segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Irlanda aceita a oferta do Vaticano


[IHU]


5/9/2011  

O governo irlandês recebeu em geral positivamente, embora com cautela, a resposta do Vaticano ao relatório oficial sobre os abusos cometidos contra 40 menores por parte de 19 sacerdotes da diocese de Cloyne.
A reportagem é de Gerard O'Connell, publicada no sítio Vatican Insider, 04-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No seu primeiro comentário oficial, o ministro de Relações Exteriores, Eamon Gilmore, disse acolher a oferta do Vaticano de se comprometer com um diálogo construtivo e de cooperar em questões como a promoção do bem-estar dos menores e a luta contra o abominável flagelo dos abusos perpetrados por alguns homens da Igreja na república irlandesa.
Ele se referia às declarações contidas na resposta do Vaticano, em que a Santa Sé reiterou o seu próprio "compromisso com o diálogo construtivo e a cooperação com o governo irlandês, naturalmente, com base no respeito recíproco, de modo que todas as instituições, tanto públicas como privadas, religiosas ou laicas, possam trabalhar juntas para garantir que a Igreja e, de fato, a sociedade toda continuem sendo lugares seguros para as crianças e os jovens".
Em uma entrevista ao canal RTE, no programa Six One News da rede nacional, algumas horas depois da publicação da resposta da Santa Sé, Gilmore observou que o Vaticano havia expressado o desejo de se comprometer com um diálogo construtivo com o governo irlandês pela proteção e o bem-estar das crianças e declarou: "Essas são bases sobre as quais podemos construir".
"Certamente, é algo que eu estou disposto a abraçar como ministro de Relações Exteriores, e podemos nos comprometer oficialmente", declarou Gilmore.
"Além disso, penso que se trata de uma discussão que deve ocorrer publicamente, porque muitas das preocupações dos cidadãos sobre a necessidade de proteger os menores e sobre o modo em que esses temas foram tratados devem ser, creio eu, discutidas em público", acrescentou.
O ministro de Relações Exteriores estava na Polônia para um encontro da União Europeia quando o subsecretário para as Relações com os Estados, monsenhor Ettore Balestrero, deu a resposta à encarregada para as Relações Exteriores da Embaixada irlandesa junto à Santa Sé, Helen Keleher, durante um encontro no Vaticano, na manhã deste sábado, 3 de setembro.
Em uma declaração oficial divulgada poucas horas depois, Gilmore disse que o governo havia pedido uma resposta e agora tinha nas mãos um relatório "detalhado" de 25 páginas, que seria estudado atentamente. Falando para as emissoras irlandesa, ele acrescentou que o governo "apresentaria uma resposta detalhada".
Ele notou, com satisfação, que o Vaticano se declarou "arrependido e cheio de vergonha" pelos terríveis sofrimentos das vítimas de abuso sobre menores irlandeses e das suas famílias. Ele também enfatizou "a seriedade com que a Santa Sé examina as terríveis provas dos abuso perpetrados na diocese de Cloyne e em outros lugares".
Ele também disse à televisão irlandesa que espera que essas afirmações "satisfaçam de algum modo o profundo sentimento de raiva compartilhado pelos cidadãos irlandeses e pelo governo".
O ministro de Relações Exteriores, em sua declaração, observou que "alguns dos argumentos sugeridos pela Santa Sé na sua resposta são muito técnicas e focadas sobre temáticas jurídicas", enquanto "a preocupação do governo nunca se voltou ao status jurídico da documentação, mas sim ao bem-estar das crianças".
Ele afirmou que o abuso sexual sobre os menores "é um crime hediondo e condenável, e que não é possível que as operações relativas à verificação do status dos documentos impeça, a quem detém posições de responsabilidade, que se ocupe desses abusos e os denuncie às autoridades competentes".
O ministro Gilmore acrescentou que "o sentimento de traição que foi sentido pelo povo irlandês sobre esse assunto e que foi claramente expresso pelo Taoiseach [primeiro-ministro], nasce não só da própria natureza dos abusos de menores, mas também da particular posição que a Igreja Católica detém neste país, que se manifestou de várias formas ao longo dos anos".
Depois, ele continuou falando sobre a intervenção do Vaticano sobre as diretrizes do documento-quadro adotado pelos bispos irlandeses em 1996 para enfrentar os casos de abuso, que assumiu características muito controversas na Irlanda, e foi um elemento-chave no ataque por parte das autoridades irlandesas no Vaticano.
A Congregação para o Clero tinha manifestado reservas sobre o documento-quadro e havia deixado isso claro aos bispos irlandeses em uma carta do Núncio Apostólico, Mons. Storero, em janeiro de 1997. O ministro das Relações Exteriores acusou o Vaticano de ter, assim, "fornecido um pretexto para algumas pessoas para evitar a plena cooperação com as autoridades civis irlandesas".
Na sua declaração oficial, ele reiterou ainda ser da mesma opinião. Mais tarde, nos canais irlandeses, ele entrou em mais detalhes, afirmando: "Não tenho nenhuma dúvida de que a carta publicada em 1997 levou alguns sacerdotes a não se sentirem obrigados a cooperar com as autoridades civis como deveriam. Eu sou dessa opinião. Mas, obviamente, vou ler a resposta detalhada apresentada pelo Vaticano".

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