avidasacerdotal
PRÓLOGO
Cruz da Ordem Templária esculpida em pedra encontrada em Tomar, Portugal.
Uma,
e depois outra, e até três vezes, se não me engano, havias me pedido,
caríssimo Hugo, que dirigisse a ti e a teus companheiros algumas
palavras de alento que, se não prejudicassem a lança, vibrassem pelo
menos a pena contra o inimigo tirano. E que sempre me afirmavas que
tinham de ser um grande estímulo, para que, por não ser possível
ajudarmos com as armas, os exortasse e animasse com meus escritos.
Demorei algum tempo em satisfazer teus desejos, não porque desdenhasse
teu pedido, antes temendo que, se o aceitasse, me culpassem de
precipitado e rápido, posto que, podendo fazê-lo qualquer outro melhor,
presumia eu de poder sair airoso de tal empresa,
e assim, prejudicava o fruto que podia se obter de coisa tão
necessária. Mas ao ver que ,minha grande demora de nada me servia, pois
insistias uma e outra vez, ainda que incompetente, decidi-me a fazer o
que estava em mim. O leitor
julgará se satisfiz seus desejos. Embora certamente, como escrevi este
opúsculo senão para contentar-te e aceder ao que me pedias, não me
preocupa muito que agrade àqueles que o lerem.
CAPÍTULO I
Elogio à Nova Milícia
Ouve-se dizer que um novo gênero de milícia acaba de nascer na terra, e
precisamente naquela região onde antigamente viera nos visitar em carne o
Sol Oriente, para que alí mesmo onde expulsou com o poder de seu
robusto braço os príncipes das trevas, expulse agora os satélites
daqueles, filhos da infidelidade e da confusão, por meio desses seus
fortes, resgatando também o povo de Deus e suscitando um poderoso
Salvador na casa de David seu servo.
Sim, um novo gênero de milícia nasceu, desconhecido em séculos passados,
destinado a lutar sem trégua um duplo combate contra a carne e sangue e
contra os espíritos malignos que povoam os ares. Sem dúvida, quando
vejo combater só com as forças corporais um inimigo também corporal, não
só o tenho por caso maravilhoso, porém sequer o julgo raro. Quando
igualmente observo como as forças da alma guerream contra os demônios,
tampouco me parece isso assombroso, embora seja muito digno de elogio,
pois cheio está o mundo de monges, e todos costumam manter essas lutas.
Mas quando se vê que um só homem carrega em seu flanco com ardor e
coragem sua dupla espada e cinge os quadrís com um duplo cíngulo, quem
não julgará caso insólito e digno de grandíssima admiração? Intrépido e
bravo soldado aquele que, enquanto reveste seu corpo com a couraça de
aço, guarnece sua alma sob a loriga da fé; pode gozar de completa
segurança, porque equipado com essas duplas armas defensivas, não tem
que temer aos homens nem aos demônios. E mais, nem sequer teme a morte,
antes a deseja. O que poderia assustá-lo vivo ou morto, quando seu viver
é Cristo? Ao contrário, desejaria melhor acabar de se soltar do corpo
para estar com Cristo, sendo isso o melhor.
Marchai, pois, soldados, ao combate com passo firme e marcial e
carregado de valoroso ânimo contra os inimigos de Cristo, bem seguros de
que nem a morte nem a vida poderão separá-los da caridade de Deus, que
está em Cristo Jesus. No fragor
do combate proclamai: Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor.
Quão gloriosos se tornam ao regresso triunfal da batalha! Por quão
ditosos se teem quando morrem como mártires no campo de combate!
Alegra-te, fortíssimo atleta, se vives e vences no Senhor; porém,
regozija-te mais e dê saltos de alegria se morres e te unes ao Senhor. A
vida te é certamente proveitosa e de grande utilidade, e o triunfo te
acarreta a verdadeira glória; mas não sem grande razão se antepóe a tudo
isso uma santa morte. Porque se são bem-aventurados os que morrem no
Senhor, quanto mais o serão os que sucumbem por Ele!
