04 Sep 2011
A Palavra do Sacerdote | |||
Pergunta
1 — Já ouvi falar que o milagre de Fátima é de ordem espírita, sendo a
Virgem uma aparição e, os três pastorinhos, médiuns que conseguiram ver,
ouvir e falar com a Virgem. Como me defender quando questionada por
adeptos da doutrina espírita?
Resposta —
Segundo a doutrina espírita, as almas das pessoas falecidas podem
comunicar-se com os vivos, quando invocadas por estes, em geral através
de pessoas especialmente aptas a captar as mensagens desses espíritos.
Tais pessoas serviriam, pois, deintermediários entre as almas dos mortos e os vivos: daí o nome demédiuns.
Segundo
os adeptos da doutrina espírita que assediam a nossa consulente, os
pequenos videntes de Nossa Senhora em Fátima teriam sido médiuns que retransmitiam para os circunstantes quanto ouviam da Virgem Santíssima, a qual, ademais, lhes aparecia visivelmente.
Não
é de hoje que sectários do espiritismo apresentam tal versão das
aparições marianas de Fátima (1917). Mas, nessa lógica, tal versão se
aplicaria também às aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré,
na Rue du Bac, em Paris (1830); em La Salette (1846); a Santa
Bernadette, em Lourdes (1858); e a todas as demais, de Nosso Senhor
Jesus Cristo e de Santos, ocorridas ao longo de dois mil anos de
história da Igreja.
Com
isso, todo o capítulo das aparições e visões sobrenaturais é
questionado com a interpretação insofismável da Santa Igreja Católica.
Com quem está a razão?
Destino das almas após a morte
Com
a morte, o corpo se desintegra e a alma — que é espiritual e, portanto,
imortal — se destaca do corpo, sendo julgada por Deus nesse preciso
momento. É o juízo particular. Se ela está absolutamente isenta de
pecado, mesmo venial e sem nenhuma culpa a pagar — o que é raríssimo —
vai imediatamente para o Céu.
Se
a pessoa morreu em estado de graça, isto é, arrependida de todos os
pecados mortais que cometeu e foi deles absolvida por confissão válida
ou por um ato de contrição perfeita, mas ainda tem culpas a pagar, vai
para o Purgatório. Ali ela é purificada de todas as manchas e de todo
afeto ao pecado, mesmo venial, que ficaram na sua alma e que a impedem
de ver a Deus face a face no Céu. Essa purificação é um processo
doloroso para a alma, porque nada é mais difícil do que se corrigir dos
modos errados de ver e julgar as coisas, e das tendências para o mal
que, devido ao pecado original e aos pecados atuais, permanecem em nós
até o momento da morte.
Por
isso a doutrina católica tradicional compara esse processo de
retificação da alma a um fogo purificador. Mas um fogo de natureza
especial que queima as almas, como o fogo da Terra queima os corpos.
Quando nesta Terra rezamos e fazemos sacrifícios pelas almas do
Purgatório, nós aceleramos esse processo de purificação, arcando com
parte do sofrimento delas. E, sobretudo, quando oferecemos por elas o
Santo Sacrifício da Missa, pedindo a Deus que lhes aplique os méritos
infinitos do sacrifício redentor de Cristo.
Purificada
assim por esse processo — que pode ser mais ou menos extenso e doloroso
— a alma está em condições de ser levada para o Céu, onde ela se
reunirá a todos aqueles que a precederam in signum fidei (com o
sinal da fé), como diz a Liturgia da Santa Igreja. E no Céu ficará
aguardando a ressurreição geral dos corpos, no fim do mundo, quando cada
alma se reunirá ao respectivo corpo, restaurado na plenitude do seu
vigor e sublimado no esplendor de um corpo celestial.
Dos
que cometeram a loucura de voltar suas costas a Deus pelo pecado mortal
e morreram nesse estado, não falemos deles, mas apliquemos o conselho
do poeta Dante: “non ragioniam’ di lor’, ma guarda e passa” (não
falemos deles, apenas olhe e passe adiante). O seu destino é o fogo
eterno do inferno, que queima as almas e os corpos, sem nunca
extingui-los.
