domingo, 11 de dezembro de 2011

O céu prometido por Deus e esperado pela Igreja: estar com Cristo!

Do blog [costa_hs]


No texto que postei anteriormente quis mostrar qual a concepção de Israel sobre o céu, tal como aparece nas Escrituras Sagradas do Antigo Testamento. E o Novo Testamento, que traz o cumprimento em Cristo de tudo quanto o Deus de Abraão, Isaac e Jacó prometera, o que diz?

Jesus, nosso Senhor, referiu-se freqüentemente ao céu, chamando-o de reino, reino de Deus, reino dos céus, paraíso, glória, céu, visão de Deus. Estas imagens exprimem a bem-aventurança, a felicidade e, para isto, recordam as experiências de plenitude que o povo da Bíblia conhecia bem, dando a idéia de gozo supremo de uma vida plenamente realizada. Vejamos as principais imagens e noções que no Novo Testamento merecem destaque. Todas elas, juntas, dão-nos uma bela idéia do que o Novo Testamento quer ensinar sobre o céu.

1. Banquete messiânico e convite para as bodas (cf. Mt 22,1-10; 25,1-10; Lc 12,35-38; 13,28s; 14,16-24) - Estas imagens já estão presentes no Antigo Testamento (cf. Is 25,6). As bodas e o banquete recordam os instintos prioritários do homem, como a conservação da espécie (núpcias) e a autopreservação (banquete). Sexualidade e nutrição estão ligadas à vida. O céu é vida, é gozo! Outra coisa importante é o caráter comunitário destas imagens: aí a alegria não é de um só, é compartilhada! Tanto nas núpcias quanto no banquete ninguém está sozinho: a alegria, a vida são comuns a todos os participantes. O mesmo sentido comunitário encontra-se nas imagens de cidade celeste, nova Jerusalém (cf. Ap 21,9ss). Na Bíblia o céu nunca é coisa somente para um indivíduo!

2. Reino de Deus - Esta expressão mostra a Vida eterna como presença triunfante de Deus que enche com sua majestade toda a humanidade e toda a criação. Com esta imagem aparece claro que o final e a finalidade da história são primeiramente a manifestação da glória de Deus: esta glória encherá toda a criação e todos juntos seremos glorificados, plenificados! Mais uma vez: a Bíblia não pensa na glória do céu como uma coisa simplesmente individual: é a criação toda, a história toda, a humanidade toda que participarão da glória de Deus! Por isso mesmo a Igreja, que é a comunidade dos que foram salvos, é a melhor imagem do reino; imagem e início. Seria um grande erro, uma traição à Bíblia, pensar o céu como uma coisa entre Deus e o indivíduo sozinho!

3. Paraíso - Esta imagem vem de Gênesis 2, do paraíso original, mas quer se referir ao futuro, àquilo que Deus nos prepara como nossa plenitude definitiva. Assim, o paraíso torna-se não somente uma recordação do Gênesis, mas uma esperança de realização plena no futuro, quando o desígnio inicial de Deus consumar-se-á ao fim.

4. Visão de Deus - Visão, aqui, tem um sentido muito profundo, próprio do mundo bíblico. Ver a Deus é participar na sua vida, viver na sua presença. A idéia de visão de Deus vem da idéia oriental de ver o rei. Para um oriental somente os cortesãos gozavam da intimidade real: os que se sentavam à mesa do rei eram destinguidos pela familiaridade com ele: viam o rei! Ver o rei é participar do seu banquete, da sua mesa, da sua vida e da sua amizade! Aí há não só a idéia de comunhão, mas também a de participação de muitos nesta comunhão. Que idéia belíssima: comunhão com o rei e com os outros convidados! A visão de Deus deve ser entendida também como mútua compenetração daquele que conhece e daquele que é conhecido: estaremos em plena comunhão com Deus; vamos estar com ele sem nenhum intermediário! Trata-se de uma imediatez somente possível no encontro direto de pessoa a pessoa: ao conhecimento parcial, sucederá o conhecimento tal e qual Deus conhece (cf. 1Jo 3,2).

