[BBC]
País enfrenta maior seca em 60 anos, mas efeitos poderiam ser mitigados 
se houvesse esforço
se houvesse esforço
A ONU declarou recentemente que a  Somália está em estado de crise de fome e que dezenas de milhares de  pessoas morreram de causas  relacionadas  à desnutrição no país.
Mas quem tem responsabilidade pela situação somali?
No país e no vizinho Quênia, de onde  parte a ajuda humanitária, a maioria dos envolvidos no auxílio ao  Chifre da África estão ocupados demais para perder tempo apontando  culpados. Mas, ao mesmo tempo, muitos fazem críticas veladas.
O repórter da BBC Andrew Harding fez uma lista  de dez aparentes responsáveis pela situação somali, a partir de  conversas com especialistas, diplomatas, autoridades somalis, agentes  humanitários internacionais e algumas das próprias vítimas da fome.
A lista não inclui um agente óbvio, diz Harding: a seca, a pior dos últimos 60 anos na região.
1) Estados Unidos
O interesse americano pelos EUA é vinculado à “guerra ao terror”, à pirataria e a petróleo, segundo críticos.
Washington não quer nem pensar na possibilidade  de dinheiro de ajuda humanitária ir parar nas mãos da milícia islâmica  Al-Shabab, que controla grandes partes da Somália e tem elos com a  Al-Qaeda.
Isso resulta em uma atitude por vezes ambivalente na ajuda à Somália, que paralisa diversos programas humanitários cruciais.
2) O Programa Mundial de Alimentos (WFP), da ONU 
É a única organização com capacidade real de  acabar com a fome, mas, por conta de sua forte dependência do  financiamento americano – e por motivos políticos –, o WFP tem tido  dificuldade em obter garantias para acessar territórios do Al-Shabab.
Ausência de governo forte prejudica esforços na Somália
Para ser justo, o problema é  mais complexo do que isso: o WFP teve muitos de seus funcionários mortos  na Somália, o que lhe dá um motivo a mais para ser cauteloso.                      
E, dado seu tamanho, o programa tem dificuldade  em trabalhar discretamente, como fazem outras agências da ONU. Ao mesmo  tempo, a liderança do WFP, segundo se queixam alguns, tende a um estilo  de “diplomacia do megafone” que nem sempre lhe rende amigos.
3) O governo transitório federal da Somália 
Conhecido pela sigla TFG, o governo interino,  apoiado pelo Ocidente, é tão fraco, marginalizado e ausente da maioria  dos territórios, que o papel mais importante que pode desempenhar é o de  não atrapalhar as pessoas famintas.
Mas o TFG também simboliza, para alguns, a  falência global de tentar construir um Estado na Somália e pode até ter  ajudado a prolongar o conflito no país.
“Fale com as comunidades locais”, diz um  observador da Somália, em um conselho ao Ocidente. “Não adianta comprar  um governo só para ter um premiê com quem conversar.”
4) O Al-Shabab 
Bem, lembremos que o Al-Shabab é uma organização  “guarda-chuva”, e não coesa. Eles mataram agentes humanitários e  bloquearam o acesso da ajuda internacional. O que mais pode ser dito?
"Fale com as comunidades locais. Não adianta comprar um governo só para ter um premiê com quem conversar"
Declaração de um observador da situação somali, aconselhando os governos ocidentais
Algumas agências humanitárias aprenderam a  ignorar os porta-vozes da milícia e a se concentrar em conquistar a  confiança de líderes comunitários locais.
Para alguns na Somália, a crise de fome em curso  atualmente pode servir de gatilho para uma revolta popular contra o  Al-Shabab. Há sinais de que isso esteja ocorrendo, mas em escala  limitada.
5) A expressão "crise de fome" 
Ou seja, o hábito coletivo global de apenas encontrar o sentido de urgência e o dinheiro para agir quando já é tarde demais.
Se a comunidade internacional gastasse mais  dinheiro e esforços em programas de longo prazo que criassem estruturas  comunitárias, a crise de fome não teria ocorrido.
"O dobro de pessoas, mas a mesma quantidade de cabeças de gado. Isso é insustentável"
Especialista em agricultura da ONU, comentando aumento populacional no Quênia, vizinho da Somália
6) A imprensa 
A ONU produz uma montanha de documentos sobre  crises, mas os políticos só decidem agir quando o assunto chega ao  noticiário. A pergunta é: por que a crise de fome na Somália demorou  tanto para chegar ao noticiário?
7) O Quênia 
O país vizinho fez pouquíssimos investimentos em  infraestrutura e educação nas comunidades mais pobres, que não puderam  se preparar quando chegou a seca.
8) O resto do mundo 
A maior parte da África olha com indiferença  para a crise, bem como o Oriente Médio e muitos outros países. Será isso  uma resposta às falhas e à falência dos esforços humanitários na  Somália nos últimos 20 anos? Ou má-vontade?
9) As mudanças climáticas 
Todos compartilhamos a responsabilidade pelo  fato de que – caso a ciência esteja correta – as secas se tornarão mais e  mais comuns com as mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, é possível  mitigar os efeitos dessas secas.
Campo de refugiados de Dadaab vive explosão populacional
10) O crescimento populacional 
É um fator crucial. Em áreas ao norte do Quênia  (que faz fronteira a leste com a Somália), a população dobrou na última  década, segundo relatos.
“O dobro de pessoas, mas a mesma quantidade de  cabeças de gado. Isso é insustentável”, disse à BBC um especialista em  agricultura da ONU. A solução é fazer com que a explosão demográfica  ocorra em áreas sustentáveis, e não, por exemplo, em Dadaab, maior campo  de refugiados do mundo, que abriga no Quênia pessoas que escapam da  pobreza somali.
Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, o  campo - criado há 20 anos para receber quase 90 mil pessoas que fugiam  da violência da guerra civil na Somália - abriga hoje mais de 350 mil  pessoas, número que não para de crescer.
Veja também:
Fome na Somália
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