É verdade certa é que, quer os visite no leito, que os surpreenda no
fragor do combate, sempre será preciosa no acatamento do Senhor a morte
de seus santos. Mas no ardor da refrega será tanto mais preciosa quanto
mais gloriosa Oh, vida segura, quando vai acompanhada de boa
consciência! Oh vida seguríssima, repito, quando nem sequer a morte se
espera com receio, antes, se a deseja com amorosas ansias e se a recebe
com doce devoção. Oh verdadeiramente santa e segura milícia, livre
daquele duplo perigo que com frequencia costuma assustar aos homens
quando não é Cristo quem os põem na luta!
Quantas vezes, ao travar combate com teu inimigo, tu, que militas nos
exércitos do século, temes que, matando-lhe no corpo, matas também sua
alma. Ou que, sendo tu morto pelo aço de teu rival, percas juntamente a
vida da alma e a vida do corpo!
Porque não é pelo resultado material da luta, antes pelos sentimentos do
coração pelo que julgamos os Cristãos acerca do risco corrido em uma
guerra ou da vitória ganha; porque se a causa é boa, não poderá ser
nunca mau o resultado, seja qual for o êxito , assim como não poderá se
ter por boa a vitória ao final da campanha, quando a causa pela qual se
iniciou não o foi e os que a provocaram não tiveram reta intenção. Se
querendo matar a outro, és tu o morto, morres já homicida. E se
prevaleces sobre teu contrário e, levado pelo desejo de vencer-lhe,
mata-o, embora vivas, és também homicida. Infausta vitória na que,
triunfando do homem, sucumbes ao pecado! E se a ira ou a soberba te
avassalam, vãmente te jactas por haver dominado a teu oponente.
Dá-se outro caso, à exceção dos ditos, e é o de quem mata, não por zêlo
de vingança, nem pela perversidade de gozar do triunfo, senão para
evitar o mesmo a morte. Porém tampouco direi seja boa tal vitória;
porque dentre dois males, como são a morte da alma ou a morte do corpo,
preferível é a segunda; não porque morra o corpo morre também na alma,
antes a alma que pecar, ela morrerá.
CAPÍTULO II
Da Milícia Secular
Qual será, pois, o fino fruto do que não chamo de milícia, senão de
milícia secular, se o que mata peca mortalmente e o que cai morto perece
para sempre? Porque se a esperança faz arar ao que ara, para usar as
palavras do Apóstolo, e o que separa o faz esperando receber o fruto,
que estranho erro é esse em que viveis, soldados do século? Que fúria
frenética e intolerável os arrebata para que de tal modo guerreais
passando grandes sofrimentos e gastando toda vossa economia, sem mais
resultado que vir a parar no pecado ou na morte? Vestis vossos cavalos
com sedas; aplicam em vossas couraças e lorigas não sei que plumas de
diversos tecidos; pintais as ponteiras dos escudos, as capas dos
escudos, as selas de montar, mandais fazer de ouro e prata os freio e as
esporas, adornando-os de pedrarias, e assim, com toda a pompa, cheios
de vergonhoso furor e imprudente estupor, cavalgais a passo ligeiro para
a morte. São essas insígnias militares ou melhor enfeites de mulheres?
Acaso a adaga inimiga retrocederá ante o brilho do ouro? Respeitará as
ricas pedras? Não se atreverá a cortar e rasgar as sedas? Enfim, não vos
foi ensinado a vós mesmos a experiência diária que para um soldado em
campanha o mais necessário são três coisas, convém saber: valor,
Sagacidade e cautela para parar os golpes do inimigo, soltura e
agilidade de movimentos que vos permita ir ligeiro em vosso avanço e
perseguição, e, por último, que estejais sempre pronto e rápido para
feri-lo e derrubá-lo.
A vós vemos, pelo contrário, cuidar com esmero vossa cabeleira ao jeito
feminino, o qual redunda em prejuízo de vossa visão no estrondo da
guerra; vos envolveis com longos camisões que chegam até os pés e os
travam; e, enfim, sepultais em amplas e complicadas mangas vossas mãos
delicadas e ternas. Sobre tudo isso adicionais o que mais pode
amedrontar a consciência de um soldado que sai em campanha, quero dizer,
o motivo leviano e frívolo pelo qual teve a imprudência de se meter em
milícia tão perigosa.