5. Vida eterna - Esta designação é usada nos evangelhos sinóticos como fase final do Reino: o Reino é a Vida eterna. Aí encontram-se frases como: “é melhor entrar no Reino” ou “é melhor entrar na Vida...” (cf. Mc 9,43-48). É o Evangelho de João, no entanto, quem mais aprofunda esta idéia. Para ele a Vida eterna é já possuída agora pela fé: quem crê no Cristo tem a Vida eterna, ou, simplesmente a Vida (cf. Jo 3,36; 5,24; 6,47.53s; 1Jo 3,14; 5,11.13). Cristo é a fonte desta Vida que estava nele desde toda a eternidade (cf. Jo 1,4; 1Jo 1,1); ele possui a vida (cf. Jo 6,57; 14,19) e, ainda mais: é a Vida (cf. Jo 11,25; 14,6; 1Jo 5,20). Este dom da Vida é eterno, definitivo, pois trata-se de ser revestido da própria Glória de Cristo (cf. Jo 14,3; 17,24). Esta Vida é possuída como dom do Pai através do Filho (cf. 1Jo 5,11), fazendo o crente viver na comunhão com o Pai e o Filho... de tal modo que a Vida eterna é a plenitude do amor (cf. Jo 17,26).

6. Estar com Cristo - Esta é, sem dúvida, a expressão que melhor exprime a esperança cristã: ver-conhecer a Deus é ver o Cristo ressuscitado tal qual é (cf. 1Jo 3,2), é morar junto do Senhor Jesus glorificado (cf. 2Cor 5,8). Ter a Vida já aqui na terra é crer em Cristo, escutar sua palavra, comer sua carne e beber seu sangue. Isto será pleno no céu! A participação do ser de Deus é, portanto, participação no ser de Cristo ou “estar com Cristo”. Nos evangelhos sinóticos encontram-se muitas referências a este estar com o Senhor: a parábola do convite às bodas (cf. Mt 22,1-14), as dez virgens (cf. Mt 25,1-13), a promessa do Senhor de beber o fruto da vide com os discípulos no Reino do Pai (cf. Mt 26,29), o convite a entrar na alegria do Senhor (cf. Mt 25,21.23). Particularmente interessante é a palavra de Jesus ao ladrão: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,42s). Aqui o importante é o “comigo”: o que importa é o estar com Cristo, na sua companhia, associado intimamente a ele, compartilhando a sua vida, na comunhão com o destino glorioso do Senhor. Assim, a mais importante da salvação é “estar com Cristo”. Por isso mesmo Paulo usa com freqüência a fórmula “com (em) Cristo”: “Assim estaremos sempre com o Senhor” (1Ts 4,17); “Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos do corpo para morar junto do Senhor” (2Cor 5,8); “Estou como que na alternativa. Pois de um lado desejo partir para estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fl 1,23). Nos escritos de São João aparece esta mesma idéia: “Pai, quero que os que me deste estejam também comigo onde eu estiver, para que vejam esta minha glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17,24); “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos juntos” (Ap 3,20); “Quando tiver ido e tiver preparado um lugar para vós, voltarei novamente e vos levarei comigo para que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14,3).
Eis a conclusão de tudo isto, caro Leitor meu: o que se denomina Reino de Deus, paraíso, visão de Deus, Vida eterna, resume-se em estar com Cristo numa existência definitiva e numa comunhão plena. Onde está o Cristo está o Reino. A promessa feita no Antigo Testamento aos patriarcas (uma terra, um país, bens materiais) agora virou uma pessoa: Jesus Cristo, ele é a nossa promessa! Toda a plenitude dos bens messiânicos condensa-se na figura do Filho e na comunhão gloriosa com ele! Nosso céu é estar com Cristo!

 

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