31/05/2012
A reportagem é de Giovanni Maria Vian, publicada no jornal L'Osservatore Romano, 30-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que dizer sobre o estado de ânimo de quem trabalha na Santa Sé? "Com as pessoas que encontramos nestas horas – responde o sostituto –, nos olhamos nos olhos e certamente lemos confusão e preocupação, mas também vi decisão em continuar o serviço silencioso e fiel ao papa". Uma atitude que se respira todos os dias na vida dos escritórios da Santa Sé e do pequeno mundo vaticano, mas que obviamente não faz notícia no dilúvio midiático que se desencadeou após os fato graves e de acordo com muitas opiniões desconcertantes desses dias.
Nesse contexto, Dom Becciu mede com atenção as palavras para sublinhar "o resultado positivo" da investigação, mesmo que se trate de um resultado amargo. As reações em todo o mundo, além disso, de um lado justificadas, de outro "preocupam e entristecem pelas modalidades da informação, que desencadeiam fantasias sem nenhuma correspondência na realidade".
Eis a entrevista.
O que dizer sobre o estado de ânimo de quem trabalha na Santa Sé? "Com as pessoas que encontramos nestas horas – responde o sostituto –, nos olhamos nos olhos e certamente lemos confusão e preocupação, mas também vi decisão em continuar o serviço silencioso e fiel ao papa". Uma atitude que se respira todos os dias na vida dos escritórios da Santa Sé e do pequeno mundo vaticano, mas que obviamente não faz notícia no dilúvio midiático que se desencadeou após os fato graves e de acordo com muitas opiniões desconcertantes desses dias.
Nesse contexto, Dom Becciu mede com atenção as palavras para sublinhar "o resultado positivo" da investigação, mesmo que se trate de um resultado amargo. As reações em todo o mundo, além disso, de um lado justificadas, de outro "preocupam e entristecem pelas modalidades da informação, que desencadeiam fantasias sem nenhuma correspondência na realidade".
Eis a entrevista.
Era possível reagir com mais rapidez e completude?
Houve,
há e haverá um respeito rigoroso das pessoas e dos procedimentos
previstos pelas leis vaticanas. Tão logo apurado o fato, no dia 25 de
maio, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou
a notícia, embora tenha sido um choque para todos e isso tenha criado
um pouco de desorientação. Além disso, a investigação ainda está em
curso.
Como você encontrou Bento XVI?
Entristecido.
Porque, de acordo com o que se pôde apurar até agora, alguém próximo a
ele parece ser responsável por comportamentos injustificáveis sob
qualquer perfil. Certamente, prevalece no papa a piedade pela pessoa
envolvida. Mas o fato é que o ato sofrido por ele é brutal: Bento XVI viu
serem publicadas cartas roubadas da sua casa, cartas que não são
simples correspondência privada, mas sim informações, reflexões,
manifestações de consciência, até mesmo desabafos que ele recebeu
unicamente em razão do seu próprio ministério. Por isso, o pontífice
está particularmente entristecido, até por causa da violência sofrida
pelos autores das cartas ou dos escritos endereçados a ele.
O senhor pode formular uma opinião sobre o que aconteceu?
Considero
a publicação das cartas roubadas um ato imoral de inaudita gravidade.
Acima de tudo, repito, porque não se trata unicamente de uma violação,
já em si muito grave, da discrição à qual qualquer um teria direito, mas
sim de um vil ultraje à relação de confiança entre Bento XVI e
quem se dirige a ele, mesmo que fosse para expressar protestos em
consciência. Raciocinemos: não foram roubadas simplesmente cartas do
papa, violentou-se a consciência de quem a ele se dirige como vigário de
Cristo e se atentou contra o ministério do sucessor do apóstolo Pedro.
Em vários documentos publicados, encontramo-nos em um contexto que se
presume de total confiança. Quando um católico fala com o Romano
Pontífice, está no dever de se abrir como se fosse diante de Deus, até
porque ele se sente garantido pela absoluta discrição.
Quis-se justificar a publicação dos documentos com base em critérios de limpeza, transparência, reforma da Igreja.
Os
sofismas não levam muito longe. Os meus pais me ensinaram não só a não
roubar, mas também a nunca aceitar coisas roubadas de outros. Parecem-me
princípios simples, talvez demasiado simples para alguns, mas o certo é
que, quando alguém os perde de vista, facilmente perde a si mesmo e
leva outros também à ruína. Não pode haver renovação que pisoteie a lei
moral, talvez com base no princípio de que o fim justifica os meios, um
princípio que, dentre outras coisas, não é cristão.
E o que responder a quem reivindica o direito de expressão?
Eu
penso que, nestes dias, por parte dos jornalistas, juntamente com o
dever de prestar contas do que está acontecendo, deveria haver também um
choque ético, isto é, a coragem de um distanciamento claro da
iniciativa de um de seus colegas que eu não hesito em definir como
criminosa. Um pouco de honestidade intelectual e de respeito pela ética
profissional mais elementar certamente não faria mal ao mundo da
informação.
De acordo com vários comentários, as cartas publicadas revelariam um mundo obscuro dentro da Igreja, especialmente na Santa Sé.
Por
trás de alguns artigos, parece-me encontrar uma hipocrisia de fundo. De
um lado, acusa-se o caráter absolutista e monárquico do governo central
da Igreja; de outro, escandalizamo-nos porque alguns, ao escrever ao
papa, expressam ideias ou também lamentações sobre a organização do
próprio governo. Muitos documentos publicados não revelam lutas ou
vingança, mas sim aquela liberdade de pensamento que, ao contrário, se
critica a Igreja por não permitir. Enfim, não somos múmias, e os
diversos pontos de vista, até mesmo as avaliações contraditórias, são
bastante normais. Se alguém se sente incompreendido tem todo o direito
de se dirigir ao papa. Onde está o escândalo? Obediência não significa
renunciar a ter uma opinião própria, mas sim manifestar com sinceridade e
até o fundo o próprio parecer, para depois se adequar à decisão do
superior. E não por cálculo, mas sim por adesão à Igreja querida por
Cristo. São elementos basilares da visão católica.
Lutas, venenos, suspeitas: o Vaticano é realmente assim?
Eu não percebo esse ambiente dessa forma, e desagrada que se tenha uma imagem tão deformada do Vaticano.
Mas isso deve nos fazer refletir e estimular a todos nós a nos
comprometermos até o fim para fazer transparecer uma vida mais marcada
pelo Evangelho.
O que dizer, enfim, aos católicos e aos que olham com interesse para a Igreja?
Eu falei da dor de Bento XVI,
mas devo dizer que não falta ao papa a serenidade que o leva a governar
a Igreja com determinação e clarividência. Está prestes a ser aberto em
Milão o Encontro Mundial das Famílias.
Serão dias de festa, em que se respirará a alegria de ser Igreja.
Façamos nossa a parábola evangélica que o Papa Bento XVI nos recordou há
poucos dias: o vento se abate sobre a casa, mas esta não ruirá. O
Senhor a sustenta e não haverá tempestades que possam abatê-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário