no jornal espanhol El País, 26-07-2011. A tradução é do Cepat. Roma volta a sofrer o mesmo problema frente à muito católica Irlanda, onde floresce o anticlericalismo de direita após se tomar conhecimento sem sombra de dúvidas que dezenas de milhares de rapazes e moças, de diversas classes e condições, sofreram décadas atrás todo tipo de abusos nas mãos de eclesiásticos diante da passividade das hierarquias, tanto civis como eclesiásticas. O relatório oficial com as infâmias enche 2.500 páginas e encheu de vergonha ou ira o coração da Irlanda e também do Reino Unido, para onde fugiram milhares de vítimas para superar as sequelas. Os números clamam ao céu, independentemente da posição de Bento XVI. Há documentos irrefutáveis que indicam que o atual pontífice, quando era cardeal Ratzinger, instruiu os bispos sobre como se comportar diante dos casos de pederastia entre seu clero. O fez desde a poderosa Congregação para a Doutrina da Fé, que é como se chama agora o Santo Ofício da Inquisição. Os prelados lhe tomaram a palavra. A ordem era levar os casos com delicadeza, tratar os criminosos com caridade e ocultar os crimes à autoridade civil. O princípio de tal estratégia é multissecular: cada bispo se acredita antes súdito do Estado do Vaticano do que de seu lugar de nascimento e de trabalho. Os tempos já não admitem situações semelhantes, nem sequer lá onde a maioria da população se diz católica. Acabou a impunidade, também para o império católico. Além disso, quando uma organização decide amontoar a roupa suja em casa, a sujeira acaba saindo pela janela com estrondo, sujando de forma irreparável toda a instituição. É verdade que Bento XVI pediu perdão em público, de maneira especial na Irlanda. Retificou, além disso, sua ordem do passado: os bispos devem agora colaborar para o esclarecimento de fatos criminosos de seus subordinados. Mas o Estado irlandês – o Governo e, sobretudo, a oposição – tem a impressão de que tudo isso não passa de palavras. O Vaticano chama para consultas o seu embaixador (núncio) em Dublin, talvez para respaldá-lo neste conflito. Melhor faria se urgisse se entender melhor com o Governo e com a sociedade. Os fatos são implacáveis, segundo o relatório oficial. Além disso, há dinheiro no meio, o que também conta numa crise especialmente aguda na Irlanda. Dos vários bilhões de euros em indenizações que as vítimas vão receber, apenas 10% serão arcados pelos bispos. É o resultado de um acordo de 2002 entre Dublin e a hierarquia católica. Um péssimo acordo, que agora se torna abusivo. O Executivo irlandês na época acreditava que as indenizações não ultrapassariam os 300 milhões de euros. Já foram pagos ou comprometidos 1,2 bilhão. |
Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. (Ef 5, 8-11)
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Cunhas da mesma madeira
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