Por certo é que todas vossas diferenças e guerras nascem só de certos
arrebatamentos de ira, ou de vãos desejos de glória, ou de ambição para
conquistar alguma vantagem terrena. E, por tais motivos, certo que não
se pode com segura consciência nem matar nem ceder.
CAPÍTULO III
Dos Soldados de Cristo
E mais, os soldados de Cristo lutam com segurança as batalhas do Senhor,
sem temor de cometer pecado por morte do inimigo, nem por desconfiança
de sua salvação em caso de sucumbir. Porque dar ou receber a morte por
Cristo não só não implica uma ofensa a Deus nem culpa alguma, senão que
merece muita glória; pois no primeiro caso, o homem luta por seu Senhor,
e no segundo, o Senhor se dá ao homem por prêmio, olhando Cristo com
agrado a vingança que se lhe faz de seu inimigo, e ainda com agrado
maior se oferece o próprio por consolo ao que cai na lida. Assim, pois,
digamos uma e mais vezes que o Cavaleiro de Cristo mata com segurança de
consciência e morre com maior confiança e segurança ainda.
Utilidade tira para si, se sucumbe, e triunfo para Cristo, se vence. Não
sem motivo leva a espada à cinta. Ministro de Deus é para castigar
severamente os que se dizem seus inimigos; de Sua Divina Majestade
recebeu o zero, para castigo dos que agem mal e exaltação dos que
praticam o bem. Quando tira vida de um malfeitor não se lhe há de chamar
homicida, senão "malicida", se vale a palavra, executa pontualmente as
vinganças de Cristo sobre os que praticam a iniquidade, e com razão
adquire o título de defensor dos cristãos. Se o matam, não dizemos que
se perdeu, senão que se salvou. A morte que dá é para a glória de
Cristo, e a que recebe, para sua própria. Na morte de um pagão pode se
gloriar um cristão porque sai glorificado Cristo; morrendo valorosamente
por Cristo mostra-se a liberalidade do Grande Rei, posto que tira seu
Cavaleiro da terra para dar-lhe o galardão. Assim, pois, o justo se
alegrará quando o primeiro deles sucumba, vendo aparecer a divina
vingança. Mas se cai o guerreiro do Senhor, dirá: acaso não haverá
recompensa para o justo? Certo que sim, pois há um Deus que julga os
homens sobre a terra.
Claro está que não se haveria de dar morte aos pagãos se se pudesse
refreá-los por outro qualquer meio, de modo que não acometessem nem
perseguissem os fiéis e os oprimissem.
Mas por enquanto vale mais acabar com eles que tirar de suas mãos a vara
com que haviam de escravizar os justos, e que não sejam os justos que
afrouxem suas mãos à iniquidade.
Pois, porque, se não é lícito em absoluto ao Cristão ferir com a espada,
como o Pregoeiro de Cristo exortava os soldados a se contentar com o
soldo, sem proibir-lhes continuar em sua profissão? Isto suposto, se por
particular providência de Deus se permite ferir com a espada os que
abraçam a carreira militar, sem aspirar outro gênero de vida mais
perfeito, a quem, pergunto eu, será mais permitido que os valentes, por
cujo braço esforçado retemos ainda a fortaleza da cidade de Sión, como
baluarte protetor aonde possa se acolher o povo santo, guardião da
verdade, depois de expulsos os violadores da Lei Divina? Dissipai, pois,
e desfazei sem temor a essas pessoas que só respiram guerra; passai à
espada aos que semeiam o medo e a dúvida entre vossas filas; expulsai da
cidade do Senhor todos os que praticam a iniquidade e ardem em desejos
de saquear todos os tesouros do povo cristão guardados dentro dos muros
de Jerusalém, que só cobiçam se apoderar do santuário de Deus e profanar
todos nossos santos mistérios. Desembainhe-se a dupla espada,
espiritual e material, dos cristãos, e descarregue com força sobre a
testa dos inimigos, para destruir tudo o que se ergue contra a ciência
de Deus, ou seja, contra a fé dos seguidores de Cristo; não digam nunca
os fiéis 'Onde está seu Deus'?
Quando eles partirem em fuga e derrotados, voltará então à sua
propriedade e à sua casa, da que diz de forma irada o Evangelho: Eis que
vossa casa ficará deserta e um profeta queixa-se desse modo: Tive que
me ausentar de minha casa e templo e deixar abandonada minha
propriedade. Se, então se cumprirá aquele vaticínio profético que diz: O
Senhor redimiu seu povo e o livrou das mãos do poderoso; e virão e
cantarão hinos a Deus no monte Sión, e se juntarão aos bens do Senhor.
Regozija-te, Jerusalém, porque chegou o tempo da visita de teu Deus.
Enche também de júbilo, desertos de Jerusalém, e prorrompei em
celebrações, porque o Senhor aliviou a aflição de seu povo, redimiu sua
cidade santa e levantou poderosamente seu braço frente aos olhos de
todas as nações. Virgem de Israel, havias caído sem que houvesse quem te
desse a mão para te levantar. Ergue-te agora, sacode o pó, Virgem
cativa filha de Sion.
Levanta-te, repito, suba ao topo de tuas torres e vislumbra dalí os rios
caudalosos de gozo e alegria que o Senhor faz correr para ti. De agora
em diante não te chamarão "a abandonada", nem tua terra se verá por mais
tempo desolada, porque o Senhor se comprouve em ti e voltarás a ter
teus campos repovoado. Olhe ao redor e veja: todos se juntaram para vir a
ti. Eis aí o socorro que te foi enviado do alto. Por eles a ti será
cumprida a antiga promessa: te colocarei para a glória dos séculos e
gozo de geração em geração; mamarás o leite das nações e te criarão o
valor dos reis. E também, como a mãe acaricia seus filhinhos, assim
também eu os aliviarei e em Jerusalém serás aliviado. Não ves com
quantos testemunhos antigos fica aprovada vossa milícia e como se
cumprem ante vossos olhos os oráculos alusivos à cidade das virtudes do
Senhor? Mas de forma que o sentido literal não impeça que entendamos e
creiamos no espiritual, e que a interpretação que agora damos na terra
às palavras dos profetas não obste para que esperemos vê-las cumpridas
na eternidade gloriosa; não seja pelo que vemos que se nos desvaneça o
que diz a fé, e pelo pouco que temos percamos a esperança nas copiosas
riquezas, e, por fim, pela certeza do presente esqueçamos o futuro.
Quanto ao mais, a glória temporal da Jerusalém terrena não só se destrói
ou diminui os gozos que teremos na celestial, senão que os aumenta, se
temos bastante fé e não duvidemos que esta daquí embaixo só é uma imagem
da dos céus, que é nossa mãe.
CAPÍTULO IV
Do modo de viver dos Soldados de Cristo
Mais para imitação ou confusão de nossos soldados que não militam com
certeza para Deus, senão para o diabo, digamos brevemente qual há de ser
a vida e os feitos dos Cavaleiros de Cristo e como hão de se haver em
tempo de paz e em dias de guerra, para que se veja claramente quanta é a
diferença entre a milícia do século e a de Deus. E antes de tudo, tanto
em uma como na outra dá-se grandíssima importância à obediência e
tem-se em muito alto conceito a disciplina, sabendo todos quanta verdade
se encerra naqueles [ditos] da Escritura: o filho indisciplinado
perecerá. E naquele outro: O desobedecer ao Senhor é como o pecado de
magia, e como crime de idolatria o não querer se submeter. Vão e vem
estes estes bons soldados a um sinal de mando, põem as roupas que ordena
o Capitão, não tomam alimento nem vestem uniforme fora dos estipulados
por ele. E o mesmo quanto ao comer e no que vestir evitam todo o
superfluo, satisfeitos com o necessário. Levam a vida comum dentro de
alegre, mas modesta e sóbria camaradagem, sem esposas e sem filhos. Para
que nada falte à perfeição evangélica, não possuem nada de próprio,
pensando só em conservar entre si a união e a paz. Direis que toda
aquela multidão de homens tem um só coração e uma só alma; até tal ponto
que nenhum deles quer se orientar por sua própria vontade, senão seguir
em tudo a daquele que manda. Jamais estão ociosos nem vagam daqui para
lá em busca de curiosidades, senão que durante todo o tempo, em que não
estão em campanha, o que raras vezes ocorre, a fim de comer o pão
gratuito, ocupam-se em limpar, remendar, tirar o môfo, compor e reparar
tanto as armas como as vestimentas, para preservá-los e conservá-los
contra os desgastes do tempo e do uso; e quando não isso, obedecem o que
lhes ordena o capitão e trabalham no que é necessário para todos.
