22 de outubro de 2013
Jesus
exigiu radicalmente dos Seus seguidores uma vida de extrema humildade.
“Todo aquele que se exaltar; será humilhado; e todo aquele que se
humilhar; será exaltado” (Lc 4,11). E, para explicar bem este
“humilhar-se”, contou a parábola do fariseu cheio de si e do publicano
contrito. Assegurou-nos que o publicano saiu do templo justificado mais
que o fariseu (Cf. Lc 18,9-14). E o Senhor fez questão de dizer que no
Seu reino é diferente: “O maior dentre vós será vosso servo” (Mt 23,11).
Quando os discípulos Lhe perguntaram qual deles seria o maior, Ele
tomou uma criança, colocou-a a Seu lado e disse-lhes:
“Quem dentre vós for o menor, esse será grande” (Lc 9, 18c). E
completou: “Eu estou no meio de vós, como aquele que serve ” (Lc
22,27c).
O pecado original, acima de tudo, foi um pecado de soberba e de
desobediência a Deus, de insubmissão da criatura ao Criador. Ela quis
construir a vida sem Deus, preferindo adorar e servir a si mesma do que
adorar e servir ao Criador. No seu orgulho e autossuficiência, achou
que poderia ser feliz sem Deus. Daí lhe veio toda a desgraça, miséria e
corrupção. Foi “ferida de morte” porque rejeitou aquele que é a vida.
Por isso a natureza humana é decaída, como disse São Paulo, “vendido ao
pecado” (Rm 7,14c). E o apóstolo confessava:
“Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o
que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim
habita” (Rm 7,19-20).
Foram o peso e a realidade do pecado original que instauraram em
nossos membros a corrupção da concupiscência, isto é, a tendência ao
mal, e isso só se fez possível porque o homem quis ser o centro de sua
vida, no lugar do seu Deus. Consequentemente, abandonado à própria
sorte, tornou-se escravo de si próprio. Sim, nosso eu é o maior tirano
que há em cada um de nós. Sob suas exigências enormes gememos como
escravos acorrentados. Para nos libertar dessa “situação de morte” é que
Cristo veio a nós: “Porque o salário do pecado é a morte; enquanto o
dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6,23).
A salvação e a felicidade de cada um de nós, não só na eternidade,
mas também aqui nesta vida, consistem em retirarmos o nosso “eu”
escravizante do trono do nosso coração, para deixarmos que aí se sente o
nosso Criador que, por direito, deve aí reinar. Quando o ego comanda
nossa vida, somos escravos do pecado, principalmente daqueles que a
Igreja chama de capitais: soberba, ganância, luxúria, gula, ira, inveja e
preguiça. E tudo aquilo que buscamos, pensando ilusoriamente que
podemos ser felizes. Quanto mais cedemos às exigências do ego, mais nos
tornamos seus escravos e mais somos infelizes. O homem mais feliz e
mais livre é o santo, isto é, aquele que soube, pela luta e pela graça,
desprezar a si mesmo perfeitamente, colocando Deus como o centro da
vida. A ressurreição só vem após a morte!
E toda essa caminhada começa pela humildade, isto é, pelo
despojamento de si mesmo. Em três lugares a Palavra de Deu afirma: “Deus
resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes (1 Pd 5,5; Pr
3,34; Tg 4,6). A humildade e obediência ao Pai foram o caminho que
Cristo percorreu para desatar o nó d soberba e da desobediência de Adão a
Deus. Por isso, Ele é “novo Adão”. Disse São Paulo que Ele, sendo Deus,
“aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
assemelhando-se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como
homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até à morte, e
morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente” (Fl 2,7-9a).
Se o Senhor passou por isso para nos livrar do jugo do pecado e da
morte, também temos de fazer o mesmo a fim de também sermos exaltados.
O caminho da humildade é o caminho da renúncia, do último lugar, do
silêncio, do menosprezo, do abandono nas mãos de Deus, da fraqueza, da
pobreza espiritual – a morte do próprio eu. E o Senhor quem nos guia:
“Se alguém me quer seguir; renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me” (Mc 8,34b). É na cruz de Cristo e na cruz da nossa vida que
temos de crucificar o “eu” a cada dia. O orgulho e a vaidade são sutis,
solertes, aninham-se secretamente no coração. Muitos que se julgam
humildes ainda estão longe da humildade. Basta que o seu amor-próprio
seja ferido para reagirem furiosos…
É humilde aquele que se acha ainda longe da humildade; aquele que é
capaz de manter-se tranquilo em Deus, perante uma grave humilhação;
aquele que destruiu o amor-próprio, a autopiedade, a autossuficiência… e
sabe que nada é, e que só Deus é tudo. O humilde é o santo: aquele que
cumpre a vontade de Deus e não a sua. São Pedro mandou: “Humilhai-vos,
pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo
oportuno” (1Pd 5,6).
Que não nos falte a graça de Deus, pois só por meio dela poderemos
trilhar esse caminho da verdadeira felicidade que nasce da morte do
velho homem.
Prof. Felipe Aquino
Trecho retirado do livro: “Em busca da perfeição”
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