As almas antes da ressurreição dos corpos
Diferentemente
dos anjos, que são puros espíritos, as almas humanas precisam do corpo
para se manifestarem e exercerem as suas funções normais. Assim, estejam
no Purgatório ou já no Céu, elas não têm por si próprias os meios de se
comunicarem com os homens que estão neste mundo. A doutrina espírita se
dispensa de explicar como isso é possível, e imagina que forças
mediúnicas atraiam as almas para esta Terra a fim de se comunicarem com
os homens. Isto só seria possível com a permissão divina, e com a
intermediação de anjos que serviriam como que de alto-falantes para
essas almas, destituídas como estão de boca e cordas vocais. Daí o
fundado receio da Santa Igreja de que os demônios, que são anjos
decaídos, sirvam de intermediários para as almas que estão sob seu poder
no inferno, para sob pretextos alegadamente bons virem a esta Terra
atormentar os vivos com comunicações ou práticas funestas. Por isso a
Igreja proíbe terminantemente que os fiéis católicos participem — sob
pena de excomunhão — de sessões espíritas, ainda que se apresentem como
meros expectadores e declarem expressamente que não querem tomar nenhum
contacto com os espíritos malignos.
Visões e comunicações celestiais
Não
há, portanto, razão alguma para supor que as visões e comunicações
celestiais, como as de Fátima, Rue du Bac (Medalha Milagrosa), La
Salette, Lourdes, e tantas outras reconhecidas pela Igreja como dignas
de crédito, como as do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria
(século XVII), se enquadrem no marco da doutrina espírita.
Depois
da Revelação oficial do Novo Testamento – que terminou com a morte do
último Apóstolo –, tudo quanto era estritamente necessário aos homens
cumprir para alcançar a salvação eterna lhes vem sendo transmitido
fielmente pela Tradição católica e é custodiado pelo Magistério
infalível da Igreja. Porém Deus tem julgado conveniente fazer
comunicações especiais para orientar os homens em certas circunstâncias
históricas. São as chamadas revelações particulares feitas a almas
escolhidas. O modo dessas comunicações apresenta uma vasta gama de modos
e aspectos, às vezes dando origem a grandes santuários muito conhecidos
e procurados pelos fiéis, como, por exemplo, o de Lourdes na França.
Querer associar essas comunicações ao esquema mediúnico da doutrina
espírita é uma arbitrariedade sem qualquer fundamento nos fatos.
A
consulente pode ficar tranqüila e desdenhar o assédio dos sequazes
dessa doutrina, que não passa de mera elucubração sem nenhum valor
religioso ou intelectual.
* * *
Pergunta
2 — Gostaria de saber como é que a pessoa pode reconhecer quando a
Virgem lhe faz uma comunicação. Passa-se algo através da medalha de
Nossa Senhora que ela usa? Ou a Virgem lhe aparece? Tenho muita
curiosidade... Se me pudessem ajudar, lhes agradeceria.
Resposta —
Além das revelações particulares citadas na resposta anterior há também
as locuções interiores que o Espírito Santo pronuncia no recôndito das
almas. Caso se trate de uma alma boa e reta, que Nossa Senhora quer
atrair para uma maior santificação pessoal, Ela pede ao Espírito Santo
como Esposa, que fale no interior dessas almas. Não há nenhum
inconveniente teológico em dizer que é Nossa Senhora quem fala no
interior de nossas almas.
Como
reconhecer que a procedência dessa locução interior é da Virgem Mãe de
Deus? É muito simples: se essa locução nos leva a um sentimento mais
humilde de nós mesmos e à prática generosa da virtude ou de qualquer
forma de bem, podemos estar certos de que é Nossa Senhora que está
falando. Não é preciso que Nossa Senhora nos apareça e fale visivelmente
conosco. Ela pode falar no interior de nossas almas, como foi
explicado.
Mas
se essa voz nos leva a qualquer forma de vanglória, cuidado: pode ser o
demônio querendo nos sugerir a idéia de possuirmos um grau de santidade
que não atingimos!
Com
esses cuidados devidamente tomados, estejamos atentos à voz de Nossa
Senhora e tenhamos a docilidade de pô-la em prática, segundo a palavra
da Escritura: “Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Ps 94,8).
Ora,
a melhor resposta que podemos dar a Nossa Senhora é sermos muito
devotos d’Ela, pensarmos n’Ela frequentemente, falarmos interiormente
com Ela muitas vezes. É o conselho de ouro que São Luis Grignion de
Montfort apresenta no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n° 166, e que transmito aqui à prezada consulente.
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
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