Papa Francisco |
06 Set. 13
ROMA, (ACI/EWTN Noticias).-
O vaticanista Sandro Magister advertiu que o livro escrito por Dom
Gerhard Ludwig Müller - Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé –
junto com o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, não pode ser considerado
como uma reconciliação entre o magistério da Igreja e a teologia da libertação, pois esta corrente ideológica foi severamente criticada pelo Papa Francisco e seus predecessores.
Em um artigo publicado no Espressonline.it, o vaticanista se referiu
ao livro "Do lado dos pobres. Teologia da libertação, a teologia da
Igreja", publicado em 2004 na Alemanha sem suscitar um sentimento
especial, mas cuja "reimpressão italiana foi saudada por alguns como uma
mudança histórica, como se fosse a assinatura de um tratado de paz
entre a Teologia da Libertação e o Magistério da Igreja".
No texto, Magister recordou que Müller foi aluno e admirador de Gutiérrez, e que a sua nomeação por Bento XVI como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé causou surpresa, tendo em conta que o então Cardeal Joseph Ratzinger, quando era responsável pelo dicastério, publicou em 1984 e 1986 as duas instruções com as que João Paulo II
submeteu a Teologia da Libertação a uma crítica muito severa com a
certeza de que suas "graves separações ideológicas" traem "a causa dos
pobres".
"Mas evidentemente -indicou Magister- Ratzinger considerava aceitável
a leitura que Müller fazia das posições de Gutiérrez, já que não apenas
o fez prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, como lhe confiou
também o cuidado da edição completa de suas obras teológicas, que em
alemão já chegou quase na metade da impressão".
Entretanto, advertiu o vaticanista, para Dom Müller a teologia da
libertação deve contar-se "entre as correntes mais significativas da
teologia católica do século XX", tal como escreve no livro a
publicar-se; onde afirma que "somente através da teologia da libertação a
teologia católica pôde emancipar-se do dilema dualista do mais aqui e
do mais além, da felicidade terrestre e da salvação ultraterrena".
A posição de Francisco
Em seu artigo, Magister advertiu que "a frase do Papa Francisco:
‘Sonho com uma Igreja pobre e para os pobres’ foi assumida por muitos
como a coroação desta absolvição da Teologia da Libertação", um pouco
afastado da realidade.
"O próprio Jorge Mario Bergoglio não ocultou jamais seu desacordo com
aspectos essenciais desta teologia. Seus teólogos de referência jamais
foram Gutiérrez, nem Leonardo Boff, nem Jon Sobrino, mas o argentino
Juan Carlos Scannone, que elaborou uma teologia, não da libertação, mas
‘do povo’, centrada sobre a cultura e a religiosidade das pessoas
comuns, em primeiro lugar dos pobres, com sua espiritualidade
tradicional e sua sensibilidade pela justiça", recordou.
Nesse sentido, assinalou que um ano depois da publicação do livro de
Gutiérrez e Dom Müller, o então Arcebispo de Buenos Aires expressou que
"com a queda do império totalitário do 'socialismo real', essas
correntes [de pensamento] ficaram esvanecidas no desconcerto, incapazes
de um replanejamento e de uma nova criatividade. Sobreviventes por
inércia, embora ainda existam hoje aqueles que as proponham
anacronicamente".
"Na avaliação de Clodovis, o irmão de Leonardo Boff -indicou Magister-, o acontecimento que significou o adeus da Igreja Católica
latino-americana ao que restava da teologia da libertação foi a
Conferência Continental de Aparecida, no ano de 2007, inaugurada por
Bento XVI pessoalmente, e com o seu protagonista, o cardeal Bergoglio".
Clodovis Boff, que passou de expoente da teologia da libertação a um
de seus críticos mais incisivos, advertiu em 2008 que "o erro ‘fatal’"
desta corrente "é colocar o pobre como ‘primeiro princípio operativo da
teologia’, substituindo Deus e Jesus Cristo".
"A 'pastoral da libertação' converte-se em um braço entre tantos da
luta política. A Igreja se assimila a uma ONG e assim se vazia também
fisicamente, já que perde operadores, militantes e fiéis. Os 'de fora'
experimentam pouca atração por uma 'Igreja da libertação', porque para a
militância já contam com diversas ONGs, enquanto que para a experiência
religiosa têm a necessidade de muito mais que uma simples libertação
social", indicou Clodovis.
Nesse sentido, Magister acrescentou que "o risco de que a Igreja se
reduza a uma ONG é um sinal de alerta que o papa a França lança
repetidamente. Seria enganoso se esquecer disso, ao realizar hoje a
releitura do livro de Müller e Gutiérrez".
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