Vaticano aceita renúncia de bispo argentino

28/06/2012

UNISINOS - A Santa Sé encerrou rapidamente o caso do bispo argentino Fernando Bargalló (foto), após a publicação na imprensa de fotografias embaraçosas dele com uma mulher na praia mexicana de Puerta Vallarta. O Papa Bento XVI aceitou a renúncia antecipada do titular da diocese de Merlo-Moreno. Assim, acabou com o escândalo que já deu a volta pelo mundo.

A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez, publicada no sítio Vatican Insider, 26-06-2012. A tradução é do Cepat.

Segundo informou a coletiva de imprensa do Vaticano, a renúncia foi acolhida de acordo com o parágrafo 402.2 do Código de Direito Canônico, a lei fundamental da Igreja Católica. O mesmo prevê renúncias antecipadas de prelados por enfermidade ou “motivos de força maior”. O Pontífice também designou Alcides Jorge Pedro Casaretto, bispo emérito da diocese de San Isidro, como administrador apostólico de Merlo-Moreno.

O caso de Fernando Bargalló, também presidente da Cáritas na América Latina, deslanchou-se em poucos dias.

Tudo começou na terça-feira, dia 19 de junho, quando durante a manhã foi abordado por um jornalista que lhe mostrou as imagens. Num primeiro momento, o prelado as ignorou, entretanto, mais tarde, em meio a uma tempestade midiática, reconheceu sua veracidade e pediu perdão por sua ligeireza.

Nesse mesmo dia, a agência de notícias AICA, da Conferência Episcopal Argentina, emitiu um comunicado pelo qual Bargalló sustentou que a mulher retratada era uma amiga de sua infância, negando manter uma relação amorosa com ela. Nesse momento, ele já tinha consultado o presidente dos bispos e pastor de Santa Fé, José María Arancedo. Como também se comunicou com o núncio apostólico, Emil Paul Tscherring.

O embaixador do Vaticano, em Buenos Aires, que só teve conhecimento do caso por meio da imprensa, imediatamente informou Roma. Enquanto isso, com o passar das horas, cresceu o transtorno e a indignação nos círculos eclesiásticos argentinos.

A primeira defesa apresentada pelo bispo, diante do núncio Tscherring, foi a de que o vazamento das fotografias correspondeu a um “complô político” contra ele. É publicamente conhecido, nos últimos anos, o enfrentamento entre Bargalló e o atual intendente do Partido de Merlo, Raúl Othacehé. Porém, também têm sido legendárias as cruzes entre a Igreja Católica e a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, devido aos números oficiais da pobreza.

Existem outros elementos que abonam a tese de complô. Como foi apresentado na imprensa, nos últimos dias, a aventura do bispo e sua amiga foi planejada com muito cuidado para que não fosse descoberta. Ambos viajaram, primeiramente, aos Estados Unidos, em dias diferentes, e por distantes companhias áreas. Depois que estavam lá, foram para o México, local em que visitaram várias praias.

As fotografias são de 2011 e foram tiradas no luxuoso complexo Villa Puerto Ángeles, de Puerto Vallarta, no Pacífico mexicano. Apenas um trabalho de espionagem seria capaz de cobrir os detalhes da aventura, organizar uma sequência, obter as fotos e entregá-las para a imprensa. Quem estava com elas, decidiu guardá-las por quase dois anos e escolheu o momento certo para publicá-las.

Por isso, não se pode descartar completamente a “pista eclesiástica”. Bargalló, de 57 anos, era um dos candidatos para substituir Jorge Mario Bergoglio, atual arcebispo de Bueno Aires. O cardeal primaz da Argentina completou os 75 anos, no dia 17 de dezembro, e apresentou sua renúncia obrigatória ao Papa, de acordo com a lei da Igreja. A divulgação das fotos foi um duro golpe, que não somente deixou o prelado de Merlo fora de combate, como também seus eventuais propulsores.

O escândalo chegou a tal nível, no final da semana passada, que obrigou seu protagonista a convocar o presbitério de sua diocese para uma reunião extraordinária. Nela, diante de seus sacerdotes, finalmente aceitou sua relação sentimental com a mulher, de 55 anos, com quem efetivamente mantém vínculos de amizade desde a infância. E anunciou sua renúncia.