Não os vereis favorecer pessoas; respeitam e obedecem sempre ao
representante de Deus, sem se preocupar em se é ou não é o mais nobre.
Recatam-se mutuamente de mostras de honra e deferencias, suportam as
obrigações uns dos outros, cumprindo com isso a Lei de Cristo. Não se
estilam entre eles palavras arrogantes, nem ocupações inúteis, nem risos
sem compostura, nem o mais leve murmúrio; e se algum incorresse nisso,
não ficaria sem corretivo.
Tem aversão à prestidigitação e jogos de azar; tampouco se dedicam à
caça e não se permitem à falconagem, embora tão generalizada. Abominam
cômicos, magos e bufões, cujo trato evitam com cuidado; detestam as
toadas engraçadas, as comédias e toda a linha de espetáculos, como puras
vaidades e necessidades enganosas.
Cortam o próprio cabelo, sabendo pelos ensinamentos do apóstolo que é
uma vergonha para os homens o pentear cabelos compridos. Nunca enfeitam
os cabelos, raras vezes tomam banho, andam com a barba cerrada,
geralmente cobertos de poeira e enegrecidos pelas cotas dde malha e
queimados pelo sol.
Ao se aproximar o combate, armam-se de fé em sua alma e cobrem-se por
fora de ferro, não de ouro, a fim de que assim, bem equipados de armas,
não engalanados de jóias, infundam medo a seus inimigos sem provocar sua
cobiça. Procuram cavalos fortes e velozes, não formosos e bem
arreiados, pensando mais em vencer que em ostentar altivez, e o que
desejam não é precisamente causar admiração e pasmo, senão turbação e
medo.
E até começar a luta, não se lançam a ela impetuosos e de forma
turbulenta, como empurrados pela precipitação, senão com suma prudência e
extrema cautela, ordenando-se todos em coluna cerrada para se
apresentar à batalha, segundo lemos, que costumava fazer o povo de
Israel. Mostrando-se em tudo verdadeiros israelitas, se adiantam ao
combate pacífica e sossegadamente. Mas apenas o clarim dá o sinal de
ataque, deixando subitamente sua natural benignidade, parecem gritar com
o salmista: Não odiei, Senhor, àqueles a que tinhas aversão? Não me
recriminastes ante a conduta de teus inimigos? E assim davam carga sobre
seus adversários, tal como entrassem em um rebanho de cordeiros, sem
que, apesar de seu escasso número, se intimidem ante a crudelíssima
barbárie e ingente multidão das hostes contrárias. É que aprenderam a
confiar não em suas próprias forças, senão no poder do Senhor Deus dos
exércitos, em quem está a vitória, o qual, segundo se diz nos Macabeus,
pode facilmente por meio de um punhado de valentes acabar com grandes
multidões, e sabe livrar seus soldados com igual arte das mãos de poucos
com de muitos; porque o triunfo não está em que um exército seja
numeroso, senão que a fortaleza provem do céu.
Experiência frequentíssima tem disto, porque mais de uma vez lhes
ocorreu derrotar e afugentar o inimigo, lutando um contra mil e dois
contra dez mil.
Enfim, estes Soldados de Cristo, de modo maravilhoso e singular,
mostram-se tão mansos como cordeiros e tão ferozes como leões, não se
sabendo se lhe hás de chamar monges ou guerreiros ou dar-lhes outro nome
mais apropriado que abarque a ambos, pois conseguem irmanar a mansidão
de uns com o valor e a fortaleza de outros. Acerca de tudo isso, que
dizer, senão que tudo isso é obra de Deus, e obra admirável a nossos
olhos? Eis aqui os homens fortes que o Senhor foi elegendo de um confim a
outro do mundo, entre os mais bravos de Israel para faze-los soldados
de sua escolta, a fim de guardar o leito do verdadeiro Salomão, ou seja o
Santo Sepulcro, em cujo redor os pôs para estar alertas como fiéis
sentinelas armados de espada e habilíssimos na arte da guerra.
Original Latino em PDF AQUI.
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